28/10/2017


MACAÍBA: 140 ANOS (2017)

Valério Mesquita*

O ponto alto das comemorações dos 140 anos da emancipação política e administrativa de Macaíba será o aniversário de 208 anos de nascimento do seu fundador Fabrício Gomes Pedroza, cujas cinzas foram trasladadas do Rio de Janeiro para a igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição. O 27 de outubro de 1877, pela lei nº 801, Macaíba – que antes se chamava Coité – desmembrou-se de São Gonçalo. Aí amplia-se o período de esplendor comercial do porto de Guarapes que irradiou energia econômica a todos os quadrantes. Monopolizou o sal para o sertão, incentivou a indústria açucareira do vale do Ceará-Mirim, financiou a produção adquirindo as safras das fazendas de algodão, cereais, couros e peles. Fundou a “Casa dos Guarapes” e do alto da colina comandou o seu mundo de transbordamentos, onde tudo era rumor, vida, agitação, atividade.
É nesse vácuo de duzentos anos que reside a minha perplexidade. Um silêncio dominado pelo abandono e a indiferença. Ninguém coloca em cena a coragem de contemplar restituído o universo oculto de Fabrício que fez brilhar o nome de Macaíba dentro e fora do RN, na segunda metade do século dezenove. Não bastam, apenas, reprisá-lo com lendas e narrativas, como tivesse sido um mundo de ficção. Melhor que a dispersão da palavra solta é ouvir o eco de suas paredes reerguidas, das vozes trazidas pelo vento das vidas que não se pulverizaram mas renasceram pelas mãos das novas gerações. Esse universo semidesaparecido, clamo por ele, aqui e agora, afirmando que a melhor imagem de um homem, após a morte, não são as cinzas, mas a obra (casarão dos Guarapes) que legou à posteridade, revivida e restaurada como reconfortante e fiel fotografia de sua história e vida.
Como guerreiro solitário, luto há mais de quinze anos pela restauração dos escombros do empório dos Guarapes. Como membro, àquela época, do Conselho Estadual de Cultura do Estado, consegui o tombamento. De imediato, no desempenho do mandato parlamentar obtive do governo a desapropriação da área adjacente. Batalhei, em alto e bom som, junto aos gestores públicos a elaboração do projeto arquitetônico, que, até hoje, dormita em armário sonolento da burocracia. Foi uma agitação, apenas, que não se moveu nem comoveu. Saí dos movimentos da superfície oficial, para as janelas da imprensa e outras vozes, em coro uníssono, oraram comigo pelas ruínas da mais reluzente história da economia do RN: os Guarapes. Todo esse conjunto de verdades fixas foi ilusão imaginar que a lucidez jamais se disfarçaria em surdez. Como enfrentei e venci no passado, partindo de perspectivas débeis e precárias, óbices quase intransponíveis quando restauramos as ruínas do Solar do Ferreiro Torto a Capela de Cunhaú, sinto que não perdi os laços entre a fragmentação do sonho e a fé incondicional no meu pragmatismo, de que tudo, até aqui, nada foi em vão.
Reproduzir a realidade, tal que se imagina que fosse, o burburinho comercial e empresarial daquele tempo de Fabrício, faz-nos refletir e aprender para ensinar aos jovens de hoje através de exemplos, imagens e ritmos, a saga de que vultos como o dele iniciaram uma figuração, nova, nítida e luminosa, pouco tempo depois, numa Macaíba que começava a nascer com Auta de Souza, Henrique Castriciano, Tavares de Lyra, Augusto Severo, Alberto Maranhão, João Chaves, Octacílio Alecrim e outros que construíram em modelos de vidas o prestigio da terra natal – que não se evapora, nem se desmancha. Essa realidade para mim é tensa e inquieta, porque cabe hoje revivê-la em todos nós. É imperioso que os nossos governantes tracem esboços para uma saída, uma superação, criando-se fendas e passagens, para juntos, todos, respirarmos o oxigênio da convivência com os nossos antepassados. Se todos nós pensarmos assim, com cada palavra significando labareda, lampejo, no centésimo quadragésimo aniversário, derrubem, pois, os obstáculos que impedem as luzes do empório dos Guarapes refletirem sobre a posteridade. Se assim não agirmos tudo será cinzas.

(*) Escritor.

27/10/2017

MACAÍBA - 140 ANOS


A Prefeitura preparou uma vasta programação comemorativa do aniversário da cidade.

