27/11/2013

Almirante Theotônio Coelho Cerqueira de Carvalho


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN e membro do IHGRN e do INRG

Ele nasceu aos dezenove de novembro de mil oitocentos e trinta e oito, e foi batizado aos treze de janeiro do ano seguinte, na Matriz de Nossa Senhora da Apresentação. Era filho de Theotônio Coelho Cerqueira, natural de Portugal, e D. Izabel Maria de Lacerda. Teve como padrinhos Simão Antonio Gonçalves e sua mulher D. Maria Quitéria da Purificação.

Parte de sua carreira encontrei nos antigos jornais, da Hemeroteca Nacional. No final de 1858, após prestar exames para Escola da Marinha, foi aprovado, iniciou em 1859 e concluiu no final de 1860, tornando-se apto para ser contratado como Guarda Marinha, tendo participado nessa condição, já no ano de 1861, na corveta Bahiana. Em 1864, como segundo tenente, foi promovido a 1º tenente por merecimento.

Em 1876, o Ministro da Marinha mandou louvar o 1º tenente Theotonio Coelho Cerqueira de Carvalho pela apresentação do manuscrito intitulado “Viagem de exploração ao Alto Paraná e Iguassú”, feito na Canhoneira Fernandes Vieira, de que era Comandante. Nessa viagem, uma canoa, que usava para fazer as explorações, virou, morrendo um homem e uma criança, escapando ele e mais cinco tripulantes, depois de lutar contra a correnteza das águas por mais de 25 minutos.

Em 23 de setembro de 1890, após participar da eleição como candidato ao senado pelo nosso estado, fez um agradecimento ao eleitorado independente do Estado do Rio Grande do Norte.

Escreveu o capitão de fragata: Elevado pela brilhante votação, com que sufragou o meu nome, no último pleito eleitoral, o povo do Rio Grande do Norte, meu berço natal, venho oferecer-lhe a expressão de meus sentimentos, assegurando-lhe profunda gratidão, e eterno devotamento de minha vida. Desprotegido, embora, meu nome pelo bafejo oficial, nem por isto arrefeceu o honroso acolhimento com que me distinguiu o independente eleitorado do Rio Grande do Norte, circunstância especialíssima que mais obriga o abaixo assinado para com seus dignos conterrâneos. Foi com orgulho, que muito me penhora, que soube de quanto apreço, e quanta consideração cercaram aí os fracos serviços que, com lealdade e nobreza, hei prestado ao país, e especialmente ao Rio Grande do Norte, a quem dediquei a alma, o coração, e o braço. E esta justa compensação será abençoado incentivo para que, se possível é, se ative em mim, fulgure mais a centelha do amor pátrio, talismã sagrado que tem sido e será a estrela polar de todos os atos de minha vida. Acompanhando o digno eleitorado, a quem sou reconhecido em extremo, penso corresponder a sua alta confiança, assegurando-lhe que, como ele, só conheço uma religião – a do dever – só conheço uma liberdade – a que conduz ao caminho da honra. Theotônio Coelho C. Carvalho.

Em 1890, foi nomeado para inspetor do Arsenal de Marinha do Estado do Pará, e nessa época era capitão de fragata e exercia o cargo de capitão do Porto desse mesmo Estado. Em 1891 foi nomeado para comandar a Flotilha Amazonas e, em 1893, para comandar o Cruzado Guanabara, já como capitão de mar e guerra. Em 1898, era nomeado para inspetor do Arsenal de Marinha de Mato Grosso. Assumiu o comando da Flotilha, em Mato Grosso, em 1900. Recebeu medalha de ouro, de mérito militar, em 1902. Em 1904 era nomeado para assumir o cargo de administrador da praticagem da Barra do Rio Grande do Sul, e comandar o vapor Jaguarão.

Nesse mesmo ano de 1904, faleceu no Município de São Gonçalo, Justa Coelho Cerqueira de Paiva, esposa de Luiz Ignácio Freire de Paiva, sogra do capitão José Coelho Pereira de Brito e irmã do capitão de mar e guerra Theotônio.

No ano de 1906 esteve em Natal, visitando parentes. Em 1909, o governador informa, em seu relatório, que a casa do almirante Theotônio Coelho Cerqueira de Carvalho foi desapropriada para adaptação do Palácio e residência dos governadores.

O Jornal do Brasil de 1904 anunciou: Questão de máxima importância para a Armada Nacional foi ontem resolvida pelo Supremo Federal. Tratava-se da interpretação de legalidade de promoção do capitão de mar e guerra Alexandrino Faria de Alencar. Os capitães de mar e guerra, Theotônio Coelho de Cerqueira de Carvalho, Miguel Antonio Pestana, José Ignácio Borges Machado e José Pedro Alves Barros, reclamaram contra a promoção a contra-almirante do capitão de mar e guerra Alexandrino de Alencar. Alegavam que não foi ouvido o Conselho Naval, e nem Alexandrino de Alencar tinha cumprido o tempo de 2 anos no cargo de capitão de mar e guerra. O Supremo Tribunal Federal negou a solicitação.

Segundo Adauto Câmara, Theotônio casou com Cecília de Carvalho Coelho, em Uruguaiana, RS, tendo desse casamento um filho, Joaquim de Carvalho Coelho Cerqueira, nascido em 1878. Casou em segundas núpcias com Eugênia de Gouveia Coelho de Cerqueira, de Areia, PB, filha do desembargador Epaminondas de Souza Gouveia, nascendo desse casamento Maria Eugenia, Horminda, Isabel. Tinha cinco irmãos: Rosa, Justa, Vulpiana, Maria Honorina e José Coelho de Cerqueira. Faleceu em 14 de fevereiro de 1930, no Rio de Janeiro.

