26/12/2019



O capitalismo ‘made in USA’ e o nosso
Tomislav R. Femenick – Mestre em economia, com extensão em sociologia e história – Do IHGRN

O filósofo francês Michel Aglietta (1988) diz que os Estados Unidos nasceram com um aparato ideológico nas relações socioeconômicas: a liberdade de produzir sem entraves criados pelo Estado e instituições que são reguladas por princípios que formalizam as relações econômicas. Além do que, o ordenamento legal expressa a liberdade e igualdade do indivíduo, enquanto agente econômico.
Essa talvez seja a grande diferença da história das duas nações: enquanto os Estados Unidos, embora escravistas, nasceram sob a égide do capitalismo e da república, o Brasil se tornou independente sob um regime monarquista e com uma economia eminentemente escravocrata. Com a abolição da escravidão e a proclamação da República, houve o início de uma nova matriz econômica, porém sem atingir a profundidade necessária à transformação das estruturas, que somente caminhou para a realidade capitalista após a revolução de 1930, quando o governo federal direcionou as atividades econômicas para a industrialização.
Assim tínhamos o Estado brasileiro atuando em duas dimensões distintas, que em alguns pontos sofrem intersecção ou confronto. No plano coletivo (político), o Estado exercia o “poder” pela instrumentação de “controles”, objetivando a sua “perpetuidade”. No plano individual, das relações de troca, o que se buscava eram vantagens (o excedente econômico), pela sempre maior “eficiência”, em relações tipicamente dissolvíveis. Aqui cessa o paralelismo ideológico entre a economia brasileira e a economia norte-americana, pois lá o Estado não interfere tão intensamente nas relações de produções e não tem atuação como agente-produtor.
Focando a atenção na agricultura e na indústria dos dois países, evidenciam-se as contradições mais acentuadas entre eles. Nos Estados Unidos os produtores agrícolas, mesmo os que faziam a economia da fronteira, nunca fizeram agricultura de subsistência, sempre produziam para o mercado. Aqui também sempre se produziu para o mercado. Cana-de-açúcar, fumo, mate, algodão, café, por exemplo, sempre se destinaram para o mercado; o mesmo acontece com a soja, laranja, melão etc. Entretanto, ainda hoje, uma parte considerável de nossas unidades agrícolas se voltam para a agricultura de subsistência.
A industrialização dos EEUU está entrelaçada à própria história daquele país. Lá a grande indústria, com produção em larga escala, foi o resultado natural – como causa e efeito – do crescimento da nação. Por aqui, o processo industrial se deu só a partir da primeira metade do século passado e se acelerou na década de 50, pelos empreendimentos do então presidente Juscelino Kubitscheck. Entretanto, entre 1961 e 1967, o Brasil entrou em crise social e refreou o crescimento econômico que vinha do período anterior. Findo esse interregno, segundo Celso Furtado (1983), a indústria brasileira voltou a crescer, como resultado “de uma política governamental muito bem-sucedida, que visa atrair as grandes empresas transnacionais...”.
Os três aspectos aqui abordados – o ordenamento legal, a agricultura e a indústria – não esgotam o paralelismo comparativo da industrialização dos Estados Unidos e do Brasil. Poder-se-á estender este estudo com a incorporação de novos elementos e fazer correlações sobre o desenvolvimento dos meios de comunicação viária (lá as estradas de ferro em direção ao oeste, aqui as ferrovias do café; lá e cá as rodovias dos anos 50 e 60) etc. Entretanto os principais campos de investigação para a ampliação deste cenário comparativo talvez sejam as políticas educacionais dos dois países, bem como a formação e a atuação dos políticos e dos partidos políticos.
No mais, tem-se que pôr em relevo a diferença do caráter da atividade empresarial dos capitalistas norte-americanos e brasileiros. Lá eles enfrentam o mercado sem dificuldades criadas pelo Estado e sem sua ajuda; aqui eles têm que enfrentar as dificuldades criadas pelo aparato estatal e, no mais das vezes, somente têm condição de obter êxito se contarem com incentivos do próprio governo. Lá os empresários exitosos são quase que heróis nacionais; aqui alguns formadores de opinião os veem quase que como marginais.

Tribuna do Norte. Natal, 25 dez. 2019



Manoel de Barros – o poeta onírico


Escutando as coisas boas que ainda circulam nas redes de divulgação nacional, atento, me deparo com os comentários de filósofo, educador, palestrante, escritor e pensador Mário Sérgio Cortella (1954) sobre o poeta Manoel de Barros.
Afinal, quem foi e o que representou o poeta cuiabano  para a poesia brasileira no século XX?
                      