Nossa história
Da antiga Coité para a Macaíba dos nossos dias, a história do município é construída diariamente pela população, nos gestos dos seus poetas, na pena dos seus escritores, no culto aos seus santos e no reconhecimento aos seus vultos mais eminentes, que deram ao Estado do Rio Grande do Norte e ao Brasil, um lugar de indiscutível destaque.

Reproduzimos parte do texto publicado pela Wikipédia, para comemorar a efeméride:

Macaíba

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Avenida Jundiaí, no cruzamento com a BR-304.


Avenida Jundiaí, no cruzamento com a BR-304.
Bandeira de Macaíba
Brasão de Macaíba
BandeiraBrasão

Aniversário27 de outubro
Fundação27 de outubro de 1877
Gentílicomacaibense

Localização
Localização de Macaíba
Localização de Macaíba no Rio Grande do Norte
Macaíba está localizado em: Brasil
Macaíba
Localização de Macaíba no Brasil
05° 51' 28" S 35° 21' 14" O05° 51' 28" S 35° 21' 14" O
Unidade federativa Rio Grande do Norte
MesorregiãoLeste Potiguar IBGE/2008[1]
MicrorregiãoMacaíba IBGE/2008[1]
Região metropolitanaNatal
Municípios limítrofesNatal, Parnamirim, São José de Mipibu, Vera Cruz, Bom Jesus, São Pedro, Ielmo Marinho, São Gonçalo do Amarante e Boa Saúde
Distância até a capital14 km
Características geográficas
Área512,487 km² [2]
População76 801 hab. (RN: 5º) –  IBGE/2014[3]
Densidade149,86 hab./km²
ClimaTropical
Fuso horárioUTC−3
Indicadores
IDH-M0,64 (RN: 31°) – médio PNUD/2010 [4]
PIBR$ 608 621,296 mil IBGE/2008[5]
PIB per capitaR$ 9 311,69 IBGE/2008[5]
Página oficial
Prefeiturawww.prefeiturademacaiba.com.br
Macaíba é um município brasileiro situado no estado do Rio Grande do Norte. Localiza-se às margens do Rio Jundiaí a 14 km da capital estadual, Natal, do qual integra a região metropolitana. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), sua população é de mais de setenta mil habitantes, distribuídos numa área territorial de 512 km².
Seu principal destino turístico é o Solar Ferreiro Torto, um marco histórico, que remonta ao ano de 1614, quando era conhecido por Engenho Potengi.[6]
Como pontos históricos destacam-se Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a Capela de São José (mais antiga da cidade), o Solar da Madalena, a Capela da Soledade, a casa onde nasceu Henrique Castriciano, o Obelisco Augusto Severo, o Casarão dos Guararapes e o Solar Caxangá.

Etimologia

O termo Macaíba vem do tupi makaîuba "macaúba", referindo-se à palmeira Acrocomia intumescens.[7]

História

O nome Macaíba foi dado por Fabrício Gomes Pedroza em 26 de outubro de 1855. Sua primeira denominação foi Coité, referência à predominância desse tipo de vegetação no local.[6] As boas condições do solo e o clima com pluviosidade favorável propiciaram o desenvolvimento da atividade agropecuária.[6]
Sua posição estratégica, a caminho de Natal, impulsionou o comércio. O posterior advento das linhas ferroviárias, no entanto, reduziu a importância de sua economia.
De seu território desmembraram-se os municípios de São Paulo do Potengi, São Gonçalo do Amarante e parte de São Tomé.[6]

