OUTRA VISÃO DE TAIPU
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes,
sócio do IHGRN
Compulsando
a recente publicação da Revista nº 98 (julho de 2019), do Instituto Histórico e
Geográfico do Rio Grande do Norte, deparei-me com dois arquivos que se entrelaçam
na história de dois municípios da nossa zona da mata – Taipu e João Câmara
(Baixa Verde).
Sem renegar as informações dos seus autores, respectivamente
João Batista dos Santos e Aldo Torquato, senão o meu desconhecimento da
inimizade entre João Câmara e o Desembargador João Maria, decidi complementar
alguma coisa dos textos, pelo fato das minhas raízes com o lugar Pitombeira,
então do meu avô, Coronel João Gomes da Costa, terra onde nasceu meu pai,
Desembargador José Gomes da Costa.
O nome Taipu, segundo alguns historiadores, vem da linguagem dos
índios potiguares (primitivos habitantes): Itaipi (era um aldeamento indígena),
consoante citação do padre Manuel de Morais, apud CASCUDO, localizada a sete milhas ao oeste do Rio Grande do
Norte. Mas poderia ser, também, de Itaipu, que significa pedra preta, tipo de
solo arenoso existente naquela região, de tabuleiro com partículas silicosas,
pedras e minérios, nas terras do Tapuio.
Noticia-se que em 1645, durante o domínio holandês já se
convivia com aldeias indígenas chefiadas por Antônio Papapeba.
Ainda invocando o Mestre CASCUDO, ali existia em 1709 um poço
de Manoel Rodrigues Coelho, nas terras da Fazenda Tabuleiro do Barreto, de
propriedade de Antônio Alves da Rocha, que chegou a possuir olarias. Mas
igualmente possuía massapé, nos vales úmidos, com húmus de arisco que se
prestava a cultivo de cereais – mandioca, fruticultura, sem desprezar a criação
de gado. Também solo
O nome inicial da povoação, já em fase de colonização era
conhecido como “Picada”, abertura onde começa o sertão até o Mato Grande (zona
da mata). O início do seu desenvolvimento aconteceu no século XIX, com a
participação dos fundadores do povoado Jorge Pegado Galvão, Marcos Pereira dos
Santos, Bernardo Gadelha, André Soares da Silva e Joaquim José da Costa,
alcançando as cercanias das povoações Barreto, Poço Branco, Gameleira,
Contados, Boa Vista e Pitombeira, chegando a alcançar terras das localidades
Ceará-Mirim, Extremoz, Genipabu, Muriú e Taipu.
Depós, são registrados alguns beneficiamentos: em 1851 foi
concluída uma capela em louvor a Nossa Senhora do Livramento, após trinta anos
de labuta, sendo anualmente comemorada desde novembro de 1913; em 1864 criou-se
uma escola; em 28 de junho de 1889 o distrito de Picada mudou seu nome para
Taipu, ganhando Delegacia de Polícia e sendo desmembrada de Touros para Ceará-Mirim. Em 10 de março de 1891 a Vila foi desmembrada
de Ceará-Mirim pelo Decreto nº 97 do então Governador provisório Francisco
Amintas da Costa Barros, sendo seu primeiro intendente o Capitão Candido
Marcolino Monteiro. Fez-se Freguesia em 18 de abril de 1913 e Comarca em 16 de
janeiro de 1960.
Contudo, o seu desenvolvimento efetivo só aconteceu no final
do século XIX, mas sobretudo no começo do século XX, com atividade econômica
sustentável na avicultura, agricultura, pecuária e exploração de pedreiras. A
Vila tornou-se cidade (Município) em 29 de março de 1938, quando era prefeito
Rosendo Leite da Fonseca.
Estudos mais aprofundados foram
desenvolvidos pelos escritores da região, JOSÉ HUMBERTO DA SILVA e TEREZINHA
DIAS DA SILVA que escreveram o livro “Genealogia e História de Quatro Famílias
Taipuenses”, preservando fidelidade às raízes da Terra Taipu, mostrando a saga
dos pioneiros que, pondo de lado as vicissitudes da região, deram seu suor e
sangue pela esperança visionária de alcançar prosperidade econômica, política e
religiosa, ao mesmo tempo em que lhes prestam um justo tributo. Afinal, quem
não cultua o seu passado não encontrará rumo do futuro.
