Em audiência pública, hoje realizada no auditório da Escola de Governo, o INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE contabiliza mais uma vitória, tendo à frente o Presidente Ormuz Barbalho Simonetti e o apoio da Governadora Fátima Bezerra para a correção do brasão e bandeira do Estado do Rio Grande do Norte, bem assim a distribuição de kits de livros para distribuição com as escolas públicas.
07/08/2019
05/08/2019
O grande francês
Mestre em Direito pela PUC/SP
Dentre os juristas franceses do passado, um papel de absoluto destaque
deve ser dado a um magistrado e professor de Orleans: Robert-Joseph
Pothier (1699-1772). Pothier é, de fato, um forte candidato a maior
jurista da França.
Pothier nasceu (no seio de uma família
burguesa) e viveu toda sua vida em Orleans. Seu avô e seu pai haviam
sido magistrados (conselheiros) nessa agradável cidade do norte da
França, outrora libertada do jugo inglês pelas mãos de Santa Joana d’Arc
(1412-1431). Ali Pothier também exerceu, por mais de cinquenta anos, o
mesmo cargo de conselheiro no “Présidial” da cidade. A partir de 1749,
foi também professor de direito francês da prestigiosa Universidade de
Orleans.
Magistrado e professor até seus últimos dias, Pothier
escreveu e publicou abundantemente. Era infatigável. “Um beneditino do
direito”, como chamaram, poeticamente, os autores do “Dictionnaire
historique des juristes français (XIIe-XXe siècle)” (publicado pela PUF –
Presses Universitaires de France, sob a direção de Patrick Arabeyre,
Jean-Louis Halpérin e Jacques Krynen, em 2007). Produziu, como era de
praxe à época, “Comentários” aos costumes de sua cidade. Sua obra de
maior destaque é, sem dúvida, as “Pandectae Justinianae in Novum Ordinem
Digestae”, publicadas entre 1748-1752, mas que lhe tomaram, de
trabalho, pelo menos vinte anos da sua vida. Mas ele também publicou
inúmeros tratados sobre o que hoje chamamos de direito civil (sem
prejuízo de haver escrito sobre outros ramos do direito de então).
Na verdade, se as “Pandectae Justinianae in Novum Ordinem Digestae”
podem ser consideradas a obra-prima de Pothier, a fama desse grande
francês deve-se mesmo, como lembra Antonio Padoa Schioppa (em “História
do direito na Europa: da Idade Média à Idade Contemporânea”, edição da
WMF Martins Fontes, 2014), “aos numerosos tratados de direito privado –
sobre a propriedade, sobre os direitos régios, sobre as sucessões, sobre
as obrigações, sobre a venda, sobre a locação, sobre o câmbio, sobre o
matrimônio e outros temas mais – nos quais soube conjugar de modo
magistral a disciplina do direito comum de vertente romanística com os
mais válidos elementos de tradição consuetudinária francesa”. A obra de
Pothier, diz-se, praticamente condensa e torna acessível ao público a
quintessência do pensamento jurídico do “Antigo Regime” de então.
Mas não é apenas o conteúdo dos escritos que explica o sucesso de Pothier. É, também, uma questão de escolha e de estilo.
Pothier era um homem muito culto, familiarizado com a literatura e as
instituições da Antiguidade clássica. Era um romanista. Todavia, como
lembra Paulo Jorge Lima (no seu “Dicionário de filosofia do direito”,
publicado pela editora Sugestões Literárias em 1968), à semelhança “de
vários outros famosos jurisconsultos dos séculos XVII e XVIII, procurava
conciliar a tendência historicista e excessivamente teórica da Culta
Jurisprudência do Renascimento com as questões da prática jurídica,
contribuindo, através de uma construção de caráter normativo, para a
formação da moderna ciência do Direito”. O ecletismo e a pluralidade de
fontes de Pothier, condensando as diferentes correntes do pensamento
jurídico de então, são amplamente reconhecidas, e isso já explica, em
parte, o sucesso de sua obra.
