07/01/2021

 

imagem da internet

Uma visita à Casa de Pedra do Pium

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes,

Membro do IHGRN/ANRL/AML/ALEJURN

Aproveitando o veraneio em Cotovelo fizemos uma visita a um local histórico de Pium – A Casa de Pedra construída pelos franceses para depósito de pau Brasil em 1570, depois incorporada ao acervo do francês João Lostão Navarro que a transformou em depósito de mercadorias, conforme Carta de Data nº15, de 1º de março de 1601, concedida por João Rodrigues Colaço, acrescentada a outras sesmarias que o mesmo já possuía, onde teve morada de 1603 a 1645. Essa construção recebeu outras denominações como Porto de Búzios, Casa Forte de Pirangi e Casa da Praia do Porto Corado (ao tempo da Companhia das Índias Ocidentais – invasão dos holandeses).

Esse monumento arquitetônico, com cerca de 338m2 tem enorme importância histórica por ter sido das mais antigas construções em alvenaria do Brasil, utilizada como armazém e forte, onde Lostão dava proteção aos cristãos perseguidos por Jacob Rabi, em decorrência do que foi preso na Fortaleza dos Reis Magos e de lá levado para Uruaçu onde foi trucidado juntamente com outros cristãos católicos, sendo declarado mártir da Igreja, sendo meu parente por parte de mãe, segundo pesquisa em meu poder.

De lamentar o absurdo descaso do Município de Nísia Floresta por essa construção secular da engenharia brasileira, pois o acesso é um risco - verdadeira aventura pela sua irregularidade e dimensão do acesso que comporta somente uma viatura – verdadeiro caminho só para animais.

É preciso que os órgãos de turismo acrescentem a Casa de Pedra de Pium em uma de suas atrações turística da região, fazendo um caminho que permita fácil acesso e atraia a população e visitantes para tão belo lugar, de onde se avista os limites marítimos entre a curca de Pirangi à de Ponta Negra – rota dos holandeses.

Este meu comentário não significa uma simples crônica, mas um verdadeiro Memorial para pedir o reconhecimento desse lugar extraordinário como de importância histórica singular.

Conclamo as populações de Nísia Floresta e Parnamirim, a PROMOVEC e outras entidades interessadas no resguardo da história, particularmente a Secretaria de Turismo do Estado do Rio Grande do Norte, o Conselho Estadual de Cultura e o Instituto Histórico e Geográfico do RN para tomarem uma providência definitiva e urgente sobre essa histórica Construção.

Enquanto isso não acontece solicito a atenção dos moradores e veranistas de Cotovelo e Pium para visitarem esse monumento histórico.

 




