13/01/2022
Novas Cartas de Cotovelo – verão de 2022-03
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
A NATUREZA COBRARÁ
Em leitura recente do livro Natal do Futuro, escrito por Arthur Dutra, por sinal meu ex-aluno, que me presenteou com um afetuoso autógrafo, registrei sua inteligente invocação do escritor potiguar consagrado desde o início do século passado Manoel Dantas, o qual proporcionou, no distante ano de 1909, o vaticínio de Natal dali a cinquenta anos (um dos anexos do livro em comento).
Desde logo oferto a minha concordância com a diretriz preconizada: Precisamos reforçar esse traço da nossa personalidade coletiva e agregar ao presente as coisas boas que nossa memória urbana, social, política etc., podem nos proporcionar.
Quais seriam os melhores caminhos? Ficou dito, entre as duas obras referidas: velar pelas nossas praças - verdadeiros pulmões da cidade; cultuar nossas artes e artistas; conservar o nosso patrimônio material e imaterial; recuperar nos rios e lagoas, da poluição que sofrem pela irresponsabilidade dos moradores comodistas, nativos e novos ricos na ocupação do solo de forma inadequada, permitindo a nefasta transformação de Selva de Pedra; incentivar a tecnologia em todos os seguimentos da vida urbana, para tornar a vida com melhor qualidade de vida.
Deixando de lado os campos da teoria e da ideologia improdutivas, vamos direto a um desses graves problemas: salvar os nossos rios, a exemplo, pelo menos agora, do nosso romântico Potengi e o Rio Doce (Redinha), verdadeiras potencialidades para o turismo, economia, comunicação e paisagística, a exemplo do Tâmisa, Reno e Tejo.
Em particular o Rio Doce, da minha infância já remota, o qual conheci puro, virgem, hoje um esgoto motivado pela incúria do poder público e descaso dos moradores ribeirinhos, quando se admite construções de conjuntos, demagogicamente com alarde social, mas nefastos por não terem proporcionado a infraestrutura essencial para um equilíbrio ecológico.
A Revista NAVEGOS, de responsabilidade do jornalista e escritor Franklin Jorge, opportuno tempore, publicou uma reportagem sobre o desastre do Rio Doce, sob o título “Agonia de um rio”, com imagens do consagrado fotógrafo Canindé Soares, retratando esse rio que habita a memória afetiva de milhares de potiguares.
Seguindo essa diretriz, denuncio, agora o perigo, pelo mesmo descaso, quanto a conservação das falésias, a teor das de Tibau do Sul, Baía Formosa, Cotovelo (onde moro), para que não se repitam as tragédias de Pipa e de Capitólio.
Em meu pensar, cabe aos governos municipais regulamentarem as áreas non aedificandi, o regramento do solo urbano através dos seus Planos Diretores, ultimação dos planos do sistema de esgoto, como é exemplo o complexo dos distritos de Pirangi, Pium e Cotovelo, com os canos enterrados há anos, mas com funcionamento discriminatório, beneficiando apenas alguns empreendimentos, em detrimento das comunidades que permanentemente dão vida à região.
Todos são cidadãos com os mesmos direitos. Este é o momento de começarem logo a agir – Prefeituras, Ministério Público, Ibama, Idema ... senão a natureza muito em breve nos cobrará!
https://www.navegos.com.br/a agonia-de-um-rio/
10/01/2022
DESCASO OU COMPLEXO DE INFERIORIDADE
Tomislav R. Femenick – Jornalista e historiador
A nossa tradição é fortemente perversa quando se trata de preservar a imagem dos nossos heróis, ou mesmo das personagens mais simples da história da nação. Poucos são aqueles que escapam desse verdadeiro patrulhamento histórico-ideológico. Nem os mais cultivados ícones da brasilidade escapam. Até Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, se não o maior, mas o mais importante líder da inconfidência mineira contra a dominação colonial portuguesa, tem sido atacado pela ira dos iconoclastas destruidores da imagem dos nossos ídolos. Em épocas recentes, já disseram que era uma figura menor, sem importância, que somente entrou no movimento pela independência da então colônia pela porta dos fundos. Contestaram sua liderança, apresentaram-no como um ignorante, um simplista de raciocínio lento, um “Zé vai com os outros”. Sempre o vimos representado com uma vasta barba, do tempo do seu cativeiro. Pois bem, até tiraram sua barba.