Manoel Wenceslau Leite de Barros (Manoel de Barros – 1916-2014) nasceu em Cuiabá/MT, no ano de 1916. Em 1937, debutou na poesia com o livro intitulado “Poemas Concebidos sem Pecados”. Em 1996, publicou a sua mais conhecida obra, o Livro sobre Nada. Em 1986, o poeta Carlos Drummont de Andrade o reconheceu como o maior poeta brasileiro vivo.
O filólogo Antonio Houaiss, assim se expressou sobre a poesia de Barros: “A poesia de Manoel Barros é de uma enorme racionalidade. Suas visões oníricas num primeiro instante logo se revelam muito reais, sem fugir a um substrato ético muito profundo. Tenho por sua obra a mais alta admiração e muito amor”.
Somente em 1980 seu trabalho foi valorizado nacionalmente, graças à divulgação e ao reconhecimento de suas obras pelo desenhista, humorista, dramaturgo, poeta, escritor e jornalista Millôr Fernandes, quando o poeta  passou a receber vários prêmios literários, como o Jabuti, em 1987, com “O Guardador de Águas”; seus livros passaram a ser    publicados e valorizados em outros países, como Portugal, Espanha e França.
       O poeta faleceu aos 97 anos, na cidade de Campo Grande/MS.
Transcrevo para o deleite dos leitores alguns pensamentos criativos das suas geniais poesias que navegam entre o sonho e a racionalidade.

·       Tudo que não invento é falso.

·        Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.

·       Tem mais presença em mim o que me falta.

·       Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário.

·       O meu amanhecer vai ser de noite.

·       Meu avesso é mais visível do que um poste.

·       Sábio é o que advinha.

·       Não saio de dentro de mim nem pra pescar.

·       Aonde eu não estou as palavras me acham.

·        Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.

·        Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade.

·       O artista é erro da natureza.

·       Beethoven foi um erro perfeito.

·       Por pudor sou impuro.

·       A minha diferença é sempre menos.

·       Não preciso do fim para chegar.

·       Do lugar onde estou já fui embora.

·       Uso a palavra para compor meus silêncios.

·       Tenho em mim um atrazo de nascença.

·       Meu quintal é maior do que o mundo.

·       Palavras que me aceitam como sou – eu não aceito.

·       Tenho “desapetite” para inventar coisas prestáveis.

·       Sobre o nada eu tenho profundidades.

·       A poesia está guardada nas palavras – é tudo que eu sei.

·       Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo das coisas).

·       Não posso mais saber quando amanheço ontem.

·       Meu órgão de morrer me predomina.

·       A minha independência tem algemas.




ELE CHEGOU.

NASCEU O SALVADOR DA HUMANIDADE
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes*

        Num ambiente de extrema simplicidade, tendo em vista que as portas não se abriram para abrigar a Sagrada Família, numa manjedoura, veio ao mundo aquele que seria a redenção da humanidade, cercado por pessoas humildes e animais. Seu nascimento é renovado a cada ano como forma de reviver aquele momento sublime e permitir a reflexão dos habitantes da terra.
        Ao reverso disso, as cidades se enfeitam com luzes e enfeites, cercadas de festas custosas para comemorar a vinda de Papai Noel, com os seus presentes, numa atitude inteiração paradoxal, com exposições de presépios apenas como ostentação de beleza.
        Nada disso, porém, tira o brilho dos cristãos verdadeiros que comemoram o renascimento do Cristo Jesus com reverência e reflexão sobre os problemas da vida e do mundo, ainda em conflito, com fome, necessidades básicas, sem terra ou lar condigno para as pessoas, fazendo mutirões para a prática da caridade, doando alimentos e brinquedos para as crianças, com o mesmo espírito de humildade do nascimento originário do Menino Deus.
        Este comentário não tem a finalidade de criticar as festas, mas sugerir que o principal motivador de tudo seja JESUS e não ídolos importados, que poderão conviver o momento, mas como coadjuvante, pois as crianças o adoram e o aguardam. É uma questão de tempo e de educação.
        Particularmente, nossa família fez a sua festinha, exatamente numa manjedoura improvisada no Recanto de THEREZA, erguido no meio do seu jardim, dando ênfase ao nascimento do Redentor, com preces e leituras apropriadas, honrando exatamente o costume familiar, que tinha em THEREZINHA ROSSO GOMES a responsável por tudo.
        Sem falsidade – para mim foi um dia de saudade, para a família também, superada com a invocação do DEUS MENINO pedindo sua intervenção para o conforto da alma da nossa pranteada e ao mesmo tempo nos confraternizando com simplicidade e verdade.
        O tempo, agora, não é o mesmo, porque a lembrança e a saudade dela estão vivos em todos nós. Mas a vontade de servir supera as agruras e continuamos com a missão de praticar a fraternidade, a solidariedade e a caridade.
FELIZ NATAL E UM ANO NOVO RENOVADO PARA O AMOR E A PRÁTICA DO BEM.
*escritor

