21/04/2017

DIA DE TIRADENTES


Desde 1965, aos 21 dias do mês de abril, celebra-se no Brasil o Dia de Tiradentes e, junto à pessoa deste, rememoram-se também os acontecimentos que configuraram a Inconfidência Mineira. Neste texto, procuraremos explicitar os motivos pelos quais Tiradentes passou a ser considerado um herói nacional e Patrono da Nação Brasileira.

Sabe-se que “Tiradentes” era o apelido de Joaquim José da Silva Xavier, um alferes (cargo militar da época colonial) que também exerceu a profissão de dentista. Tiradentes participou ativamente de um dos principais movimentos de contestação do poder que a coroa portuguesa exercia sobre o Brasil Colônia: a Inconfidência Mineira. Sabemos que esse movimento articulou-se entre os anos de 1788 e 1789 e foi permeado por ideias provindas do Iluminismo que se alastrou pela Europa, na segunda metade do século XVIII.
Os inconfidentes de Minas Gerais geralmente integravam, com exceção de poucos, a elite cultural e social daquela região (como era o caso do poeta Tomás Antônio Gonzaga) ou então ocupavam postos militares ou exerciam profissões liberais, como era o caso do referido Tiradentes. O que dava unidade ao grupo eram ideias como a de liberdade e igualdade (ideias essas que também fomentaram a Revolução Francesa, em 1789), além do anseio pela emancipação e independência com relação à Coroa Portuguesa, à época governada pela rainha D. Maria, “A louca”.
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Os planos de insurgência contra o governo local em Minas, representado pelo Visconde de Barbacena, foram articulados em 1788 e tiveram como estopim a política de cobrança de impostos sobre a produção aurífera e sobre os rendimentos que ganhava cada pessoa que compunha a população de Minas Gerais. Esse último imposto era conhecido sob o nome de “derrama”. Apesar de terem uma organização bem elaborada, os inconfidentes acabaram por ser delatados por Silvério dos Reis, um devedor de tributos que, com a denúncia, acreditava poder sanar suas dívidas com a coroa.
Todos os inconfidentes foram presos. Tiradentes foi apanhado no Rio de Janeiro. O processo estabelecido contra eles e os subsequentes julgamentos e sentenças só terminaram em 1792, no dia 18 de abril. Os principais líderes receberam a pena do banimento, isto é, foram expulsos do país. Tiradentes, ao contrário, foi enforcado no dia 21 de abril ao som de discursos que louvavam a rainha de Portugal. Seu corpo foi esquartejado e sua cabeça exibida na praça principal da cidade de Ouro Preto.
Evidentemente, o dia da morte de Tiradentes por muito tempo foi compreendido como o dia em que um rebelde foi morto, como típico exemplo de retaliação absolutista. Entretanto, após a Independência do Brasil e, principalmente, após a Proclamação da República (época em que o Brasil, já desvinculado de Portugal, procurava construir sua identidade nacional), a imagem de Tiradentes começou a ser recuperada e louvada como um dos heróis da nação ou como um dos que primeiramente lutaram (até a morte) pela liberdade.
Um exemplo dessa imagem foi a instalação, em 1867, do primeiro monumento a Tiradentes na cidade de Ouro Preto. Outro exemplo, o mais notório, foi a confecção, por parte do pintor Pedro Américo, do quadro “Tiradentes Esquartejado” (ver imagem no topo do texto) em 1893, época em que a República, recém-instituída, procurava os mártires e os patronos da “Nação Brasileira”. O Tiradentes de Pedro Américo traduz a imagem idealizada do martírio, que se aproxima do martírio de Cristo.
Essa visão republicana de Tiradentes permaneceu (e, de certo modo, ainda permanece) no imaginário popular dos brasileiros. Em 1965, durante a primeira fase do regime militar no Brasil, o marechal Castelo Branco, então presidente da República, contribuiu para o reforço dessa imagem de Tiradentes, sancionando a Lei Nº 4. 897, de 9 de dezembro, que instituía o dia 21 de abril como feriado nacional e Tiradentes como, oficialmente, Patrono da Nação Brasileira.