PASTORADOR DE AURORAS
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
A visão de quem passa pelo empório dos Guarapes (Macaíba) testemunha um tipo inexprimível de mistério, grandeza e história, que não se manifestam, apenas, na visibilidade dos olhos. Espelho e sombra nos envolvem totalmente. Reflete a casa perdida da infância de qualquer um de nós, mesmo que distem quase duzentos anos de nascença. As cores da vida vem de dentro. Ao derredor da construção principal, aflora o lirismo vegetal e memórias mil de luar. Diante dos Guarapes paraliso o meu corpo e silencio a boca, ante a emoção e a paz emblemática onde nascem, depois, todas as palavras. Templário erguido ao comércio, ao labor, a vida, a riqueza, ao capital, nele, somente restando, hoje, a raiz e o cupim, sem jardim, sem teto, gasto em sombras, sem rumor, apenas um eco antigo e longínquo da voz imaginária do grande capataz dos mistérios circundantes: Fabrício Gomes Pedroza.
“Feliz do homem que conhece a terra onde será enterrado”, disse o saudoso Dom Nivaldo Monte, já perto de sua partida e despedida. Ele não tinha nas mãos o acento da desesperança. Reescrevi hoje novo texto sobre os Guarapes movido pela aflição de um vento novo, ressurgente, após a longa noite da burla, do engodo e do humano ressentimento. Segundo os pesquisadores, os técnicos, as prospecções ao redor da área indicam um dominó de ocorrências ainda desconhecidas. Estão invisíveis, dissipadas e espalhadas no ar fino das brumas do rio Jundiaí soprando na paisagem do nunca mais. Queremos vê-la restituída, reerguida, alongada até o antigo cais e a capela, até desfazer todas as incertezas. Tudo, para sentirmos o peso da criação do homem que investiu e inovou a economia de Macaíba e do Rio Grande do Norte.
No esforço criativo de restaurar os Guarapes, congregam-se neste ano da paz de 2021, verdadeira confraria habituada as longas viagens repetidas. Para essa plêiade não interessa equívocos e maus murmúrios. Basta que a lembrança retorne submissa na velha casa que repousa em clarões e longos silêncios. Sobre a história do monumento já falei em textos anteriores. Após os gemidos, resta-me, agora, a alegria de haver achado o caminho. Um outro rumor intemporal já escuto e já me revejo diante de um espelho de sustentação. A porta que abriu não me traz enganos. As primeiras imagens dos Guarapes reconstruído renasceu dessa porta. E logo eu que me achava perdido, volto a perceber que não estou só. Estava exausto de ser enganado. Hoje, consegui a vontade política e a sensibilidade de fazer, dos que estão no poder.
A constelação de todos que se mostram envolvidos na obra constitui o fulgor da partida, do início de uma peleja. Naquela colina se ouvirão, logo mais, vozes diárias entre arcos voltaicos de sua beleza e significado para a história do Rio Grande do Norte. Dede o tempo dos holandeses, do temível Jacob Rabbi, disse-me o geólogo Edgar Ramalho Dantas que os Guarapes e Jundiaí, juntos, desafiam os estudiosos pelo circuito de circunstâncias no chão sagrado dos antepassados, a suscitarem descobertas, grutas, ecos irresignados, águas novas e subterrâneas. Atravessando o rio, vê-se de frente o memorial de Uruassu, santuário dos mártires e bem perto dali as ruínas de Extremoz. Para trás, o Solar do Ferreiro Torto, já restaurado. Chega-se a conclusão que o entorno de Natal, naquele tempo foi o maior teatro de operações da produção de alimentos, comércio, moldura de dissídios e lobisomens, que somente os Guarapes renascido pode restituir pelo olho e o tino do estudo e da pesquisa, já em campo.

(*) Escritor. 

23/12/2020

 As origens da festa do Natal

Padre João Medeiros Filho

Segundo historiadores, a celebração do Natal remonta ao ano 440, quando o Papa São Leão Magno instituiu a missa “In Nativitate Domini”. Não há registro exato da data do nascimento de Jesus. O dia 25 de dezembro é a cristianização de algumas festas romanas e gregas. Em Roma, eram tradicionais as “Saturnaliae” (Saturnais), em homenagem ao deus Saturno. De acordo com a mitologia, tendo ele sido destronado por Júpiter, fugiu para a Ausônia (Itália). Ali, reinou durante a idade áurea do Império Romano. Em memória desse reinado benéfico, celebravam-se no início do inverno as Festas Saturnais. Pode-se verificar que em tais comemorações havia aspectos análogos à celebração do Natal cristão. Nas Saturnais, suspendiam-se as atividades e serviços públicos (hoje recesso natalino), declarações de guerra, execuções de penas (indulto de Natal) e os amigos trocavam presentes. As árvores eram enfeitadas para que brilhassem (árvores natalinas). Cantava-se e dançava-se em agradecimento a Saturno, divindade da fartura e da vida.

Havia paz e fraternidade. O poeta latino Virgílio aludiu a essa época: “Eis que a Justiça está de volta com o reino de Saturno.” As Saturnais pretendiam lembrar o estado paradisíaco, obter proteção para os campos e os habitantes. Além dos festejos citados, na ocasião havia uma grande ceia, em que todos fraternalmente se colocavam à mesa. A refeição tinha por objetivo mostrar que todos os seres humanos são iguais e os bens da terra lhes pertencem. As igrejas cristãs ensinam que Jesus veio instaurar um reino de Amor, Justiça e Paz. O Filho de Deus se encarnou para proclamar a nossa fraternidade e sentar todos à mesma mesa (Eucaristia) para um banquete oferecido por Deus. Para os cristãos Jesus é o maior dom divino para os homens e seguindo o seu exemplo, há a oferta de presentes. A partir do Édito de Milão, os romanos foram se reunindo, não mais para celebrar uma deidade frágil, mas o Deus Eterno.

Na mitologia grega, Hélios (o deus Sol) é filho de uma virgem chamada Téia. Ele, conhecedor das mazelas do mundo, era a divindade da luz, capaz de trazer vida, curar, queimar e cegar. Consoante a lenda, recebeu de Netuno a cidade de Corinto, onde era adorado por seus habitantes. Estes propagaram por toda a Grécia a festa de Hélios. No solstício do inverno – entre 22 e 23 de dezembro, no hemisfério norte – os coríntios costumavam celebrar a festa do Sol, quando se cantava e pedia que ele não se afastasse da terra e ali não dominassem as trevas, encobrindo as cidades. Em geral, tal festividade tinha o seu ápice no segundo ou terceiro dia, ou seja, em 25 de dezembro.

