30/01/2021

 


GASTÃO, UM ARTESÃO DA AMIZADE


Valério Mesquita

Conheci Gastão Mariz de Faria em 1954, na rua Apodi, quando fui estudar em Natal. Era a casa de D. Paulina Mariz de Faria, sua mãe, amiga e vizinha de minha avó materna Sofia Curcio de Andrade. Alto, magro, gestos comedidos e corteses, foi um embaixador itinerante da fidalguia, reconhecido por gregos e troianos. Impôs uma marca registrada – a cordialidade, numa terra inflamada pelo radicalismo político durante muito tempo. 

Gastão desfrutava da amizade dos Alves, apesar de tudo, sem deixar de ser fiel ao tio Dinarte Mariz. Por isso, disseram sobre ele – "era uma das raras unanimidades da cidade". Exerceu a vereança em Natal, além de deputado estadual. Fui seu colega na Assembleia. Cadeiras vizinhas durante quatro anos. “Toda instituição é a sombra prolongada de um homem”, no dizer de Emerson. O Detran, reestruturado, reordenado, revivido, foi herança de Gastão. Sua obra administrativa, sua logomarca indissolúvel.

O Gastão humano, fraterno, boêmio, fez-me lembrar uma tarde numa varanda diante do mar de Cotovelo. Chegou como que de repente, de assalto. Trazia consigo alguns amigos e várias canções. “A visão milagrosa do oceano beatifica o pecador solerte”. Ali estávamos nós, inspirados pelos bons uísques que entram mais na alma do que certos poemas e livros santos a cantar a vida, o mar, as ilusões. Nunca mais vou me esquecer Gastão, quando interpretou Orlando Silva, sem gaguejar, na letra foi compenetrado e dócil como o seu temperamento, e afinado e leal ao violão como a sua política. “Nada além, além de uma ilusão...”.

Parnamirim era o seu time de futebol querido e a sua cachaça predileta. Muito se identificou com a terra e com a gente. Autor da lei da emancipação política do município, tinha pela cidade um amor filial. Está identificado com essa terra, nas suas entranhas, tanto quanto os velhos pioneiros e os primeiros líderes de Parnamirim.

(*) Escritor

25/01/2021

 

