UM
SONHO A MAIS NÃO FAZ MAL
Valério
Mesquita*
O ano da graça de 2019 passou da metade. No ar, esperanças,
perspectivas, novas manhãs de ressurreição e fadigas de longas e crepusculares
esperas. Renova-se um semestre, desta vez ainda chuvoso e sem fartura de cajus.
Com relação a Macaíba, quais as novidades, além dos políticos de carreira? Em
cada esquina um líder, em cada rua um partido e todos se alvoroçando porque é
ano de eleição. Ninguém presta atenção ao rio Jundiaí decomposto e sujo,
morrendo de inanição na rasura dos dejetos. “O Ibama só atua em Natal”,
disse-me um vereador do alto de sua prosopopeia. “Não aparece nenhum fiscal
fuleiro”, completou amargo e verde como se tivesse bebido a água poluída.
Passado o governo enganoso e medíocre de Robinson
Faria, tá na hora de cobrar o preço da fatura. De lembrar aquilo que devem a
Macaíba. Cadê a restauração do Empório dos Guarapes, gemido sufocado da história
econômica do Rio Grande do Norte, sepultado no alto de uma colina. Fabrício
Pedroza, fundador de Macaíba, que doou terras para construírem a igreja e o
cemitério e que no governo imperial a transformou no eldorado do comércio e da
indústria extrativista que superou Natal – hoje jaz esquecido, apunhalado pelo desprezo
oficial. Cadê a retirada das barracas da rua Nair Mesquita, no centro da
cidade? Onde estão as luzes do canteiro central da Br-304, entre Parnamirim e
Macaíba, de trevo a trevo, iluminando as fábricas e os operários contra as
sombras do assalto e da insegurança.
Por que ninguém se lembra do vazio e do vácuo do Hospital
Alfredo Mesquita, desabitado de médicos profissionais, de novos equipamentos e
leitos, ao ponto de ser acoimado como “hospital dos mártires”? Antes, era uma
unidade de saúde regional e hoje nem municipal o é. E em Macaíba, qual o lugar,
o bairro, a rua onde se vive sem violência ou sem droga? Mataram Cosme e Damião.
Não os santos. Mas, os policiais das avenidas e praças. E nem motos e nem
veículos trafegam mais porque o pânico, o medo e a diarréia sucumbiram ante o
domínio da marginalidade dos capetas que manipulam as estatísticas criminais.
Diante de todo esse quadro trágico e parafernálico ainda
vale dizer que um sonho a mais não faz mal, no entardecer de um novo ano? Acho
que sim. É preciso que a governadora Fátima Bezerra assuma Macaíba, como no
passado o fizeram outros governadores. O município tem importância histórica, cultural,
além de significativa expressão comercial e industrial.
O rio Jundiaí, no trecho em que atravessa a cidade de
Macaíba, perdeu o solo, o curso, o chão, o cheiro, a visão e é ameaça à
segurança dos habitantes. Entre o Parque Governador José Varela e a Praça
Antônio de Melo Siqueira deixaram crescer no leito poluído imensos manguezais
que enfeiam um dos mais bonitos logradouros urbanos. Essa selva esconde lixo
doméstico, carcaças de animais, e é ponto de fuga de marginais do tráfico de
drogas em todo o seu percurso. Os galhos já ultrapassam a altura da ponte e das
balaustradas. A Tribuna do Norte publicou dia desses, excelente matéria sobre
tudo que ameaça e destrói os rios Potengi e Jundiaí. Mas, o foco da minha
questão e, creio, dos cidadãos macaibenses, reside exatamente nesse aluvião de
perguntas: por que o Idema e o Ibama não evitam, aparando, podando, somente
nesse trajeto o “matagal” entre o antigo cais do porto até a outra lateral da
ponte? Por que não licenciam a prefeitura para o fazer?
A praça e o parque perderam o charme de antigamente.
Ninguém enxerga ninguém, olhando de um lado para o outro. A conscientização
ambiental deve ser obedecida até onde não prejudique a funcionalidade
urbanística e o senso prático e plástico do mapa citadino. Um sonho a mais não
faz mal.
(*) Escritor