Segundo o Diário Oficial da União, foi reformado compulsoriamente, em 21 de novembro de 1904, no posto e com o soldo de Vice-Almirante, e graduação de Almirante, com 48 anos, 10 meses e 27 dias de serviço, na idade limite de 62 anos. Informa Adauto, que a data de nascimento foi alterada para 19 de novembro de 1842, para entrar na Marinha.

25/11/2013

Verdades cruzadas - II

CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, Professor aposentado do Curso de Direito da UFRN e Presidente da Comissão da Verdade. Membro do IHGRN.

              Sequenciando o nosso estudo, vamos verificar que em 1930 começa a entronização de uma era de restrições da liberdade, agora fora da Monarquia e em plena República velha através do líder gaúcho Getúlio Dorneles Vargas, contando com o apoio das forças militares e policiais.

Getúlio nunca aderiu a qualquer doutrina ideológica. Conforme as conveniências, manipulava este ou qualquer aspecto de todas elas afastado de ambos os extremos.

Otávio Frias Filho - Folha de São Paulo 18/8/2013 (Crítica)

O novo mandatário, segundo registram alguns historiadores, teve dúvidas sobre a viabilidade da revolução. Houve tempo em que pairavam no ar notícias de conspiração e já então ventilava pagar uma eventual derrota com a própria vida.[1]

Mais uma vez a repressão policial renova os desencantos e protestos acontecem no mês de março de 1932 nas ruas de São Paulo, notadamente em 07 de julho, com resultado de quatro estudantes mortos.

Em 1935 eclode novo e mais forte movimento de rebeldia, conhecido como “Intentona Comunista” em novembro de 1935 nas cidades de Natal – que instalou durante quatro dias um governo comunista, Recife e Rio de Janeiro.

Por deficiência na condução das ações por Carlos Prestes e Agildo Barata, houve precipitação dos descontentes, o que resultou num movimento efêmero, tendo como resultado 22 mortes, deixando um lastro sempre aproveitado pelos dissidentes para servir de marco forçado de um fantasma e pretexto contra a esquerda e que perdura até os dias presentes fazendo, imediatamente (10 de novembro), nascer o Estado Novo em 1937, com duração de 15 anos. Estava implantada a ditadura getulista, marco de um período reacionário.

O mundo vivia momentos difíceis, com o crescimento afrontoso do fascismo e do nazismo no continente europeu do que motivou a deflagração do 2º Grande Conflito Mundial em setembro de 1939, contando com o apoio do Japão.
Getúlio, que pendia para as ideologias do nazi-fascismo, episodicamente, voltou a se alinhar com os Estados Unidos a partir de 1942, tornando o Brasil um protagonista nos campos da Itália ao lado dos aliados,


 
 [1] Murilo Melo Filho – Testemunho Político, Ed. Bloch, 1997/7.

24/11/2013

NOTA DO PRESIDENTE DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RN.


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE – A MAIS ANTIGA INSTITUIÇÃO CULTURAL DO ESTADO – Rua da Conceição, 622 / 623, Centro – CEP: 59.025-270 – Natal/RN - Brasil C.N.P.J.: 08.274.078.0001-06 - Fone: (84) 3232-9728 E-mail: ihgrn1902@gmail.com

A   L   E   R   T   A

 
VALÉRIO ALFREDO MESQUITA, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte - IHGRN vem alertar às autoridades públicas e aos seus amigos, que tomou conhecimento da ação de uma pessoa, ainda desconhecida, se passando por Presidente do Instituto pedindo ajuda financeira para as obras da referida Entidade Secular, indicando uma conta corrente para os depósitos.
Por oportuno, esclareço a toda a sociedade potiguar que o fato tem origem criminosa e qualquer solicitação de cooperação ao IHGRN só terá validade, por escrito, assinado pelo Presidente da Instituição e em papel timbrado.
Solicito às pessoas que tenham sido lesadas que informem ao signatário ou ao IHGRN, no endereço e telefone acima referenciados, qualquer indício que permita a identificação desse estelionatário.
VALÉRIO ALFREDO MESQUITA
Presidente
VERDADES CRUZADAS -I
Carlos Roberto de Miranda Gomes, advogado e escritor. Membro do IHGRN
   O acaso trouxe-me um encargo no outono da vida – presidir a Comissão da Verdade da UFRN. Por isso, tive de voltar no tempo e no espaço para refazer a memória adormecida nos bancos da velha Faculdade de Direito da Ribeira – época difícil para a história da Democracia, pois iniciei em fevereiro de 1964, véspera do golpe e concluí em 1968, véspera do AI-5.
Lembrei que na mesma época e no mesmo palco alguns jovens sonhavam com um Brasil melhor, no campo e nas cidades e para isso se entregaram, sem medo, à luta contra a ditadura. Eu, por questões de sobrevivência de um prematuro casamento, com o peso da paternidade e a necessidade de garantir a subsistência, não engrossei o contingente dos lutadores, embora torcesse pelo sucesso daqueles idealistas e ter acompanhado seus movimentos grevistas, por solidariedade.
Hoje pago o preço do meu silêncio, por compreender com integral lucidez, a diferença da insônia com liberdade e a castração do sono no confinamento. Embora sem fazer juízo definitivo do valor das ações desenvolvidas, faço apenas a apologia da importância incondicional da liberdade, segundo Kant - o maior bem da vida! 
          O imperativo categórico da nova missão me colocou na cela com aqueles "menino(a)s" que entrevistei, a exemplo de: Geniberto Campos, Arruda Fialho, Josemá Azevedo, Anchieta Jácome, Gileno, Paulo Frassinetti, Iaperi, Rinaldo Barros, Juliano, Ivis, Ivaldo Cetano, Lailson de Almeida, Hermano Machado, Mery, Marcos Guerra, José Bezerra Marinho, Justina Iva... ao lado de outros que não entrevistei - Ginani, Hélio Xavier, Maria Laly, Danilo Bessa, Berenice, Tereza Braga, Djalva Confessor ... e então pude sentir o que significa a insônia sem liberdade, sem opções imediatas, mentalizando o momento da soltura, do reencontro familiar, do retomar o caminho natural da vida. Foram amadurecidos com "carboreto", tirando do fruto o sabor de um amadurecimento natural, livre de pressão externa.
   Começo hoje uma série de artigos, aproveitando a expressão de uma estudante bolsista da CV (Patrícia) para o trabalho – VERDADES CRUZADAS, pois a história oficial nem sempre é a história definitiva, dadas às circunstâncias de tempo e espaço.
 