Geografia


Macaíba e municípios limítrofes.
Macaíba está localizado na mesorregião do Leste Potiguar e microrregião homônima,[1] a uma altitude média de onze metros acima do nível do mar, distante 14 km de Natal, capital estadual. Com uma área territorial de 510,711 km²,[2] integra a Região Metropolitana de Natal, limitando-se com os municípios de São Gonçalo do Amarante e Ielmo Marinho a norte; Boa Saúde, Vera Cruz e São José de Mipibu a sul; Natal e Parnamirim a leste; Ielmo Marinho, São Pedro e Bom Jesus a oeste.[8]
O relevo de Macaíba, com altitudes inferiores a cem metros, está inserido na depressão sublitorânea, entre os tabuleiros costeiros e o Planalto da Borborema; na planície fluvial, situada nos vales do rios; e nos tabuleiros costeiros ou planaltos rebaixados. O município está situado em área de abrangência dos terrenos que compõem o embasamento cristalino, formados durante o período Pré-Cambriano médio, com idade entre um bilhão e 2,5 bilhões de anos, além do Grupo Barreiras, de Idade Terciária, há cerca de sete milhões de anos. Geomorfologicamente, predominam formas tabulares de relevos, separados por vales de fundo plano.[8]
O tipo de solo predominante é o latossolo vermelho-amarelo distrófico, de textura média pouco fértil, com alto grau de porosidade e grande profundidade, característico das áreas de relevo plano; e o argissolo, mais especificamente o solo podzólico vermelho amarelo, semelhante ao latossolo, mas com um grau de drenagem menor, de imperfeito a moderado.[8] Há também os neossolos (areias quartzosas), planossolos e os solos indiscriminados de mangue.[9]
Macaíba possui grande parte do seu território inserido na bacia hidrográfica do rio Potenji, além da bacia do rio Piranji, sendo cortado pelos rios Grande e Jundiaí. Os principais riachos do município são Água Vermelha, Lamarão, Taborda e do Sangue, e as principais lagoas dos Cavalos, Grande e do Sítio. Os principais reservatórios, com capacidade igual ou superior a 100 000 m³ de água, são Bêbado (108 000 m³), Cana Brava (100 000 m³) e Jambeiro (100 000 m³). A vegetação é formada pela floresta subcaducifólia, cujas espécies ficam sem folhas no período da estação seca, além dos manguezais, com espécies adaptadas a solos permanentemente inundados.[8]

Parte de texto de Valério Mesquita

História da Cidade

No início do século XVII, precisamente em 1614, o Capitão Francisco Rodrigues Coelho, recebeu algumas datas de terra, que deram origem ao Ferreiro Torto, e ergueu o Segundo Engenho da Capitania do Rio Grande: o Engenho Potengí. 

Em meados do século XVII, Macaíba ainda não existia como unidade político-administrativa. Somente os sítios do Ferreiro Torto, Uruaçú e Jundiaí eram habitados por portugueses, mestiços e índios que trabalhavam na agricultura rudimentar, exploração de engenho e pecuária.
No século XVIII, entre 1780 e 1795, surgiu o primeiro nome da vila emergente: Coité. Este nome foi dado pelo Coronel Manoel Teixeira Casado. 
Árvore de grande fruto não comestível, que servia para fazer vasilhas, era muito vista em toda a vila. O proprietário do povoado era o português Francisco Pedro Bandeira, que se instalou no fluorescente Engenho.
Por volta de 1855, Fabrício Gomes Pedroza, paraibano de Areia, comerciante de alto prestígio, mudou o nome de Coité para Macaíba, uma palmeira com frutos pequenos, buchuda no meio, apreciada por muitos, inclusive por ele. Existiam muitos exemplares da palmeira na propriedade do comerciante “Seu Fabrício”.
No final do século XIX, precisamente no dia 27 de outubro de 1877, através da Lei 801, a Vila foi elevada à categoria de Município, denominando-se Município de Macaíba, ganhando, portanto autonomia político-administrativa. Somente em 1882 foi conhecido seu primeiro administrador, o senhor Vicente de Andrade Lima.
Macaíba, cidade localizada às margens do Rio Jundiaí, é berço de muitos filhos ilustres, dentre eles Auta de Souza, poetisa; seu irmão Henrique Castriciano de Souza (ex-vice-Governador do Estado, Fundador da Escola Doméstica de Natal e da Academia Norte-riograndense de Letras); Dr. Octacílio Alecrim, escritor e um dos mais respeitados juristas do seu tempo; Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, professor, político, aeronauta inventor do dirigível balão PAX; Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão, ex-Governador do Estado por dois mandatos; Augusto Tavares de Lyra, ex-Governador, ex-Ministro de Estado do governo Afonso Pena e um dos maiores oradores do Brasil.
Como pontos históricos destacam-se o Solar do Ferreiro Torto, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a Capela de São José (mais antiga da cidade), o Solar da Madalena, Capela da Soledade, casa onde nasceu Henrique Castriciano, Obelisco Augusto Severo, Casarão dos Guarapes e Solar Caxangá. 

SALVE MACAÍBA.