Outra vítima constante dos cultores revisores da história e pregadores da “nova história” tem sido D. João VI. Se não uma figura heroica no sentido de guerreiro, pois veio para cá fugindo das tropas de Napoleão, sua atuação foi mais do que importante, foi importantíssima para o Brasil. Chegando a Salvador, decretou a abertura dos portos (atendendo a uma reivindicação dos comerciantes locais, mas se diz que foi por pressão dos ingleses), transformou a colônia em reino, fundou a Biblioteca Nacional e o primeiro Banco do Brasil, criou a Imprensa Régia e as Escolas de Cirurgia da Bahia e do Rio de Janeiro, deu ares cosmopolitas à atrasada cidade do Rio de Janeiro, entre outros atos. Mesmo com esse cabedal de realizações, D. João VI somente é apresentado como uma figura caricata de comedor de frango assado.
Deixemos as figuras emblemáticas da história nacional. Analisemos o que acontece com os ídolos do povo. Leônidas da Silva foi um dos maiores nomes do futebol brasileiro, inventor do gol de bicicleta e titular da seleção brasileira em duas Copas do Mundo. Jogou nos times do Bonsucesso (no tempo em que o Bonsucesso era sucesso), Peñarol, Vasco, Botafogo, Flamengo e, finalmente, no São Paulo, clube que defendeu por oito anos. Foi o artilheiro da copa de 1938, marcando oito gols e deu nome (sem receber royalties) a uma famosa marca de chocolate. Quando deixou de jogar passou a ser apenas mais um ex-craque. Mesmo em São Paulo, quase não era reconhecido por ninguém e andava pela cidade como se fosse mais um dos muitos cidadãos. Talvez por isso a sua mulher não quis falar com nenhum repórter no velório. Sofria do Mal de Alzheimer e de diabetes. Morreu internado em uma casa de repouso e esquecido.
Frank Sinatra, Nat King Cole, Billie Holiday, Glenn Miller, para não falar em Elvis Presley, são ídolos da música e do povo norte-americanos que ainda hoje são venerados. E aqui? Quem houve falar em Chico Alves, Orlando Silva, Emilinha Borba? Até Vinícius de Morais já está entrando na zona de esquecimento; e pouco está faltando para o Tom, o nosso querido Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, nela também entrar. E olhe que ambos, o poetinha e o maestro, são os autores de uma das canções mais interpretadas no mundo, a famosa Garota de Ipanema.
Uma nação, um povo, sem ponto de referência, sem paradigmas históricos e culturais, simplesmente passa a ser copiador da história, dos heróis e da cultura dos outros povos. No Brasil sabe-se mais sobre os peles-vermelhas do que sobre os índios nacionais; sobre Fidel Castro do que sobre Juscelino Kubitschek; vende-se mais Coca-Cola do que guaraná; diz-se “short” e não “calção”. A pergunta é: e de quem é a culpa? Dos grandes veículos de comunicação? Das escolas? Do governo? Ou de todos eles? De um hipotético complexo de inferioridade hereditário? É um tema para reflexão.
Tribuna do Norte. Natal, 08 jan. 2022
06/01/2022
Nossas velhas figuras
História Rio Grande do Norte
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte prepara, para o ano de 2022, dentre as comemorações dos seus 120 anos, mais uma série de artigos para o jornal Tribuna do Norte.
Organizada por Gustavo Sobral e André Felipe Pignataro, também autores, a nova série registrará 25 nomes da história do Rio Grande do Norte e começará a ser veiculada em janeiro. Os artigos são publicados sempre aos domingos no espaço cativo do Instituto no jornal, o Quadrantes.
Entre os perfilados, nomes como o da escritora e educadora Isabel Gondim; da poeta Auta de Souza; do ex-governador do Estado e promotor do voto feminino no Brasil, Juvenal Lamartine; do advogado, jornalista e escritor Manoel Dantas; e do historiador Câmara Cascudo.
