10/09/2014


O  Espelho de Gandhi
 
O Espelho de Gandhi
Perguntaram a Mahatma Gandhi quais são os fatores que destroem os seres humanos. Ele respondeu: "A Política, sem princípios; o Prazer, sem compromisso; a Riqueza, sem trabalho; a Sabedoria, sem caráter; os negócios, sem moral; a Ciência, sem humanidade; a Oração, sem caridade.
A vida me ensinou que as pessoas são amigáveis, se eu sou amável; que as pessoas são tristes, se estou triste; que todos me querem, se eu os quero; que todos são ruins, se eu os odeio; que há rostos sorridentes, se eu lhes sorrio; que há faces amargas, se eu sou amargo; que o mundo está feliz, se eu estou feliz; que as pessoas ficam com raiva quando eu estou com raiva e que as pessoas são gratas, se eu sou grato.
A vida é como um espelho: se você sorri para o espelho, ele sorri de volta. A atitude que eu tome perante a vida é a mesma que a vida vai tomar perante a mim.
Quem quer ser amado, ama. O caminho para a felicidade não é reto. Existem curvas chamadas EQUÍVOCOS, existem semáforos chamados AMIGOS, luzes de cautela chamadas FAMÍLIA, e tudo se consegue se tens: um estepe chamado DECISÃO, um motor poderoso chamado AMOR, um bom seguro chamado FÉ,  combustível abundante chamado PACIÊNCIA, mas acima de tudo um motorista habilidoso chamado DEUS!"
Grande Gandhi!



EU PECADOR, NOS 75 ANOS DE VIDA


Sou natalense da antiga Rua Nova, hoje Av. Rio Branco, nascido na mesma época em que surgiram os primeiros pruridos do sangrento conflito da 2ª guerra mundial, quando as tropas nazistas invadiram a Polônia, utilizando-se das ofensivas-relâmpago dos aviões stuka e tanques blindados que, em menos de um mês, derrotaram as forças polonesas. (setembro de 1939).


Meus pais então moravam na Av. Rio Branco, centro dos xarias. De lá, pelos idos de 1942, fomos para a Rua Felipe Camarão, onde assisti o desfile de caminhões enormes dos exércitos brasileiro e americano vindos da Ribeira e transitando em direção ao Tirol. Nesse período conheci os Black out´s. Em seguida, já no findar da guerra, fomos em 1945 morar na Rua Otávio Lamartine, quase vizinhos à Igreja de São Judas Tadeu e em frente a um quartel onde existiam resquícios de armas de guerra.


Mas a paisagem da minha vida logo foi modificada para a placidez e o bucolismo das pequenas cidades do interior, para onde eu segui na companhia dos meus pais, ele um Juiz que morava nas Comarcas. Aí encontrei a primeira luz do meu caminho emocional, entre a natureza e o silêncio das noites em penumbra que me forçavam a criar estórias do meu devaneio. Só voltei a Natal em 1948 e daqui não saí mais.


Não sei bem explicar a razão da minha primeira inclinação telúrica - a música. Mas estudei na Escola do Maestro Waldemar de Almeida, próximo ao Cinema Rex e abracei, até 1955, a carreira artística, dividindo os palcos, particularmente da Rádio Poti, com outros cantores infantis como Odúlio Botelho, Edmilson Avelino, Paulo Eduardo Moura, Elino Julião e José Filho e convivi com grandes compositores e cantores nacionais e estrangeiros, dos quais destaco Dosinho e Chico Elion, Paulo Molin, Agnaldo Rayol, os meninos do Trio Irakitan, Haroldo/Hianto de Almeida, Bienvenido Granda, José Monjica, Tito Schippa e os artistas consagrados da época Luiz Gonzaga, Augusto Calheiros, Sílvio Caldas, Orlando Silva, Déo e Sivuca. Certamente esse pendor musical não veio da tradição familiar do meu velho Doutor José Gomes, mas deve ter sido da Dona Ligia, descendente dos Albuquerque Maranhão, onde pontificaram estadistas, mas também um mecenas da educação e da cultura – Alberto Maranhão, que cultuava a música e o teatro.
O destino permitiu que hoje fizesse parte da Academia Macaibense de Letras, ocupando a cadeira nº 02, cujo Patrono é Alberto Maranhão e como membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e da Liga de Ensino de Natal, que o mecenas ajudou a fundar.
E por que essa prosa toda, saída do nada. É que hoje completo 75 anos de vida e estou feliz, convivendo em regime de armistício com algumas enfermidades cruéis. Mas Deus é mais forte e me mantém ativo, permitindo que possa auxiliar várias entidades culturais, ainda que sem remuneração, com um prazer que é a razão do meu viver.
ABRAÇO A TODOS E AGRADEÇO A DEUS TER PERMITIDO QUE COMEMORE MAIS UM ANO DE VIDA, NA FELICIDADE DO MEU LAR, COM MINHA COMPANHEIRA DEDICADA, FILHOS, FILHAS, GENRO E NORAS E SOBRETUDO DOS SETE MARAVILHOSOS NETOS, MAIOR RELÍQUIA DA MINHA VIDA E DE QUEBRA ALGUNS POUCOS, MAS FIÉIS AMIGOS.