O escritor intranquilo
​Graham Greene (1904-1991), o escritor, nasceu em Berkhamsted, uma pequenina e histórica cidade mercado do interior da Inglaterra. Tentou ser comunista. Acabou católico. Estudou em Oxford. Foi jornalista. Trabalhou para o serviço secreto inglês, especificamente para o MI6. Inquieto, alegadamente bipolar, viajou muito. México, Cuba, Haiti, América do Sul, África, Indochina e outros sítios menos votados. Fez do contexto social e político desses países/regiões o pano de fundo de algumas de suas estórias. Prolífico, escreveu quase tudo: romances, contos, livros infantis, teatro, cinema, crônicas, crítica literária e por aí vai. Alguns de seus romances, publicados no Brasil, são sempre celebrados: “O Expresso do Oriente” (1932), “O Poder e a Glória” (1940), “O coração da matéria” (1948), “O americano tranquilo” (1955), “Nosso homem Havana” (1958), “O cônsul honorário” (1973) e “O Fator Humano” (1978), entre outros. Para o cinema, “O ídolo caído” (1948) e “O terceiro homem” (1949) são obras-primas. Premiadíssimo, Grenne, infelizmente, não levou o Nobel de Literatura. Mas Jorge Luis Borges (1899-1986), seu concorrente de então, também nunca ganhou. Paciência. Aclamado, Greene faleceu, de leucemia, aos 86 anos.
​Numa modéstia indevida, Graham Greene gostava de dividir a própria obra em escritos de entretenimento e trabalhos literários. Discordo veementemente. Greene foi sem dúvida um dos grandes romancistas do século passado, talvez até o maior, em língua inglesa, de sua geração. Na verdade, como poucos, ele misturava espionagem, suspense, política, pitadas de filosofia e religião, romance e outros pecados mais, numa proza elegante, irônica e imaginativa. Isso é escrever bem. Fazer literatura das boas. E se prende ou diverte a gente, melhor.
​Na edição que tenho de “O fator humano” (L&PM, 2006), por exemplo, diz-se ser esta “uma obra de maturidade de Graham Greene, um dos mais prolíficos e importantes romancistas de língua inglesa do século XX que, junto com John Le Carré, alçou as histórias de espionagem a um novo patamar literário. Com sua prosa elegante, Greene medita sobre a força do amor e do segredo – e sobre os sacrifícios por eles exigidos. À leitura deste romance, mais uma vez fica claro que há boa literatura, há literatura de entretenimento e há Graham Greene, que eliminou a linha divisória entre as duas. Ele prende o leitor com seus enredos, mas sobretudo com sua caracterização de personagens, pintados com uma profunda compreensão e respeito pelas ironias, ambiguidades e vastas zonas obscuras da alma humana”. É isso.
​De minha parte, tenho predileção por algumas obras de Greene. O enredo/filme “O terceiro homem”, uma de suas parcerias com o diretor Carol Reed (1906-1976), é uma delas. Obra-prima que, dado o mistério da estória, a falsificação de penicilina numa Viena devastada do pós-guerra, tem muito a ver com os dias de hoje. Criminosos e charlatões sempre vão existir. Em guerras ou em pandemias. E os romances “O americano tranquilo”, “Nosso homem Havana” e “O cônsul honorário”, que li por sugestão de meu pai, tomados emprestados e devolvidos à sua biblioteca. Foi divertidíssimo. Bons tempos.
​Um carinho especial desenvolvi por “O americano tranquilo”, cuja estória se passa na Indochina, em meio à guerra anticolonialista contra a França e já com os Estados Unidos metendo o seu bedelho no Vietnã. Tem-se um jornalista inglês, que narra a coisa toda. Um agente da CIA, o “americano tranquilo”. Uma jovem e bela vietnamita. E um triângulo amoroso. Paro por aqui, para não fazer spolier, apenas registrando que o livro foi adaptado para o cinema duas vezes, sendo que a versão de 2002, direção de Phillip Noyce (1950-), é do balacobaco. Foi indicada e recebeu vários prêmios.
​Após conhecer a Indochina de Greene, até prometi enamorar-me de uma dama daquelas bandas. Nunca aconteceu. Embora, sem muita coragem, tenha chegado bem pertinho. ​
Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL

20/01/2021

 


A nova invasão dos bárbaros

Tomislav R. Femenick – Historiador, mestre em economia com extensão em sociologia

 

No decurso do século XVIII, dois acontecimentos marcaram para sempre a história da democracia. O primeiro foi a independência dos Estados Unidos, não pela independência em si, mas pelo ideário que a norteou. Exemplo é o preâmbulo da Constituição norte-americana, datada de 1787, que diz que seu objetivo é “formar uma União mais perfeita, estabelecer a justiça, assegurar a tranquilidade interna”. Isso já é suficiente para comprovar sua importância. Entretanto, há outro aspecto: ela dá relevância ao poder legislativo, já no seu artigo primeiro.

O segundo fato foi a Revolução Francesa, de 1789, no que pese os seus aspectos de barbárie, notadamente os guilhotinamentos em massa, que mataram, inclusive, alguns revolucionários. Os objetivos iniciais da revolta eram acabar com os privilégios; da aristocracia, dos senhores feudais e da alta cúpula religiosa. Todavia houve um desvirtuamento, levado a efeito por grupos radicais e por uma intensa luta intramuros pelo poder. Terminou prevalecendo o legado de seu lema: “liberdade, igualdade e fraternidade”, em uma sociedade de cidadãos livres. Há uma infinidade de estudos e livros sobre a Revolução Francesa, todos terminando por nos levar à situação de respeito às regras da boa política, na terra das luzes.

Já nos Estados Unidos a coisa não foi bem assim. Embora a 14ª emenda (1868) da Constituição afirmasse que todos os cidadãos eram iguais perante a lei, e a 15ª (1870), que o direito de voto “não poderá ser negado [...] por motivo de raça, cor ou de prévio estado de servidão”, para que esses direitos fossem exercidos, foi preciso uma guerra, a Guerra da Secessão, de 1861-1865, e muitas outras lutas e mortes, inclusive a de Martin Luther King. O fato é que a sociedade americana é complexa e de difícil compreensão.