Doutra banda, deve ser enfatizada a
acessibilidade do seu estilo de escrita. Como anota o já citado Antonio
Padoa Schioppa, “os dotes de clareza, a utilização castiça da língua
francesa, a tentativa simplificadora e unificadora de suas análises
destinadas não tanto à ciência, mas à prática do direito e a sua
aplicação explicam não apenas a grande e duradoura acolhida de seus
tratados, mas também o fato de os codificadores napoleônicos terem se
inspirado neles em grande medida, mesmo sendo anti-histórico considerar
Pothier (assim como, com mais razão, Domat) uma espécie de codificador
‘ante litteram’ ou também simplesmente um potencial reformador. Seus
tratados sobre as diferentes partes do Direito Civil influenciaram a
feitura do Código de Napoleão”.
Diz-se – e li isso no
“Dictionnaire” acima referido – que “ao menos um quarto dos artigos do
Código provêm de Pothier”, reinterpretando suas lições ou mesmo
reproduzindo, textualmente, suas opiniões. Não posso confirmar essa
conta. Mas que Pothier pode ser considerado como um dos “pais do
Código”, isso eu garanto.
E a coisa não para por aí. Pothier
foi muito reeditado. Em vida e depois da sua morte. De forma condensada,
como no conhecido “Pothier des notaires”. Ou em edições de suas obras
completas, em vários volumes, sobretudo no decorrer do século XIX. Para a
felicidade dos que vieram depois e dos que moravam ou moram longe da
sua Orleans. Como registra o já citado “Dictionnaire”, “sua influência
não restou limitada à França: ela acompanhou, talvez precedeu, a difusão
do Código pela Europa napoleônica, na Itália, na Alemanha, nos Países
Baixos, na Polônia, pela península ibérica onde várias de suas obras
foram traduzidas para o espanhol e para o português; e mesmo além, pois
essa influência foi exercida em todos os países do mundo onde, durante o
século XIX, se fez sentir a influência intelectual do direito francês,
até no Japão, na Argentina e nos países do Common Law, na Inglaterra e
nos Estados Unidos, onde o Tratado das Obrigações, traduzido para o
inglês, conheceu várias edições”.
Eu mesmo, na época em que
estudava o direito civil com alguma profundidade, ouvi muito falar de
Pothier. Bons tempos de bacharelado na UFRN e de mestrado na PUC/SP.
Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCLMestre em Direito pela PUC/SP
31/07/2019
MACAÍBA – UM
POUCO DE SUA HISTÓRIA - II
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
Conta D. Iná Cordeiro que
o primeiro Presidente da República a visitar Macaíba foi Washington Luís, em
1929, antes de ser deposto pela revolução de 1930. O prefeito de Macaíba era
Almir Freire. A política situacionista era dominada pela família do coronel Manoel Maurício Freire. Na oposição militavam
os Mesquita e os Andrade.
Em 1933, foi a vez de
Getúlio Vargas. Governava a cidade o prefeito Teodorico Freire.
Com Getúlio vieram o
então General de Divisão Hidelbrando Góis Monteiro, o coronel Luiz Tavares Guerreiro,
Juarez Távora, Amaral Peixoto entre outros. Nessa visita foi solicitada ao presidente
a construção da primeira ponte sobre o rio Jundiaí. Getúlio foi recepcionado
nos salões da antiga prefeitura, prédio construído em 1933 e que hoje abriga a
secretaria de finanças do município. A chegada do presidente, lembra D. Iná, se
fez um corredor constituído por moças da sociedade local que saudaram a
comitiva com flores e vivas, entre as quais pontificava a senhoria Valda
Dantas, filha do então juiz de direito Virgílio Pacheco Dantas.
As visitas de ambos os
presidentes, se, bem que, tenha alvoroçado
e alimentado o jogo do poder das
lideranças locais, acima de tudo, conferiu a Macaíba, um inegável
grau de importância
política, econômica, social e cultural perante o Rio Grande do Norte, já
engrandecida no passado recente pelos
feitos dos seus filhos ilustres:
Augusto Severo, Alberto Maranhão,
Tavares de Lira, Henrique Castriciano e Auta de Souza.
