Entrevista. Biblioteca, arquivo e museu do Instituto Histórico
29/10/2019
Entrevista concedida em outubro de 2019, na condição de ex-diretor de Biblioteca, Arquivo e Museu do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, ao mestrando Igor Oliveira, do Programa de Pós-graduação em Ciências da Informação da Universidade Federal da Paraíba, sobre a instituição e o acervo. A entrevista é parte do seu trabalho de pesquisa.
Quais são as atividades desenvolvidas pelo diretor de Biblioteca, Arquivo e Museu?
As competências atribuídas ao diretor estão especificadas no
Estatuto da instituição. Aparecem pela primeira vez no estatuto de 1925
e, acredito, sem grandes alterações no seu propósito no último estatuto,
aprovado em 2018 e, atualmente (2019), em vigência, quais sejam
(transcrição do artigo):
Art. 27. Ao Diretor da Biblioteca Arquivo e Museu, compete:
a) organizar e sistematizar a biblioteca, o arquivo e o museu do
Instituto, de forma a manter a sua conservação e permitir o seu uso
pelos interessados sem riscos para o acervo;
b) fiscalizar o seu regular funcionamento, adotando normas para o ingresso de pessoas ao acervo do Instituto;
c) criar, para auxiliarem no funcionamento da biblioteca, do
arquivo e do museu, as Coordenadorias necessárias para o seu melhor
funcionamento, a serem ocupadas por pessoas especializadas nos
respectivos assuntos;
d) manter pessoal especializado para dar suporte ao cumprimento
da missão de organização da biblioteca, acervo documental e museu;
e) editar normas regimentais para a funcionalidade do acesso ao
acervo da Biblioteca, Arquivo e do Museu e dos demais bens sob sua
responsabilidade;
f) cumprir outras determinações que lhe forem delegadas pelo Presidente.
Quais são as especificidades de cada uma dessas três segmentações?
O estatuto, que é o documento fundante e norteador dos objetivos e
propósitos da instituição, estabelece esta configuração para divisão do
acervo: biblioteca, arquivo e museu. Então, cabe ao museu concentrar as
peças museológicas; ao arquivo, os documentos históricos; e à
biblioteca, os livros, catálogos, etc.
Tendo em vista que os documentos do arquivo são únicos e devem ser preservados, como proporcionar o acesso aos usuários?
As instituições que detêm arquivos e documentos tem discutido a
melhor forma de acesso, sem que se prejudique o documento e, ao mesmo
tempo, sem que haja prejuízo ao usuário no acesso à informação.
Visitei algumas instituições do gênero no Brasil, especificamente
em Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, e o que observei é que cada
instituição escolhe os seus protocolos.
O Museu da Cidade do Recife, por exemplo, no Forte das Cinco
Pontas, permite a consulta ao documento na versão digital e se faz
necessário que o usuário preencha um ficha ou questionário, apresentando
seus dados, o seu interesse de pesquisa, o material a ser pesquisado,
etc., é uma forma de proteger o documento e permitir o acesso de forma
responsável e direcionada.
Quanto ao acervo bibliográfico, há alguma comissão de
formação e desenvolvimento de coleções, quais critérios para inserir ou
descartar obras do acervo?
Hoje, não sou mais diretor, no entanto, durante a minha gestão,
enquanto organizávamos o acervo, também tínhamos a missão de criar os
protocolos de trabalho, distribuir e determinar as competências e
funções da diretoria, capacitar o pessoal, formar massa crítica.
A partir de um grupo de discussão e reflexão acerca das
atividades desempenhadas, institui um grupo de estudos entre os
colaboradores da diretoria de Biblioteca, Arquivo e Museu; conduzi a
produção de trabalhos escritos como resenhas e até de pesquisa
bibliográfica e produção de um livro, resultado de uma pesquisa sobre os
institutos do Brasil; produzimos as atas de reunião e os relatórios da
diretoria, importantes para fixar as práticas institucionais, etc., e
dentro deste processo de construção e aprendizagem criamos uma política
para o acervo.
Trabalho em conjunto entre os bibliotecários, o diretor e o
diretor adjunto para nortear as ações da Biblioteca, Arquivo e Museu.
