16/04/2014


Pau dos Ferros e os Rocha Pitta

João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)

Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Nesse final de semana que passou, estivemos em Pau dos Ferros. Não para fazer pesquisas genealógicas, mas para Dona Graça dar treinamento às suas consultoras Mary Kay. Foi uma viagem agradável, onde encontramos muito verde, apesar da falta de água em vários municípios do Rio Grande do Norte.
Fico me perguntando, como e por que alguns pioneiros foram parar em lugar tão distante de tudo, com todas as dificuldades daquela época. Muitos portugueses se embrearam pelo sertão, possivelmente para fugir de alguma perseguição ou condenação, por puro espírito aventureiro ou para criar gado.
Lá em Pau dos Ferros, nos abrigamos no Hotel Jatobá, onde fomos recebidos por Doralice, esposa de Licurgo Quinto.
No escritório dela, nos deparamos com um mapa escolar, político e urbano, do ano de 2006, patrocinado pela Prefeitura. Na sua parte histórica, encontramos o seguinte trecho: “Neste ano de 1763, foi concedida uma sesmaria ao Sr. Luiz da Rocha Pita e Dona Maria Joana, e ao Sr. Simão da Fonseca e seus filhos. Todos esses senhores foram os pioneiros que se estabeleceram e trabalharam duro e juntos construíram um núcleo de um pequeno povoado, alguns anos depois já havia bastante casas de taipas ao redor da pequena fazenda.”
Esse histórico foi encomendado, possivelmente, a um amador, pois contém equívocos que transmitem informações incorretas, principalmente, se atentarmos para o fato de ser um mapa dito escolar.
Já tivemos oportunidade de escrever três artigos, aqui neste jornal, sobre os Rocha Pitta. Mas, vale a pena recordar um pouco da presença deles no Rio Grande do Norte, embora haja ainda algumas informações contraditórias.  Uma carta régia, de 14 de dezembro de 1701, menciona que quarenta vaqueiros enviados por Antonio da Rocha Pitta, pretenderam expulsar os gados existentes na Ribeira do Assú, procedimento que foi sustado pelo capitão general de Pernambuco. Ademais, Antonio da Rocha Pitta recebeu mais sesmarias do que deveria, o que provocou várias contestações.
Por volta de 1733, filhos e herdeiros do coronel Antonio da Rocha Pitta, e de sua mulher Aldonsa de La Penha Deus Dará, requereram e tiveram, posteriormente, confirmação real de duas sesmarias: a de Pau dos Ferros e a de Campo Grande, ambas na Ribeira do Apodi. Esses documentos estão no segundo livro de Sesmaria do Rio Grande do Norte, da Coleção Mossoroense.
A descendência de Antonio da Rocha Pitta não está bem estabelecida, e depende de quem escreveu sobre isso. Em “História de um Engenho do Recôncavo”, de Wanderley Pinho, consta que ele casou duas vezes, a primeira com Maria da Rocha Pitta e, a segunda, com Aldonsa de La Penha Deusdará. Do primeiro casamento, somente um filho, Francisco da Rocha Pitta, que casou duas vezes, sendo um dos seus filhos Cristovão da Rocha Pitta. Do segundo casamento, foram três filhas e dois filhos. Duas filhas casaram com os desembargadores João de Soto Maior e João Homem Freire, e a terceira com um parente deste, que, segundo Borges da Fonseca, foi Manoel Homem Freire de Figueiredo. Já os homens foram o coronel Luiz da Rocha Pitta Deusdará, que morreu solteiro, e Simão da Fonseca Pitta que casou com a prima Antonia da Fonseca Villas Boas, daí nascendo uma única filha Aldonsa de La Penha Deusdará (2ª do nome), que por sua vez casou com Amaro de Sousa Coutinho, e daí nascendo mais um Antonio da Rocha Pitta.
Nesses requerimentos, de sesmarias, o coronel Luiz da Rocha Pitta Deus Dará, Francisco da Rocha Pitta, Simão da Fonseca Pitta e Dona Maria Joanna, todos moradores na Bahia, aparecem como filhos do coronel Antonio da Rocha Pitta e de Aldonsa de La Penha Deusdará. Não consta Francisco da Rocha como sendo filho de Maria da Rocha Pitta, e nem as outras duas filhas, que casaram com os desembargadores, como requerentes.
Nesse período não há noticias da presença desses herdeiros, aqui. Mas, posteriormente, encontramos descendentes em várias regiões do Rio Grande do Norte, principalmente, em Santana do Mattos. Um tetravó meu, Cosme Teixeira de Carvalho, foi casado com Aldonsa da Fonseca Pitta. Ligado a eles, aparece Luiz da Rocha Pitta, com vasta descendência em Santana do Matos. Só que não encontrei o elo que liga esses dois aos sesmeiros. Na região salineira vamos encontrar, como herdeiro, Cristovão da Rocha Pitta, cujas terras eram administradas pelo capitão Manoel Varella Barca.
Todas as prefeituras deveriam rever o histórico de suas cidades, solicitando ajuda dos departamentos de História das universidades.
Em um próximo artigo, postarei uma correspondência de Nestor dos Santos Lima para Wanderley Pinho, que trata das terras desses Rocha Pitta, aqui no Rio Grande do Norte.