09/09/2014

Convite
 
A Editora da UFRN e a Cooperativa Cultural Universitária têm o prazer em convidar-lhe para o lançamento do livro "A Noiva do Verso", uma tese de autoria de Ana Laudelina Ferreira Gomes acerca da obra de Auta de Souza. Estudo bio-bibliográfico com leituras da obra  com base na abordagem filosófico-poética de Gaston Bachelard. Trata-se de uma releitura crítica da cultura e sociedade oitocentista e nela o lugar de subalternidade da mulher escritora. O trabalho reposiciona a poeta no cânone contemporâneo.
 
 

Remédios



Antes dos anestésicos

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br



Na sociedade vitoriana pouca coisa provocava tanto temor as pessoas, quanto se submeter a um ato cirúrgico. A administração da dor era um grande problema.
 Não existia qualquer forma de anestesia, além do ópio e do álcool, que só podiam ser administrados com moderação, em virtude dos efeitos colaterais. A realização de qualquer procedimento cirúrgico era visto como uma forma de tortura. Praticamente, o paciente sentia todas as dores.
Os cirurgiões da época se orgulhavam de sua rapidez, pois as longas operações eram insuportáveis para os pacientes, bem como para eles. Procedimentos que hoje demoram horas eram executados em poucos minutos, para diminuir o sofrimento.
Em 1811, a escritora britânica Fanny Burney submeteu-se a uma mastectomia em Paris. Um ano depois, em carta a uma irmã, descreveu a terrível experiência.
Teria sido administrado a ela um vinho como única forma de anestesia. Foi em seguida acomodada em um apertado cubículo, que fora montado em sua casa por uma equipe de sete profissionais.
Então, deitada lado a lado com compressas, bandagens e instrumentos cirúrgicos, teve o rosto coberto por um lenço. Segundo sua própria descrição: “Quando o aço terrível penetrou meu seio, cortando através das veias, artérias, carne, nervos, nada havia que me impedisse de gritar. Soltei um grito que durou interminavelmente por todo o tempo da incisão, e muito me espanto por não mais ouvi-lo ecoando em meus ouvidos! Que agonia excruciante... Senti, então, a faca chocando-se contra o esterno, raspando-o! Tudo se desenrolava enquanto eu permanecia em uma tortura inteiramente muda”.
Antes de desmaiar, praticamente em choque, depois da operação, viu de relance o médico que a operara – “quase tão pálido quanto eu, o rosto recoberto de sangue e a expressão de dor, apreensão e, quase, horror”.
Em outubro de 1846, no Hospital Geral de Massachusetts em Boston, o dentista William Morton fez uma demonstração pública da utilização do éter como anestésico.
A notícia logo atravessou o Atlântico, e ainda naquele ano o dentista londrino James Robinson começou a usar o éter em seus pacientes, o que causou espanto entre os médicos.
Na virada daquele ano, o entusiasmo pelo éter se alastrava para além da comunidade médica, divulgado pela imprensa. Muitas pessoas se interessaram pelo tema – um deles foi John Snow.
Contudo, o milagroso anestésico não era totalmente seguro. Algumas aplicações funcionavam muito bem – o paciente adormecia pelo tempo que durava o procedimento, acordava minutos depois, sem qualquer lembrança da operação e a sensação de dor era bastante reduzida. Porém, alguns acordavam abruptamente no meio da cirurgia. E muitos jamais acordaram.
O estudioso John Snow logo aventou a hipótese de que fatos assim ocorriam por uma questão de dosagem e iniciou uma série de experiências, a fim de determinar a melhor maneira de administrar o milagroso gás. Snow organizou uma “Tabela para o cálculo da intensidade do vapor do éter”, baseado na influência que teria a temperatura do local onde estavam sendo realizados procedimentos cirúrgicos.
Enquanto concluía seus estudos, Snow iniciou um trabalho com Daniel Ferguson, um fabricante de instrumentos cirúrgicos, com o intuito de produzirem um inalador que permitisse um melhor controle sobre o anestésico.
Em 1847, a comunidade médica direcionou suas atenções para um novo anestésico – o clorofórmio – e Snow passou também a pesquisá-lo. Em finais de 1848, Snow publicou uma monografia sobre a teoria prática da anestesia.