A Igreja, partindo dessa tradição, começou a celebrar Aquele que é a Luz do Mundo, “Sol da Justiça e da Paz”, preconizado pelo profeta Isaías (Is 32, 1). Segundo a crença helênica, os rigores do inverno deveriam ser amenizados com a proteção do Sol (Hélios). E segundo a concepção do cristianismo, o gelo da insensibilidade, do egoísmo e ódio será eliminado por Aquele que aquece os nossos corações. “Sol divino, aquecei as nossas almas”, reza-se na Sequência da Missa de Pentecostes.

Virgílio já proclamava: “Quando o sol se põe, viaja para as entranhas da noite escura”. Assim, Cristo ausentando-se de nossas vidas e da sociedade, haverá trevas. Narram os relatos da Paixão do Senhor: “Quando Ele expirou, a terra cobriu-se de trevas” (Mt 27, 45). O Filho de Deus apresenta-se a seus contemporâneos como Luz: “Eu sou a Luz do mundo, quem me segue não anda nas trevas. (Jo 8, 12). Carl Gustav Jung remete o simbolismo de Hélios ao próprio Cristo: “O sol nasce cada dia, é imortal, retrata a força suprema do espírito e da alma, a verdade e o amor.” O Filho de Deus é imortal e nossa fortaleza, como afirma o apóstolo Paulo: “Tudo posso Naquele que me fortalece” (Fl 4, 13). Ele assim se define: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6). Jesus é inegavelmente a ternura divina, como descreve o evangelista João: “Deus é Amor” (1Jo 4, 8).

 


18/12/2020

 

Trabalhando
Por que trabalhamos? O que “ganhamos” fazendo isso?
Há várias razões. E já adianto que descobri algumas bem prosaicas nestes dias de pandemia. Conto já. Rogo só um tico de paciência.
A primeira razão, a mais óbvia, provavelmente a principal, é ganharmos dinheiro. Ninguém vive da beleza. Quase ninguém, melhor dizendo. Pelo menos eu não vivo, infelizmente. Trabalho é fonte de cansaço e estresse para muitos. Mas ele gera dinheiro. Pouco ou muito. E precisamos de dinheiro para comprar comida, pagar aluguel ou remédios, adquirir roupas ou livros (depende do gosto) e usufruir de centenas de outras coisas mais. Isso é fato, embora existam trabalhos domésticos ou voluntários, muito cansativos e nobres, que não geram, ao menos não diretamente, remuneração.
Há também a ideia – da qual eu comungo – de que o trabalho em si é uma coisa boa. Alguns até encontram na filosofia ou na teologia a base para a “ética do trabalho”. Segundo Chris Yuill e Christopher Thorpe em “Se liga na sociologia” (Globo Livros, 2019), “é comum a crença de que o trabalho é uma coisa boa, que o indivíduo tem o dever moral de trabalhar, a chamada ‘ética do trabalho’. Max Weber [1864-1920], ao tentar descobrir as raízes da sociedade capitalista no Ocidente, viu que o protestantismo calvinista [mais do que o luterano], religião alemã na época, desempenhava um papel importante na construção dessa crença. Seguidores da religião acreditavam que Deus já havia escolhido quem iria para o Céu. Trabalhar duro e ter sucesso na terra era um bom sinal. O trabalho duro se tornou parte das crenças e práticas da fé”. Vai aí talvez a essência de “A ética protestante e o espírito do capitalismo” (1904).
Ademais, o trabalho gera status. Ele sempre nos deu uma posição ou valor no mundo. No mundo de outrora e talvez mais ainda no de hoje, tão mais “líquido”, como nos mostrou Zygmunt Bauman (1925-2017). Embora isso às vezes possa parecer rude, lembremos de como é comum a gente perguntar a alguém que acabamos de conhecer – ‘com o que você trabalha?’, e como isso direciona o nosso relacionamento em seguida. Aliás, bem mais do que no Brasil, em muitos países europeus essa é quase uma pergunta introdutória necessária, para criarmos relacionamento com quem acabamos de conhecer.
O trabalho gera relacionamentos. Conhecemos outras pessoas. Estabelecemos amizades que podem durar uma vida toda. Tem-se às vezes quase uma rotina familiar. E mais: tudo isso é contato. Ou “capital social”, como chamou Pierre Bourdieu (1930-2002), que pode nos ajudar – e muito – a ter sucesso na vida.
Há ainda o fato de que o trabalho é bom para a mente. Ocupa a dita cuja, evitando o tédio ou mesmo a depressão. Estimula a nossa capacidade cognitiva. É por isso que muitas pessoas fogem da aposentaria, pois têm medo de ter muito tempo para fazer… nada. O ócio, se não criativo, é a “oficina do diabo”.
Por fim, o trabalho também é bom para o corpo. Caso não exaustivo, evidentemente. Nunca em condições “análogas à de escravo” (nem precisava dizer isso). Falo em condições físicas dignas e em conformidade com a legislação em vigor. Ele evita o sedentarismo. E, pelo que já li, o trabalho está relacionado a um ritmo natural do nosso corpo: trabalhamos quando estamos ativos e descansamos/recuperamos o corpo quando estamos exaustos. E isso é ótimo.
Bom, acho que minha epifania sobre o trabalho está indiretamente relacionada aos três últimos aspectos citados acima. Voltei a trabalhar presencialmente faz uns três meses. Foi a melhor coisa que fiz. Voltei a ver a “minha gente”, incluindo a nossa mascote. Voltei a minha rotina da qual tanto reclamava. Fiquei mais alegre. Pelo caminho Natal/Recife, que se mostrou até mais verde, dei movimento ao meu corpo jornada afora.
E, sobretudo, eu voltei a usar calças. Aí, sim: que felicidade!
Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – K