Trevas

QUARTA - FEIRA SANTA OU QUARTA-FEIRA DE TREVAS

NA QUARTA -FEIRA SANTA RECORDAMOS A TRAIÇÃO DE JUDAS, DAÍ SER CHAMADA DE QUARTA DAS TREVAS.
"Tenho estado todos os dias convosco no templo, e não estendestes as mãos contra mim,
mas esta é a vossa hora e o poder das trevas. "
São Lucas 22,53
Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes e perguntou-lhes: 15 Que quereis dar-me e eu vo-lo entregarei. Ajustaram com ele trinta moedas de prata. 16 E desde aquele instante, procurava uma ocasião favorável para entregar Jesus ( MT 26, 14-16)
Judas Iscariotes, um dos Doze, foi avistar-se com os sumos sacerdotes para lhes entregar Jesus. 11 A esta notícia, eles alegraram-se e prometeram dar-lhe dinheiro. E ele buscava ocasião oportuna para o entregar. ( MC 14,10-11)
Levantai-vos e vamos! Aproxima-se o que me há de entregar. 43 Ainda falava, quando chegou Judas Iscariotes, um dos Doze, e com ele um bando armado de espadas e cacetes, enviado pelos sumos sacerdotes, escribas e anciãos. 44 Ora, o traidor tinha-lhes dado o seguinte sinal: Aquele a quem eu beijar é ele. Prendei-o e levai-o com cuidado. 45 Assim que ele se aproximou de Jesus, disse: Rabi!, e o beijou. 46 Lançaram-lhe as mãos e o prenderam. (MC 14 ,42-46)
Dito isso, Jesus ficou perturbado em seu espírito e declarou abertamente: Em verdade, em verdade vos digo: um de vós me há de trair!... 22 Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saber de quem falava. 23 Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao peito de Jesus. 24 Simão Pedro acenou-lhe para dizer-lhe: Dize-nos, de quem é que ele fala. 25 Reclinando-se este mesmo discípulo sobre o peito de Jesus, interrogou-o: Senhor, quem é? 26 Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o pão embebido. Em seguida, molhou o pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. 27 Logo que ele o engoliu, Satanás entrou nele. Jesus disse-lhe, então: O que queres fazer, faze-o depressa. 28 Mas ninguém dos que estavam à mesa soube por que motivo lho dissera. 29 Pois, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe falava: Compra aquilo de que temos necessidade para a festa. Ou: Dá alguma coisa aos pobres. 30 Tendo Judas recebido o bocado de pão, apressou-se em sair. E era noite... 31 Logo que Judas saiu, Jesus disse: Agora é glorificado o Filho do Homem, e Deus é glorificado nele.  (JO 13, 21-31)
Depois dessas palavras, Jesus saiu com os seus discípulos para além da torrente de Cedron, onde havia um jardim, no qual entrou com os seus discípulos. 2 Judas, o traidor, conhecia também aquele lugar, porque Jesus ia freqüentemente para lá com os seus discípulos. 3 Tomou então Judas a coorte e os guardas de serviço dos pontífices e dos fariseus, e chegaram ali com lanternas, tochas e armas. 4 Como Jesus soubesse tudo o que havia de lhe acontecer, adiantou-se e perguntou-lhes: A quem buscais? 5 Responderam: A Jesus de Nazaré. Sou eu, disse-lhes. (Também Judas, o traidor, estava com eles.) 6 Quando lhes disse Sou eu, recuaram e caíram por terra. (JO 18, 1-6)


NA QUARTA DE TREVAS É TRADIÇÃO REZAR-SE 14 SALMOS LEMBRANDO OS 14 PASSOS DO CALVÁRIO DE CRISTO, TENDO UM CANDELABRO TRIANGULAR DE 15 VELAS ACESO.