Sobre essa visita ficou
registrado uma ocorrência pitoresca. O pedreiro Sabino, foi o mestre de obras
do prédio da então prefeitura. No dia da visita do presidente, promoveram dois
bailes no mesmo prédio da prefeitura, sendo um pra os ricos e outros para os
pobres, em salões diferentes. O mestre Sabino confiando no seu taco resolveu
penetrar no baile dos ricos pois era um excelente dançarino. Não contava com o
mau humor do promotor de Macaíba doutor Heitor Lopes Varela que ordenou a se
retirar. Sobre o acontecimento surgiu, dia seguinte, uma quadrinha na cidade:
“Sabino por ser gaiato
metido a dançador
Foi expulso lá do baile
pelo doutor promotor”.
Na vida social da cidade
havia o Clube Sete, fundado por Alcides Varela perto da ponte e frequentado
pela sociedade local. Com o comércio ativo a mesa de renda chegou a
Macaíba em 1926. O transporte para Natal era feito pelo rio Jundiaí,
através das lanchas Julita I e II do mestre Antonio. Depois veio a de João Lau.
Dois partidos se
engalfinhavam: os Penhistas (seguidores de José da Penha adversário de Pedro Velho)
e o Partido Republicano que mandou até a revolução de 1930, de Getúlio Vargas. Eram Penhistas os Andrade e os
Mesquita e o Republicano o coronel Mauricio Freire, o seu filho Teodorico e o
sobrinho Almir.
Com a morte de Neco
Freire subiram ao poder o major Andrade
e os novos políticos
emergentes que foram prefeitos,
intendentes, interventores tais como: João Meira, tenente Agripino, capitão
Gadelha, Pedro Dantas, Alfredo Mesquita Filho, major Genésio Lopes, Antonio
Lucas até a fase da redemocratização em 1946, com a queda de Getúlio Vargas.
Com a nova Constituição Federal em vigor
surgiu a 1ª eleição democrática, sendo eleito prefeito Luiz Curcio Marinho e
vice Magnus da Fonsêca Tinôco e Alfredo Mesquita Filho
deputado estadual constituinte.
Inaugurava-se uma nova fase política, ficando para trás os líderes do governo
revolucionário, o Partido Republicano e surgiram partidos novos: o PSD, a UDN e
PTB, etc.
O comercio local passou
por grande modificação. O mundo saía da 2ª Grande Guerra Mundial que influiu
nos costumes, na vida social e administrativa em todos os recantos. Macaíba
passou a receber significativos melhoramentos que influíram no seu desenvolvimento:
a) A construção de nova
ponte sobre o rio Jundiaí na relação
comercial com Natal, cujo transporte de pessoal (passageiro) e
mercadorias era feita por barcos no velho cais do porto; A estrada Macaíba/Natal - 1947;
b)
O advento da Escola de Jundiaí que foi evoluindo até chegar ao que é hoje e
teve na figura de Enock Garcia um grande batalhador;
c)
A modificação da estrutura urbana das margens do rio Jundiaí com a construção
da atual praça Antonio de Melo Siqueira, o Pax Clube e o Parque Governador José
Varela pelo prefeito Luiz Curcio Marinho;
d)
A Escola Técnica Comercial fundada por José Maciel e o campo de futebol, além
do novo mercado público. A Escola Técnica de Comercio foi a fase embrionária
que redundou muito depois no Colégio Dr. Severiano;
e)
Podemos salientar por dever de justiça o nome de muitos educadores que
ensinaram a inúmeras gerações, nos anos de 1950 e 1960, tanto no velho grupo
Escolar Auta de Souza como na Escola
Técnica Comercial de Macaíba: Arcelina Fernandes, Nazaré Madruga,
Paulo Nobre, Profº Caetano, D. Emilia, Alice de Lima e Melo, Dona
Quina, Ana Sabino, D. Dalila
Cavalcante, Profº Rivaldo D'Oliveira, Geraldo
Pinheiro, Aguinaldo
Ferreira, Teresa Gomes da Costa, Aldo
Tinôco, Enock Garcia, Manoel
Firmino Enedina Bezerra, Noide
Tinôco e tantos outros, esquecidos mas igualmente merecedores do respeito e da
saudade.