SALVEMOS O GUARAPES

26/10/2017


O SINO DA MATRIZ
Valério Mesquita, escritor

A Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Macaíba possuía um sino antigo, fincado na fachada superior do templo, que durante muitos anos se constituiu no cartão postal da cidade. O seu som dolente e pungente reunia os católicos de perto e da distância. As badaladas da Ave Maria, às 18 horas, envolvia de contrição e respeito toda urbe cristã, tal a magnitude do toque, a severidade do timbre do bronze que conferia à sagrada construção de 1882, uma visão mística a quem se postasse de frente.
Na santa missa, durante a elevação do cálice, a sonorização propagava ondas potentes e magnéticas que faziam os ausentes se benzerem. Ainda repercute nas ruas e nos caminhos o dobre de finados, executado com tanta perfeição que mais parecia uma música eletrônica saída do órgão celestial de um campanário rogando acolhida, como uma prece, pela alma do falecido. O toque do sino imprimia fé e dignidade cristã ao cortejo fúnebre pelas ruas de Macaíba.
Nas catedrais e igrejas do mundo inteiro, os sinos sempre exerceram um papel evangelizador invisível, porque mítico, e mágico, pois só o catolicismo o utiliza como símbolo e marca registrada de sua fé. De um tempo para cá (cerca de mais de trinta anos), a sonoridade forte do velho sino emudeceu. Por que parou, parou por quê? Perguntam-se os paroquianos.
Sobre o fato, rolam muitas histórias. Uma delas cômica. Num candente toque de finados a corda enroscou-se na perna do sacristão, o saudoso Adelino Moreira, quase o arremessando janela a baixo, tal a força e o peso do instrumento. O padre Alcides Pereira teria decretado a aposentadoria do sino e fechou a janela de cobogó para ele não dobrar mais. O fato é que não se ouviu mais o austero sino da Matriz. Ouvi, ultimamente, o som do atual. Achei-o diminuto e agudo. Não se coaduna com a dimensão do templo de 125 anos de idade. O som é roufenho, fraco como se o bronze tivesse contraído sinusite. Com essa dúvida, procurei a secretária paroquial Jalva Pereira dos Santos que me informou que o sino é o mesmo. Ele foi restaurado na Base Naval de Natal porque apresentava uma rachadura.

O lamento que faço é porque morreu o som personalíssimo e forte de antigamente. Envelhecido por tantas canções de louvor e contrição, além de cirurgiado, o sino da Matriz perdeu a voz. As suas “cordas vocais” se debilitaram e já não emite o mesmo sinal, a mesma benção, a mesma mensagem cifrada do seu som característico. Apenas, hoje, escuto o eco intermitente como se fosse o suave barulho das renováveis ondas do mar.