 A CADA SALMO APAGA-SE UMA VELA, LEMBRANDO A VIDA DE JESUS QUE SE VAI, SÓ NÃO A DO MEIO DO CANDELABRO. POR FIM, ELA TAMBÉM SE APAGA LEMBRANDO A MORTE DE JESUS. E A IGREJA FICA NA ESCURIDÃO.
EM SEGUIDA, TODOS BATEM OS PÉS E AS CADEIRAS, FAZENDO RUÍDO , LEMBRANDO A RESSURREIÇÃO E A VELA DO MEIO É ACESA DE NOVO. 
ESSE COSTUME JÁ NÃO É MUITO USADO EM TODAS AS IGREJAS. PRINCIPALMENTE, DEPOIS DA REFORMA DO CONCÍLIO VATICANO. POUCAS CONSERVAM ESSA TRADIÇÃO QUE, AO MEU VER, É MUITO BONITA POR TODO O SIMBOLISMO DELA.

"E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más."
 São João 3,19

"Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida."
 São João 8,12

"Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas."
São João 12,46

"E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nele trevas nenhumas. "
I São João 1,5
 
"Disse-lhes, pois, Jesus: A luz ainda está convosco por um pouco de tempo. Andai enquanto tendes luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai."
São João 12,35
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Fonte: BREVIÁRIO (tirado da internet)

13/04/2014

O que é Domingo de Ramos?
 
 

O Domingo de Ramos abre por excelência a Semana Santa. Relembramos e celebramos a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém, poucos dias antes de sofrer a Paixão, Morte e Ressurreição. Este domingo é chamado assim porque o povo cortou ramos de árvores, ramagens e folhas de palmeiras para cobrir o chão onde Jesus passava montado num jumento. Com folhas de palmeiras nas mãos, o povo o aclamava "Rei dos Judeus", "Hosana ao Filho de Davi", "Salve o Messias"... E assim, Jesus entra triunfante em Jerusalém despertando nos sacerdotes e mestres da lei muita inveja, desconfiança, medo de perder o poder. Começa então uma trama para condenar Jesus à morte e morte de cruz.

O povo o aclama cheio de alegria e esperança, pois Jesus como o profeta de Nazaré da Galiléia, o Messias, o Libertador, certamente para eles, iria libertá-los da escravidão política e econômica imposta cruelmente pelos romanos naquela época e, religiosa que massacrava a todos com rigores excessivos e absurdos.

Mas, essa mesma multidão, poucos dias depois, manipulada pelas autoridades religiosas, o acusaria de impostor, de blasfemador, de falso messias. E incitada pelos sacerdotes e mestres da lei, exigiria de Pôncio Pilatos, governador romano da província, que o condenasse à morte.

Por isso, na celebração do Domingo de Ramos, proclamamos dois evangelhos: o primeiro, que narra a entrada festiva de Jesus em Jerusalém fortemente aclamado pelo povo; depois o Evangelho da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, onde são relatados os acontecimentos do julgamento de Cristo. Julgamento injusto com testemunhas compradas e com o firme propósito de condená-lo à morte. Antes porém, da sua condenação, Jesus passa por humilhações, cusparadas, bofetadas, é chicoteado impiedosamente por chicotes romanos que produziam no supliciado, profundos cortes com grande perda de sangue. Só depois de tudo isso que, com palavras é impossível descrever o que Jesus passou por amor a nós, é que Ele foi condenado à morte, pregado numa cruz.

O Domingo de Ramos pode ser chamado também de "Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor", nele, a liturgia nos relembra e nos convida a celebrar esses acontecimentos da vida de Jesus que se entregou ao Pai como Vítima Perfeita e sem mancha para nos salvar da escravidão do pecado e da morte. Crer nos acontecimentos da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, é crer no mistério central da nossa fé, é crer na vida que vence a morte, é vencer o mal, é também ressuscitar com Cristo e, com Ele Vivo e Vitorioso viver eternamente. É proclamar, como nos diz São Paulo: '"Jesus Cristo é o Senhor", para a glória de Deus Pai' (Fl 2, 11).
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Fonte: Internet

08/04/2014

1856, as posturas municipais




João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN e membro do IHGRN e do INRG
 
É muito triste andar pelas ruas da cidade e ver muitos terrenos (sem calçadas) e casas abandonadas, servindo como banheiro público, lixeira, depósito de entulhos, bordel e ponto de drogados. E você não precisa ir muito longe para encontrar essas anomalias para uma cidade que está no século XXI. Parece não haver nenhum código de postura em funcionamento, fiscalização e multas para os infratores.

