OS MOTAS
Tomislav
R. Femenick – Mestre em economia,
com extensão em sociologia – Do Instituto Histórico e Geográfico do RN
Qual o significado da palavra Mota? Consultados os dicionários,
tem-se que, originalmente, ela designava certo tipo de lugar, portanto era um
topônimo. É termo de origem controversa, talvez provençal
pré-romana, para denominar aterro à beira de rio, açudes, muros, torres, fossos à maneira de um castelo ou fortaleza.
Por sua vez o sobrenome “Mota”, antes escrito “Motta” (conforme o
italiano “Motta” e o francês “Motte”), deriva do substantivo “mota”, vindo do
germânico “motta”. Em escocês, em irlandês e em baixo latim (o latim da Idade Média, usado quase que exclusivamente na
língua escrita), “mota” e “motta”, designava uma edificação rodeada por
um fosso ou situada em uma elevação artificial de terra, com a intenção de
criar obstáculo aos invasores.
Em Portugal,
alguns genealogistas defendem a ideia de que Mota, como nome de família, vem de
um sobrinho do rei de França que, em Burgos, onde se fixou, era senhor de uma
edificação chamada Mota. No entanto, de concreto, sabe-se que o nobre Fernão
Mendes de Gundar era Senhor da Terra do Olo, no Conselho de Gestacô, enquanto
seu filho, Rui Gomes de Gondar, morava na “Terra da Motta”. Este achou por bem
acrescentar o nome “Mota” ao sobrenome, tornando-se o primeiro a dar início a
uma família com essa denominação toponímica. Senhor de grandes posses, Rui
fundou a “Quinta da Motta”, na Freguesia de Celorico de Basto, região do Minho,
ao norte de Portugal. Além disso, possuía bens no distrito de Lanhoso, às
margens do rio Ave. Isso teria acontecido durante o reinado de Dom Afonso II (1211-1223).
Dr. Jerônimo da Mota, um dos seus descendentes, foi desembargador do Paço e da
Fazenda Real, Juiz e nobre da corte de Dom João III, que governou Portugal de 1521 a 1557. De Dom João,
Jerônimo da Motta recebeu, por decreto, o brasão de armas da família Mota. O
baiano Miguel
Calmon du Pin e Almeida, o marquês de Abrantes, corrobora essa versão ao
dizer que Mota, como sobrenome, deriva do nome de um lugar Mota, no termo de
Vilela ou, então, da quinta do mesmo nome, na freguesia de São Miguel de Fervença,
comarca de Celorico de Basto; ou de outros lugares, vilas e quintas Mota,
existentes em Portugal.
Quando
do seu reinado (1495-1521), em plena época das grandes navegações portuguesas e
do descobrimento do Brasil, Dom Manuel I mandou reunir todos os brasões,
insígnias e letreiros, visando organizar e normatizar a concessão e o uso de
brasões e armas. Os estandartes com os brasões ficaram expostos no teto
de uma das salas do Paço Real da Vila de Sintra, hoje chamado de Palácio
Nacional de Cintra, também conhecida como a Sala de Armas. No centro do teto da
sala, estão representadas as armas do rei D. Manoel I, circundadas por seis
brasões, representando sua descendência masculina (os príncipes), e dois outros,
em forma de losango, representando sua descendência feminina (as princesas).
Circundando a sala, estão os setenta e dois brasões da nobreza da época,
dispostos em ordem de importância. É um dos melhores exemplos da afirmação
do poder real.
Esses
brasões e armas portugueses foram também reunidos em livros, como modelos para
formalização dos brasões das principais famílias lusas da época. Existiram três
livros de brasões: o “Livro Antigo dos Reis d`Armas”, de António Godinho,
escrivão da Câmara Real, que teria desaparecido quando um terremoto destruiu o
Cartório da Nobreza; o “Livro do Armeiro-Mor”, de João Rodrigues, supervisor de
armas de Portugal; e o “Livro da Torre do Tombo”, esse de Antonio Rodrigues,
também supervisor de armas. O Brasão da família Mota está tanto na Sala de
Armas do Palácio de Sintra como nos três livros de regulamentação de brasões e
armas portugueses.
Paralelamente à família Mota portuguesa, há a família Motta italiana,
onde o sobrenome também e de origem onomástica (nomes próprios de e lugares, de
origem toponímica), cuja fonte é anterior ao império romano. Este sobrenome
possui muitas variantes, as mais comuns são “La
Motta”,
“Motti”, “Mottini”, “Mottola”, “Mottura”, “Mottisi”, “Mautisi”, “Mottana”
etc.
Alguns
integrantes da família Mota tiveram títulos nobiliárquicos, em Portugal e no
Brasil. Alguns deles por direitos hereditários, porém a grande maioria foi
agraciada em reconhecimento a serviços prestados às respectivas coroas. A lista
contém dez nobres portugueses (7 Barões, 1 Conde e 2 Senhores de Casa) e sete
brasileiros nobres ostentavam o sobrenome Mota (6 Barões e 1 Visconde).
Tribuna
do Norte. Natal, 11 jul. 2019