Após José Maciel e Aldo
Tinôco (prefeito e vice), em 1958, foi prefeito pela 3ª vez Alfredo Mesquita
Filho e o vice Aguinaldo Ferreira da Silva. Já eram os anos sessenta do século
passado marcados por novos costumes
políticos, e o surgimento de
novas atividades comerciais e industriais (Industria Nóbrega Dantas), instalada
com o apoio de Alfredo Mesquita, energia de Paulo Afonso e a
vida social e esportiva passaram a ser
exercida através da Associação Pax Clube tendo à frente inúmeros jovens da sociedade local.
(*) Escritor.
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RN IHGRN <ihgrn.comunicacao2017@gmail.com>
Para:Adauto José Carvalho Filho,Adilson Gurgel de Castro,Alberto Gondim de Freitas,Ana Angélica Timbó Schmidt,André Felipe P Furtado de M e Menezes
31 de jul às 07:48
Caro sócio,
Amanhã, dia 01/08/2019, às 18 horas, o professor Diogenes da Cunha Lima, sócio deste Instituto, proferirá uma palestra sob o tema NOSSO RICO ESTADO POBRE, dando prosseguimento a mais uma "Quinta Cultural", a ser realizada no Salão Nobre deste Instituição.
Aguardamos a sua presença, para mais uma valorosa e importante palestra.
30/07/2019
Um naturalista diferente
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP
Se bem me recordo, eu já escrevi aqui sobre alguns expoentes do
jusnaturalismo. Pelo menos sobre Hugo Grócio (1583-1645), Samuel
Pufendorf (1632-1694) e, mais recentemente, sobre Lon Fuller
(1902-1978). Desse último, tenho certeza que sim.
Como a minha
intenção, nas nossas próximas conversas, é tratar de alguns juristas da
França, uso essa deixa para falar de um jusnaturalista diferente,
nascido nesse agradabilíssimo país: Jean Domat (1625-1696).
Domat nasceu na cidade de Clermont-Ferrand, situada quase no centro da
França. Sob a proteção de um tio-avô, o padre Jesuíta Jaques Sirmond
(1559-1651), confessor do rei Luís XIII (1601-1643), Domat foi, ainda
jovem, estudar em Paris. Estudou direito em Bourges. Voltou à sua
Clermont para advogar. Ali, a partir de 1657, por quase trinta anos, foi
“Advogado do Rei” (uma espécie de magistrado de então). Em 1681,
contemplado com uma pensão vitalícia pelo rei Luís XIV (1638-1715),
voltou a Paris. Sua obra magna foi “Les Lois Civiles dans leur Ordre
Naturel” (publicada entre 1689 e 1694). Teve ainda publicados
postumamente pelo menos mais dois importantes trabalhos: “Le Droit
Public” (1697) e “Legum Delectus” (1700).
Domat tornou-se, sem
dúvida, um homem do direito. Mas não foi fácil essa vocação. Ligado aos
mestres do famoso convento cisterciense de Port-Royal, amigo do grande
Blaise Pascal (1623-1662), seu conterrâneo e com quem partilhava o amor
pelos números, teve de resistir bravamente à tentação de se tornar um
homem da ciência (e aqui falo das ciências exatas, sobretudo a
matemática).
O direito, em seus vários matizes, agradece.
Primeiramente, o direito natural, do qual Domat é considerado um dos
seus baluartes. Sobretudo em seu “Les Lois Civiles dans leur Ordre
Naturel”, Domat analisa a tradição romanística à luz do direito natural.