Os nossos governantes e políticos, de um modo geral, só pensam em obras monumentais, onde o dinheiro se esvai com rapidez para os bolsos dos sabidos. Vários prédios da educação, da saúde e da segurança estão em petição de miséria.  No passado parecia haver maior preocupação com essas coisas, pois os códigos de postura eram cuidadosos. Mas, parece, também, que essa coisa se perdeu no tempo. Vivemos em um país enorme, aonde a concentração de recursos vai para os centros maiores. Não há descentralização governamental.

Hoje, transcrevo para cá uma Resolução provincial, datada de 20 de setembro de 1856, que aprovou onze artigos adicionais de posturas da Câmara Municipal da Vila de São Gonçalo, para dar uma ideia do que ocorria em 1856. O que disso tudo ainda persiste?

Antonio Bernardo de Passos, bacharel formado em Direito, oficial da ordem da Rosa, presidente da Província do Rio Grande do Norte, por S. M. o Imperador, a quem Deus Guarde etc.
Faço saber a todos os seus habitantes que a assembleia legislativa provincial, sobre proposta da câmara municipal da Vila de São Gonçalo, resolveu que se observem no respectivo município os seguintes artigos adicionais ao da mesma câmara.

Art.1. Ninguém poderá erigir casas ou outros quaisquer edifícios nas povoações de Utinga e Santo Antonio, ainda mesmo em terras próprias, sem se entender com o fiscal da respectiva câmara para dar o cordeamento da rua, em que se tem de fazer a edificação, sob pena de 6$000 réis de multa, e de ser demolida a obra à custa do dono, no caso de não estar no alinhamento.

Art.2. No mês de novembro de cada ano os proprietários das casas das povoações de Santo Antonio e Utinga serão obrigados a mandar caiar as frentes das mesmas casas com as cores, que julgarem convenientes. O contraventor deste artigo pagará 1$000 réis de multa, e o duplo nas reincidências.

Art.3. Todos os moradores das povoações de Santo Antonio e Utinga serão obrigados a conservar limpas as testadas de suas casas: pena aos contraventores 1$000 réis de multa, ou um dia de prisão.

Art.4. Ninguém poderá deitar animais mortos, ou qualquer outro objeto corrupto dento das mencionadas povoações: pena ao contraventor de 1$000 réis de multa, ou um dia de prisão, e de ser enterrado o animal a custa do dono. Na pena incorrem os que deitarem entulhos ou lixos nas ruas, e nos fundos de quintais.

Art.5. Fica proibido conservar cães soltos nas ruas das povoações deste município: pena ao contraventor de 2$000 réis de multa, ou dois dias de prisão, e de ser o cão morto.

Art.6. Ficam proibidos nas povoações deste município quaisquer vozerias, e funções que perturbem o sossego público: pena ao contraventor de 1$000 réis de multa, ou um dia de prisão a cada indivíduo que fizer, e o duplo na reincidência. O dono da casa onde se fizerem tais funções incorrerá na multa de 2$000 réis, e no duplo se reincidir.

Art.7. Fica proibido cavar barro nas ruas das povoações de Santo Antonio e Utinga, bem como nas estradas deste município: o infrator sofrerá a multa de 2$000 réis, ou dois dias de prisão, sendo o barreiro tapado à sua custa.

Art. 8. Ninguém poderá lavar roupa no rio da Prata, senão do caminho que passa junto à cerca de Lourenço José Correa até a passagem da estrada que vai para São Gonçalo. Aquele que infringir o disposto neste artigo pagará 2$000 réis pela primeira vez, e o duplo na reincidência, e sendo escravo será pago a multa pelo senhor.

Art.9. Ninguém poderá tapar no decurso do dia o rio da Prata da povoação de Utinga, nem cortar as árvores que existem do lado do seu curso: pena  de 1$000 reis ou dez dias de prisão, e o duplo na reincidência.

Art.10. O Rio Rego-Moleiro será desobstruído pelos proprietários e rendeiros dos terrenos adjacentes nos meses de fevereiro e agosto de cada ano. Aquele que o não fizer até os limites de sua propriedade, ou arrendamento, sofrerá a multa de 6$000 réis.

Art.11. Os proprietários foreiros, ou rendeiros das terras da Aldeia-Velha abrirão uma vala do rio de fora até à Soledade, a qual será limpa todos os anos nos meses de fevereiro e agosto: o infrator sofrerá a multa de 6$000 réis, e o duplo na reincidência.

Mando, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução das referidos artigos de posturas pertencer, que os cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nele se contém. O secretário da província as faça imprimir, publicar e correr. Palácio de Governo do Rio Grande do Norte, na cidade do Natal, 20 de setembro de 1856, trigésimo quinto da independência e do império. Antonio Bernardo de Passos.