Taipu fez-se Vila e foi conduzida
gozando o respeito do povo e de Deus, gerando uma povoação rica de homens de
bem, na concepção preconizada por Mateus, 5. 44 a 48, tanto que doou ao mundo
alguns descendentes de Mártires de Cunhaú e Uruaçu.
No entanto, é mister que se faça justiça
a alguns taipuenses que se destacaram pela dedicação de suas famílias, em
particular quatro delas, aqui retratadas como as famílias que se seguem, três
das quais de um mesmo tronco: Miranda,
desenvolvida do nascedouro português de João Gomes Carneiro, que se casou
com Ana Ferreira de Miranda e alargou-se com os Rodrigues Santiago (da
Silveira), Câmara (Boa e da Silva), Severiano da Câmara, Azevedo, Peixoto, Torres, Arruda, Soares,
Pereira, Paiva, Paula, Amaral Lisboa, Ferreira (da Cruz, de Miranda), Leite da
Fonseca, Furtado Menezes e Gomes da Costa; a família Rodrigues Santiago que ampliou sua estirpe com os Gomes da
Costa (da Silva), os Praxedes, os Melo, os Rodrigues da Silveira, posteriormente
com os Raposo da Câmara, Rabelo Dantas, Alves de Medeiros, Rego, Galvão, Urbano
de Araújo, Amaral de Andrade, Leite da Fonseca e outros, partidos dos embriões
de Jerônimo Ferreira de Miranda e Felipa Rodrigues da Silveira; segue-se a
família do Coronel João Gomes da Costa, da qual sou
oriundo, do tronco Manoel Gomes da Costa e Cândida da Costa Gadelha, que se
tornou dona dos povoados Gameleira e Pitombeira onde teve feira livre e parada
de trem onde se deu o início da bela trajetória de João Severiano da Câmara,
casado com Maria (AA), cujo patriarca entrelaçou-se com as irmãs Bernardina e
Anna Rodrigues Santiago, construindo uma prole numerosa. Esta última, por sua
vez, era viúva de Sérgio Guedes da Fonseca, tendo, ainda, o concurso dos Gomes
de Araújo, vindos da Paraíba, os Gomes de Almeida, Borges, Cunha Lima, Nobre da
Costa, Ferreira da Costa (da Cruz), Soares da Câmara (da Silva, Severiano,
Arruda), Leite da Fonseca, Furtado, Menezes, Rodrigues da Silva; completando o
estudo temos a família Ponte ou Pontes, que tem origem espanhola/portuguesa de Bartolomeu Pontes casado
com Margarida Ribeiro, cujas raízes nordestinas (Ceará) surgem de Gonçalo
Ferreira de Pontes, casado com Maria de Matos Coutinho, ele filho de Cosme de
Freitas Pereira e Joana Barros Rego Coutinho até Alexandre Ferreira de Pontes –
o grande patriarca, sendo que o ramo de Taipu surgiu de Manoel Alexandre de
Pontes e Francisca Florentino(a) de Pontes, com o entrelaçamento das famílias
Vieira, Gomes Costa, Aguiar e Bezerra de Menezes, do Estado do Ceará.
Com estas poucas linhas não tenho o
atrevimento de apresentar nenhuma informação definitiva da terra taipuense, mas
apenas apontar uma bibliografia mais consentânea com a realidade, com indicação
de autores que efetivamente têm o peso necessário para traçar a história, os
costumes e as tradições da terra dos papagaios.
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Obras
consultadas:
CASCUDO,
Luís da Câmara. História do Rio Grande do
Norte, Natal e Rio de Janeiro: Ed. FJA e Achiamé, 1984.
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História de Um Homem (João Severiano da
Câmara), Natal: DIRN, 1954.
LYRA,
Augusto Tavares de. História do Rio
Grande do Norte, Brasília: Gráfica do Senado, 2012.
MORAIS,
Marcus Cavalcanti de. Terras Potiguares, Natal:
Ed. Foco, 2004.
NOBRE,
Manuel Ferreira. Breve História Sobre a
Província do Rio Grande do Norte. Natal: Sebo Vermelho Edições, 2011
(reprodução da impressão de 1877).
SILVA,
José Humberto da. Centenário de Fundação
da Paróquia de Taipu – Ação e Fé, Natal, Ed. Do autor, 2013.
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A Vila de Taipu e as famílias Ferreira da
Cruz e Boa da Câmara, Natal, Ed. Do autor, 2011.
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em parceria com SILVA, Terezinha Dias da. Genealogia
e História de Quatro Famílias Taipuenses, Natal, 2019 (no prelo).