24/12/2019



O que fazer?
Duas circunstâncias me levaram a este artigo. O Natal e um livro com o qual topei dia desses. No período natalino, é comum fazermos doações – ou aumentarmos, se é o caso da pessoa já doar durante o ano – a quem mais precisa. Algo muito positivo, por sinal. E o livro a que me refiro é “A máfia dos mendigos: como a caridade aumenta a miséria”, de um tal Yago Martins. O autor é pastor batista e teria fingido “ser morador de rua” para explicar “por que nossas tentativas de vencer a pobreza continuam fracassando”. O livro tem até algumas sacadas interessantes. Mas, percorrendo suas páginas, topa-se com uma visão política predefinida e preconceitos de toda sorte. Cita, para não dizer mimetiza, mas num contexto completamente diverso, Theodore Dalrymple (pseudônimo de Anthony Daniels, 1949-) e a sua “A Vida na Sarjeta – O círculo vicioso da miséria moral” (“Life at the Bottom: The Worldview that Makes the Underclass”, 2001). É um livro tendencioso. “Biased”, diriam os ingleses. Disso não gostei mesmo.
De toda sorte, lembrei-me de que o assunto – esse das doações a pessoas na rua – é mesmo polêmico. E, assim, lembrei de um filósofo de que gosto bastante e até já citei aqui: Peter Singer (1946-), australiano, autor de “Liberação animal” (“Animal Liberation”, 1975) e de “Ética prática” (“Practical Ethics”, 1979) e considerado o fundador daquilo que hoje chamamos de “direitos dos animais”. Mas Singer não é apenas um defensor dos animais. Ele também estuda a pobreza e o sofrimento no mundo. Quer combatê-los. Por isso, somando-se o fato de também defender o aborto e a eutanásia, ele é considerado um “homem perigoso”.
Para combater a pobreza, Peter Singer é a favor das doações. Mas o é de uma forma bem peculiar. Na década passada, Singer publicou “Quanto Custa Salvar Uma Vida? – Agindo agora para eliminar a pobreza mundial” (“The Life You Can Save – Acting Now to End World Poverty”, 2009), um livro que trata exatamente da polêmica questão das doações como forma de combater a pobreza e o sofrimento no mundo. Embora estejamos diante de uma discussão que perdura há bastante tempo, Singer toma uma posição claramente a favor das doações. Entretanto, ele propõe que isso se dê de forma mais ampla, organizada e regulamentada, através de organizações e organismos humanitários encarregados para tanto. Para ele, bem menos importante – na verdade, menos eficaz – é tirarmos nossos sapatos e darmos na rua a alguém que deles precise do que doarmos o valor desses sapatos, de modo sistemático e organizado, através de agências especializadas, para ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade, estejam essas pessoas perto de nós ou mesmo mundo afora. E aqui já enxergamos o caráter utilitarista da filosofia de Singer.
E Peter Singer também parece concordar com o argumento de que dar dinheiro ou comida diretamente, sobretudo nas ruas, gera dependência. Esse tipo de doação deveria se dar apenas em casos de catástrofes, como incêndios, grandes secas, inundações etc. É mil vezes melhor fomentar a produção de alimentos e demais fontes de riqueza pelas próprias pessoas ou pela comunidade, seja essa comunidade a nossa ou mesmo outra a milhares de quilômetros de distância. “Melhor do que dar o peixe, é ensinar a pescar”, já dizia o velho ditado. Mas isso, sabemos, não é tão fácil assim.
O problema é que temos, todos nós, uma tendência de olharmos sempre para o que nos está mais próximo. Nossa família, nossos amigos, nossa comunidade, o momento. “A caridade começa em casa”, é verdade. Ademais, a presença de uma criança faminta na esquina de nossas casas – ou de um animal, para quem é amante da natureza – nos é muito mais tocante do que as estatísticas sobre a pobreza e a fome no mundo, sobretudo se isso diz respeito a comunidades distantes da nossa. Isso sem falar que doações a agências humanitárias podem nos parecer como gotas no oceano, que podem até se perder na burocracia e na roubalheira de estilo, sobretudo se comparadas àquela doação que mata uma fome aqui e agora.
Na verdade, Peter Singer defende um “altruísmo eficaz”, incentivando pessoas a trabalhar com formas mais eficientes de ajudar quem precisa. Ele sabe que doar faz bem também para quem doa. Fazer o bem, já pregava o Buda (Sidarta Gautama, 563a.C.-483a.C.), enche nossos corações de alegria (pelo menos os corações das pessoas normais). Mas Singer aponta evidências concretas de um melhor aproveitamento dos recursos com ações sistemáticas e racionais, defendendo que os resultados – muitíssimo melhores a longo prazo e para um número bem maior pessoas – são mais importantes que a recompensa moral momentânea.
E se a pergunta do título deste artigo é “o que fazer?”, Peter Singer parece simplesmente responder que nossas doações devem se basear menos na emoção e mais na razão. Eu acho a sacada de Singer excelente (muito embora não consiga ficar insensível ao sofrimento próximo a mim, desde já confesso). Só espero que, concordando com ele, pregando a doação para ONGs e agências humanitárias, eu também não seja considerado, nestes tempos bárbaros em que vivemos, um sujeito deveras perigoso.
Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP



SOMAR PARA DIMINUIR A POTESTADE MALIGNA

Valério Mesquita*

A mídia impressa e eletrônica tem especulado bastante sobre o litígio do cristianismo no Brasil, realçando o crescimento da religião evangélica em detrimento da católica. O ato deplorável é a exploração do tema como se existisse uma contenda tal e qual um campeonato, no qual a Santíssima Trindade fica em segundo plano. Até parece uma campanha publicitária de produtos de consumo, tais como veículos, bebidas, dentifrícios e saponáceos. Ou, mesmo, dois partidos políticos cortejando a preferência popular.
Lamento que o insensato jogo pela exclusividade do legado de Jesus Cristo seja disputado ao pé da cruz da sua crucificação da mesma forma como os soldados fizeram com a sua túnica. As duas igrejas com os seus dogmas, suas reflexões e interpretações das Sagradas Escrituras, devem guardar, cada uma, sua integridade sem se desviarem para os modismos religiosos apenas com o fito de conquistar adeptos. Entendo que esse pode ser um caminho perigoso. A insensata busca é a da prosperidade espiritual. É necessário discernir em que direção evangélicos e católicos estão caminhando. A Bíblia fala de dois caminhos, o da bênção e o da maldição (DT. 11.26) e de duas portas: a estreita e a larga (MT. 7.13). O que deveria preocupar as igrejas é o número crescente de simpatizantes e sectários do homossexualismo no país. As paradas gays em São Paulo, reúnem milhões de pessoas.
Tenho assistido na televisão programas abusivos que transformam a doutrina dos católicos e crentes em shows de entretenimento, os quais exaltam mais o homem do que a Deus. Esquecem que “o evangelho de Cristo é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”, como está escrito em Romanos 1.16. É preciso ter em mente que os valores terrestres e passageiros sejam desprezados e contemplados os valores eternos. A maneira de viver dos cristãos, honrando e obedecendo a Palavra é o que interessa. Basta de tanta dispersão, choques e escaramuças. Se pudéssemos aferir como nos julga hoje, lá no céu, o Cristo Jesus que se prepara para voltar ao mundo, diante de toda essa cisão conflituosa, como nos sentiríamos?
É possível que esse fermento dos desvios doutrinários esteja ganhando espaço nos tabernáculos e templos licenciosos, assinalando diferenças, elevando cifras e conquistando desavisados sem evangelização. Uma espécie de bem-aventurança contraditória de ruidosos deste mundo, cujo destino é o reino do caos. Onde ficam os bens espirituais em meio à parafernália do mundo religioso relativista? Recomendo aos católicos e aos evangélicos uma leitura completa do capítulo 12 da 1ª Epístola de Paulo aos Coríntios. As igrejas cristãs devem competir contra Lúcifer e não entre si. A televisão comercial, com todo o seu poder catalisador, é instrumento diabólico porque financia o pecado, o materialismo e o deboche dos valores espirituais. Já não bastam o judaísmo, o budismo, o islamismo que se rivalizam e contestam no mundo o crescimento do Novo Testamento? Lembrem-se que o Pai, o Filho e o Espírito Santo dos católicos e dos evangélicos são o mesmo Deus de todos. Unamos-nos todos no voto de um Feliz Natal, pois o que Deus criou o homem não separará!