06/04/2014



KERGINALDO CAVALCANTI
Jurandyr Navarro

Do Conselho Estadual de Cultura

William Pitt, erudito e festejado político inglês foi aclamado pela sua eloquência, na estréia no Parlamento, chegando ao ponto do conceituado político Burke afirmar:

"O partido a que este homem se unir

dominará sempre a opinião".

O mesmo ocorreu com Mirabeau a respeito de Robespierre, quando este assomou a tribuna, pela vez primeira, na Assembleia Nacional, ao tempo da Revolução Francesa.

Acreditamos ter, também, Kerginaldo Cavalcanti de Albuquerque, provocado seme­lhante expectativa em torno da sua eloquência tribunícia, na sua apresentação no Con­gresso Nacional brasileiro.

Estudante no Ceará o seu nome transpunha, cedo ainda, os umbrais do academicismo pela flama ardente da oratória. São João Crisóstomo era cognominado, pelos contempo­râneos, o "Boca de ouro ", por sua falação irradiante. Dele disse o Papa da Rerum Novarum. - "esse áureo rio de eloquência".

Kerginaldo Cavalcanti foi chamado de "Patativa do Nordeste", devido ao mavioso gorjeio   desprendido pela sua encantadora e vibrante eloquência.

Os seus discursos eram cadenciados pela onda vibratória da perfeita modelação da, voz. O seu verbo revestido da ortoépia, a arte de bem pronunciar o som vocálico.      

A sua fama de orador era reconhecida, reverenciada e aplaudida.         

Diplomou-se em Advocacia e exerceu a Política na sua plenitude. Nos anos áureos pertenceu ao Partido Social Progressista, liderado por João Café Filho, seu amigo, tendo rompido os laços partidários, depois, quando o irrequieto natalense, nascido nas Rocas, assumiu a Vice-Presidência da República.

Foi, Kerginaldo, eleito Senador e naquela Casa Legislativa bem desempenhou o mandato a ele conferido pelo sufrágio universal dos eleitores potiguares.

Inúmeros pronunciamentos, discursos, proposições, projetos e intervenções tiveram ele como autor, cujo teor substancial, tanto político quanto jurídico, o credenciou como um dos mais nobres "pais da Pátria".

Kerginaldo exibiu-se grande político, provando-o o seu desempenho impecável no Senhado da República. Era ele o político adequável à Democracia pela sua desenvoltura no Legislativo e na Tribuna.

Para Aristóteles, a forma opressora de governo seria a mais frágil das estabelecidas. A intenção política correta é aquela direcionada para o bem-estar dos governados, assinala ele. E adianta: - o Estado existe para o homem, e não o homem para o Estado. A felicidade precípua do homem, conclui, é a sua felicidade.

Kerginaldo Cavalcanti detinha no seu caráter, a chamada nobreza moral em política. Essa, a dádiva, a jóia preciosa do “guerreiro feliz”, na frase do discípulo de Platão, acima citado.

Para ele, a excelência da vida humana não era baseada como criatura amante do individualismo, porém,  criatura condicionada a ser socialmente admitida.

O nobre representante da nossa bancada, pela sua inteligência bem representou os potiguares nos debates da ágora legislativa e pela honradez da sua performance como político militante. Nos seus argumentos sempre foram baseaqdos na possível justiça, na esperança de dias, sempre melhores, na compreensão e na paz.

A sua ação honrou sobremodo o nome augusto que o espírito sobraçava, cheio de dignidade cívica. Portou-se sempre como um verdadeiro patriota. No seu último mandato sobressaiu-se como denodado nacionalista, defendendo a nação brasileira, a riqueza do seu subsolo, o seu petróleo, a sua economia e outros bens subjetivos e axiológicos da nacionalidade pátria.

Foi um homem emblemático da Oratória. Na Grécia Antiga o discurso forense e a oração política representavam função por excelência, na ordem social da Polis.

A oratória, tal a Poesia, imortaliza.

As alocuções de Kerginaldo Cavalcanti, algumas conservadas, outras dispersas, muitas perdidas, tais pétalas de rosa perfumada, espalhadas ainda ecoam na alma da Nação, em forma de polinização, para fecundar, na mente da mocidade brasileira, o sen­timento cívico de nacionalidade que ele tanto cultuou e defendeu.

No outono de sua vida, cheia de vitórias da inteligência, não juntou ele as folhas secas espalhadas pelo vento, mas colheu e acariciou, na lembrança fugidia, o sentimento da saudade, que jamais murcha no coração.