08/09/2014

Jaeci E. Galvão

O ontem do meu tempo no Grande Ponto 
Odilon de Amorim Garcia

Desde o tempo em que eu comecei a tomar conhecimento das coisas da vida que o ponto nevrálgico de Natal foi o Grande Ponto.
O Grande Ponto era uma encruzilhada situada entre a Avenida Rio Branco e a Rua Pedro Soares que, depois da Revolução de 30, mudou o nome para Rua João Pessoa. Em cada esquina desta encruzilhada, existia uma edificação marcante. De um lado, ficava o “Café Avenida”, de Seu Andrade, local de encontros, de pequenos lanches, e onde se tomava um bom caldo de cana, e a casa residencial da viúva Dona Sinhá Freire. Do outro, o mais antigo e tradicional clube social da cidade, “O Natal Clube”, e a casa residencial do Dr. Alberto Roselli. Em frente ao “Café Avenida” e a casa “das Freire”, se reuniam os mais heterogêneos grupos de “habituês” para uma tradicional conversa de fim de tarde. Eram comerciantes, profissionais liberais, desembargadores, professores, etc...
Por esta encruzilhada, passavam todas as linhas de bonde da cidade, único transporte coletivo existente na época. A linha do Alecrim, que subia a ladeira da Avenida Rio Branco em direção à 
Ribeira, retornando pela Praça João Maria e voltando ao Alecrim. Havia também a linha Circular, que descia a Rio Branco no sentido da Ribeira, voltando pela Praça João Maria, e retornando à Ribeira. Na esquina, defronte ao “Café Avenida”, depois “Café Grande Ponto”, era o ponto inicial das linhas dos bondes para os bairros de Petrópolis e Tirol, que se localizava, exatamente, junto à calçada de um prédio que na parte térrea tinha uma confeitaria de propriedade de um Sr. Guerra, e na parte superior, o consultório do Dr. Onofre Lopes. Estas duas linhas seguiam pela rua João Pessoa até a esquina da praça Pedro Velho, quando, então, se bifurcavam, tomando cada uma a direção do seu respectivo bairro. Os bondes de Petrópolis se caracterizavam por uma luz verde, de cada lado do nome do bairro, e os do Tirol, por uma luz vermelha. Era somente para esses quatro bairros que existia condução.
Hoje, procurando recordar alguns momentos memoráveis daquele local tão vivenciado por muitos companheiros da juventude, fazemos uma viagem no tempo, um evocar melancólico dos dias idos. Nunca se deve mexer em coisa antiga, mas, às vezes, é bom trazer de volta um passado que alegrou a nossa mocidade.
No Grande Ponto, vivenciei muitos fatos e momentos interessantes da minha vida, nesta nossa belíssima cidade de Natal.
Quando da Revolução de 30, houve um movimento da mocidade estudiosa, que pensava em transformar o mundo, liderado pelos alunos do Atheneu, que arregimentou alunos dos vários Colégios da cidade para uma passeata pelas ruas, como um protesto pelo assassinato do presidente João Pessoa (os governadores de Estado eram chamados de presidente), um dos líderes revolucionários. Nesta época, eu tinha uns 10 anos e estudava no Colégio Santo Antônio, dos Irmãos Maristas, que funcionava ainda na Rua Santo Antônio, junto à igreja, que também era incluída como estrutura do colégio. Todos nós, do colégio, fomos arrastados com o restante dos estudantes dos vários estabelecimentos, Atheneu, Marista, Colégio Pedro II (do memorável professor Severino Bezerra) e de alguns grupos escolares, pelas principais ruas da cidade, num sonho utópico de contestação de liberdade e de conquista do poder, terminando em pleno Grande Ponto, cantando, ajoelhados, o hino que tinham composto em homenagem a João Pessoa:

João Pessoa, João Pessoa,
Bravo filho do sertão
O teu vulto varonil
Faz vibrar o coração do Brasil
Tua glória espera um dia
A tua ressurreição.
Os anos se passaram, e, um dia, volto eu de Recife, formado em Odontologia, e depois de uns anos com consultório na Ribeira, verifiquei que o progresso da cidade estava se desenvolvendo na Cidade Alta. Imediatamente, abandonei o Edifício Aureliano e me mudei para a Cidade. Montei, então, meu consultório na Rua João Pessoa, no “Edifício Rian”, que foi construído pelo comerciante Amaro Mesquita, junto ao antigo “Café Avenida”, agora já com o nome de Grande Ponto. O nome “Rian”, dado ao edifício, significava o contrário a Nair, esposa de Amaro Mesquita.
Eram meus companheiros, com consultório no Edifício, as grandes e saudosas figuras humanas do meu colega e amigo Sílvio Tavares, uma ausência marcante, e o médico Dr. João Tinoco Filho.
Na parte térrea do Edifício, funcionava a “Confeitaria Cisne”, de Múcio e Rossine Miranda, cujo garçom era o antológico José Américo, que chegou a ser candidato à Câmara Municipal.
A “Confeitaria Cisne” era o local preferido pelos amantes de um bom e necessário drinque, para acalmar os espíritos. Ali, se reunia a nata da boemia natalense e de todos aqueles que, homens de espírito, sentiam a alegria de uma conversa, mesmo sem a necessidade de uma cerveja ou uma dose de uísque. Existia tempo para todas as conversas do mundo dos nossos horizontes, naquela época, inatingíveis. Era um tempo sem angústia, sem medo e, principalmente, sem pressa.
O comércio da cidade fechava geralmente às 17 horas e, logo depois, começavam a se formar as diversas rodas para o bate-papo até o horário do jantar, e restabelecido por volta das 19:30 até às 21:00 horas. Nesta hora, se dizia na época, “se soltavam as feras”. Era a hora que todos tinham que deixar as suas namoradas, retornando ao Grande Ponto.
Passei a conviver, diariamente, com a intensa movimentação do Grande Ponto. Só trabalhava até às 17 horas, pois neste horário começavam a chegar os freqüentadores assíduos, amigos e 
conhecidos, para as conversas e as novidades do dia. Havia tempo para tudo. Principalmente o encantamento por uma cidade e os delírios de uma mocidade cheia de sonhos, que se tornava grande aos nossos olhos. Estavam sempre presentes as figuras mais
expressivas de uma geração: Armando Fagundes, Rossine Azevedo, Rômulo da Fonseca Miranda (Rômulo Minha Gata), Genar Wanderley, Alvamar Furtado de Mendonça, Humberto Nesi, Protásio Mello, Luiz Tavares, Carlos Bengne, João Cláudio Machado, Zé Herôncio, Djalma Maranhão, João Alfredo Pegado Cortez (o conde de Miramontes), Luiz Maia, Alínio Azevedo, Marito Lira, Dácio Azevedo, Ernani Lyra, Veríssimo de Mello, Ebenezer Fernandes, Paulo Pires, Paulo Lira, Alberto Moura, Osman Capistrano, Lauro Bacelar, e alguns de uma nova geração, como José Alexandre, meu irmão, Jahir Navarro e outros.
Outro grupo, composto por figuras mais ilustres e com mais idade, discutiam problemas mais complexos. Gonzaga Galvão, Edgar Barbosa, Antônio Soares Filho, Otto de Brito Guerra, Alfredo Lira, e outros que a memória começa a falhar...
Um grupo de notívagos, comandado por João Cláudio Machado e Djalma Maranhão, varava a madrugada em intermináveis conversas, grupo que era conhecido como os freqüentadores da ”Universidade do Grande Ponto”.
Infelizmente, a grande maioria destes personagens já empreendeu a grande viagem, mas continuam presentes nas estórias que costumam resgatar a nossa memória.
Existiam grupos para conversas de todos os assuntos: futebol, política, religião, até de safadeza.
Também um pequeno grupo, formado pelos “artistas”, rapazes de uma geração bem mais nova, que se preocupavam em se vestir na última moda e sempre com o cabelo muito bem penteado. Eles chegavam ao cúmulo de ensaboar os cabelos e ir para a Praia do Meio, para que o sol endurecesse o seu ondulado.
Deste grupo, recordo-me de Mozart Romano, Milson Dantas, José Garcia da Câmara, Wellington Muniz, Wilton Pinheiro, Milton Fernandes, Mozart Silva. Existia um outro elemento, que era filho de Seu Andrade, dono do “Café Avenida”, mais que não me lembro do seu nome. Ele era chegado a uma briga e uns amores perigosos.