Artigo I - Fica decretado que agora vale a verdade, agora vale a vida e de mãos dadas marcharemos todos pela vida verdadeira;
Thiago de Mello: Estatuto do homem 
Após uma vivência sob o jugo Português, o espírito de brasilidade foi cultivado nas academias europeias e chega ao Brasil com o histórico “Grito do Ipiranga” no dia 07 de setembro de 1822 através de D.Pedro I, Príncipe Regente, ganhando a adesão da juventude e da comunidade pensante de então.
Composto o Império brasileiro, sequenciado com o governo de Pedro II, assim caminhou até a sua deposição em 15 de novembro de 1889, com o golpe militar de Deodoro, que nos fez ingressar inseguramente nos braços da República, sempre permeada por intervenções militares – revolucionárias as de 1888-1889; reformistas em razão do inconformismo patente nos movimentos tenentistas de 1922, governo de Artur Bernardes, que durou até 1926, em sua maior parte, sob estado de sítio, 1924[1] e 1930, este ano inaugurando um governo herdeiro da crise econômica do ano anterior, fazendo emergir a contestação da revolução social tendo como ponta de lança os partidos comunistas, organizados sob disciplina militar e se espelhando no modelo da União Soviética.
Diametralmente em contrário surgem os movimentos fascistas na Itália com Mussolini e o nazismo na Alemanha com Adolf Hitller, facções que abraçam um aspecto de nacionalismo e de racismo que, no Brasil, se abrigaram no movimento integralista de Plínio Salgado.
A repressão policial, o clientelismo e a corrupção desembocam em revoltas à semelhança de 1922 e 1924 até o fato mais grave do assassinato do Vice-Presidente da República, o paraibano João Pessoa, ocorrido em 26 de julho, estopim para a implantação de um outro momento político, com a chamada Revolução de 1930 e a deposição do Presidente Washington Luiz em 24 de outubro e começo do novo regime em 31 do mesmo mês e ano, assumindo o Senhor Getúlio Vargas no dia 3 de novembro subsequente, ali se estabelecendo.


[1] Em 1924 teve início a Coluna Prestes, liderada por Luiz Carlos Prestes, percorrendo 13 estados e 25 mil quilômetros na busca de angariar adesão para as causas tenentistas, contando com o apoio de militares como Cordeiro de Farias e Juarez Távora e culminando com a sua destituição em fevereiro de 1927 com a deposição de armas na Bolívia.

23/11/2013

REMINISCÊNCIAS DA RUA PRINCESA ISABEL – A SAGA DE FLORIANO - EL BODEGUERO – V
Avenida Deodoro da Fonseca - Internet

...Na década de 60 foram surgindo outros frequentadores, na sua maioria moradores da região e adjacências, além de “convidados”, como era o meu caso, pois naquela época morava na Avenida Deodoro.  O meu ingresso na turma foi através de um amigo de infância, Thales de Abreu Saraiva que ao se mudar da Rua Felipe Camarão para a Rua Princesa Isabel levou-me para a nova turma. Sua casa ficava em frente à residência dos irmãos Jahyr e Jurandyr Navarro, no final da rua próximo a ladeira do Baldo.    

Cito alguns frequentadores e suas estórias segundo as lembranças de José Augusto de Freitas - Zezé: Luis de França, apelidado de "Luis, o Bucaneiro". Certa vez Zezé fez um jornalzinho, com a caricatura dele, vestido de pirata, com perna de pau, papagaio e tudo. Havia os irmãos Bezerrinha, Dilson, Kessinho e Baiá. Tinha, ainda, o Rapa-coco, um senhor meio velho bem alto e magro; Abdênego, sargento do Exército, reformado; Heródoto, um cara atarracado, de porte atlético e de estatura elevada que quando enchia a cara ficava zanzando pela bodega e esfregando sua enorme pança no balcão. Numa dessas idas e vindas, desequilibrou-se e, acidentalmente, quebrou a quartinha da bodega. Um grande estrondo seguiu-se de um verdadeiro dilúvio, já que a enorme quartinha comportava quase 20 litros d’água. Cacos de barro se esparramaram sobre o passeio. Após um silêncio sepulcral dos que estavam presentes e o despertar de alguns pinguços adormecidos, todos os olhos voltaram-se para o culpado. Floriano que havia se ausentado da bodega pela porta que dava acesso a sua casa, ao ouvir o estrondo retorna, e atônito depara-se com o cenário avassalador. Depois de refeito olha para Heródoto e com voz paternal,  diz: “Heródoto, o que você fez? Você quebrou a quartinha do povo! A quartinha que matava a sede dos amigos! Você não fez mal a mim Heródoto; você prejudicou o povo que bebia água dessa quartinha!”...