A saudade das belas orações declamadas pela sua alma altiva e generosa.

05/04/2014

 Aos são-gonçalenses


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, sócio do IHGRN e do INRG

Com a chegada do aeroporto, São Gonçalo do Amarante se tornará mais internacional do que já foi. Há necessidade, portanto, de um maior cuidado com sua verdadeira história, pois estará mais exposta. Embora tenha feito um artigo, anteriormente, chamando a atenção para equívocos sobre seu passado, observamos, que eles se repetem em vários sites, e, talvez, nas escolas.
Está na hora da Prefeitura de São Gonçalo providenciar junto às nossas Universidades estudos sobre o passado riquíssimo desse município com base em documentos primários. 
Para exemplificar, transcrevo trecho de uma notícia que encontrei em jornal de 1930, “Notas fornecidas pelo desembargador Antonio Soares, a pedido do tenente Manoel Cavalcanti, prefeito do município de S. Gonçalo: ...sendo seus primeiros habitantes e fundadores os Srs. Paschoal Gomes de Lima e Ambrósio Miguel de Serinhaém, os quais, “in illo tempore”, foram os primeiros que a este lugar chegaram, vindos do lado sul. (talvez de “Serinhaém”, Pernambuco, conjeturamos nós outros). Aqui edificaram eles suas casas assobradadas e construíram uma capela dedicada a S. Gonçalo do Amarantho (?) e onde colocaram uma imagem do mesmo, que era esculpida em pedra, ficando assim o lugar denominado S. Gonçalo do Amarantho, os dois srs. Paschoal e Ambrósio, ambos casados legitimamente, e possuindo família, foram ligando reciprocamente  seus descendentes, de modo que hoje toda a família são-gonçalense, na pluralidade de seus membros, podem afirmar terem sidos aqueles senhores os seus verdadeiros ascendentes”.
Vários sites colocam a data de chegada de Pascoal e Miguel como sendo 1710. Vamos aos fatos. Na região do Potengi, vamos encontrar antigas capelas como Santo Antonio do Potengi, São Gonçalo do Potengi, Nossa Senhora do Socorro de Utinga e Oratório de Jundiaí.  Vejamos alguns batismos nessa localidade, dos muitos que ocorreram no período de 1688 até 1711.
No dia 29 de junho de 1688, na capela de São Gonçalo, foi batizada Leocádia, filha do capitão Manoel de Abreu Frielas (provavelmente, irmão de Pascoal) e de sua mulher Izabel Dornelas. 
No dia 31 de outubro de 1689, na Capela de São Gonçalo, foi batizada Bárbara, filha de Manoel Rodrigues Santiago e de sua mulher Catarina Duarte de Azevedo, tendo como padrinho Matias Camelo; nessa mesma capela de São Gonçalo, aos 26 de novembro de 1691, foi batizada Izabel, outra filha desse casal, tendo como padrinhos o capitão Theodósio da Rocha e Joana, filha do capitão Pedro da Costa Faleiros. Essa Catarina descende dos mártires de Uruaçu, Estevão Machado de Miranda e Antonio Vilela Cid, trucidados em 1645.
Ainda, em 10 de junho de 1688, na capela de Santo Antonio, foi batizado Bonifácio, filho do capitão Theodósio da Rocha (outro participante da Guerra dos Bárbaros) e de sua mulher Antonia de Oliveira, tendo como padrinhos o capitão Afonso de Albuquerque (Maranhão) e Maria de Sá.
Já em 25 de abril de 1691, na capela de Santo Antonio da Pebuna (?), foi batizada Ana, filha do capitão Theodósio de Grasciman e de sua mulher Paula Barbosa (descendente de outro mártir, João Lostau), sendo madrinha Antonia de Oliveira.
No dia 24 de novembro de 1697, na capela do Potengi do Bem Aventurado Santo Antonio, foi batizado Manoel, filho de Manoel de Sousa Cirne e de Maria Pereira, sendo padrinhos João da Costa Almeida e sua mulher Domingas da Fonseca.
No dia 12 de junho de 1709, na capela da Utinga, de Nossa Senhora do Socorro, foi batizado João, filho de João Machado de Miranda e de Leonor Duarte de Azevedo. João e Leonor são meus hexavós.
Izabel, que foi batizada, em 1691, conforme registro acima, tornou-se Izabel Rodrigues Santiago, casou com Salvador de Araújo Correa, e batizou em 18 de junho de 1710, na capela de Nossa Senhora do Socorro de Utinga, Luiza, sendo padrinhos o padre Antonio de Araújo Sousa, e uma irmã de Izabel, de nome Elena Duarte de Azevedo. Esta Elena foi batizada, em 27 de dezembro de 1701, na capela de São Gonçalo do Potengi, tendo como padrinhos Antonio Duarte e Ana de Macedo, filha do capitão João Martins de Sá.
Em 7 de março de 1711, no Oratório de Jundiaí, foi batizado Manoel,filho de Antonio Cabral de Vasconcelos e de Mariana da Costa, tendo como padrinhos o capitão-mor Gonçalo de Crasto Rocha e D. Joana Gomes de Abreu, mulher de Manoel Tavares Guerreiro.
Pelo apresentado, muitas famílias já existiam, no século XVII, onde hoje é São Gonçalo, inclusive a família de Pascoal Gomes de Lima que participou da Guerra dos Bárbaros, junto com seu pai, o norte-rio-grandense, capitão-mor Manoel de Abreu Soares. Já em 1697, Pascoal Gomes de Lima foi padrinho de uma filha de Antonio Batista Pimentel, e, em 29 de dezembro de 1698, na capela de São Gonçalo do Potengi, foi batizada Antonia, filha do capitão Pascoal Gomes de Lima e de sua mulher Helena Berenguer, sendo padrinhos Pedro Berenguer e D. Maria de Cerqueira. E, em 11 de outubro de 1701, foi batizada, na capela de Santo Antonio do Potengi, Maria Magdalena, outra filha de Pascoal e Helena, tendo como padrinhos Estevão Rodrigues de Sousa e D. Theodósia da Rocha, filha do capitão Theodósio da Rocha.
A esposa de Pascoal Gomes de Lima, Dona Helena, aparece em diversos registros com sobrenomes diferentes; uma hora Berenguer, outra Barbosa. Acredito que fosse da família Berenguer de Pernambuco, do sogro de João Fernandes Vieira. Nessa família tinha um Ambrósio Berenguer de Andrade que casou com Magdalena Barbosa de Albuquerque. Acredito, que no lugar de um casamento entre filho de Pascoal e desse suposto Ambrósio Miguel, tenha havido o casamento de um filho de Manoel de Abreu Soares (Pascoal) e uma filha de um desses Berenguer (Helena). Na descendência de Pascoal e Helena aparece o sobrenome Barbosa de Albuquerque.
Leocádia de Manoel de Abreu Friellas, 1688