Colaboraram para pesquisa e redação dos artigos, além dos organizadores já mencionados, Daliana Cascudo, Jurandyr Navarro, Armando Holanda, Pedro Simões, Igor Oliveira, Francisco Galvão, Anderson Tavares e Francisco Martins.
Confira abaixo todos os artigos da série e leia o texto na íntegra na Tribuna do Norte.
Basta clicar sobre o título do artigo.
Nossas velhas figuras
Para ler este e outros escritos, acesse: gustavosobral.com.br
04/01/2022
ANTÔNIO SOARES DE ARAÚJO FILHO - O HUMANISTA
Valério Mesquita
mesquita.valerio@gmail.com
Antônio Soares de Araújo Filho foi o caçador de estrelas. Em que observatório lunar ficou perdida a outra face da lua? Ele via o rosto oculto dos astros na planície aérea das noites natalenses de pastoreio. Conhecedor do sol e do vento, atravessou o seu tempo pela mão das estações. Professor, Diretor da Faculdade, fui seu aluno de Direito Processual Penal. Membro da Academia Norte-Riograndense de Letras por longo tempo, pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e ao Conselho Estadual de Cultura, onde compartilhei de sua amável companhia.
Mas, o sensível e o imaginário em Antônio Soares de Araújo Filho não estavam somente na astronomia mas na política. Nela descobriu a vocação pública de servir através do PSD, o histórico partido dos dinossauros da política do Estado. Foi deputado estadual constituinte ao lado do meu pai em 1947. No exercício do mandato revelou-se diligente, regimentalista e constitucionalista. Era o estilo e a marca do bacharel. Exerceu, em seguida, a chefia do gabinete civil do governo Dinarte Mariz. Foi aí que Toinho, carinhosamente chamado pelos mais íntimos, demonstrou possuir a consciência da fugacidade do homem e do tempo. Domou o ritmo das aspirais de súplica e oferenda ao redor, pela depuração dos assuntos e das paisagens interiores dos processos: “Os que devem ser resolvidos hoje, os que podem ficar para manhã e aqueles que só o tempo vai dizer”. Eram os mistérios gozosos da política e da administração que Antônio Soares Filho filosoficamente distinguia, adestrando e afinando os sentidos e fazendo do mundo matéria de puro aprendizado, mercê de sua inexorável mutação.
Mas, o seu lado encantatório, era a proverbial fidalguia. Tinha a magia de cerimonializar os gestos e solenizar os ditos. Na mecânica do mundo dos cumprimentos ele possuía o dom de sensibilizar as pessoas pelo cavalheirismo sem precisar torcer a coluna vertebral. A sua acuidade perceptiva na análise pictória e pitoresca dos fatos, fazia Diógenes da Cunha Lima acoimá-lo de "Guru". No Conselho de Cultura, ao lado de Américo de Oliveira Costa e Otto Guerra, formavam o nosso gurulato. Nessa pequena homenagem, tenho dele a lembrança nítida, leve e delicadamente humana que o tempo não vai desfazer.
“Não podemos calar”
Padre João Medeiros Filho
O profeta Miqueias preconizou um lamento de Cristo: “Meu povo, que te fiz eu, em que te molestei? Responde-me!” (Mq 6, 3). Tais palavras inspiraram um canto litúrgico da Sexta-Feira Santa. Fica-se aturdido ao ler relatos evangélicos, narrando que Herodes queria destruir a vida do Menino Deus (Mt 2, 16). Este, sendo Rei, nasceu num estábulo (Lc 2, 7). “Mutatis mutandis, a sanha herodiana continua existindo. Este texto não é apologético ou proselitista, e sim um comentário de fatos. Orquestram-se movimentos de ordem cultural e ideológica para banir Cristo e sua doutrina do mundo. Através de instrumentos legais, arquiteta-se a exclusão daquilo que lembre os valores judaico-cristãos. Questionava Santa Dulce dos Pobres: “Qual o motivo de tantos se sentirem incomodados com Cristo?” Em nome da “inclusão”, verifica-se um ódio perpetrado contra quem procurou, em toda a sua vida, transmitir amor, fraternidade e justiça.