(*) Escritor.

21/12/2019



SENHOR, NÃO DEIXE QUE O MUNDO O SUPERE!

Valério Mesquita*

As Sagradas Escrituras, desde Gênesis, registram a participação direta de Deus na condução do povo escolhido. Abraão, Elias, Jacó, Moisés, Josué, Davi, Salomão e os relatos dos profetas Samuel, Ezequiel, Daniel, Jeremias, Isaias, Zacarias, Malaquias, todos narram fatos: vários ouviram a voz de Deus e foram inspirados nos seus ensinamentos e procedimentos. Receberam mensagens divinas através dos anjos, foram guiados, sofreram e quantos não morreram até a chegada do Messias? Quantas batalhas vitoriosas não foram travadas pelo povo judeu que, depois, foi escravizado por inúmeras potências estrangeiras até a fase dominadora dos romanos, quando Jesus nasceu? Numa medida extrema para salvar o mundo apodrecido daquele tempo, Deus enviou o seu filho Jesus com a missão da boa nova a fim de tirar os pecados dos homens e remir a humanidade degenerada.
Mas estava escrito que, cumprida a missão, o Cristo seria crucificado para depois ascender ao Pai. Ressuscitado, Ele ainda permaneceu na Terra ultimando junto aos apóstolos suas recomendações finais, cujo ponto alto foi a unção do Espírito Santo para todos eles enfrentarem o imenso mundo hostil e ímpio que estava deixando. Em verdade, não fosse o milagre da transferência do Espírito Santo, teria sido impossível aos apóstolos realizarem a ingente tarefa de pregação e de cristianização. E Paulo de Tarso se destacou entre todos como o mais sábio e operoso obreiro. Hoje, a humanidade se repete no tempo. A imensa maioria do globo terrestre não é cristã. A obra evangelizadora não atingiu seus objetivos na Ásia e no Oriente, barrada pelo islamismo, o budismo, o bramanismo, além dos regimes políticos de exceção da era stalinista, hitlerista e maoísta, entre outros da mesma escória.
Que razões poderiam ser elencadas? Teria sido a divisão das correntes do cristianismo no Século XVII? A ligação, à época, da Igreja Católica com os governos absolutistas e colonialistas da Europa que se dispuseram a impor coercitivamente o domínio político e religioso aos gentios da Ásia, África e Oriente? As igrejas cristãs teriam optado pelo regime de “cada um por si e Deus por todos”, na presunção de que a divisão do rito, da obediência, da interpretação discrepante,  bíblica e dogmática da descentralização – a doutrina e a evangelização não se espalhariam mais pelo mundo?
O fato é que, do século XX para cá, o poder econômico tem se concentrado nas mãos dos maus em todas as esferas. Por maior que seja o esforço dos evangélicos e católicos de recriarem o universo, persiste a impressão de que a humanidade sucumbe ao poder do demônio. Na sua primeira vinda, Jesus redimiu o mundo dessa escravidão, comissionando aos discípulos anunciar as duas opções: crer para se salvar ou descrer para a condenação. Tudo está em Mateus 7.13 e Marcos 16.16. Todavia, para essa segunda e definitiva etapa, vejo, como leigo, que se torna imperativo que o Senhor amplie pelo Espírito Santo a tarefa dos seus discípulos no mundo de hoje. Daquele tempo de Jesus para a ultramodernidade dos nossos dias, o número da população global atingiu a casa dos bilhões; a máquina mortífera da comunicação de massa e o dinheiro permanecem com os ímpios e pecadores que destroem o trabalho ”formiguinha” dos discípulos hodiernos; nos tempos bíblicos a intolerância cristã dos chefes de estado era o óbice; ao passo que na atualidade as ações da intolerância estão nas leis e nos códigos que se dobram, nos costumes, nos lares, nas ruas, de modo que somente o esforço do Espírito Santo, com maior intensidade e vigor, haverá de derrotar o Diabo novamente. Por isso, não deixo de orar: “Senhor, não deixe que o mundo o supere”. Um Feliz Natal para todos!

(*) Escritor.