Dentre muitos, dois grandes pensadores se debruçaram sobre a formação e funcionamento daquele que hoje é o mais importante país do mundo, quer pelas suas forças econômica e bélica ou (meio que incompreensível) por ser o esteio da democracia. O primeiro foi o francês Alexis de Tocqueville, em seu magnifico “A Democracia Americana”, de 1832. O segundo foi o alemão Max Weber, em seu profundo estudo “A ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, de 1904/1920. Entre outros aspectos, ambas as obras pesquisam o sistema produtivo. O primeiro, baseado na escravidão e sua resistência; o segundo, na força operária e suas organizações sindicais. Em ambos há, também, uma abordagem subliminar, se não direta, sobre as instituições política. Entretanto, o que esses pensadores europeus visaram com seus estudos foi encontrar a base da sociedade norte-americana, as pessoas. E encontraram a persistência, a tenacidade e o destemor, não importando se o ponto de partida, as ideias que tenham dado origem às ações, sejam certas ou erradas.

Exemplos há muitos. Abolida a escravidão, permaneceu um sistema de segregação contra os negros. Os linchamentos de negros aconteceram até meados do século passado. O remédio contra greves era a polícia, o que aconteceu com a greve do dia 1º de maio de 1886 em Chicago, que terminou com inúmeras mortes (dos trabalhadores, é claro). Não foi senão um estado de violência mental que gerou o assassinato, de quatro presidentes – Abraham Lincoln (1865), James Garfield (1881), William McKinley (1901) e John Kennedy (1963). Em 1981, Ronald Reagan teve o pulmão perfurado por uma bala, mas sobreviveu.

 Agora ocorre um fato mais tresloucado: o próprio presidente incitando o povo a invadir o Capitólio, o prédio do parlamento, numa nova invasão bárbara. Nem um pensamento louco demais imaginaria isso. Mas Donald Trump pensou.

O impressionante é que os Estados Unidos, durante todo o tempo de sua existência, sempre foram considerados o sustentáculo da democracia no mundo. Enfrentou a Alemanha Nazista e foi peça fundamental para a vitória dos aliados; financiou e participou da recuperação do Japão e das nações europeias afetadas pela guerra; enfrentou, também, a URSS durante a guerra fria; hoje se contrapõe à China comunista.

 

Tribuna do Norte. Natal, 20 jan. 2021.


16/01/2021

 DIA 15 DE JANEIRO DE 2021

GOVERNADORA FÁTIMA BEZERRA E O VICE-GOVERNADOR ANTENOR ROBERTO INAUGURAM MELHORAMENTOS NA PRAÇA PADRE JOÃO MARIA, JUNTAMENTE COM O PRESIDENTE ORMUZ BARBALHO SIMONETTI E ARMANDO HOLANDA, DO IHGRN.



POSTERIORMENTE FAZEM VISITA AO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE PARA COMUNICAR LIBERAÇÃO DE RECURSOS PARA EMPREENDIMENTO DO IHGRN COM RECURSOS DO ESTADO E OUTROS OBTIDOS PELO SENADOR JEAN PAUL PRATES



Dirigentes do Governo: Governadora e Vice, Crispiniano Neto da FJA e Dirigentes do IHGRN
Ormuz Barbalho Simonetti, Carlos de Miranda Gomes e Armando Holanda





Dirigentes das citadas Instituições e o Senador Jean Paul Prates


Dirigentes e várias autoridades como o Representante da Caixa Econômica, parceira dos empreendimentos.




 DEUS AUSENTE 


Valério Mesquita

O “Silêncio de Deus” é a obra do professor, advogado e pesquisador Francisco de Assis Câmara, que li recentemente. O tema traduz inquietante narrativa sobre a manifesta permissão de Deus para os desastres e holocaustos que vitimam, ao longo do tempo, milhões de seres humanos. E baliza o funesto aniquilamento da espécie desde as cruzadas, a inquisição, a barbárie das mortes por inanição e violência política, no continente africano, até o sacrifício de populações pelos continentes destacando, com ênfase, o extermínio dos judeus na Segunda Guerra Mundial. 

O trabalho de Assis, escrito ao mesmo tempo em verso e prosa revela, perfeita sintonia e domínio sobre a temática teológica, oferecendo original simultaneidade de estilos literários. Coisa rara nos dias de hoje. Preservou nessa dimensão mágica da linguagem a profunda frustração, o medo e ao mesmo tempo a esperança cristã que não perde a fé no reino de Deus. A retórica sobre as dúvidas, a fuga, o silêncio e a indiferença do Altíssimo ante as pavorosas catástrofes estão fincadas na pergunta do Vaticano: “Onde estava Deus naqueles dias?”.