                                          Foto internet

Heródoto, ainda zonzo e sem entender direito o que se passava ou o que tinha feito, com um ar de pura inocência, respondeu, com sua voz pausada e pastosa:
      - Ao povo, nobre amigo? Eu fiz mal ao povo? Quando ele se dirigia a Floriano tratava-o de "nobre amigo" (...) Envergonhado atira seu corpanzil totalmente sem domínio sobre umas caixas de cerveja e se entrega aos seus devaneios etílicos.  

Frequentavam ainda a bodega de Floriano: Vavá Pombo, irmão do exímio violonista o saudoso Efrain, que faleceu prematuramente após uma crise de apendicite; e também o não menos famoso Lelé, um dos maiores trombonista de nossa terra, morto em um acidente que ficou conhecido como a Tragédia do Baldo.
         
       Todos a seu tempo devem um pouco de sua formação na universidade da vida, aos ensinamentos aprendidos nos bancos feitos com caixas de cerveja e tamboretes da bodega de Floriano. Vavá Pombo grande craque da bola, tendo atuado como ponta direita do América, tinha fama de mentiroso e contador de histórias. De sua vez, irmão de saudoso Demóstenes, ídolo do Botafogo do Rio de Janeiro, tendo, inclusive, sido lembrado para compor a seleção brasileira da época. Era uma abençoada família de versáteis artistas.


                                   Botafogo 1950 - F.internet

No livro de depoimentos “Amigos do Tirol”, lançado em 2010, Mozinho um dos autores, narra uma estória que eu ouvi na bodega de Floriano e a ele transmiti há muitos anos atrás: contava Vavá que certa vez estava tão bêbado, mais tão bêbado, que jogou uma pedra no chão e errou. De outra feita, disse que após uma chuva torrencial notou, em cima um abacateiro que ficava no quintal de sua casa, uma manha escura pendurada em um dos galhos. Aproximou-se e cauteloso começou a cutucar a tal mancha com uma vara de bambu. Eis que em dado momento ouve um violento estrondo e ele cai pra trás. Refeito do susto surpreendeu-se ao perceber que tinha conseguido liberar um trovão que durante a chuva, acidentalmente ficara preso nos galhos do abacateiro.



         Havia também os que “assinavam ponto” regularmente como Ariosvaldo, que se dizia ex-combatente da FEB. Quando ele chegava ou passava, a meninada traquina gritava: "Chega-lhe a bufa" e ele saia esculhambando papagaios e periquitos... Floriano contava que quando o navio que transportava os combatentes para a Itália alcançou a saída da barra, Ariosvaldo pulou (heroicamente) no mar, retornou para casa e lá se escondeu até o final da guerra.

Raimundo, também conhecido como “Raymundo de La Cruz”, era um cara amarelo, de olhos acinzentados como de uma cobra. Floriano dizia que ele era um cara perigoso e que já havia matado gente. Certa vez, Carlinhos “barbeiro” disse uma brincadeira que Raimundo pensou que era com ele e fez o seguinte comentário: "formiga quando quer se perder cria asa, né Floriano"?  Carlinhos conhecedor da fama do colocutor desconversou e sem demora, deu no pé temeroso da observação.

F. internet


Numa determinada época, a orquestra de Ivanildo Sax de Ouro, veio fazer uma temporada no América F.C. e acabou ficando definitivamente em Natal. Os músicos passaram a frequentar a bodega de Floriano. Os mais assíduos, que logo fizeram amizade coma a turma da rua, foram: Odilon (violonista), Marçal, um meio japonês que era pianista e metido a filósofo; Saci, um negrinho alto e magricela, que entornava todas e tinha os olhos vermelhos e esbugalhados. Era um virtuoso do contrabaixo. Certa vez ele tocando no America, totalmente embriagado, caiu e continuou no chão, tocando o instrumento até o término da música.


O próprio Ivanildo também frequentava a bodega de vez em quando para bater um papo com os amigos e admiradores. Havia ainda uma figura exótica que todo mês chegava por lá: a professora Julieta. Ela parecia uma figura saída de um conto de fadas. Vestia uma roupa estilizada, de seda pura, com um coque no cabelo envolto em um lenço também de seda. Usava marrafas, brincos extravagantes e um batom bem vermelho tipo “boca louca”, nos grossos lábios. Lembrava uma velha cigana. Notava-se que sua idade já era bem avançada. Era aposentada e cuidava ao que parecia de alguns meninos, possivelmente seus sobrinhos. Ela comprava ninharias de confeito, doces cristalizados (mariola), raiva (bolinhos de goma), para levar pra eles. 
F. internet

De pé no balcão ordenava: "Floriano bote dois mil réis de raivas.” Floriano em obediência as ordens daquela extravagante dama, logo pegava em baixo do cepo de madeira um papel de embrulho ou um pedaço de jornal e com dedos ágeis começava a enrolar o pedido da madame (...)



