03/07/2019

Caçador de histórias

03/07/2019

Gustavo Sobral usa seu faro investigativo para remexer cartas, postais, rascunhos de textos, anotações em livros, manuscritos, papéis e mais papéis em busca de informações novas sobre importantes escritores e intelectuais potiguares, um deles é Oswaldo Lamartine [clique aqui para baixar o livro sobre a obra completa], a mais extensa de todas, que já toma um ano de pesquisa; Zila Mamede, cujo ensaio está pronto; Berilo Wanderley, obra que sairá em breve pelo selo Caravela Cultural; e Newton Navarro (contos inéditos reunidos).

Não importa onde esses documentos estejam, ele corre atrás, com determinação e curiosidade. Uma curiosidade que o retroalimenta. Que o faz partir de uma missão para outra, ou mesmo trabalhar em paralelo, em várias biografias ao mesmo tempo.

A determinação fez esse natalense, com formação em Jornalismo e Direito, ir a São Paulo se debruçar em documentos ainda não explorados na biblioteca do maior bibliófilo do país, José Mindlin. Lá, teve contato com a correspondência trocada entre Mindlin e a poeta potiguar Zila Mamede. Do que encontrou, foi atrás do acervo de Carlos Drumond de Andrade, outro que trocou cartas com Zila.


Da pesquisa sobre toda essa correspondência, ele escreveu um ensaio sobre a autora potiguar.
Parte já foi publicado na revista da Academia Norte-rio-grandense de Letras deste ano. Mas o texto inteiro, ainda espera para um momento certo de ser lançado em livro.



Em meio à pesquisa sobre Zila, aproveitando a estadia no Rio de Janeiro, Gustavo visitou o Instituto Moreira Sales, responsável por guardar vários acervos de importantes escritores brasileiros, dentre os quais Millor Fernandes, Paulo Mendes Campos e Rachel de Queiroz.


Foi nos documentos de Queiroz que Gustavo fez outra descoberta. A escritora cearense, autora do clássico “O Quinze”, trocou cartas com o escritor Oswaldo Lamartine (1919-2007). Na correspondência fica claro a importância de Oswaldo na construção de outro importante romance de Queiroz, “Memorial de Maria Moura”, publicado em 1992.

Ambientado no sertão nordestino e com uma espécie de cangaceira como protagonista, Rachel fez uso dos conhecimentos de Lamartine para escrever. “Ela tinha uns amigos que serviam como consultores, mas com o aprofundamento dos termos, eles disseram que não podiam mais ajudar e sugeriram o nome de Oswaldo Lamartine”, explica Gustavo, que, além de um texto em que Rachel faz elogios a Oswaldo, busca mais detalhes sobre o encontro entre os dois.

“Oswaldo desenhava muito, explicava a vestimenta do vaqueiro, com ilustrações, faz isso como recurso informativo. Essas ilustrações, essa troca de informações existe no acervo de Raquel de Queiroz. Pude consultar isso. Mas pode ser que ainda existam mais, porque o acervo de Rachel ainda não está todo catalogado”, detalha o autor.

Ainda investigando a vida de Oswaldo Lamartine, Gustavo também detalhou a relação do potiguar com outra mulher membro da Academia Brasileira de Letras, a também cearense Natercia Campos. Diferente de Rachel, Natércia não era sertaneja, mas era uma grande pesquisadora. Depois de ler a obra de Lamartine, escreveu para ele em busca de mais conhecimentos sobre o sertão para compor seu romance “A Casa”.

TRECHO
Rachel de Queiroz sobre Oswaldo Lamartine

“Conheci Oswaldo Lamartine quando começava a escrever o Memorial de Maria Moura, no início de 1990. E eis que surge aquele anjo magro, só querendo falar de coisas que ambos gostávamos – quer dizer de sertão. Hoje meu amigo, meu irmão, Oswaldo Lamartine. Acho que, no Brasil, ninguém entende mais do sertão e do nordeste do que Oswaldo”, escreveu Raquel de Queiroz em um dos documentos encontrados por Gustavo no acervo sob a guarda do Instituto Moreira Sales.