O parlamento e seus desvios, opus 2
Tomislav R. Femenick – Jornalista – Do IHGRN

O Brasil já teve várias duplas dinâmicas e vitoriosas. Pelé e Garrincha, nas Copas de 1958 e 1962; Pelé e Coutinho, no Santos, nas décadas de 1950 e 60; Rivaldo e Ronaldo, em duas Copas do Mundo, em 1998 e 2002; Romário e Bebeto, na Copa América de 1989. Houve várias outras, mas nada supera a dupla Batoré e Nhonho, no Congresso Nacional. Batoré, também conhecido como Davi Alcolumbre (DEM-AP), é o presidente do Senado e, por decorrência, do Congresso Nacional. Nhonho, ou Rodrigo Maia (DEM-RJ), é o presidente da Câmara dos Deputados.
Ambos vieram do baixo clero do Congresso, eram parlamentares com pouca expressão política. O primeiro assumiu o cargo num movimento para evitar a reeleição de Renan Calheiro, o esperto que foi engolido pela própria esperteza. Davi responde a dois inquéritos no STF. Rodrigo foi investido na atual posição na esteira do escândalo de Eduardo Cunha, que teve o mandato cassado pelo plenário da Casa. E, também, responde a inquéritos na Polícia Federal. Em síntese, nenhum dos dois teve mérito próprio para ocupar o cargo que tem. É esse o Congresso que temos.
Esses senhores presidem instituições com características ímpares. Ali todo mundo ganha muito e trabalha pouco. Nessas duas casas do povo (pois somos nós, “os iguais, menos iguais”, que pagamos as contas de suas senhorias) é praxe que só se trabalha dois dias por semanas; em casos extras podem ser mais que isso. E ninguém tem o ponto cortado; eles são “os iguais, mais iguais”. É por isso e por outras coisas que, de vez em quando, alguém tem o desplante de chamar o nosso parlamento de “casa de mãe Joana”.
A Constituição Federal garante que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se [...] a igualdade...”. Lindo de se dizer e ouvir. Entretanto, igual à história contada em A Revolução dos Bichos, de George Orwell (1980), há aqueles iguais que são mais iguais que outros. Vereadores, deputados e senadores têm as verbas de gabinete durante todo o seu mandato, têm uma penca de assessores parlamentares que nada mais são (há exceções) que cabos eleitorais trabalhando o tempo todo para sua excelência, têm as verbas dos fundos partidário e eleitoral, bem como suas verbas orçamentárias. Tudo para se fazer presente à memória e aos bolsos dos eleitores que se vendem por qualquer ilusão ou qualquer “tostão furado”. Agora eu pergunto: como podem os outros cidadãos competir com essa máquina de triturar novas lideranças?
Em nossa Câmara Municipal e em nossa Assembleia Legislativa tivemos casos escabrosos que resultaram em condenações de “representantes do povo” e prisões de funcionários de “altos escalões”. Vez ou outra deputados e senadores são condenados e até perdem seus mandatos. No entanto, tudo permanece como dantes no quartel de Abrantes.
Agora a pergunta que está contida em nossa garganta: E o que fazer? Parafraseando Max Weber (1997), “todo conflito no parlamento implica não somente numa luta por questões importantes, mas também numa luta pelo poder pessoal”, mas “quer amando, quer odiando a política parlamentar – não podemos afastá-la”. Em outras palavras: ruim com as casas parlamentares, pior sem elas.
Então, a tarefa é reformular nossos legislativos. Não é tarefa fácil, pois essa transformação depende dos mesmos vereadores, deputados e senadores que transformaram nossas casas congressuais em quase casas de tavolagem. Há que montarmos uma estratégia. Primeiro não reeleger os fichas-sujas, os meio-sujos e até os quase-sujos. Segundo, para receber o nosso voto, não basta que o candidato tenha o viés ideológico igual ao nosso; ele tem que ser explicitamente honesto (não devemos ter bandidos de estimação). Terceiro, e o mais difícil, devemos também ser honestos e não vendermos nossos votos por quaisquer duas colheres de mel coado ou dez mil reais autênticos.
Alguém há de dizer que sou apenas mais um sonhador, um pobre inocente. A minha avó, lá na quentura de nossa terra natal, já dizia: o idealista é uma besta quadrada, o pessimista um chato de galocha e o realista é aquele que luta pelo que quer, embora o que queira seja uma miragem refletida lá longe, no horizonte.

Tribuna do Norte. Natal, 19 dez. 2019