Um direito natural identificado não apenas com a razão, mas, também,
com critérios da ética, decorrentes da sua grande fé religiosa de cunho
jansenista. É com base nesses valores ou regras de direito natural, já
presentes em grande medida naquilo que nos foi transmitido por antigas
(leia-se, aqui, pelos textos do direito romano) e diferentes
civilizações, que ele tenta estabelecer os princípios fundamentais do
direito francês. Teve bastante sucesso nisso.
Mas agradece
também o direito positivado francês. Domat, como registra o
“Dictionnaire historique des juristes français (XIIe-XXe siècle)”
(publicado pela PUF – Presses Universitaires de France, sob a direção de
Patrick Arabeyre, Jean-Louis Halpérin e Jacques Krynen, em 2007), foi
até chamado de o “precursor do Código Civil”. De fato, como anota
Antonio Padoa Schioppa (em “História do direito na Europa: da Idade
Média à Idade Contemporânea”, edição da WMF Martins Fontes, 2014),
“mesmo que seu pensamento, pelos motivos indicados [vide parágrafo
anterior], não possa ser qualificado como de orientação liberalista nem
em economia nem em ética, não poucas das regras que ele exprimiu –
especialmente em matéria de contratos – serão acolhidas, em um contexto
histórico e econômico muito diferente, pelo Código napoleônico e pela
doutrina posterior do direito civil até o final do século XIX”.
Por último – e, para mim, o mais importante –, agradece a própria
ciência do direito. Domat parecia ter, já à sua época, uma preocupação
com o método de fazer direito. Antes de mais nada, ele procurou
conciliar a tradição da Escola Culta (a crítica histórica e a discussão
filológica dos textos romanos) com os problemas da prática jurídica de
então. Mas é sobretudo a sua forma “lógica” de enxergar e de organizar o
direito que viria a preencher uma necessidade da era vindoura, marcada
pela unificação sistematizada das regras jurídicas de todo um direito
num só documento, que nos acostumamos a chamar simplesmente de “código”.
Foi buscando compreender a “lógica do direito” que Domat embarcou na
aventura de “Les Lois Civiles dans leur Ordre Naturel”. E sua grande
sacada aí, como registra Jean-Marie Carbasse (em “Que sais-je? Les 100
dates du droit”, editora PUF, 2015), foi “apresentar o ‘direito civil’
(isto é, o direito romano) numa ordem conforme esta lei natural. De
onde, o título: Les Lois Civiles dans leur Ordre Naturel. Sob a
influência de Pascal e de outros jansenistas (em particular Pierre
Nicole, autor junto com Antoine Arnaud da famosa Logique de Port-Royal),
ele considera o método geométrico (mos geometricus) como aplicável a
todas as ciências, a começar pelo direito. A ordem natural do direito é
assim uma ordem geométrica, ou ao menos uma ordem perfeitamente lógica,
em que as preposições demonstrativas se encadeiam umas às outras num
rigor perfeito. O resultado é uma excepcional sistematização das regras
romanas que exercerá uma grande influência sobre a doutrina do século
XVIII e que inspirará, em seguida, ao menos em certos pontos (por
exemplo, a responsabilidade civil), os redatores do Código Civil”.
Bom, já àquela época, misturando natureza e lógica, direito natural e o
que há de mais moderno no positivismo jurídico, Jean Domat foi um
jurista diferente, não foi?
Marcelo Alves Dias de SouzaProcurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP
O FUTEBOL EM JOGO –
O futebol brasileiro passa por um
momento que merece uma certa reflexão e um certo entendimento.
Acompanhamos com apreensão e indignação o dia a dia do nosso bem amado
futebol. Não somos mais surpreendidos com tantos contratos bilionários
nos dias de hoje. Mas não enxergamos e nos assombramos com o alto valor
das peças adquiridas. Há exagero? Sim! Há exagero, é o que temos
observado no campo de jogo, quando acompanhamos e assistimos a esses
milionários da bola em ação; facilmente visíveis pela falta de qualidade
que são possuidores.