O INVEJOSO – DOENTE OU MALEDICENTE? 
 Adalberto Targino (*) 

 A inveja, semanticamente, é o sentimento de desgosto, pesar ou tristeza pelo bem dos outros. É a cobiça ou desejo violento de possuir o bem, a alegria ou felicidade alheia, mesmo que o invejoso os possua igualmente. A sua mente, insensível e pervertida, deturpa tudo e destila o veneno do ressentimento, mágoa e dor profunda... Numa sociedade competitiva como a nossa, sobretudo exibicionista, patrimonialista, individualista e até cruel, o invejoso encontra campo fértil ao desenvolvimento de sua alma amargurada e insatisfeita. De fato, no dizer de Rousseau “o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”, isto é, industrializa o doente social. Aliás, especialistas afirmam que todo invejoso é portador de desvio ou distúrbio de personalidade, capaz de caluniar o ser invejado e atribuir-lhe vícios infinitos. Pode trair o melhor amigo e obscurecer-lhe virtudes; destruir reputação de outrem e até mesmo praticar bem urdidos crimes de calúnia, injúria, difamação,denunciação caluniosa, fraude, roubo ou homicídio. Não precisa de motivo para sentir inveja, porque este sentimento mesquinho é um monstro que a si mesmo se gera e de si mesmo nasce. A Bíblia ( Êxodo, 20,17), admoesta “não cobiçarás cousa alguma que pertença ao teu próximo” e no Salmo 36 “não invejes o que prospera em suas empresas” com “ o teu olhar mau e desprezível” (Eclesiástico). O invejoso, procura destruir o que não pode possuir, desmentir o que não compreende e insultar, detestar e combater aos que se elevam ou simplesmente vivem em paz e de bem com a vida. Exemplos emblemáticos de invejosos perversos, periculosos, cruéis, nefastos e perniciosos foram Caim que matou o seu irmão Abel ( o primeiro homicídio do planeta) ; Brutus que apunhalou o seu próprio pai adotivo Júlio César; Judas que entregou Jesus aos seus carrascos; Nero que com inveja do brilho intelectual do seu professor Sêneca o condenou a morte; o rei Saul que tentou matar por várias vezes o seu genro e benfeitor Davi; os irmãos de José do Egito que o venderam como escravo; O senador romano Catilina que tentou assassinar o Cônsul Marco Túlio Cícero; o grego Cylon, da Cidade de Croto, que incendiou o Instituto Pitagórico e expulsou Pitágoras da sua Cidade; e até no Reino Celestial, afirma-se, que Lúcifer foi expulso, porque, tentou destronar Geová, motivado pela cobiça. Heródoto, em sua monumental obra História III, 425 anos antes de Cristo, afirmou “a inveja nasceu no homem desde o princípio”. O invejoso é oscilante e pendular. Tem crises de grandeza e de inferioridade, de egolatria e de autopiedade, de sadismo e masoquismo. Sua marca registrada é não elogiar ninguém, exceto a si próprio ou a quem ele possa usar como escada aos seus propósitos diabólicos. É, em síntese, um renitente e contumaz pecador contra o segundo maior mandamento da Lei de Deus: “ama teu próximo como a ti mesmo”. Essa pobre criatura, odeia a felicidade do próximo e, via de conseqüência, renega a sua própria, corroída pela mesquinharia e competitividade imaginária. Vasculha, com interesse mórbido, a vida alheia, buscando detalhes mínimos da vida profissional e familiar da pessoa visada, a fim de maldizer o seu sucesso e divulgar as suas possíveis fraquezas e desacertos. Aos que ficam felizes com o sucesso dos outros ou os que sofrem a perseguição dos invejosos, resta um consolo nas palavras sábias de Alcalá Zamora: “os ataques da inveja são os únicos em que o agressor preferiria, se pudesse, fazer o papel de vítima”. Assim, aleluia as pessoas normais e piedade a essas reles e doentes criaturas injetadas pela toxina autodestruidora da inveja e do complexo de inferioridade. * O autor é Advogado Criminalista, ex-Professor de Ética e membro da Academia Brasileira de Ciências Morais e Políticas.

(*) Procurador Corregedor Geral do Estado, escritor e imortal das Letras.
Diretor Orador do IHGRN.

22/11/2013



 
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE
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A L E R T A
 

            valério alfredo mesquita, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN vem alertar às autoridades públicas e aos seus amigos, que tomou conhecimento da ação de uma pessoa, ainda desconhecida, se passando por Presidente do Instituto pedindo ajuda financeira para as obras da referida Entidade Secular, indicando uma conta corrente para os depósitos.

            Por oportuno, esclareço a toda a sociedade potiguar que o fato tem origem criminosa e qualquer solicitação de cooperação ao IHGRN só terá validade, por escrito, assinado pelo Presidente da Instituição e em papel timbrado.

            Solicito às pessoas que tenham sido lesadas que informem ao signatário ou ao IHGRN, no endereço e telefone acima referenciados, qualquer indício que permita a identificação desse estelionatário.