Em dezembro último, um organismo internacional recomendou que suas mensagens oficiais das festas de fim de ano não deveriam conter a palavra Natal. “Esta exprime um sentimento cristão, enquanto o mundo é plural”, argumentaram os seus dirigentes. Trata-se de ingente contradição, em que se busca incluir alguns, excluindo outros. Que mal fez Cristo? Se o mundo é realmente pluralista, por que tanta rejeição ao cristianismo? Por que expulsá-lo, usando-se um fórceps ideológico? No final de 2021, outra entidade mundial tentou orientar os países membros a não adotar nomes como Jesus, Maria e José, pois “não fazem parte da cultura universal, sendo uma terminologia estritamente cristã.” Prega-se o pluralismo, mas procura-se negar o direito ao emprego de termos seculares, consagrados por inúmeras nações. Onde fica o respeito às diferentes crenças?
No parlamento de um estado do sudeste brasileiro apresentou-se um projeto de lei sobre assédio religioso, no qual se preveem cominações legais para quem falar de Cristo (e outros líderes espirituais) em lugares oficiais e públicos. O que Jesus fez de grave que deva ser rechaçado? A metáfora de Adão e Eva relata que eles queriam ser iguais ao Onipotente. “Vossos olhos se abrirão e sereis como Deus.” (Gn 3, 4). Este é o desejo de vários, repelindo a família tradicional. Isto equivale a pretender ser como o Criador. Não se pode confundir segurança social e jurídica com a natureza do matrimônio. Deus respeita todos. Mas, espera o mesmo para os seus planos, os quais não são propriedade de grupos, inclusive discordantes.
No Brasil, projetos e ações judiciais visam a retirar crucifixos das repartições públicas, em nome do estado laico. Desconhecendo-se a sua semântica, confunde-se o termo (constitucional) com laicismo. A partir daí, há quem pense em mudar designações seculares como São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina, São Luís, Natal etc. Percebe-se uma fúria impositiva, na qual se comprova a pretensão de segmentos que se arvoram donos absolutos da verdade. Quem lhes outorgou tal prerrogativa? Por vezes, chegam a contradizer a história com sofismas e engenharias políticas. E a tentativa de proibir a presença da Bíblia – um livro histórico e cultural, não só teológico – nas escolas e bibliotecas públicas? Inegavelmente, tais ideias ignoram a história de civilizações milenares. O que dizer do escárnio a símbolos religiosos em “peças cênicas travestidas de arte”? A liberdade de expressão não confere poderes para agredir.
Em palestra no Recife, Ariano Suassuna proferiu: “Querem a inclusão de alguns, discriminando-se outros e cometendo-se injustiça maior.” Os cartórios brasileiros – se aprovado um projeto de lei – irão retirar os vocábulos pai, mãe, marido e mulher do registro civil. A lei deve contemplar todas as situações. Mas, para agregar poucos não se pode coibir o direito de tantos. Cristo – a quem se pretende deletar – pregou a liberdade e o direito de escolha: “Se alguém quiser me seguir.” (Mt 16, 21-27). Atente-se ao primeiro verbo empregado pelo Mestre. Ele consagra a opção, sem obrigar. Proposição distingue-se de imposição. Talvez a doutrina cristã estorve projetos autoritários, daí o desejo de extingui-la. Condenam-se as Cruzadas medievais e a Inquisição Católica. Porém, certos movimentos desejam impor modelos radicais. Cabe-nos repetir as palavras dos apóstolos Pedro e João, perante o Sinédrio (cf. At 4, 20): “Non possumus non loqui.” (“Não podemos calar”).
01/01/2022
31/12/2021
LUZES QUE SE APAGAM
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
Apagaram-se as luzes dos natais de antigamente? A avenida Rio Branco era um corredor resplandecente do Baldo à Ribeira. Abraços, cantos e risos povoavam as calçadas: Boas Festas! Feliz Ano Novo! Era um planeta diferente. Foi pensando e revivendo os velhos natais que ressurgiu na memória o antigo comércio da avenida Rio Branco com suas lojas, magazines, armazéns que constituíam a força do capital da classe produtora potiguar.