O documento é público e foi publicado na edição da revista da
instituição de número 97, ano 2018, p.85-90. Nele, após debate,
pesquisa, reflexão, e cientes das condições de trabalho que tínhamos e
das dificuldades que instituições sem recursos humanos e financeiros
enfrentam, instituímos as diretrizes para aquisição e descarte, entre
outras providências atinentes ao acervo bibliográfico. Lá estão todos os
critérios.
Quais as exposições do museu e como a instituição consegue
dinamiza-lo no combate a ideia de que o museu é um espaço para guarda de
coisas antigas?
Posso recuperar o projeto que institui para o museu durante a minha gestão.
Assim que assumi a diretoria de Biblioteca, Arquivo e Museu, foi
preciso recompor o museu cujas peças, a maioria sem identificação ou
acondicionamento adequado, estavam abrigadas no edifício anexo (as peças
ainda carecem de catalogação e, muitas delas, precisam de restauro por
profissional capacitado, a falta de recursos financeiros é um desafio
para manutenção de qualquer acervo).
O primeiro passo foi o translado das peças e uma tentativa de
recuperação da organização anterior. Depois procedemos com a
identificação das peças e a reorganização do museu para que tão logo
pudéssemos franquear à visita, tendo em vista que a instituição vinha
desde 2016 a portas fechadas.
Foi providencial a elaboração de um livro-catálogo (“Catálogo de
monumentos, relíquias, obras de arte, personagens e livros do Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte”, 2017) para colaborar com
a divulgação do museu e de suas peças e, ao mesmo tempo, servir de
fonte de informação para os colaboradores e funcionários, jornalistas,
professores, estudantes e visitantes, e promover a instituição e seu
acervo.
E não só isso, criamos as redes sociais oficiais, facebook e
instagram, para promover uma maior aproximação com o público, divulgar o
acervo e as atividades.
Além disso, tivemos a oportunidade de elaborar um site, que
desenhei em conjunto com programador, redigindo todos os textos,
fornecendo todo o material, e desenhando uma página simples e usual, na
qual incluímos uma seção para as publicações da instituição e uma página
repositório para disponibilizar o material já digitalizado do acervo.
Neste espaço digital, mostramos um pouco do museu, apresentando algumas
peças.
E, então, tomando por base o cenário de outras instituições e
para promover a atenção da imprensa e dos visitantes, institui as
exposições temporárias, a exemplo do que praticam todos os museus do
mundo.
Creio que todas estas ações, reordenação do espaço museológico,
identificação das peças, presença nas redes sociais, elaboração do
catálogo, exposições temporárias e contato permanente com a imprensa
para divulgação das atividades realizadas no museu, procuraram
transformar a relação museu-visitante.
Quais os principais desafios para o setor de Biblioteca, Arquivo e Museu atualmente?
Não posso responder sobre a atualidade, tendo em vista não estar
mais na direção da Biblioteca, Arquivo e Museu da instituição, no
entanto, acredito que os desafios e as dificuldades são os mesmos e
comuns a todos os institutos e instituições congêneres.
O livro que publicamos (Institutos Históricos do Brasil, IHGRN,
2019) acerca dos institutos do Brasil apresenta o quadro, e outras
instituições no Brasil, voltadas para guarda e conservação de acervos,
sobretudo no Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, que são os cenários que
acompanho, em sua grande maioria, enfrentam os mesmos percalços.
Outros não são, para listar alguns, e de forma geral, que a
insuficiência de recursos financeiros e humanos; falta de material de
trabalho e condições adequadas para guarda do acervo; ausência de uma
política institucional definida para o acervo; modelos de gestão
arcaicos e, muitas das vezes, dirigentes despreparados no comando; falta
de interesse e de políticas públicas para o setor e, sobretudo, da
sociedade pela preservação e conservação da sua memória.
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Comentários
Hortencio Pereira de Brito Sobrinho - 12/11/2019
Caro Gustavo, fiz um belo passeio sentimental em sua matéria de hoje indo ao Museu do Homem do Nordeste e a Biblioteca Blanche Knopf que são referências em organizações, principalmente quando o Fernando de Mello Freyre em Presidente da FUNDAJ.