Há, na verdade, uma idiossincrasia futebolística.
São jogadores que, em início de suas
carreiras, se destacam em poucos jogos e são de imediato consagrados
pela mídia nacional como verdadeiros craques. Nesse contexto, existe uma
figura que se destaca mais do que o jogador; mais inteligente, mais
cabeça, enfim, é quem vai conduzir a vida futura do atleta, dentro e
fora do campo — o empresário de futebol, —, bela e rica profissão nos
dias de hoje.
O intercâmbio com o futebol europeu e
asiático é pura realidade. É só esperar a abertura da “janela” de
transferência para se consolidar os milionários contratos com os nossos
jovens e imaturos atletas.
Estamos perdendo muito cedo os nossos
bons jogadores; e, assim, enfraquecemos e destroçamos nossas equipes,
caindo, consequentemente, o bom nível dos nossos embates regionais.
Ainda mais, passamos a assistir e
presenciar operações inversas, ou seja, importação de atletas nossos,
que rondaram e rodaram o “mundo todo” do futebol estrangeiro e nada
conseguiram. Aí entra novamente a figura do esperto intermediário ou
mesmo de técnicos empresários, que indicam contratações e mais
contratações dessas peças de estaleiros. Resultado da operação:
jogadores contratados a peso de ouro, com futebol a peso de cavaco
chinês.
Uma outra situação que temos assistido é
a contratação milionária pelos nossos grandes clubes de jogadores em
final de carreira, procedentes dos milionários times da Europa. Nada
acrescentam, só repousam e se encostam nos Departamentos Médicos,
tratando suas velhas e incuráveis lesões e, ainda, enchendo os cofres e
mantendo as suas poupanças robustas.
Com esse desenho mal traçado na
prancheta, o resultado é o que infelizmente estamos assistindo nos dias
de hoje: os famosos clássicos de outrora, hoje, são verdadeiras e
repudiadas peladas, que dão sono em coruja e na guarda real britânica.
Não podemos deixar de registrar, também,
a indignação dos torcedores e do povo potiguar por essa fase negra que
atravessa o nosso futebol. O ABC F.C e o Globo, de Ceará-Mirim, brigando
com unhas e dentes, menos com os pés e as cabeças, para não caírem para
na série D, a excrescência do futebol brasileiro. E o Mecão, esse já
dorme no desconfortável, indesejável e maldito berço esplêndido da
série D (de derrotado).
Que tristeza! Que mediocridade!
Berilo de Castro – Médico e Escritor – berilodecastro@hotmail.com.br
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
28/07/2019
MACAÍBA – UM POUCO DE SUA HISTÓRIA - I
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
Como unidade
político-administrativa, Macaíba não existia em 1645, a não ser os sítios
Ferreiro Torto, Uruaçu além dos portugueses, mestiços e índios. É a fase das
lutas ferozes entre os colonizadores lusitanos, invasores holandeses, os
indígenas e os escravos que trabalhavam na agricultura rudimentar, exploração
de engenho, da pecuária, etc.
Segundo
Câmara Cascudo, só a partir do final do século XVIII, o nome Coité se presume
ter aparecido para designar a pequena vila emergente, cujo proprietário era o
português Francisco Bandeira, instalado no florescente Engenho do Ferreiro
Torto. O outro engenho de açúcar foi o de Guarapes, fundado por Fabrício Gomes
Pedroza que em 1855, mudou o nome Coité para Macaíba, uma imponente palmeira
existente em pontos diversos de sua propriedade.
Mas, somente em 27 de outubro
de 1877, pela Lei n.0 801, a vila foi elevada a categoria de município.
Macaíba e São Gonçalo viveram
desde os primórdios, em permanente disputa, ora um sendo município, ora outro
sendo vila até que, em 1959, São Gonçalo se tomou definitivamente município
independente.