 

VALÉRIO ALFREDO MESQUITA

Presidente

 

 

 

21/11/2013

Nossa Senhora da Apresentação
Padroeira da Arquidiocese e da cidade do Natal


Foto da imagem
 
A história
A história da Padroeira de Natal, Nossa Senhora da Apresentação, baseia-se na tradição oral. Não um documento registrando a chegada da sua imagem às margens do rio Potengi. É importante salientar que, mesmo sem ter aqui uma imagem, Nossa Senhora da Apresentação é a Padroeira desde os primórdios da vida cristã da comunidade natalense. Em 1990, escremos, de Brasília, uma carta ao monsenhor Severino Bezerra, chanceler da Cúria e historiador da Arquidiocese de Natal, fazendo-lhe algumas indagações sobre o orago de Natal. Na sua carta resposta, ele nos fez a seguinte revelação: "Em 29 de março de 1718, antes da chegada de Nossa Senhora da Apresentação, num inventário por morte de Joana de Barros, em Goianinha, entre as dívidas deixadas pela falecida está: esmola de 5.000 (cinco mil) réis à Nossa Senhora da Apresentação. Só 35 anos depois foi o encontro da imagem" (Carta datada de 20 de maio de 1900.
Corrobora esta revelação o que Frei Agostinho de Santa Maria escreveu num livro publicado, em Lisboa, em 1722, citado pelo historiador Luís da Câmara Cascudo: "Na capela-mor daquela matriz se colocou pouco depois um grande e famoso quadro de pintura, em que se vê o mesmo mistério da Senhora historiado... A sua festividade se lhe celebra em 21 de novembro, que é o dia em que a Senhora foi oferecida ao Senhor da Glória". (1980:122).
Conta a tradição que na manhã de 21 de novembro de 1753, pescadores encontraram na margem direita do Rio Potengi, na confrontação da Igreja do Rosário, um caixote que estava encalhado numa pedra. Quando abriram-no, encontraram uma imagem da mãe de Jesus com um menino no colo.
A referida imagem tinha uma mão estendida, aparentando sustentar alguma coisa. Logo, deduziram que fosse um rosário. Avisado sobre a novidade daquela descoberta, o vigário da Paróquia, Pe. Manoel Correia Gomes pressurroso, dirigiu-se ao local e, incontinenti, conduziu o vulto para a Matriz, ciente de que se tratava de um ícone de Nossa Senhora do Rosário. Entretanto, como 21 de novembro é, no calendário litúrgico da Igreja Católica, o dia em que se festeja a apresentação da Mãe de Jesus no Templo, deram à imagem que apareceu no Rio Potengi o nome de Nossa Senhora da Apresentação.
A esta altura, é oportuno lembrar que a Festa da Apresentação de Nossa Senhora no Templo foi instituída pela Igreja Católica no ano de 1571.
Registra-se ainda a tradição que, no caixote que trouxe a imagem de Nossa Senhora, estava escrito: "No ponto onde der este caixão não haverá nenhum perigo" .
(De autoria do professor e historiador Itamar de Souza,
publicado no Fascículo "Nova história de Natal" - Diário de Natal)
 
A Festa
Os festejos em honra à Nossa Senhora da Apresentação acontecem no período de 11 a 21 de novembro. As celebrações religiosas acontecem na Matriz de Nossa Senhora da Apresentação (antiga Catedral) e na Catedral Metropolitana. Dentro da programação religiosa, uma atividade que aglomera milhares de fiéis, é a "Missa da Pedra do Rosário", celebrada à beira do Rio do Potengi, local onde a imagem apareceu. A missa é celebrada às 5 horas da manhã.
A programação sócio-cultural é realizada todas as noites, após as novenas, no pátio da Catedral Metropolitana.
 
Hino de Nossa Senhora da Apresentação         
1. Tu quiseste um dia trazer alegria ao nosso cantar. / E vieste Maria com Jesus nos braços, nas ondas do mar... / Pescadores te acharam, com amor te acolheram, Ó Mãe sem igual! / Entre o Potengi e as águas tranqüilas do mar de Natal!
Refrão: Escolheste, por amor, nossa terra prá aqui, vir morar... / Virgem Mãe do Senhor a teus pés nós viemos rezar.
2. Vinte e um de novembro, o dia feliz de tua aparição, / e nós te festejamos, ó Nossa Senhora da Apresentação. / Hoje a felicidade traz toda a cidade à tua Catedral. / Prá louvar-te Maria, que escolheste um dia teu trono em Natal.
3. Tens na fronte a coroa, Rainha da Paz do amor e do perdão... / És a Mãe terna e boa, / Rainha que reina com o terço na mão. / Teu olhar de bondade, onde a serenidade, nos dá proteção. / Tens Jesus em teus braços, és Nossa Senhora da Apresentação.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 
 

 
 
 
 

“HÁ CENTO E SETENTA E OITO ANOS”
                        - 21.11.1835 -                    
                         (Wellington Leiros)