04/04/2014

UNI-RN



DALADIER CUNHA LIMA – (2)

Jurandyr Navarro

(Do Conselho Estadual de Cultura)

O segredo da vitoriosa missão educacional de Daladier Cunha Lima é devido à sua perseverança por causa tão nobre revestida de grandiosidade. O importante não é somente iniciar, porém, persistir, dar continuidade e jamais confiar na chamada boa estrela, iluminadora do caminho a percorrer.

A exemplo de todos impulsos generosos, a tarefa educacional é feita de trabalho e dedicação, animada por um coração confiante. Desprovido do oxigênio vivificante do ensino programado, o espírito se atrofia pela falta do alimento intelectual. E nesta queda vertiginosa inibida é a energia do lutador, fato caracterizado na expressão gráfica do pensador religioso Fougeray: “Onde um coração já não vibra, o vigor enfraquece; a alma saltita ainda, o gênio não tem asas; em lugar de relâmpagos, o raio emite centelhas. Enfim, nada de sublime, quando o coração se apequena”.

A verdadeira instrução é conselheira da convivência duradoura com os livros. Nos mosteiros medievais a Biblioteca tinha o elevado conceito do respeitável Santuário.

Bem dirigida e aliada a uma educação refinada, a instrução conduz a uma existência virtuosa.

A Pedagogia no seu amplo sentido, prepara a mente humana para o saber, impulso criador que move o mundo.

Com muito acerto pontificou o pensador Dumas; “Ah! Se fosse possível que eu viesse a perder a avidez pelo saber e pela investigação, a sede pela ciência que por nada se apagará, a vida não me ofereceria mais nenhuma consolação. Que deleites acompanham o exercício das faculdades intelectuais! Diz-se do saber o que se diz do poder: é o banquete dos deuses”.

Dispondo-se apenas de uma centelha, semelhante à luz de um vagalume pode-se, por leituras escolhidas, incendiar a imaginação, advindo imagens, as mais belas, propiciando, assim, a radiante aurora da inspiração cultural.

A sabedoria, desde tempos imemoriais, tem sido iluminada pelo fogo ardente da inteligência humana, reluzente clarão lembrante às tochas, sempre acessas, do templo das Vestais, sendo, somente ela, a sabedoria, a singular descobridora dos segredos do Universo.