Deus testemunhou a muitos profetas os seus desígnios, a sua justiça, através de atos e milagres. Jesus Cristo, no Novo Testamento, redimensiona o Espírito do Pai com nova roupagem de amor e de perdão. Enfim, a boa nova cristã. Mas, é no discurso do papa Bento XVI, durante a sua visita ao campo de concentração de Auschwitz-Bikenau, em 28 de maio de 2006, que se desenvolve toda a ansiedade do autor, na busca de “perscrutar o segredo de Deus” e por que foi tolerante ao permitir o triunfo do Maligno.

Em resumo, o sumo pontífice não poupou o seu silêncio quando procurou diferenciar a própria condição de líder espiritual com a de homem diante da angústia insuportável: “Quantas perguntas surgem neste lugar! Onde estava Deus naqueles dias? Por que Ele silenciou? Como pôde tolerar esse excesso de destruição, esse triunfo do Mal?” E citando o Salmo 44, o papa repetiu o versículo: “Desperta, Senhor por que dormes?” E corrigiu, mais adiante, a sua capacidade de se indignar, a exemplo de Jesus Cristo na cruz quando soltou o grito dilacerador até hoje: “Senhor, por que me abandonastes?”. E acrescentou Bento XVI: “Nós não podemos perscrutar o segredo de Deus, pois vemos apenas fragmentos e enganamo-nos pretendendo eleger-nos juízes de Deus e da história”.

Após haver concluído a minha reflexão sobre tudo, consultei a maior e a melhor fonte: a Bíblia Sagrada, não obstante o autor citar dezenas de filósofos, luminares do pensamento humano desde a Antiguidade até os nossos dias. Aprendi que é a leitura que faz o crente. Nela reside não apenas a palavra de Deus e dos profetas, mas se pode dela fazer uso literário, histórico, biográfico, além de permanente energia de inspiração para milhares de escritores, seguidores e leitores desde os primórdios do tempo. Fui achar no Deuteronômio, o quinto livro do maior de todos os profetas, Moisés (o que falava com Deus), no capítulo 29, 29: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei”.

Em Isaias, capítulo 43, 11 e 13, respectivamente: “Eu sou o Senhor, e fora de mim não há Salvador”, “Ainda antes que houvesse dia, eu sou, e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; operando eu, quem impedirá?” O Salmo 115, 2 e 3: “Por que dirão as nações: Onde está o seu Deus?”. “Mas o nosso Deus está nos céus; faz tudo o que lhe apraz”. Estavam na Bíblia as humanas perplexidades, tudo na base do somente Deus é quem sabe. Ele sempre esteve no comando.
Por último, vale a pena reler Mateus, capítulo 27, 24 e 25: “... Pilatos lavou as mãos perante o povo, dizendo: ‘Estou inocente do sangue deste justo...’ E o povo todo respondeu: ‘Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos’”. Seria um carma? Não posso responder.

(*) Escritor

11/01/2021

 



Augusto Severo de Albuquerque Maranhão


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Augusto Severo de Albuquerque Maranhão
Nascimento11 de janeiro de 1864
Macaíba
Morte12 de maio de 1902 (38 anos)
Paris
Nacionalidadebrasileira
Ocupaçãopolítico
jornalista
inventor
aeronauta

Augusto Severo de Albuquerque Maranhão (Macaíba11 de janeiro de 1864 — Paris12 de maio de 1902) foi um político e inventor brasileiro.

Biografia

Augusto Severo de Albuquerque Maranhão foi o oitavo dos quatorze filhos de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão (1827-1896) e Feliciana Maria da Silva de Albuquerque Maranhão (1832-1893). Realizou seus estudos primários em Macaíba (RN), e os secundários no Colégio Abílio César Borges, em Salvador. Em 1880, viajou para o Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil, e iniciou seus estudos de engenharia na Escola Politécnica.

