Caçador de histórias
03/07/2019
Gustavo Sobral usa seu faro investigativo para remexer cartas,
postais, rascunhos de textos, anotações em livros, manuscritos, papéis e
mais papéis em busca de informações novas sobre importantes escritores e
intelectuais potiguares, um deles é Oswaldo Lamartine [clique
aqui para
baixar o livro sobre a obra completa], a mais extensa de todas, que já
toma um ano de pesquisa; Zila Mamede, cujo ensaio está pronto; Berilo
Wanderley, obra que sairá em breve pelo selo Caravela Cultural; e Newton
Navarro (contos inéditos reunidos).
Não importa onde esses documentos estejam, ele corre atrás, com
determinação e curiosidade. Uma curiosidade que o retroalimenta. Que o
faz partir de uma missão para outra, ou mesmo trabalhar em paralelo, em
várias biografias ao mesmo tempo.
A determinação fez esse natalense, com formação em Jornalismo e
Direito, ir a São Paulo se debruçar em documentos ainda não explorados
na biblioteca do maior bibliófilo do país, José Mindlin. Lá, teve
contato com a correspondência trocada entre Mindlin e a poeta potiguar
Zila Mamede. Do que encontrou, foi atrás do acervo de Carlos Drumond de
Andrade, outro que trocou cartas com Zila.
Da pesquisa sobre toda essa correspondência, ele escreveu um ensaio sobre a autora potiguar.
Parte já foi publicado na revista da Academia Norte-rio-grandense de
Letras deste ano. Mas o texto inteiro, ainda espera para um momento
certo de ser lançado em livro.
Em meio à pesquisa sobre Zila, aproveitando a estadia no Rio de
Janeiro, Gustavo visitou o Instituto Moreira Sales, responsável por
guardar vários acervos de importantes escritores brasileiros, dentre os
quais Millor Fernandes, Paulo Mendes Campos e Rachel de Queiroz.
Foi nos documentos de Queiroz que Gustavo fez outra descoberta. A
escritora cearense, autora do clássico “O Quinze”, trocou cartas com o
escritor Oswaldo Lamartine (1919-2007). Na correspondência fica claro a
importância de Oswaldo na construção de outro importante romance de
Queiroz, “Memorial de Maria Moura”, publicado em 1992.
Ambientado no sertão nordestino e com uma espécie de cangaceira como
protagonista, Rachel fez uso dos conhecimentos de Lamartine para
escrever. “Ela tinha uns amigos que serviam como consultores, mas com o
aprofundamento dos termos, eles disseram que não podiam mais ajudar e
sugeriram o nome de Oswaldo Lamartine”, explica Gustavo, que, além de um
texto em que Rachel faz elogios a Oswaldo, busca mais detalhes sobre o
encontro entre os dois.
“Oswaldo desenhava muito, explicava a vestimenta do vaqueiro, com
ilustrações, faz isso como recurso informativo. Essas ilustrações, essa
troca de informações existe no acervo de Raquel de Queiroz. Pude
consultar isso. Mas pode ser que ainda existam mais, porque o acervo de
Rachel ainda não está todo catalogado”, detalha o autor.
Ainda investigando a vida de Oswaldo Lamartine, Gustavo também
detalhou a relação do potiguar com outra mulher membro da Academia
Brasileira de Letras, a também cearense Natercia Campos. Diferente de
Rachel, Natércia não era sertaneja, mas era uma grande pesquisadora.
Depois de ler a obra de Lamartine, escreveu para ele em busca de mais
conhecimentos sobre o sertão para compor seu romance “A Casa”.
TRECHO
Rachel de Queiroz sobre Oswaldo Lamartine
“Conheci Oswaldo Lamartine quando começava a escrever o Memorial de
Maria Moura, no início de 1990. E eis que surge aquele anjo magro, só
querendo falar de coisas que ambos gostávamos – quer dizer de sertão.
Hoje meu amigo, meu irmão, Oswaldo Lamartine. Acho que, no Brasil,
ninguém entende mais do sertão e do nordeste do que Oswaldo”, escreveu
Raquel de Queiroz em um dos documentos encontrados por Gustavo no acervo
sob a guarda do Instituto Moreira Sales.
O mesmo que fez com Rachel, servir como grande colaborador sobre a
linguagem e vivência sertaneja, Oswaldo fez com Natércia. E, de acordo
com Gustavo, Oswaldo, já viúvo, ainda chegou a manter um namoro com a
cearense.
Dentro da pesquisa sobre Lamartine, Gustavo vê alguns problemas que
estão atrapalhando a finalização do trabalho, a ser lançado em livro,
mas sem prazo e sem editora confirmada. “É impossível localizar a obra
completa de Oswaldo Lamartine no Rio Grande do Norte. No futuro as
pessoas vão saber que ele escreveu um livro, mas não terão como lê-lo.
Nenhuma biblioteca pública do Estado possui a obra completa de dele. Não
tem como terminar um livro sobre o autor sem conhecer toda sua obra”,
comenta.
Para ler a biografia da obra de Oswaldo acesse
O sertão de Oswaldo Lamartine de Faria
Para ler o ensaio sobre a correspondência de Zila Mamede acesse
Ensaio Zila Mamede
Para ler esse e outros escritos acesse
www.gustavosobral.com.br
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