O Grande Ponto era divertido. Apareciam figuras de todos os tipos. Havia esmoler impertinente, como Maria Mula Manca, personagem que, andando de muletas, percorria, incessantemente, todo aquele quarteirão, atazanando e insultando todo mundo. Na época da
política, então, se revelavam figuras excepcionais, como Capote Molhado, candidato eterno e avulso em todas as eleições, que fazia discursos homéricos, em cima de uma cadeira, sempre na calçada da Sorveteria e Restaurante Cruzeiro, e era efusivamente aplaudido pelo público gozador.
Os carnavais, que se realizavam até então na Ribeira, na Av. Tavares de Lyra, na época de 40, passou para a Cidade Alta, realizando o seu corso num grande circuito, indo pela Av. Rio Branco, Ulisses Caldas, Av. Deodoro e rua João Pessoa.
Este fato tornava o Grande Ponto um dos locais mais animados da cidade, pela convergência dos vários bares existentes: “Confeitaria Cisne”, “Casa Vesúvio” (de Maiorana), “Sorveteria e Restaurante Cruzeiro”, “O Natal Clube”, o Restaurante de Seu Gaspar, a Sede do Santa Cruz Football Club, que ficava em cima da Farmácia de Cícero, esquina com a Rua Princesa Isabel, e algumas pequenas barracas que eram armadas improvisadamente.
Eu, da sacada do meu consultório, juntamente com a minha família e alguns amigos, assistíamos, de camarote, toda essa movimentação. Sílvio Tavares, com seu constante espírito brincalhão, lançava mão das bisnagas que se usava antigamente nos consultórios odontológicos, enchia-as de água e, lá de cima, molhava os foliões que passavam nos carros fazendo o corso. Os foliões, sentados nas capotas arriadas dos carros abertos, aturdidos, não sabiam de onde vinha aquele jato d’água.
Os corsos dos carnavais de antigamente eram animados, principalmente, porque os carros favoreciam que os foliões se sentassem em suas capotas, dando ensejo que se atirasse serpentina e confete de um carro para outro, unindo os carros, numa verdadeira brincadeira carnavalesca. As luxuosas e variadas fantasias usadas pelos foliões embelezavam de uma maneira destacada o carnaval. Eram os Pierrôs, as Colombinas, os Palhaços, Chinesas, Japonesas, Índias, Marinheiros, Bailarinas, Ciganas, e uma infinidade de outras fantasias, algumas até com aspectos exóticos.