Os primeiros projetos aeronáuticos

Motivado pelos trabalhos em aerostação do inventor paraense Júlio César Ribeiro de Souza, que apresentou um projeto de dirigível ao Instituto Politécnico Brasileiro em 1881, Severo passou a se interessar pelo voo, realizando observação de aves planadoras e construindo pequenos modelos de pipas, uma das quais denominou Albatroz. Em 1882, passou a lecionar matemática no Ginásio Norte Riograndense, de propriedade de seu irmão Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, acumulando a função de vice-diretor.[1] No ano seguinte o ginásio fechou e Severo dedicou-se ao comércio, primeiro como guarda-livros da empresa Guararapes e mais tarde, seguindo os conselhos do irmão Adelino, associou-se à firma A. Maranhão & Cia. Importadora e Exportadora até 1892. Em 1888, casou-se com a pernambucana Maria Amélia Teixeira de Araújo (1861-1896), com quem teve cinco filhos. No ano seguinte, passou a escrever artigos para o jornal A República, antimonárquico, do irmão Pedro Velho, e projetou um dirigível que incorporava ideias revolucionárias, o Potyguarania, o qual, porém, nunca chegou a ser construído.

Política

Em 1892 Augusto Severo abandonou de vez a carreira comercial para dedicar-se à política, onde lhe estava reservado o mais honroso papel. Eleito deputado ao Congresso constituinte que organizou o Estado, teve, em 1893, de preencher a vaga aberta na Câmara dos Deputados Federais pela eleição do Dr. Pedro Velho para o cargo de governador do Estado do Rio Grande do Norte. A passagem de Augusto Severo pelo parlamento brasileiro ficou assinalada por projetos que viraram leis no país, por trabalhos nas comissões de orçamento, de tarifas e de marinha, sobretudo nesta, onde revelou tais conhecimentos náuticos que chegava muitas vezes a ser apontado para o cargo de ministro da marinha, com o aplauso dessa força. Defendeu projetos relativos ao saneamento público, de assistência à infância e de proteção aos operários dos arsenais.[2]

O dirigível Bartholomeu de Gusmão

Em outubro de 1892, ouvida a opinião favorável de abalizados professores da Escola Politécnica, concedeu o Governo um auxílio pecuniário para que Augusto Severo de Albuquerque Maranhão pudesse mandar fazer na Europa um aeróstato dirigível de sua invenção que incorporava as ideias que havia desenvolvido anteriormente. A esse aeróstato deu o nome de Bartholomeu de Gusmão, em homenagem ao inventor luso-brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão, que apresentou em 1709, diante da corte portuguesa, um pequeno balão de ar quente batizado Passarola. O dirigível Bartolomeu de Gusmão introduzia um conceito novo. Era um aparelho semirrígido, em que o grupo propulsor estava integrado ao invólucro através de uma complexa estrutura trapeizodal em treliça. O invólucro foi encomendado à Casa Lachambre, a principal firma de Paris especializada na construção de balões e, de propriedade de Henri Lachambre. Numa carta escrita da França e datada de 5 de dezembro de 1892, Maranhão explicou os princípios da aeronave:

Estabeleceu como princípio a ciência que a navegação aérea dependia da possibilidade de se obter a justaposição dos centros de tração e resistência. Com efeito, produz esta justaposição uma diminuição considerável de resistência e faz desaparecerem as rotações perturbadoras do movimento do aeróstato, rotações que se dão quando a força propulsiva não se acha colocada sobre a resultante das resistências desenvolvidas. Ora, foi essa justaposição que consegui obter no meu aeróstato. As características do meu invento, denominado 'Sistema Potiguarânia', são estas:
1ª. Os meios empregados para fazer coincidir a força de propulsão com a resultante das resistências, pela combinação de um aeróstato, de forma ovoide, e de uma carcaça sólida, de metal ou de qualquer outra matéria, cuja haste superior se vá apoiar no fundo de um bolso, feito em todo o comprimento do aeróstato, e que sustenta, de um lado a hélice, e posto no prolongamento da referida haste, e do outro a barquinha e os demais órgãos.
2ª. A disposição especial do leme, também sustentado pela carcaça sólida, e formado de duas asas que, na ocasião da subida do aeróstato, ficam verticalmente para não dificultarem a ascensão. Estou inteiramente convencido de que governarei o meu Bartholomeu Dias [sic] com uma velocidade de 15 a 20 m/s, podendo aumentá-la até 50 m/s. O meu sistema já está privilegiado em França. Conto chegar ao Rio em fevereiro para fazer aí a primeira experiência pública do meu invento.[3]