Por Me. Cláudio Fernandes




19/04/2017


O professor, médico e escritor Daladier Pessoa Cunha Lima, nascido em Nova Cruz, é o mais novo membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras (ANL), eleito, com 31 votos (unanimidade) na Assembleia Geral Extraordinária do dia 18 passado, na ANRL.
Daladier foi Reitor da UFRN e hoje é Reitor do UNI-RN 
 Como médico, foi contemporâneo do professor Onofre Lopes, primeiro reitor da UFRN.

PARABÉNS AO NOVO IMORTAL
ANDAR SOBRE AS ÁGUAS

Ensinai-me, Senhor, a andar sobre as águas
a manter os pés enxutos
e livres do frio suor dos presságios

Aprendi a lição de Pedro
quando na clara manhã me chamastes
e aceitei vosso convite

Que eu não proceda pois como o santo
cuja dúvida foi maior que a fé
ou como o convidado de pedra
cujo corpo é maior que o espírito   

Ensinai-me o segredo
da graça original
anterior a nossos erros
e à sequência metamórfica das ilusões
que nos tornaram nus e perdidos

E sobre as regiões abissais
livre como criança num parque
eu possa caminhar
sem nada temer

                                               (HORÁCIO PAIVA)




18/04/2017


JOSÉ VARELA, UM DEPOIMENTO

Valério Mesquita*

Há certos homens públicos que podem ser sintetizados numa palavra: probidade. Na infante democracia brasileira dos anos cinquenta, conheci na casa do meu pai (Macaíba), o então governador José Augusto Varela. O PSD vivia o seu tempo áureo. Lá, os meus olhos de menino se maravilhavam com o porte carismático de Georgino Avelino, com a oratória bacharelesca de Dioclécio Duarte, com a sagacidade matuta de Theodorico Bezerra, com a fleugma britânica de Sylvio Pedroza e outros tantos dromedários do velho e guerreiro partido majoritário. Mas, José Varela era a figura espartana, retilínea, personalíssima, cuja forte presença encantava os circunstantes. Alfredo Mesquita Filho era seu amigo incondicional. Inclusive, o apoiou na memorável campanha para governador de 1947 e repetiu na sua sucessão. Interessante registrar o temperamento exacerbado dos dois. Quando enfezados ou desafiados se tornavam agressivos e bravos. Nitroglicerina pura. A amizade de ambos era tão fraterna, que Mesquita nos seus arroubos partidários, esbravejava a plenos pulmões: "Eu sou cabra de Zé Varela!". Ouvi meu pai, certa vez, um episódio ocorrido entre os dois. Ciente de que o deputado Alfredo Mesquita estava no Palácio Potengi, José Varela pediu para chamá-lo ao gabinete. Ao entrar, o governador foi logo fuzilando: "Mesquita, você quer acabar com o estado?”. “Que história é essa, governador!", protestou o deputado. "Você além de me pedir para calçar a estrada Macaíba a Natal usando todo o paralelepípedo da pedreira de Jundiaí (pertencia ao governo do estado e era administrada pela secretaria da agricultura cujo titular era Enock Garcia), você ainda pede mais pedra para obras urbanas da prefeitura de Macaíba? Isso não é possível!!", complementa José Varela, afobadamente. Mesquita "pegou gás", como se diz na gíria de hoje. De parte a parte, murros na mesa e ameaças de rompimento. O deputado Israel Nunes, pessedista, viajor de muitas galáxias e profundo conhecedor da personalidade dos dois, chama o garçom e pede água e café.
Ao cabo de dez minutos os ânimos serenaram. A paz é celebrada novamente. Da parte de Zé Varela excesso de zelo pelo estado. Da de Mesquita exagero patriótico por Macaíba. As pedras continuaram a sair de Jundiaí para fazer a atual balaustrada e a praça Antônio de Melo Siqueira, além do grande parque à margem do rio, todo urbanizado e que, ainda leva hoje nome de "Governador José Varela". A amizade triunfara sobre o temperamento.
A celebração do seu centenário de nascimento, ocorreu há mais de dez anos passados. Relembro o seu vulto de homem público modelar e em envaideço não só de tê-lo conhecido mas, também, diante de tantas descrenças nos políticos de hoje, contemplo com orgulho que um homem da sua estirpe existiu no cenário da vida política do Rio Grande do Norte.

(*) Escritor.


Editora do IFRN


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