Curioso no carnaval eram as pessoas que apareciam, inesperadamente, se lançando em plena folia, a exemplo do comerciante Júlio Cézar de Andrade, um homem sóbrio, austero, ponderado, mas, às vezes, de respostas implacáveis quando se
sentia insultado. Pois não é que Júlio, pai do meu amigo Dalton, num carnaval, montou o bloco da ”Manteiga Garça” (produto que ele representava), e saiu no corso, fantasiado, tentando apresentar ares carnavalescos, em cima de um caminhão, cuja ornamentação era uma enorme lata da tal manteiga, e ainda com a animação de uma orquestra de cordas, dirigida por Augusto Dourado no pandeiro?
Existiam, também, figuras que, isoladamente, pela sua irreverência, extrapolavam alegria. Era o sempre extrovertido e brincalhão Zé Herôncio, que vestido de mulher, tendo na mão um pinico cheio de salsicha, ostensivamente, com caretas como de nojo, fazia que comia o verdadeiro conteúdo que geralmente existe num pinico. E Yoyô Barros, um senhor já com certa idade, que, tocando um reco-reco, era acompanhado, espontaneamente, por um grande grupo de pessoas, cantando, insistentemente, uma canção onomatopéica: “Olha o cão, olha o cão, olha o cão do Jaraguá”.
A animação do carnaval daquele tempo deu ensejo a que as gerações seguintes seguissem a tradição dos blocos daquela época, como o “Aí Vem a Marinha” e criassem alguns outros blocos com a mesma tendência carnavalesca. Os “Kafajestes”, “Jardim da Infância”, “Puxa-saco”, “Bakulejo”, “Saca-Rolha”, “Elite”, “Ressaca” foram os blocos representativos de uma rapaziada da classe mais abastada, que faziam o corso em carros alegóricos, e costumavam, tradicionalmente, “assaltar” as casas residenciais antecipando o período momesco. Este costume dos anos 50 e 60 de assaltar uma casa, significava uma visita do bloco a uma residência, de comum acordo com o seu dono, e eram regados de muita bebida e tira-gostos, confetes e serpentinas.
E, logo depois, o tradicional local do corso mudou-se para a avenida Deodoro.
O Grande Ponto sempre foi palco de grandes acontecimentos. Durante a II Grande Guerra, começou a funcionar o “Serviço de Alto Falante”, de Luiz Romão, cujas caixas de som eram fixadas em um 
poste, exatamente na esquina da João Pessoa com a avenida Rio Branco, defronte ao “Café Grande Ponto”. Todos os dias, às 19 horas, o Serviço transmitia músicas, e, às 21 horas, re-transmitia o noticiário da BBC de Londres. Os freqüentadores do Grande Ponto se deslocavam para aquela esquina para ouvir as últimas notícias sobre a guerra.
Outro acontecimento da época foi o “blackout”. Durante a guerra, por um grande período, as luzes das ruas eram apagadas, ficando a cidade quase totalmente às escuras. Somente as residências tinham o direito de manter alguma luz acesa, mas com todas as vidraças cobertas com papel escuro para não passar luz.
Assim mesmo, as reuniões do Grande Ponto continuavam concorridas. Ficávamos todos conversando na penumbra, olhando, embevecidos e apreensivos, os holofotes que cruzavam o céu na busca dos aviões da esquadrilha alemã, que diziam vir bombardear Natal, por ser o ponto mais próximo de Dakar, no continente africano, onde os alemães já estavam quase dominando.
O vestuário usado tradicionalmente por toda a população da cidade era paletó e gravata, e alguns usavam chapéu, como eu, que procurava esconder a minha precoce careca. Podia ser sábado, domingo ou dia da semana, era esta a maneira de vestir. Mesmo durante o “blackout”.
Humberto Nesi não foi sempre aquela figura sisuda, circunspeta, introspectiva, como quando foi durante quase toda sua vida como Inspetor Seccional da Receita Federal. Humberto era um gozador, gostava de fazer umas estripulias, um verdadeiro “moleque”, na expressão brincalhona da palavra. Morava numa casa, ainda com seus pais, no segundo quarteirão da João Pessoa, bem perto de onde nos reuníamos. Numa noite de “blackout”, quando estávamos todos reunidos, conversando, esperando o noticiário da BBC, inesperadamente, chega Humberto, vestido somente de pijama e com chinelos. Foi um verdadeiro escândalo.
Havia casas de comércio que marcaram época, como “O Café Maia”, de Chico Azevedo, que era dirigido pelo seu filho Rossine Azevedo, nosso grande amigo. O “Café Maia”, que se especializava em moer café, era um ponto permanente de encontros do nosso grupo de amigos. Tinha a Fotografia de Namorado, fotógrafo da elite da cidade. A “Confeitaria Vesúvio” também era destaque, não 
só por duas mesas que existiam por trás de um grande armário cheio de bebidas, e era assiduamente freqüentada por alguns fregueses, como Joaquim Luz, Otto Júlio Marinho, Paulo Pires e outros, e sempre servidos pelo próprio proprietário, Francisco Maiorana, mas também pela presença do seu filho, Rômulo Maiorama, um rapaz metido a “dândi”, muito apreciado pelas mocinhas casadoiras. Anos depois, Rômulo foi para Belém do Pará,
tornando-se um homem rico, até dono de jornal. Infelizmente, desapareceu muito cedo.
Ainda hoje permanece, no chamado pé de escada do consultório do Dr. Onofre, um senhor desta época, com mais de 80 anos, que tem o ofício de gravador. O senhor, religiosamente, pode ser encontrado neste local, todos os dias, das 8 às 18 horas, gravando medalhas, placas de metal, relógios, etc.
Assim era o Grande Ponto.
Velhos tempos. Quanta coisa a ser lembrada e relembrada num mergulho que, quase sem querer, damos no passado das nossas memórias. Quanta saudade desses dias, que, infelizmente, é inteiramente impossível, no tempo e no espaço, voltar atrás.