O mesmo que fez com Rachel, servir como grande colaborador sobre a linguagem e vivência sertaneja, Oswaldo fez com Natércia. E, de acordo com Gustavo, Oswaldo, já viúvo, ainda chegou a manter um namoro com a cearense.

Dentro da pesquisa sobre Lamartine, Gustavo vê alguns problemas que estão atrapalhando a finalização do trabalho, a ser lançado em livro, mas sem prazo e sem editora confirmada. “É impossível localizar a obra completa de Oswaldo Lamartine no Rio Grande do Norte. No futuro as pessoas vão saber que ele escreveu um livro, mas não terão como lê-lo. Nenhuma biblioteca pública do Estado possui a obra completa de dele. Não tem como terminar um livro sobre o autor sem conhecer toda sua obra”, comenta.

Para ler a biografia da obra de Oswaldo acesse O sertão de Oswaldo Lamartine de Faria
Para ler o ensaio sobre a correspondência de Zila Mamede acesse  Ensaio Zila Mamede


Para ler esse e outros escritos acesse www.gustavosobral.com.br
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01/07/2019


UMA MANHÃ DE SÁBADO – Berilo de Castro




UMA MANHÃ DE SÁBADO –
Sábado, do mês de São João. Céu claro, manhã bonita e convidativa para um bom passeio, quem sabe, um encontro para um animado papo.
Dirijo-me até o Centro da cidade, onde poucos circulam e poucos compram. Vejo, com tristeza, o desprezo como são tratadas as suas ruas, suas praças e suas calçadas. Lamentável!
Dou uma caminhada pela Avenida Rio Branco, palco maior do comércio da cidade. Paro na antiga loja de venda de instrumentos musicais – Casa da Música, de Gumercindo Saraiva (1915-1988), hoje sede do melhor e mais diversificado Sebo da cidade – o Sebo Vermelho, de Abimael Silva, ponto de encontro de poetas, escritores e bons leitores da cidade.
Para alegria maior, me deparo com a grande figura do amigo, Castilho, exímio desenhista, ex-atleta (goleiro) do América F. C. da década de 1950, boêmio e literato dos bons.
Boa conversa, boas recordações da infância, quando morávamos na rua Professor Zuza, Centro. Lembranças inesquecíveis dos seus moradores. Castilho conhece tudo e descreve com mínimos detalhes: suas casas e seus costumes.
Conta que, certa vez, acompanhado do poeta Nei Leandro, fizeram uma sumária varredura de casa em casa, relembrando os seus antigos moradores e de suas fantásticas histórias.
Em certo momento da boa conversa, chega uma figura desconhecida conduzindo um violão. e, sem muita conversa e sem muito escutar, senta na entrada do Sebo e começa a tocar e a cantar desafinado que só vendo, o que em nada agradou a Abimael e a todos que resenhavam. Ao terminar, pergunta por Gumercindo Saraiva e se tem corda de violão para vender, pois está precisando trocar duas cordas danificadas. Respondemos que Gumercindo estava de recesso eterno.
– Que pena! Que volte logo! Lamentou o seresteiro diurno; e saiu arrastando a sandália e a viola.
Discutimos e relembramos ainda o bom, barato e autêntico futebol potiguar das décadas de 50 e 60; os bons autores e suas obras primas. Comentamos sobre o inesquecível jornalista, escritor, cronista social e esportivo, locutor esportivo, compositor, brigão e cardisplicente: o gordo e sudorético pernambucano, Antonio Maria.
Foi uma bela manhã de sábado!
Grandes e pequenos crimes
As estatísticas da criminalidade estão aí. Entre nós, de fato, a coisa não vai bem. Por exemplo, no “Atlas da Violência”, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, eu constatei que, no Brasil, só em 2017, foram 65.602 homicídios. E a solução para minorar esse gravíssimo problema, podem ter certeza, não é armar a minha tia Neusa ou o padeiro da esquina com uma pistola automática.
Mas isso – a questão de armar ou não a população contra a criminalidade – é outra história.
Fiz essa pequena introdução para tratar de outra questão: a curiosidade do público pelos tipos e atos criminosos, que no Brasil existem em abundância, e como isso acaba virando literatura.