Entretanto, o fator mais
importante a destacar nessa fase primitiva é que não havia eleições, política
organizada, nem vida social. Tudo era controlado pelos grandes fazendeiros e
donos de engenhos que ditavam as leis. Era o poderio econômico dos mais fortes
sobre os mais fracos. Porém, é invejável a contribuição desses senhores de
engenho através do braço escravo para a economia do município. O engenho dos
Guarapes, por exemplo, exportava os seus próprios produtos derivados da cana
para países da Europa através de pequenos navios cargueiros que navegavam pelos
rios Jundiaí e Potengi.
Um destaque especial foi a
criação da Freguesia pela Lei n.0 815, de 07 de dezembro de 1877,
sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição. Em 1858, foi lançada a pedra
fundamental da igreja pelo Major Fabrício Pedroza. A cerimônia foi assistida
pelo vigário de Natal, padre Bartolomeu da Rocha Fagundes. A construção parou e
só teve prosseguimento em 1882, sob a direção do missionário frei José Antônio
Maria Ibiapina. A matriz foi concluída e teve bênção solene, no dia 08 de dezembro de 1882, dia da
padroeira.
O século XIX, marcou o
surgimento das mais destacadas figuras do município de Macaíba que brilharam no
final do referido século até os primeiros 30 anos do século XX. Foi nessa fase
que os contornos do desenvolvimento social e político de Macaíba começaram a se
delinear. Macaíba chegou a ser a capital cultural do Rio Grande do Norte na
segunda metade do século dezenove.
Nasceram nesse período Auta de
Souza poetisa maior do Rio Grande do Norte, o seu irmão Henrique Castriciano,
ex-deputado, vice-governador, fundador da Escola Doméstica; Augusto Tavares de
Lyra governador, ministro de Estado, senador; João Chaves que nasceu no Solar
do Ferreiro Torto, professor de direito, jornalista e parlamentar, Alberto
Maranhão, governador do Rio Grande do Norte duas vezes, três vezes deputado federal;
Augusto Severo de Albuquerque Maranhão reverenciado em todo o mundo, inventor
do balão PAX, parlamentar, irmão de Alberto Maranhão; Otacílio Alecrim,
escritor, poeta, articulista.
Começa o século XX e com ele o
reinado do Partido Republicano, tendo a frente no estado a figura de Pedro
Velho de Albuquerque Maranhão.
Em Macaíba assume a liderança
desse partido a família Freire, capitaneada por Maurício Freire, conhecido por
Neco que imperou por quase trinta anos na política, do município que, àquela
época abrangia São Gonçalo, São Paulo do Potengi, São Pedro, Ielmo Marinho,
Riachuelo, Bom Jesus, Caiada e Serra Caiada. Macaíba se limitava com Santa
Cruz. Desse período de efervescência política, social e comercial, podemos
destacar em tópicos até a revolução de 1930, o seguinte:
a) A feira de Macaíba, criada
no final do século passado era a maior do estado. Ela tem hoje mais de um
século;
b) As principais indústrias
eram: A refinação do Açúcar Moreno de propriedade de Neco Freire, a fábrica de
ciganos 15 de novembro, do major Antonio Andrade, líder da oposição;
e) As farmácias eram duas: a de
José Augusto Costa e Modelo de Leonel Freire;
d) O
comércio de lojas e armazéns eram de: Alfredo Adolfo de Mesquita, Chico Curcio,
Baltazar Marinho, Ismael e Euclides Ribeiro e Aureliano Medeiros, que projetou
e financiou a primeira ponte de Macaíba construída em 1904 e o cais de pedra do
rio Jundiaí por onde era operacionalizado o comércio de Natal;
e) Existiam duas bandas de música na cidade que
expressavam as duas correntes políticas conflitantes: a de Neco Freire e a do major
Andrade, da oposição;
f) A primeira amplificadora surgida foi fundada por
Gustavo Lima e a segunda era a da prefeitura que funcionou no artigo mercado
restaurado em 1920, muito antes do que foi recentemente demolido e construído
em 1953, pelo prefeito José Maciel.
(*) Escritor.
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