07/09/2014


Independência Do Brasil - Resumo

Resumo Da Independências Do Brasil, Fatos, Causas, Processo

Grito da Independência às margens do Ipiranga
Grito da Independência às margens do Ipiranga
História da Independência do Brasil

A Independência do Brasil ocorreu em 7 de setembro de 1822. A partir desta data o Brasil deixou de ser uma colônia de Portugal. A proclamação foi feita por D. Pedro I as margens do riacho do Ipiranga em São Paulo.

Causas:

- Vontade de grande parte da elite política brasileira em conquistar a autonomia política;

- Desgaste do sistema de controle econômico, com restrições e altos impostos, exercido pela Coroa Portuguesa no Brasil;

- Tentativa da Coroa Portuguesa em recolonizar o Brasil.

Dia do Fico

- D. Pedro não acatou as determinações feitas pela Coroa Portuguesa que exigia seu retorno para Portugal. Em 9 de janeiro de 1822, D. Pedro negou ao chamado e afirmou que ficaria no Brasil.

Medidas pré independência:

Logo após o Dia do Fico, D. Pedro I tomou várias medidas com o objetivo de preparar o país para o processo de independência:

- Organização a Marinha de Guerra

- Convocou uma Assembleia Constituinte;

- Determinou o retornou das tropas portuguesas;

- Exigiu que todas as medidas tomadas pela Coroa Portuguesa deveriam, antes de entrar em vigor no Brasil, ter a aprovação de D. Pedro.

- Visitou São Paulo e Minas Gerais para acalmar os ânimos, principalmente entre a população, que estavam exaltados em várias regiões.

A Proclamação da Independência

Ao viajar de Santos para São Paulo, D. Pedro recebeu uma carta da Coroa Portuguesa que exigia seu retorno imediato para Portugal e anulava a Constituinte. Diante desta situação, D. Pedro deu seu famoso grito, as margens do riacho Ipiranga: “Independência ou Morte!”

Pós Independência

- D. Pedro I foi coroado imperador do Brasil em dezembro de 1822;

- Portugal reconheceu a independência, exigindo uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas;

- Em algumas regiões do Brasil, principalmente no Nordeste, ocorreram revoltas, comandadas por portugueses, contrárias à independência do Brasil. Estas manifestações foram duramente reprimidas pelas tropas imperiais.