O balão, de cerca de 2.000 m3, medindo 60 m de comprimento, chegou ao Brasil em março de 1893]. A estrutura em treliça, inicialmente projetada para ser executada em alumínio, foi construída no campo de tiro de Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, assim como a montagem de uma usina para a produção de hidrogênio. A falta do material previsto para construção da estrutura fez com que Severo alterasse o projeto, construindo a parte rígida do aparelho em bambu. Tratava-se de uma estrutura complexa que deveria suportar o motor elétrico com as baterias e os tripulantes e, além disso, apresentar resistência suficiente para aguentar os esforços durante o voo.

Só em 1894 o Bartholomeu de Gusmão realizou as primeiras ascensões ainda como balão cativo e mostrou-se estável e equilibrado, demonstrando que a concepção proposta por Severo era adequada para o voo. A introdução de uma estrutura semirrígida integrada ao balão permitia que a hélice propulsora ficasse alinhada ao eixo longitudinal do invólucro, evitando assim que o aparelho apresentasse uma tendência de levantar a frente quando o motor fosse acionado. O problema, conhecido como tangagem, comprometia o equilíbrio e reduzia substancialmente a velocidade. Mas antes de o dirigível ser testado livre das amarras, uma tempestade destruiu o hangar e a aeronave.

Novos inventos

Em 19 de abril de 1896, no Rio de Janeiro, Augusto Severo pediu patente para um “turbo-motor com expansões múltiplas e continuadas”, concedida no dia seguinte, às 12h40min (n 2.940). Em 20 de outubro desse ano sua mulher faleceu, após o que Augusto Severo iniciou um relacionamento amoroso com Natália de Siqueira Cossini, de origem italiana, com a qual teria dois filhos. Em 27 de julho de 1899, no Rio de Janeiro, Severo patenteou um novo balão dirigível, o Paz (posteriormente o nome foi latinizado para "Pax"), e em 23 de julho de 1901, uma "máquina a vapor rotativa e reversível", com a qual os navios poderiam atingir velocidades maiores.

O dirigível Pax

Ver artigo principal: Pax (dirigível)
Dirigível Pax.

Em fins de 1901, Severo licenciou-se da Câmara para viajar para a França e aí se dedicar à construção de um novo semirrígido, o Pax, inflado a hidrogênio. Ele queria concorrer ao Prêmio Deutsch, que premiaria com 100.000 francos aquele que fizesse um voo comprovadamente dirigido. O novo aparelho não tinha leme de direção e usava ao todo sete hélices: uma na popa, outra na proa, outra na barquinha e quatro laterais. Severo pretendia usar motores elétricos, mas a falta de recursos e de tempo fez com que ele optasse por dois motores a petróleo tipo Buchet, um com 24 cv e o outro com 16 cv. O invólucro tinha a capacidade de 2.500m3, com 30 m de comprimento e 12 no maior diâmetro. Os ensaios foram realizados nos dias 4 e 7 de maio de 1902, com sucesso.

Morte

Restos do Pax na Avenida du Maine (12 de Maio de 1902).

No dia 12 de maio de 1902, tendo como mecânico de bordo o francês Georges Saché, o Pax decolou às 5h30, saindo da estação de Vaugirard, Paris. Elevou-se rapidamente, atingindo cerca de 400 m. Cerca de dez minutos após o início do voo, o Pax explodiu violentamente, projetando os dois tripulantes para o solo. Severo e Saché morreram na queda. Os restos do dirigível caíram na Avenida du Maine. A catástrofe do Pax teve um impacto enorme. Natália, que assistiu à queda, não se recuperou e, após retornar ao Brasil, suicidou-se com um tiro no coração em 23 de junho de 1908, aos 30 anos de idade.[4] A configuração proposta por Severo, de um dirigível semirrígido, foi revolucionária e influenciou o desenvolvimento dos dirigíveis nas décadas seguintes.