Era o chamado comerciante da cidade, inscrito na Associação Comercial do Rio Grande do Norte, movido a Banco do Brasil de Otávio Ribeiro Dantas, lá da avenida Duque de Caxias, na Ribeira. Da calçada do Cinema Rex, onde Luís de Barros tocava a cigarra mandando começar o filme, contemplei, olhar acima, olhar abaixo, o mundo desaparecido de estabelecimentos comerciais fundados por natalenses e hoje substituídos por lojas de Pernambuco, Paraíba e Ceará.
De frente, onde me achava, me lembrei da Casa Costa que servia o mais saboroso sorvete; Omar Medeiros e Cia., Lojas Setas; os “estrangeiros”: o Novo Continente, CêBarros, Quatro e Quatrocentos e Lojas Paulistas; J. Resende e a Casa Régio dominavam o mercado de eletrodomésticos; Casa Hollywood e Casa Garcia além do Cine-Foto Jaecy que depois foi para a João Pessoa; a resistente e desfraldada Livraria Universitária, vizinhas a Casa Duas Américas e a Formosa Syria; a Casa Tic-Tac e a Casa Rubi sem esquecer a Nova Paris; quase de frente a Casa Rio que ainda sobrevive (Rio Center), em outros locais da cidade, pluralizada e redimensionada; Ótica Brasil, a Farmácia Barbosa e juntinho o bar Granada; a casa Letière, o Armazém Natal e antes do Banco do Brasil, a lembrança mais dolorosa do velho e trágico mercado público da cidade do Natal. Tudo sumiu. As vitrines desse tempo se apagaram e com elas um grupo de comerciantes que desapareceram, permanecendo, apenas, uma foto intacta suspensa no ar e as imagens dos natais de quarenta e cinquenta anos passados.
Ao contemplar a Rio Branco sem luz e sem alma da festa natalina, resolvi homenageá-los. Natal não pode esquecer jamais os pastores da noite que fizeram feliz o Natal de tanta gente. Chegam-me alguns que a memória reteve: Fuad Salha, Zé Garcia, Chafic Abou Chacra, Reginaldo Teófilo, Habib Challita, Zé Resende, Walter Pereira, Quim-quim da Farmácia Barbosa, Nagib Assad Salha, seu José e Abess da Formosa Syria, Raimundo Chaves, Heider Mesquita, Jaecy Emerenciano Galvão e Nemésio Moquecho, Quincola (Scope) Luís de Barros, Nivaldo Feitoza Bonifácio, Alcides Araújo e uma lembrança terna da Rádio Trairi do major Theodorico Bezerra que funcionava no alto do Novo Continente. Relembro os locutores: Gutemberg Marinho, Edmilson Andrade e Vanildo Nunes, em nome dos quais homenageio a todos.
A cidade de Natal deve um preito de reconhecimento a todos aqueles que diretamente, através do seu ofício, se conscientizaram do seu papel, se fortaleceram e daí surgiram a Federação do Comércio, o Sindicato do Comércio Varejista e o próprio CDL. Ninguém pode contestar o pioneirismo dessas conquistas aos comerciantes da avenida Rio Branco. É preciso reacender as luzes dessa avenida para a história passar.
No Grande Ponto, o olhar triste e reminiscente. A procissão de relembranças das melhores figuras de Natal, espiritualizadas no eterno bate-papo, dia e noite, como se, para mim, ali, naquele instante, tudo tivesse se reencarnado. Olhei para o chão sagrado daqueles vultos e deu-me náuseas as calçadas sujas, encardidas pela desfiguração e os pés da modernidade. Mataram o Grande Ponto pletórico e no âmbito do seu quadrilátero, rasgaram a sua história em pedaços e foram transformados os seus habitantes. Daquelas calçadas, com sol matinal batido e quente desse verão sobe as narinas um odor de sebo bovino e inhaca pestilencial. Será que o IPTU não poderia lavar aquelas calçadas onde tanta gente boa pisou antigamente? Djalma Maranhão, Alvamar Furtado, Luís Tavares, José Augusto Varela, Antonio Soares Filho, Luiz Carlos Guimarães, Newton Navarro, Veríssimo de Melo, Ticiano Duarte, Américo de Oliveira Costa, Zé Areia, Gilberto Avelino e tantos outros mortos dignos de lavarmos os pés, sem precisar nem falar nos vivos?
(*) Escritor
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