Na verdade, como registra Enrico Ferri (1856-1929), em seu “Os criminosos na arte e na literatura” (Ricardo Lenz Editor, 2001), “na vida, com efeito, o subsolo da criminalidade é constituído pelo inumerável pulular daquilo que se poderia chamar os micróbios do mundo do crime. Ao contrário dos micróbios do mundo biológico, aqueles passariam desconhecidos e anônimos, e suas aparições, desaparições e reaparições rápidas, sob a lente opaca das audiências do tribunal de polícia ou entre os muros mais ou menos úmidos dos calabouços, não deixariam qualquer traço, se a estatística os esquecesse”.
Entretanto, vez por outra, anota o mesmo Ferri, entre esse amontoado de pequenos delitos cotidianos “sobressaem as fisionomias monstruosas ou loucas e, por vezes, geniais que, tornadas populares e minunciosamente descritas pela imprensa cotidiana e pela crônica judiciária, são definitivamente fixadas pela fantasia de um artista num drama, num romance ou num melodrama”.
Esse tipos e atos criminosos, tidos por “geniais”, ganham primeiro as páginas dos jornais, outrora impressos, hoje televisados ou digitais. Houve um tempo – e eu sou desse tempo – em que as páginas policiais dos nossos impressos, entre os quais esta Tribuna do Norte, eram as mais “desejadas” pelo público ávido de sensação. Era a crônica da cidade, das delegacias e dos tribunais, que ganhava, com a sucessão de dias, quase a forma de folhetim.
Houve até quem fizesse disso – da crônica jornalística policial – grande literatura. Truman Capote (1924-1984), com o seu “A Sangue Frio” (“In Cold Blood”, 1966), que descreve o assassinato de uma família no interior do estado do Kansas, nos Estados Unidos da América, é um exemplo disso. E sobre esse Capote, qualquer dia, conversaremos aqui.
De toda sorte, afastando-se da crônica jornalística policial – que supõe-se estar em consonância com a “verdade” dos fatos –, esses tipos e atos criminosos, que fogem do vulgar, de tão “bons”, acabam ganhando, para a posteridade, os traços e as cores da ficção. Esses crimes, desde sempre atrozes, mas agora sentimentalmente aperfeiçoados, acabam destinados à imortalidade na grande arte de um grande autor. Outrora nos tão adorados folhetins (vide o caso de Émile Gaboriau, sobre quem escrevi no domingo passado). Depois em romances de fôlego ou peças de teatro.
Na ficção policial – e, até mais especificamente, na ficção forense –, de fato, muito comumente, a arte imita a vida. Eu já até tratei disso aqui, falando da queridíssima Agatha Christie (1890-1976), que, para escrever algumas das suas mais badaladas obras – vide os casos do romance “Murder on the Orient Express” (de 1934) e da peça “The Mousetrap” (premiere em 1952) –, teve por inspiração, ao menos como pano de fundo dos seus enredos, crimes de fato ocorridos.
De toda sorte, para encerrar o dia de hoje, tiro ainda duas conclusões. Mesmo no crime, se você quer ser famoso, é preciso ser grande. Crimes e privações as mais diversas restam ignoradas do grande público, ante a desatenção geral para as coisas miúdas, no velocíssimo ritmo da vida cotidiana. A história dos pequenos crimes e dos pequenos criminosos, até nisso relegados na vida, cai invariavelmente no esquecimento. Já os grandes crimes e os grandes dramas judiciários são “todo-poderosos sobre a imaginação e sobre os sentimentos do povo”, como descreve poeticamente o grande Enrico Ferri. Eles excitam a curiosidade pública, revivendo na massa (leitores ou não), mesmo que inconscientemente, lembranças hereditárias de instintos criminais, violências individuais ou coletivas das quais o ser humano é capaz, que hoje apenas disfarçamos com um ligeiro verniz esfumaçado de civilização.
Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP






O casarão construído por Luís Cúrcio Marinho entre 1948-1949,
na Rua João Pessoa, centro de Macaíba e que,
foi repassado ao comerciante Cícero Luís e Silva,
começou a ser demolido hoje, dia 24 de junho de 2019.
Macaíba perde parte da sua memória histórica
arquitetônica para a especulação imobiliária.