 



Tilt & Baboo e um Natal sem trenó


Tilt & Baboo e um Natal sem trenó

Primeiro livro infantil das lojas Rio Center.
Acompanhe os dois mascotes da loja, Tilt e Baboo, em uma aventura com o Papai Noel, os duendes e as renas para salvar o Natal.

Em versão bilíngue, português e inglês, é mais um resultado do Projeto Ninho, uma proposta da Coruja Arquitetura com o Sertão Comunicação & Mídia.

Em formato de livro impresso, está disponível gratuitamente nas lojas Rio Center, enquanto durar o estoque.
Aqui, a versão digital, também gratuita.

Texto Gustavo Sobral e ilustrações Ariel Guerra.
2020, Tilt & Baboo e um Natal sem trenó. 1ed. Natal: Coruja Arquitetura, 2020, 24p.

www.gustavosobral.com.br

 

BULA MEDICAMENTOSA

 

Valério Mesquita*

Msquita.valerio@gmail.com

 

Jesus Cristo, o amado mestre, falava através de parábolas. O ser humano comum, quando muitas vezes quer dizer uma verdade, escreve por linhas tortas. Esse preâmbulo indefectível vem esbarrar num assunto que desejo abordá-lo via deduções preterintencionais, comparativamente a uma bula medicamentosa. Repleta de disse-me-disse. Falo do famigerado coeficiente eleitoral, a mais afiada faca de dois gumes do processo eleitoral brasileiro. Modelo injusto e antidemocrático, que eleva ao podium o lanterninha em detrimento do mais votado. O resultado, muitas vezes, de uma eleição, não reflete a manifestação da maioria, principio fundamental de qualquer processo decisório.

O escorre das votações ou proclamação de resultados, em qualquer atividade institucional ou não, baseia-se na lógica numeral dos sufrágios. Nos plenários do Legislativo, do Judiciário, dos Tribunais de modo geral, no placar das competições esportivas, no Vaticano, no sindicato, na OAB, no ABC, no grêmio escolar, enfim, em qualquer seguimento coletivo a expressão dos mais sufragados - é a respeitada. Até a lei de Gerson é a da vantagem. Somente o processo eleitoral brasileiro é liquidificado, diluído, triturado, para inverter e subverter a escolha popular que deu três mil votos a um candidato mas o que se elege é aquele dos quinhentos. Acho perverso esse sistema. A maioria dos pequenos partidos que abunda o elenco eleitoral é useira e vezeira na prática de registrar candidatos fajutos apenas com o intuito de alimentar a legenda.