Homenagens

Em 12 maio de 1902, duas ruas em Paris, próximas ao local do acidente, foram nomeadas Rue Severo e Rue Georges Saché, em homenagem aos aeronautas acidentados. Naquele mesmo ano, o cineasta Georges Méliès dirigiu o curta-metragem La Catastrophe du ballon "Le Pax" sobre o acidente.[5]

Uma placa de mármore no nº 81 da Avenue du Maine, em Paris, celebra hoje o local do acidente de Augusto Severo.[6]

aeroporto de Parnamirim (Rio Grande do Norte), foi batizado como Aeroporto Internacional Augusto Severo em sua homenagem.

Existe, desde 1904, uma praça que leva o seu nome, A Praça Augusto Severo está localizada no bairro da Ribeira em Natal.

Em 1903, o Deputado Luís Pereira Tito Jácome mudou o nome do município de Campo Grande para Augusto Severo, o nome Augusto Severo permaneceu até 1991 quando o município voltou ao seu nome original.

Desde 1909 existe a Escola Estadual Augusto Severo na cidade do Natal, no bairro de Petrópolis. A escola foi pioneira no Ensino de Surdos no Rio Grande do Norte.

Em 1913 a praça Augusto Severo ganhou uma estátua de bronze de Augusto Severo, que foi inaugurada no dia de sua morte.

Em Natal perto da praça que leva o seu nome existiu o Grupo Escolar Augusto Severo,[7] inaugurado em 1908. Entre 1956 e 1974, este espaço também funcionou a Faculdade de Direito de Natal. Hoje em reforma o prédio irá se torna o Centro dos Direitos Humanos e o Museu do Advogado do RN

Em 1936 foi homenageado com a Honra de ser o Patrono da cadeira número 4 da Academia Norte-Riograndense de Letras .

Referências


Wikipedia

07/01/2021

 ONDE ESTÃO OS DISCOS VOADORES?


Valério Mesquita*

O oculto está à nossa volta. O mistério circunda as nossas vidas. Quando Jesus virá novamente? Quero trazer sempre à memória aquilo que me dá esperança. Por isso, creio no invisível para não me suicidar no palpável. O visível encerra vícios redibitórios. Mas, também, sem ser ufólogo, preocupo-me com os extraterrestres que sobrevoaram o mundo tantas vezes e hoje, em que galáxia se escondem? Desde o início do século vinte, ocorrências de objetos voadores não identificados foram manchetes de jornais em todo o mundo. Avistados por milhares de pessoas, fotografados, filmados, televisionados e até restos de naves foram recolhidas para exame, sem explicações satisfatórias até agora.

Observador atento dos canais de televisão nacionais e internacionais e dos jornais, nunca mais tomei conhecimento de nenhuma aparição luminosa nos céus que me devolvesse a curiosidade cientifica ou a percepção da existência de seres interplanetários, como aprendi na meninice com Flash Gordon. Outros, impressionados, chegaram a indagar: “Seriam os deuses astronautas?” A terra, pelos seus governos, preocupou-se bastante, por décadas, com os recados dos céus. 

Mas, surpreendente e inimaginável é o fato dos discos voadores não aparecerem mais no firmamento. Não há mais registros, nem aqui, nem alhures, como dizia o esotérico e saudoso Marlindo Pompeu.

O sentimento atávico do homem pelo sobrenatural não é apenas bíblico. Remonta às civilizações pagãs que procuravam ler e decifrar o que se achava escrito nas mais remotas estrelas. Os astrólogos, os poetas, os feiticeiros, todos, usaram as sombras, os símbolos e os fantasmas do espaço infinito como veículos cambiantes de suas crenças. E como eram líricas as circunvoluções dos discos a ponto de me induzir a voar com os marcianos (planeta Marte), de onde achávamos provenientes. A chegada do homem à lua, vaga, vazia e vadia, muito me decepcionou. Tornou-se um celeste santuário mórbido, seduzido e abandonado.

Onde estão os objetos voadores não identificados? Por que não se comenta mais sobre eles? Não posso crer que tudo foi uma farsa. Ilusão, obra inventiva do homem. Que doce e sedutor enigma não vestiu os dias e as noites do mundo no século vinte! Resta-me indagar sobre o silêncio, a invisibilidade, o desaparecimento e o mistério que ficou de tudo isso. Persiste algo oculto por acontecer? Continuamos sozinhos no universo? O ser humano não pode viver sem mistério, sem verdade de fé inacessível à razão. E viva a ufologia!