25/10/2017




 A CENSURA DE VOLTA?
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO


Outrora, aqueles que mais se diziam perseguidos pelo regime de exceção, hoje defendem abertamente a censura. Artistas embargam a publicação de suas biografias não autorizadas. Políticos manifestam-se, ameaçando amordaçar a imprensa e as redes sociais. Tramita no Congresso Nacional projeto de lei, cujo objetivo consiste em criminalizar quem fala mal de políticos na mídia, especialmente na internet. Muitos representantes do povo e ocupantes de altos cargos querem também outro tipo de imunidade: a isenção de críticas sobre suas posturas e ações. Uns agem à sorrelfa; outros são diretos. Declaram que pretendem regular a imprensa e controlar a internet. “Quantum mutatus ab illo”, dizia Virgílio, pouco conhecido, pois não se estuda mais a língua do Lácio. 
Há profissionais da política que falam em democracia, mas não a mesma ansiada pelos cidadãos. Quem deseja de volta a censura, cultiva planos autoritários. Nesse ponto, as ideologias se dão as mãos. Se não nas ideias, ao menos nos métodos intimidatórios. Conversas grampeadas (autorizadas ou não) e delações premiadas causam mal-estar em pessoas citadas ou acusadas de ilícitos penais. Algumas figuras públicas e autoridades lutam para ver, a todo custo e rapidamente, o enterro de tudo o que tenta higienizar a “res publica” brasileira. O intento de conter a mídia ou intimidá-la faz parte do mesmo esquema. Visa a silenciar a opinião pública e inibir qualquer ação legal e ética contra grupos que dominam a política nacional. Assiste-se a um golpe articulado por membros de vários partidos, que defendem seus próprios interesses e não os do Estado. Isto seria o domínio do mal, levando a perpetuar a corrupção e a impunidade no país. As frases do salmista ecoam em nosso cotidiano: “Transbordam a ambição de seus corações. Zombam, falam com malícia. E com arrogância ameaçam [os puros e os justos]. Assim são os maus, aparentemente tranquilos. E com escárnio só fazem aumentar o seu poder” (Sl 73/2, 7-8;11). 
Censurar a internet no Brasil é mero pretexto ou suposição e não o verdadeiro combate ao “cibercrime”. É inegável que ali se veiculam calúnias, agressividade, intolerância, radicalismo etc. O relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI do Congresso sobre os crimes cibernéticos sugere oito proposições para evitá-los. No entanto, atacam diretamente direitos fundamentais, tais como a liberdade de expressão e a privacidade. Mutilam as conquistas mais importantes do marco civil da internet, sobretudo a proteção aos internautas. Dentre as propostas do relatório, consta a de transformar as redes sociais em órgãos censores, a fim de defender os privilégios dos detentores de mandatos. Estes e outras autoridades pretendem ser, diante da sociedade, inatacáveis, infalíveis e imputáveis. As redes poderão ser punidas, tornando-se agentes de vigilância permanente de seus usuários. Alguém, que ali afirmar algo considerado “difamatório ou injurioso” contra um político, poderá responder a processo criminal. Por conseguinte, milhões de brasileiros, que venham a emitir críticas, correrão o risco de ser presos sob a suspeita de cometer “crimes mediante uso de computador”. Tais atos revestem-se de duvidosa e discutível criminalidade. Consta do citado relatório a obrigação dos provedores de internet de revelar automaticamente os dados pessoais dos internautas, sem a necessidade de ordem judicial prévia. Isto significa que todos serão constantemente monitorados. Tem-se o propósito de criminalizar a internet e colocá-la sob o jugo do Estado. Esse é o caminho trilhado por países ditatoriais e autoritários.
No Brasil, a liberdade de expressão e a mídia, quando bem usadas, poderiam se tornar meios de deter a nefasta cultura da corrupção. É lastimável que venham a ser ameaçadas para favorecer ímprobos e inescrupulosos, sob a capa da proteção contra os cibercrimes. Os abusos e violações na internet devem ser banidos. Mas, isso deve acontecer com respeito aos direitos fundamentais, previstos na Carta Magna de nossa pátria. Verifica-se, não uma tentativa de combater as transgressões, e sim uma estratégia que busca o manto da legalidade – embora ímpia e arbitrária – de afastar tudo o que incomoda os corruptos no Brasil. “Até quando, ó Deus, os ímpios triunfarão e haverão de proferir palavras de afronta”? (Sl 94, 3-4).