O coeficiente eleitoral, assim, é semelhante a bula medicamentosa. Esta tem efeitos colaterais pois ofende a todo organismo da eleição. Elege quem não devia. Retira do eleitor a primazia de escolher o melhor, retirando do túmulo do processo o opaco e o onomatopaico. Envia para a casa do povo o que não deve ir – o lôgro. Verifique o resultado das urnas, à luz mortiça das reações adversas que o coeficiente eleitoral tem provocado nos legislativos de modo geral só para atender ao cálculo equivocado que premia o caricato partido político e derruba o valor pessoal, humano, valorativo e majoritário do candidato. Ainda dentro da posologia sobre o assunto as minhas precauções residem no fato de entender que o homem deve ficar acima da agremiação. A proliferação das legendas têm trazido mais problemas para a democracia do que o político solitário. Afinal, o mensalão, o lava jato e outros escândalos foram obras da proliferação de partidos nanicos.

A superdosagem de corticóide no coeficiente eleitoral mascara o exercício da democracia. Além de alarmante, a sua aplicação penaliza, deturpa a face das urnas, a liquidez da escolha, a lisura da lei. Vamos construir um Brasil eleitor. Respeitando o direito da maioria do povo e não o artifício matemático, algébrico, trigonométrico do computador eleitoral. O voto é algo numeral e ordinal. Sentar na cadeira do eleito o menos votado é invenção escabrosa. É gambiarra, “morcego” e tapeação. Voto é maioria e não medicamento controlado e manipulado. Tarja preta para o coeficiente eleitoral! Aceito tudo o que for eletrônico numa eleição menos o coeficiente digitalizado porque nega o direito da maioria

(*) Escritor.

 

10/12/2020



 O encanto dos pássaros

Daladier Pessoa Cunha Lima

Reitor do UNI-RN

Há dezenas de anos, frequento um local onde se sobressai a natureza, tanto com os vegetais ali presentes quanto com os pequenos animais que se movem livres nos espaços. A grama, a relva, as pequenas plantas são repouso para os olhos no verde que se espraia. Plantas de jardim também são cuidadas, algumas com floradas alegres e coloridas. Três palmeiras se elevam tão lindas, tamanho médio, e exigem pouco para se manterem sempre airosas esorridentes. Em área contígua, existe um pomar com diversas árvores frutíferas, tais como pés de acerola, manga rosa e espada, pitanga, coco e jaca. As polpas das frutas não chegam pra quem quer. Vizinho à jaqueira, a mais alta e a mais robusta das espécimes do pomar, floresce um bonito Pau-brasil, a árvore nacional do país, que deu o nome à nossa Pátria. Chamo-o de Rei, e a jaqueira, de Rainha, alcunhas merecidas, pela altivez com que se destacam. Os pássaros que povoam esse espaço onde o verde domina dão um show à parte com seus cantos belíssimos, sinfonia natural, tocada por orquestra que dispensa regentes. Sei que há um regente invisível, diáfano, tão oculto e, ao mesmo tempo, tão presente, capaz de revelar a beleza na forma mais pura da criação. De todos os cantos dos pássaros desse viveiro a céu aberto, ressalto o dos sabiás, pelo timbre suave que encanta e enleva. O sabiá é citado como o pássaro que canta o amor e a primavera. O poema Canção do Exílio, do poeta Gonçalves Dias (1823-1864), é famoso pelo apreço à natureza e aos sabiás: “Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o sabiá”. Desde 2002, o sabiá laranjeira passou a ser, por ato presidencial, a ave nacional do Brasil.Mas, além do sabiá, existemos lindos bem-te-vis, as rolinhas, os beija-flores, os sanhaços, e muitos outros. Há poucos dias, noto que essa alegre e bela cena sonora e visual dos seres alados desse aviário sem barreiras tornou-se meio silente, com menos cursos de voos, enfim, uma calmaria fora do comum. Passei a torcer para que uma construção vizinha logo chegasse ao fim, pois fiquei certo de que o ruído e a poeira eram a causa dessa reação desagradável para os atores do espetáculo da natureza, bem como para os espectadores. Em dias recentes, li uma crônica da neurocientista brasileira Suzana Herculano Houzel, na qual ela aponta que o canto dos pássaros melhora com o menor barulho urbano. Ela se referiu a uma pesquisa da U. do Tennessee que comparou o canto dos pássaros em pleno ruído da cidade de São Francisco, CA, com o tempo do lockdown abril a junho de 2020 , e verificou que os gorjeios das aves se tornaram bem mais cheios de conteúdo e mais completos, durante a fase de menor barulho. A conclusão da pesquisa foi que, no auge da pandemia, os pássaros urbanos voltaram a cantar com o mesmo esmero dos seus primos da área rural. Bela e sábia natureza.Texto publicado na Tribuna do Norte em 10/12/2020.