O Coronel Mota
Tomislav R. Femenick – Metre em
economia, com extensão em sociologia – Do Instituto Histórico e Geográfico do
RN
O coronel Vicente Ferreira da Mota, coronel da guarda nacional, nasceu em
Apodi, em 1848, no lugar Córrego das Missões de São João Batista. Ele era filho
de Antonio da Mota Ferreira e Isabel Francisca da Cunha. Segundo Raimundo
Nonato (1964) “descendia de velhos troncos e de
tradicional gente daquela Ribeira”. Aos cuidados do padre Antonio Joaquim
Rodrigues, o vigário de Santa Luzia, foi levado para Mossoró, onde se educou e
se dedicou às atividades do comércio.
De Mossoró foi para Aracati, onde abriu um negócio e se casou com Maria
Ferreira da Cunha. Quando esta faleceu, casou com a sua cunhada, Filomena
Ferreira da Cunha e se mudou para Martins, lugar onde nasceram quase todos os
seus filhos. De Martins, Vicente Ferreira da Mota voltou para Mossoró, onde continuou
se dedicando ao comércio. Era o titular de uma empresa do ramo de tecidos,
louça, bebida etc. Não se tem conhecimento ao certo da data em que se
estabeleceu em Mossoró como comerciante, isso porque a atividade não era de
todo regulamentada na Província. Segundo Obery Rodrigues (2001), os seus negócios
tiveram início antes de 1900. O nascimento do seu filho mais novo, Luiz
Ferreira Cunha da Mota – mais tarde o padre e monsenhor Mota –, em 1897, em
Mossoró, comprova o fato de que sua ida para Mossoró é anterior à passagem do
século XIX para o XX.
Rapidamente se integrou à vida da
cidade, onde já tinha residido e praticado o comércio quando jovem. No dia 30
de setembro de 1904 se faz presente na sessão solene da Intendência Municipal,
convocada para comemorar a inauguração da Estátua da Liberdade, localizada na
Praça da Redenção. Quatro anos depois, em 1908, foi eleito intendente e
reeleito em 1911. Em 1922, fez parte da comissão que organizou as festividades
que tiveram lugar em Mossoró, para comemorar o centenário da independência do
Brasil (ROSADO, 1976).
Em 1917, a
razão social de sua empresa passou a ser Vicente da Mota & Cia., cujos
sócios eram o próprio Cel. Mota, seu filho Francisco Vicente Cunha da Mota,
Miguel Faustino do Monte, seu genro José Rodrigues de Lima, casado com sua
filha Maria da Mota Lima, e Antonio Epaminondas de Medeiros. Em 1925, Miguel
Faustino se afastou da sociedade, assumindo o seu lugar Henrique Maciel de Lima
e Genipo de Miranda Fernandes, este último casado com Maria Helena da Mota
Fernandes, uma das suas netas. A Casa
Mota ocupava quatro prédios conjugados, dois que davam para a Rua Cel.
Vicente Saboia e dois direcionados à Rua Idalino Oliveira. Nesse ano seu
estabelecimento, além de comercializar com tecidos, louça e bebidas, vendia
também alimentos enlatados, calçados, farinha de trigo, ferragens, material
para trabalho na lavoura e na pecuária, querosene e combustível em lata etc.
Vendia por atacado e a varejo. (RODRIGUES, 2001).
À época do ataque de Lampião à Mossoró, em 1927, o Cel. Mota, então com
79 anos de idade, dirigia a Associação Comercial da cidade. Antes do ataque,
solicitou ao Presidente do Estado que fossem remetidos para Mossoró setenta
fuzis e respectiva munição. Quando as armas chegaram, as distribuiu entre as
pessoas que se apresentaram para compor a força de defesa. Após o ataque e o
consequente fracasso do cangaceiro, o Cel. Mota encaminhou petição a diversas
autoridades (presidente da República, senadores e deputados), instituições e
órgãos de imprensa do Rio de Janeiro, sugerindo que a perseguição a Lampião
fosse feita pelo governo federal, único capaz de realizar tal tarefa. A sua
empresa, a Vicente da Mota & Cia., contribuiu financeiramente para cobrir
as despesas com a defesa da cidade, contribuição se prolongou alguns meses após
o ataque do bando, na forma de manutenção do Esquadrão de Cavalaria que ficou
aquartelado em Mossoró, na expectativa de uma nova ofensiva por parte de
Lampião (SILVA, 1965).
Vicente Ferreira da
Mota, coronel da Guarda Nacional, e sua esposa Filomena Ferreira Cunha da Mota
tiveram quatro filhos: Francisco Vicente Cunha da Mota, Vicente Ferreira Filho
(Ferreirinha), Maria da Cunha Mota e Luiz Ferreira Cunha da Mota, este último,
mais tarde, o padre, prefeito e monsenhor. Dois deles, Francisco Vicente Cunha
da Mota e Padre Mota, e dois netos, Vicente da Mota Neto e Francisco Vicente de
Miranda Mota (filhos de Francisco Vicente Cunha da Mota), ocuparam o cargo de
prefeito da cidade de Mossoró, enquanto que ele mesmo foi intendente em duas
legislaturas. Faleceu em Mossoró, no dia 20 de janeiro de 1942.
Tribuna do Norte.
Natal, 25 jul. 2019