MEMÓRIA DEMOLIDA
Por Carlos Roberto de Miranda Gomes, da AML

            Para as pessoas de mais idade, a demolição de uma obra tradicional representa um golpe na memória, porque altera não apenas a geografia física do lugar, mas igualmente a sentimental.
            Senti isso no sábado retrasado quando resolvi visitar a Galeria B-612, na tradicional rua Dr. Barata, quase toda destruída pelo descaso, representando um oásis no oceano do esquecimento dos anos famosos entre 1942 e 1945.
            O fato repetiu-se neste último sábado, quando atendi ao chamamento para uma reunião da Academia Macaibense de Letras, outro oásis no pandemônio da desfiguração da cidade das macaibeiras, que já destruíra a casa de Auta de Souza, ameaça o Grupo que tem o seu nome e agora começa a demolir o casarão construído por Luís Cúrio Marinho, que vi ser construído e compareci à inauguração, quando vivia os melhores dias do começo da minha adolescência e gravei aquela construção de cores vivas, aquela primeira da Rua João Pessoa, à esquerda logo que se atravessava a ponte em direção ao centro.
            Essa casa fazia parte da minha vivência naquela terra hospitaleira, quando morei numa velha construção na Rua Pedro Velho, defronte ao Major Andrade, perto dos Maciel, dos Leiros, dos Fagundes e dos Marinho, do Cine Independência e do antigo Pax, que ostentava um belíssimo quadro do balão de Augusto Severo, que um dia alguém tocou fogo como coisa velha.
            Na minha antiga morada, desfigurada arquitetonicamente, ainda restam os dois janelões no alto onde vislumbrava a rua e assistia à passagem de pessoas feridas, carregadas em cadeiras, para o hospital que ficava bem perto, logo depois da Igreja dos Crentes, prédios que ainda estão de pé, mas com destinação diferente.
            A feira livre ainda funciona na mesma rua, mas também desfigurada, em menor extensão, sem o encantamento dos vendedores/cantadores de cordéis e dos animais de cargas que, na época do cio, desembestavam derramando os produtos que levavam para a venda. Hoje só automotores. Mesmo assim comprei algumas bananas prata, que me adoçaram a vida neste fim de semana.
            Lembrei do mercado velho, defronte do obelisco de Augusto Severo, com suas árvores que davam sombras refrescantes, parada dos ônibus que traziam os jornais e os meus gibis, da passagem dos “mixtos” tocando nas buzinas as músicas de Luiz Gonzaga, senti falta da festa da padroeira com o pau de sebo e os cordões azul e encarnado. Onde está Padre Chacon, de quem fui coroinha nas procissões. E o meu Cruzeiro jogando no campo vizinho ao cemitério, que tinha algumas partidas interrompidas quando a bola caía no campo santo e ninguém encontrava em tempo dos últimos lampejos do sol (principalmente quando estava se saindo bem contra algum time de fora e este pressionando para a virada).


            Não é mais a Macaíba do meu tempo, nem de outros mais próximos, que curti algumas vezes na companhia da minha inesquecível Therezinha. Está mais adensada fisicamente e mendicante das boas lembranças. De bom mesmo só o resultado da reunião da nossa Academia.
            Voltei triste para o meu exílio de Natal e conversei com ela, contando tudo, inclusive umas lembranças que comprei numa livraria religiosa da rua do Cruz (ou da Cruz?) para marcar a passagem pela terra que me outorgou a cidadania honorária, que muito me orgulha.