Fonte:

06/09/2014


NECO - MEU VIOLONISTA, MEU AMIGO

Odúlio Botelhodo IHGRN/ALEJURN/INRG

Revendo a crônica que escrevi em homenagem   póstuma ao grande Neco do Violão, no dia de sua partida, há oito anos, reafirmo que ele foi uma das melhores pessoas que conheci.*


Se o grande Rafael Rabelo foi o monumental violonista das décadas de 1980/1990, tendo orquestrado e acompanhado no seu violão de ouro os deuses da mpb, a exemplo de Nelson Gonçalves, Sílvio Caldas, Orlando Silva, Altemar Dutra, Gal Costa, Paulinho da Viola, Claudionor Germano, Maria Betânia, Caetano Veloso, Chico Buarque, Alceu Valença, Ney Matogrosso, enfim, todos os astros do cancioneiro popular (tendo produzido inclusive o excelente CD "Mestre Capiba" - BMG-Brasil), o grande Neco do Violão, nascido e sepultado no vale do Ceará-Mirim foi o meu violonista predileto, desde 1952, nos tempos da Rádio Poti de Natal e, de lá até o dia 23 de Setembro/2006, não mais o larguei. Apenas quando Neco passou a residir no Recife, por duas décadas, a nossa parceria musical deixou de existir formalmente, porque no campo espiritual sempre estivemos unidos.

É verdade que parei de cantar por algum período. Imposições da vida. Entretanto, com o retorno de Neco a Natal nos reencontramos e, como não poderia deixar de ser, cultivamos uma amizade muito mais madura do que nos tempos da juventude. Neco, em tempos idos, fez parte do conjunto musical Vocalistas Potiguares, que marcou época na musicalidade natalense, ao lado dos irmãos Sebastião e Roldão Botelho, Walter Canuto e tantos outros, sendo esse um grupo musical que nada devia aos grandes conjuntos brasileiros, entre os quais: Anjos do Inferno, Demônios da Garoa, etc...

Bem, estando devidamente apresentado aos leitores o meu inesquecível amigo Manoel Guedes de Araújo, que veio a este mundo pelas carícias de Dona Corina e de Seu Araújo no ano de 1931, ascendeu para a glória da eternidade em 23 de setembro último, uma vez que "há tempo de nascer e tempo de morrer", conforme o ensinamento do Eclesiastes: 3:8, embora tenha nos deixado repletos de saudades sim, mas de tristeza não.

Há um detalhe peculiar ao seu falecimento que precisa ser levado ao domínio público. Neco partiu para o outro plano em paz com Deus e nos braços de seus amigos. Comemorava-se, naquela ocasião, o aniversário de uma pessoa muito especial - Fátima Guedes. Tocou o seu violão durante uma tarde inteira, com o solo magistral do tecladista Sílvio Caldas. Estava feliz e exultante no convívio dos seus fãs.

Nesse ambiente festivo entendeu que deveria partir para o universo celestial, decisão que se amoldou ao que sempre praticou durante a vida: com serenidade, discrição, simplicidade, indulgência, paciência, amor, lealdade e paz. Faleceu nos braços dos seus amigos prediletos - Zé Petit, José Perci, Sílvio Caldas (o juiz) Rubinho Botelho, Assis Câmara, Walquíria de Assis, Arthunio Maux, Beto (filho de Evaniel), Carlos Alberto Galvão de Campos e Odete, enfim, de todos aqueles que no dia festivo do aniversário de Fátima estavam delirantes com os seus acordes maravilhosamente sonoros. Parece que o grande momento estava preparado. Aqui na terra, comemorava-se a alegria da vida, inclusive com a presença lírica do poeta e escritor Nei Leandro de Castro.

No Céu, Deus certamente o estava esperando para consagrá-lo na sua grandiosa benignidade. Resta, agora, agradecer ao Onipotente por ter convivido com você, estimado Neco, o que foi inegavelmente uma dádiva. Mas, é oportuno indagar com muita saudade: quem irá acompanhar-me quando eu for cantar Violões em Funeral?

__________________________________

*Crônica escrita em 23 de set. 2006 e publicada a pedidos.