O Padre ANTONIO GOMES DE LEIROS, natural da Paraíba, primeiro vigário-colado da então recém criada Paróquia de Nossa Senhora do Ó (31.07.1833), em Papari (hoje Município de Nísia Floresta), desmembrada de São José de Mipibu, fora nomeado pelo Bispo de Pernambuco, tendo assumido o “munus eclesiastico” na então Vila de Papari, aos 30 de agosto de 1833. Aos 21 de novembro de 1835, isto é, dois anos, dois meses e vinte e três dias depois, fora assassinado, em plena via pública de Nísia Floresta (nas proximidades da frondosa e secular “baobá”).
O Monsenhor Severino Bezerra “in” Levitas do Senhor – vol. II, referindo-se ao Padre Leiros, escreveu:
“Sacerdote moço, com boa disposição para o trabalho, numa paróquia recentemente criada, com vivência popular no meio de seus paroquianos, que bem o estimavam.”
Pois bem, consta que o Padre Leiros descobrira que as terras onde um tal TOMAZ MARINHO, membro da família Marinho de Papari,  seu paroquiano,  fundara, com muita dedicação e capricho, um dos “sítios” mais bonitos da Povoação de Papari, eram propriedade de Nossa Senhora do Ó, porquanto, para a formação do patrimônio da paróquia, Diogo Malheiros Rebouças e sua mulher Felipa Rodrigues de Oliveira haviam doado, em 1762, “...mil e cem braças de terra em Papari, sendo seiscentas em taboleiro e quinhentas em terra boa para plantações...” e, exatamente nelas, estariam encravadas as terras do sítio de Marinho.
A família Marinho, juntamente com as famílias Gusmão e Pires, todas de Papari, construíram a Matriz daquela localidade.
 
O sítio de TOMAZ MARINHO, graças a seu esforço e dedicação, sem falar na excelência de suas terras para a agricultura, a cada dia se transformava em um dos mais vistosos, seduzindo os olhos do povo.

MARINHO, apesar de ter recebido várias propostas de compra, algumas bastante consideráveis, dizia: ”de modo algum está à venda”.]
O Vigário, por sua vez, também aguçara os olhos no sítio tão desejado. Sabedor de que MARINHO não possuía os documentos da propriedade e alegando que as terras pertenciam à Paróquia, propôs ação judicial de reintegração de posse, através do rábula Antônio Gabriel de Carvalho.
Aliás, sobre as terras de MARINHO, há duas versões que, de certo modo, deságuam no mesmo estuário.
“In” Levitas do Senhor, o Monsenhor Severino Bezerra diz que “...o povo quer adquirir o sítio de MARINHO com ofertas em dinheiro mas, o Vigário quer, à força de questão, tomar posse do bem alheio”.
O historiador Luiz da Câmara Cascudo, por seu turno, “in” artigo (acta diurna) publicado em A República de 24.11.1939, diz, textualmente:
“O Padre Leiros ofereceu compra e obteve uma recusa imponente. O dono do sitiozinho não possuía seus documentos em ordem. O Padre Leiros adquiriu terra vizinha, outrora de âmbito maior e não demarcada. Veio a Natal e entregou a questão ao melhor e mais sagaz dos rábulas daquele tempo, Manoel Gabriel de Carvalho.” 
De Antônio Gabriel de Carvalho (citado pelo Monsenhor Severino Bezerra) a Manoel Gabriel de Carvalho (citado por Câmara Cascudo), a dubiedade não faz diferença ao caso. 
O que se tinha, e se teve, de certo, e o povo todo de Papari já sabia disso, é que  MARINHO iria perder suas terras. Vindo à Natal, constatara a veracidade das informações: “...aquele sítio é minha vida e vale tanto quanto ela....”, dissera MARINHO, “...vamos perder nós dois e ele, o padre, perde muito mais”. Comprou uma pistola e as respectivas balas.

Aos 21 de novembro de 1835 (a narração é  de Luiz da Câmara Cascudo) “...sol descendo, Marinho passava por uma tavernola em Papari quando o Padre Leiros chamou-o, com voz alegre e alta: perdeste a terra, Marinho! E você a vida, bradou o espoliado, arrancando a pistola e desfechando-a, num estampido, no peito do vigário. Houve um tumulto. Gritos, correrias, ordens. Marinho não procurou fugir. Foi preso. Coberto de sangue, o Padre Antônio Gomes de Leiros agonizava. Duas horas da tarde. Enterram-no no dia seguinte, com solenidade, na Matriz...” 
 
Nada há, quer nos registros civis, quer nos da igreja, quaisquer assentamentos sobre a morte do Padre Antônio Gomes de Leiros. Também não há provas de que o Padre Leiros tenha sido sepultado na Matriz de Nísia Floresta (antiga Papari). Não existe, ali, qualquer sepulcro que possa ser identificado como sendo o jazigo perpétuo do Vigário Antônio Gomes de Leiros, o que é lamentável, inclusive para a instituição à qual servira, até à trágica morte.

...e nunca mais se ouviu falar do Padre Leiros.


O Padre ANTÔNIO GOMES DE LEIROS, teve, apenas, ao que se sabe, um único filho, fruto de sua relação com Isabel Gomes de Souza: Antônio Gomes de Leiros (meu bisavô), que fora casado com Florência de Castro Barroca, filha do Duvina Renovata da Rocha Fagundes (irmã do Vigário Bartolomeu da Rocha Fagundes) e de Diogo Apolônio de Castro Barroca.
 