28/06/2019


HOSPITAL SAMARITANO

Valério Mesquita*

O Hospital Infantil foi criado em 1917, pelo Dr. Manoel Varela Santiago, com atendimento ambulatorial às crianças do Rio Grande do Norte, principalmente de baixo poder aquisitivo. Antes da sua morte, o dr. Silvio Lamartine assumiu a direção do hospital, permanecendo nessa função por mais de 30 anos. Nos últimos anos o “Varela Santiago” ganhou significativo impulso, diversificando e ampliando o seu atendimento, através de mais de vinte especialidades, assistindo uma média de oito a dez mil crianças por mês. As suas UTIs, encontram-se permanentemente lotadas. Sobrevive com a contribuição de algumas empresas, convênios com o governo do estado e com a ajuda financeira de pessoas que conhecem e acreditam na seriedade do trabalho desenvolvido pelo médico Paulo Xavier, seu atual diretor.
Trata-se do único hospital pediátrico do Rio Grande do Norte que atende exclusivamente através do programa SUS. Ou seja, o SUS é porta única para se ter acesso ao mesmo. Caso raro, que merece não só o aplauso do povo norte-riograndense, mas, de igual forma, a plena aprovação ao trabalho do grande profissional e magnífico ser humano  - Dr. Paulo Xavier – que ali tem transformado os seus dias, em exercício de doação e permanente lição de amor.
A saúde do Rio Grande do Norte vive uma quadra difícil de sua existência. O exemplo impactante é a situação do Walfredo Gurgel, mais conhecido como o “hospital dos mártires”, onde os doentes continuam jogados nos corredores. O Walfredo Gurgel não estaria sendo vítima da “ambulancioterapia” dos municípios interioranos? Por que não equipar e ampliar a estrutura de atendimento dos hospitais públicos da grande Natal para absorver essa clientela e livrar o Walfredo Gurgel desse fluxo de interminável agonia?
Cito o Walfredo Gurgel porque me parece que os problemas de saúde não estão sendo tratados com racionalidade e disciplina. Digo, melhor: falta uma política descentralizada e investimentos maciços na área da saúde. Como, um único hospital pediátrico que atende somente pelo SUS, da rede privada, consegue equalizar, sistematizar e manter a sua qualidade de atendimento, como vem procedendo o Varela Santiago? Acrescente-se aí um dado importante: a demanda de pacientes que recebe do interior e da capital é geometricamente crescente porquanto a população infantil desassistida tornou-se incalculável. Você conhece, por dentro, a ala das crianças que padecem de câncer? Eu vi e não pude controlar a emoção e um quase desespero.
Foi aí que me lembrei dos que moram em mansões e palacetes de luxo, que vivem uma vida de dissipações com gastos supérfluos achando que nunca adoecerão. Veio-me à cabeça um evento como o carnatal onde os promotores ganham rios de dinheiro e não se sensibilizam em ajudar a criança cancerosa. Antes, as damas da sociedade e dos clubes de serviço promoviam chás e festas em benefício do hospital infantil. Hoje, pagam caro a vaidade social para exibir as suas futilidades e esquecem os inocentes pacientes portadores de tumores malignos.
Por isso, louvo e aplaudo, o trabalho do Dr. Paulo Xavier e toda a sua equipe de auxiliares que mantêm acesa a chama votiva do ideal hipocrático de Manoel Varela Santiago e seu sucessor Silvio Lamartine. Não significa dizer, com efeito, que o Hospital Infantil é auto-suficiente e já dispensa ajudas. Absolutamente. O condão do meu reconhecimento tem o objetivo de registrar e agradecer as vidas salvas de milhares de crianças ao longo do tempo. E que a sociedade pode e deve ampliar esse apoio, esse auxilio, porque o Hospital Infantil Varela Santiago é um patrimônio de Natal e do Rio Grande do Norte. Meu Deus, o que seria das crianças pobres se ele não existisse!!

(*) Escritor.     

