15/10/2018


 HOSPITAL PORTA FECHADA – Berilo de Castro

HOSPITAL PORTA FECHADA –
Nesses quase cinquenta anos de atividade médica, acompanhei, presenciei e testemunhei seus grandes avanços, em sua ininterrupta estrada de conquistas científicas. Avanços na área de genética; novas e fantásticas técnicas de diagnósticos; avanços extraordinários na área farmacológica; nos aprimoramentos cirúrgicos; o avanço espetacular nos transplantes de órgãos, mais recentemente a imunoterapia ( Prêmio Nobel – 2018), enfim, uma interminável e benéfica evolução nessa bela e admirável arte de curar.
Por outro lado, é bem notório que todos esses importantes e inquestionáveis avanços não chegam a maioria da população: a pobre, a necessitada. Ficam retidos e são de uso exclusivo das camadas sociais de maior poder aquisitivo.
A saúde pública brasileira, com o seu Sistema Único de Saúde (SUS), belo e eficaz (só no papel), não tem correspondido e, muito mais, só tem piorado na sua aplicação prática – faltou gestão desde o seu nascedouro.
Todos os dias, somos não mais surpreendidos com situações as mais caóticas em os todos os rincões nacionais. O descaso, a indiferença, a ausência dos governos vêm dia a dia ocupando e fazendo mais vítimas nos hospitais públicos.
Hoje, para um cidadão comum conseguir uma simples consulta, um exame de sangue, um exame de imagem, nem pensar! Vai ter que esperar uma infinidade de tempo. Um internamento para uma cirurgia nem pensar. Aí o bicho pega! Entra em uma fila interminável. Quando, já cansado de tanto esperar, chega a sua vez; os exames pré-operatórios realizados já estão caducos, não servem mais. Aí começa tudo outra vez. É uma brincadeira de mal gosto, uma ciranda desumana e cruel.
Os responsáveis administradores públicos, vivenciando a situação, anunciam medidas midiáticas: mutirão disso, mutirão daquilo, revelando a inércia e o não compromisso com a saúde pública: – usando a máxima do “quanto mais, melhor”. Deixa aumentar a fila!
E agora, recentemente, inventaram o que eles denominam – Hospital porta fechada. Que coisa louca! Que horror! O que significa?
“Fechar” a porta do maior e único hospital público de urgências e emergências do Estado. Vamos explicar: em determinado momento (dos mais cruéis), sem aviso prévio, como em um passe de mágica, o maior hospital da região “fecha a sua porta” e passa a escolher os seus pacientes. “Aqui, agora só entra paciente traumatizado e/ou portador de acidente vascular cerebral”. Vejam só o vexame daqueles que necessitam e procuram o Hospital. Chegam ao nosocômio de referência com a certeza do atendimento e são rejeitados; são orientados a procurar uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) mais próxima da sua localidade. Muitos desses doentes já sem nenhuma condição financeira e física de se locomoverem. E mais, são encaminhados para Unidades de Saúde, onde se sabe que não funcionam a contento. São precárias em todos os seus aspectos. Pior ainda para aqueles que vêm do interior do Estado, que são orientados a voltar para seu lugar de origem. Vejam só que confusão e que humilhação! É desumano ou não é?
Entendo que Hospital porta fechada caberia muito bem para situações onde os serviços públicos situados na periferia da cidade funcionassem de verdade; que existisse no Estado, polos regionais de Saúde bem estruturados, onde se realizassem cirurgias de menores portes e riscos, equipados de UTI. Um bom e eficiente serviço de traumatologia e ortopedia. Enfim, com uma competente e fixa equipe médica. Aí, sim, poderíamos muito bem escolher os doentes por tipo de doença e gravidade. Caso contrário, vamos continuar aumentando as nossas intermináveis, sofredoras e cruéis filas de doentes esperando os novos e mais novos mutirões da vida.
Piorou muito para a população pobre, a massa maior do nosso país.
Abram as portas dos hospitais públicos!
Berilo de CastroMédico e Escritor –  berilodecastro@hotmail.com.br
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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