23/10/2017

SAMBA: UMA HISTÓRIA CENTENÁRIA – Berilo de Castro



“O samba é o pai do prazer / O samba é o filho da dor” – Caetano Veloso –

Lembrando o nosso imortal cantor, compositor, bom de samba, o baiano Dorival Caymmi, em um de seus  inesquecíveis e famosos sambas: “Samba da minha terra”: “Quem não gosta de samba bom sujeito não é / Ou é ruim da cabeça ou doente do pé”. Na verdade, Caymmi se autodefiniu: um bom sujeito, de  boa cabeça  e sem doença no pé.
– Quem não gosta de samba?
O samba surgiu na Bahia (Samba de Roda), no século XIX, da mistura dos batuques africanos. Chegando ao Rio, por volta de 1850, trazido pela população de negros e mestiços, principalmente da Bahia, bem como de ex-soldados da Guerra dos Canudos.
Somente no início dos anos de 1940, no governo do Presidente Getúlio Vargas, passou a ser visto como símbolo nacional.
No  Rio de Janeiro, na década de 1920, sofreu severa perseguição, a ponto de quem ousasse cantar ou dançar o samba corria seriamente o risco de sambar na cadeia. Era a maldade do racismo imperando: o negro descriminado e o escravo severamente castigado. O samba era, na realidade, ligado à cultura negra, considerado uma das principais manifestações culturais populares brasileiras.
Muitas baianas descendentes de escravos, no final do século XIX, se alojaram em bairros cariocas e passaram a ser conhecidas como as Tias Baianas, exercendo grande influência para a sedimentação e disseminação do samba. A  mais destacada e de admirável respeito foi Hilária Batista de Almeida (Tia Ciata – Santo Amaro/BA – 1854 – Rio de Janeiro/RJ – 1924). Conta a história que o samba para ser bom e fazer sucesso tinha que passar pela casa e o aval da sambista  catimbozeira  Tia Ciata.
Na esteira dos importantes nomes do samba, não se pode esquecer da figura de José Barbosa da Silva (1888-1930): Sinhô, autointitulado o “rei do samba” que, com outros pioneiros, como Heitor dos Prazeres e Caninha, criaram os primeiros fundamentos do gênero musical. Carioca, parceiro de grandes sucessos com João da Baiana, Pixinguinha e Donga. Há relatos que foram eles os autores do primeiro samba brasileiro, segundo os registros da Biblioteca Nacional – “Pelo Telefone” (samba-maxixe), juntamente com a Tia Ciata e Pixinguinha, mas que foi oficialmente registrado como de autoria de Donga e Mário de Almeida – em 27 de novembro de 1916 –, comemorado como o dia nacional do samba; quando completou e foi vivamente comemorado os seus 100  anos de rica história, em  2016.
O significado da palavra samba recebe origens bem diversificadas. Em meados do século XIX, a palavra samba definia diferentes tipos de músicas introduzidas pelos escravos africanos, principalmente do Congo e de Angola, sobretudo do Quimbundo, em que: “sam” significa “dar”, e “ba” igual a “receber” ou “coisa que cai”.
Uma  outra  versão deriva do termo Zamba ou Zambra, oriunda da língua árabe, quando da invasão dos mouros à Península Ibérica no século VIII. Existe, ainda, uma outra versão que advém de uma corruptela da palavra semba ( dança religiosa para os angolanos que, levava este nome devido à forma como era dançado com umbigadas) —é a  versão mais aceita no Brasil.
Ao longo dos anos, o samba tem se apresentado com muitas variações rítmicas, como: o samba-de-breque, derivado do picote ritmo do samba choro, popularizado pelo famoso sambista Antônio Moreira da Silva (Moreira da Silva – o Kid Morengueira – 1902/2000 – RJ), nas décadas de 1930 e 1940; samba-maxixe, samba que foi inserido o piano ou, às vezes, instrumento de sopro como a flauta e o clarinete; samba-exaltação, samba-enredo, em que a letra do samba conta uma história que servirá de enredo para o desenvolvimento da escola de samba; samba-de-terreiro, sambalanço, considerado um subproduto da Bossa-Nova; samba-de-quadra, sambalada, samba-chulado, samba-quadrado, samba-raiado, samba-coco, samba-choro, samba-canção, em que destaca sofrimentos amorosos e surge como fonte de inspiração da Bossa Nova no final da década de 1950; samba-partido-alto, aquele que mais se aproxima do batuque angolano e do Congo; samba-rock, samba de gafieira e o samba joia, ancestral do pagode romântico de São Paulo, que tem, no momento, Benito di Paula e Luiz Airão como seus representantes, usando em suas apresentações piano, tomba e chimbal (prato com aparência de chapéu), elemento básico que juntamente com o bumbo e a caixa compõem a bateria); samba bambelô, no Rio Grande do Norte.
Em 1927, nasce a primeira escola de samba, a Deixa Falar, no bairro do Estácio de Sá/RJ, berço e propulsor do samba carioca, próximo ao bairro boêmio carioca da Lapa, tendo como fundadores alguns compositores: Ismael Silva, Alcebíades Barcelos, Armando Marçal e outros sambistas do bairro do Estácio.
A história registra ainda muitos acontecimentos e relatos sobre o samba e os seus famosos compositores. Não podemos  jamais esquecer ou deixar fugir da lembrança os nossos grandes representantes da música mais popular do Brasil: Noel Rosa, Vadico, Ataulfo Alves, Ary Barroso, João de Barro (Braguinha), Almirante, Pixinguinha, Nelson Cavaquinho, Cartola, Adoniran Barbosa,Martinho da Vila, Clara Nunes, Beth Carvalho, Roberta Sá, dona Ivone Lara e tantos outros que engrandeceram e engrandecem esse gostoso e admirado ritmo de consagração nacional.
No ano de 2004, por apresentação do então Ministro da Cultura, Gilberto Gil, o samba foi tombado pela Unesco com o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, na categoria “Bem Imaterial”, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). No ano de 2005, o samba-de-roda do Recôncavo Baiano foi proclamado também pela Unesco – “Patrimônio da Humanidade na categoria de “Expressões orais e imateriais”. Em 2007, o IPHAN conferiu registro oficial no Livro de Formas e Expressões às matrizes do samba do Rio de Janeiro: samba-de-terreiro, partido-alto e samba-enredo.
​Viva o samba, patrimônio cultural da humanidade!
Berilo de Castro – Médico, escritor, membro do IHGRN – berilodecastro@hotmail.com.br
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

22/10/2017