1881, descrição de Angicos (II)
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN e membro do IHGRN e do INRG
 
Vista a parte histórica, no artigo anterior, vejamos agora como foi descrita a Vila de Angicos nas suas outras partes, pela Câmara Municipal. Antes disso, um pequeno comentário sobre essa parte histórica. Alguns desses vereadores descendiam dos primeiros habitantes daquela Região de Angicos. Entretanto, não mencionam outros personagens que contribuíram para o nascimento de Angicos. O presidente da Câmara Manoel Fernandes da Rocha Bezerra que casou com minha tia-bisavó, Maria Xavier da Costa Torres, era neto de Balthazar da Rocha Bezerra, mas não fez menção que a Fazenda Angicos, antes de ser vendida ao tenente Antonio Lopes Viégas, pertenceu ao Coronel Miguel Barbalho Bezerra, como provou Aluízio Alves. O vereador, cadete José Avelino Martins Bezerra, tetraneto de João Barbosa da Costa, não contribuiu com nenhuma informação sobre seu tetravô, ascendente da maioria dos angicanos daquela época. Aliás, a História de cada município do Rio Grande do Norte precisa ser revista, pois ela é contada por pessoas que não se dedicaram ao exame mais detalhado dos documentos mais antigos. Para exemplificar, boa parte dos documentos do Assú, tanto dos cartórios como da Igreja, estão perdidos. Mais ainda, os que restaram continuam esquecidos e descuidados pelos seus responsáveis, que não se preocupam nem em digitalizá-los.

Topografia: Esta Vila está situada à margem esquerda do Rio Pata-chó (em vários documentos mais antigos da Província, tenho encontrado o nome do rio com sendo Pata-choca). Nome de antiga tribo de índios, que pararam por estes Sertões (vários autores contestam a passagem dos Pataxós, por aqui). A Vila ocupa a maior parte de um terreno plano e arenoso de 800 metros em quadro.

Conta-se duas pequenas ruas, largas e bem arejadas, e mais três alinhamentos de boas casas que formam o Adro da Matriz, bonito e decente edifício. Ao Nordeste confronte a mesma acha-se a cadeia pública ainda em obra, tendo boa sala livre, onde funciona a Câmara Municipal. Ao Sueste (Sudeste), no mesmo quadro está a Casa do Comércio, edificada ultimamente as expensas dos socorros públicos, que embora não concluída, de muito tem servido, não só para cômodo dos viajantes, como aos negociantes do lugar e seus subúrbios. Ao Levante, vê-se o alto e majestoso Pico do Cabugi, que semelhante ao antigo telégrafo nos anuncia as chuvas pelos cúmulos de nuvens em sua mais elevada extremidade, onde por singularidade, com dificuldade, foi colocado um poste com o respectivo para raio. Ao Leste Setentrião e Ocidente, observam-se diversos serrotes de granito que concorrem ao longe para formar-se da pequena Vila mais avultada ideia. Do centro da situação observam-se diversas casas de telhas, dos maiores Altos Monte Alegre, Favela, Espírito Santo, Coração de Jesus, e Fazenda Nova, propriedades e benfeitorias dos mais abastados do lugar. Finalmente ao Oeste, 100 metros das últimas casas, encontra-se o açude do Glorioso Senhor São José Padroeiro da Freguesia, edificado pelo Reverendo Ibiapina, nas Missões de 1862, obra atualmente em ruínas, que serve apenas para conservar a frescura do terreno, útil aos plantadores de vazantes.

População – Segundo o último recenseamento, consta a população livre de 5. 500 almas, e a escrava de 180. Desta população, apenas habitam a Vila, 300 almas, compreendidas 13 escravos.

Agricultura – Lavoura – Consiste na cultura de mandioca, algodão, milho, arroz, feijão melão e melancia, além de diversos legumes. Criação – A grande criação consiste de gado vacum, cavalar, lanígero, e cabrum. A pequena criação limita-se às aves domésticas.

Indústria Fabril – A indústria fabril é de pouca importância atualmente, consistindo apenas em pouca farinha de mandioca, obras de olaria, como sejam louças de barro, telhas e tijolo de alvenaria; há também tecidos grossos de algodão.

Comércio – A exportação é pouco e limita-se ao algodão e gado vacum; devida esta escassez aos efeitos da calamitosa seca de 1877 e 1879. A importação também é de nenhuma importância, limitando-se a pequena negociação de molhados e fazendas.

Instrução – Para a instrução primária há duas escolas, sendo uma do sexo masculino criada por Resolução Provincial no ano de 1833, e uma do sexo feminino criada por Lei Provincial nº 497, de 4 de maio de 1860.

Divisão eclesiástica – Pertence este Município à Diocese de Olinda, e contem uma só Paróquia denominada São José dos Angicos, a qual desmembrada da de Santana do Matos, foi criada por Resolução Provincial no ano de 1836; e tem sido administrada por três Vigários, sendo dois encomendados e um colado, os Reverendos Manoel Antonio dos Santos Morais Pereira Leitão, Manoel Januário Bezerra Cavalcanti, e Felis Alves de Sousa, pelo primeiro de 1836-1839, pelo segundo de 1839-1844; e pelo terceiro de 1844 até o presente.

Obras públicas – Paço da Câmara Municipal, a Casa do Comércio e o Cemitério.

Distâncias – Dista esta Vila da capital da Província de 42 léguas; as distâncias às Vilas e Cidades dos Municípios confinantes são as seguintes: à Vila de Santana do Matos, 8 léguas ao Sudeste; à cidade do Assú, 8 léguas ao Noroeste; à cidade de Macau, 14 léguas poucos graus abaixo do Norte.

Agora, duas sugestões: que nossas universidades e faculdades ajudem os municípios na reconstituição de suas verdadeiras histórias; que os municípios digitalizam os documentos antigos, ainda existentes em suas sedes. Educação é muita mais que prédios, merenda escolar, bolsas, e bibliotecas.