Destituído dessa chama abençoada o homem estaria, ainda, vagando, sem rumo definido, pelos sombrios caminhos da floresta inóspita da ignorância.

A determinação de Daladier Cunha Lima em prestigiar a ação pedagógica seria vã se destituída da grandeza de um trabalho inteligente e perseverante.

O esforço pessoal, a sua liderança, aliados à apurada reflexão, pôde edificar monumentos duradouros para as gerações jovens. Seguiu ele, nessa caminhada, a magia do som mavioso da lira de Anfion, responsável pelo erguimento das muralhas de Tebas.

No ato de instalação da Faculdade Natalense para o Desenvolvimento, ele assim se expressou, dentre outras considerações: “A FARN manterá estreito relacionamento com a sociedade Norte-rio-grandense. Nosso planejamento será baseado na Missão da Faculdade, nas potencialidades internas, e, sobretudo, nas demandas expectativas da sociedade. Estaremos abertos e receptivos a novas ideias e sugestões e atuaremos com visão de futuro, valorizando sempre o pensamento prospectivo. Procuraremos, permanentemente, o diálogo construtivo com os governos, com a classe política, com o empresariado e com a classe trabalhadora. Estaremos em conexão com as Instituições Educacionais, nos diversos níveis públicos e particulares. Enfim, estas portas estarão abertas, não só as portas, mas os corações, as almas, as mentes, na busca das melhores energias e sinergia em favor da educação do Rio Grande do Norte”.

Salas de aula são palcos em que atores, os discípulos, encenam peças, idealizadas pelos autores, seus mestres. São elas, as salas de aula, como “templos sagrados da humanidade”, designação atribuída a Pasteur, em relação aos laboratórios científicos.

Ambos são remédios para o corpo e para o espírito, respectivamente.

Tal cenário incentiva, através o ensino o despertar da mente do adolescente, às coisas úteis da civilização humana, livrando a mocidade de ser prisioneira de uma vida apedeuta, cuja cela escura não seria, sem o seu concurso, clareada pela chama ardente de uma esperança salvadora.

Mantém, Daladier Cunha Lima,  conceituada coluna semanal, de anos, aos domingos, no jornal “Tribuna do Norte”, de nossa capital, na qual espelha suas idéias em concepção geral, num estilo elevado e atraente.

Dentro outras realizações, na UFRN, criou o Mestrado de Engenharia Química.

Lembre-se, também, de passagem, ter sido de sua iniciativa, como Reitor, federal, a implantação do Curso de Especialização de Literatura Brasileira, até então inexistente.

Além da Literatura, a Música foi também prestigiada no seu mandato quadrienal, com a construção de imponente edifício, em espaço nobre do campus universitário. Homenageando a divina arte, a iniciativa despertou desusado interesse, persistente até os dias presentes.

Tal grandiosa sinfonia, o som mavioso contagiou pintores, escritores e demais amantes da manifestação do Belo, para realizarem apresentações no convidativo palco artístico-cultural.

Pitagórica, é a afirmação de que a ondulação musical purifica a alma humana.

O sensível dirigente lembrou-se, ainda, de tornar escrita a História da Universidade, o ponto de partida da sua memória, iniciando-se pelos seus primeiros trinta anos. Ficou assim idealizada a sua Síntese Cronológica, entregue esse trabalho de pesquisa ao então professor Veríssimo de Melo, que publicou livro a respeito, trabalho atualizado pela professora Carmem Lúcia de Araújo Calado, na presente gestão da atual Reitora Ângela Maria Paiva Cruz, em obra lançada, recentemente, no pátio da Reitoria.

A instrução e a educação são bens perduráveis que atravessam gerações de anos-luz.

A educação é a luz iluminadora da alma humana na idade jovem, a fim de guiá-la nas subseqüentes idades adulta e anciã.

Com o passar do tempo, a idade considerada jovem fará parte do passado, certo? Todavia, essa luz do passado, que iluminou a idade jovem será como a luz das estrelas, luz que ainda permanece no espaço sideral, mesmo que elas, as estrelas, hajam se eclipsadas no firmamento, continuando a iluminar as mencionadas idades adulta e anciã, no tortuoso caminho da existência.

Daí, a importância da luz da educação, projetada na idade jovem.

Daladier Cunha Lima é desses cidadãos que dedicaram a vida, em parcela acentuada, às gerações estudiosas, embora a custo de ingente sacrifício.

No entanto, igualmente a Joaquim Nabuco, ele interpreta que “a Cruz pode ser pesada de carregar, mas somente ela equilibra o nosso andar”.