24/06/2019

O inventor
Existem alguns candidatos a pioneiros daquilo que hoje chamamos de ficção policial/detetivesca. O inglês William Wilkie Collins (1824-1889), autor de “The Woman in White” (1860) e de “The Moonstone” (1868), sobre quem já escrevi aqui, é um deles. O estadunidense Edgar Allan Poe (1809-1849), um dos maiores contistas da literatura universal, sobre quem também já tratei aqui (e, neste caso, várias vezes), é outro forte concorrente.
Há, entretanto, um candidato menos conhecido, mas que talvez mereça, de fato, o título convencional de pai da criança: Émile Gaboriau (1832-1873).
Para quem não sabe, Émile Gaboriau nasceu na pequena comuna de Saujon, no sudoeste da França, em 1832. Criança, na companhia dos pais, viveu em diversas localidades da França. Jovem adulto, pouco interessado nos estudos formais, exerceu várias profissões. Foi escriturário, militar e deu aulas de latim. Já mais velho, retomou os estudos, em medicina e em direito. Foi ser secretário de várias personalidades, em especial, para sua carreira, do prolífico romancista Paul Féval (1816-1887). Assim Gaboriau descobriu o jornalismo. De jornalista a escritor de ficção, sobretudo de romances, publicados em formato de folhetim, foi um passo. “L'Affaire Lerouge”, de 1866, talvez seja o seu mais afamado romance. Muito badalados também são “Le Crime d'Orcival”, de 1867, e “Monsieur Lecoq”, de 1869. Gaboriau, aliás, é o criador do Monsieur Lecoq, um detetive ficcional que trabalhava na antiga Sûreté (hoje Police Nationale) francesa. Gaboriau e o seu detetive, isso é importante registrar, tiveram grande influência sobre Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930) e, por consequência, na construção do mais famoso dos detetives da ficção, o impagável Sherlock Holmes. O criador do Monsieur Lecoq faleceu em Paris, em 1873, de problemas pulmonares.
Mais do que ser um dos pioneiros da ficção policial/detetivesca, Émile Gaboriau talvez tenha sido um dos pioneiros – ou mesmo, o inventor – de um gênero ou subgênero de literatura ainda mais específico, o dos “romances judiciários”, que, publicados nos folhetins dos jornais da sua época, causaram sensação. Nessas estórias, a personagem do criminoso é geralmente eclipsada, dando-se protagonismo ao investigador arguto e genial ou mesmo a uma complicada instrução judiciária na qual, em meio a uma equivocada acusação a um inocente, se procura descobrir o verdadeiro culpado. O grande público adorou. Virou até moda. Ganhou variações com o tempo. E, embora transformado e reinventado, chegou até nós.
Pelo menos é assim que pensa ninguém menos que o grande jurista, político e literato italiano Enrico Ferri (1856-1929), sobre quem também já escrevi aqui. Li isso não em sua famosa “Sociologia Criminale”, obra que, publicada com esse nome em 1892, fez de Ferri um dos luminares da Escola Positiva do Direito Penal. Mas, sim, no gostosíssimo “Os criminosos na arte e na literatura” (que possuo numa edição brasileira, de Ricardo Lenz Editor, de 2001), na qual o professor italiano afirma: “Émile Gaboriau foi o inventor de um certo gênero de romances judiciários, muito imitados depois, e muito em moda há alguns anos. (…). Nesta espécie de obras, o criminoso é quase sempre relegado ao segundo plano: ele figura como um acessório, um manequim necessário à representação de um crime misterioso, porque o verdadeiro protagonista é a polícia, o agente arguto, genial e sutilmente lógico, possuindo um faro especial para descobrir o criminoso, entre indícios vagos e insignificantes na aparência. Uma laboriosa instrução judiciária excita a atenção do leitor e mantém-no suspenso entre duas emoções diferentes: de uma parte, a fina clarividência de um agente decidido a procurar um culpado; doutra parte, a perseguição dolorosa de um inocente atirado, pela falsa manobra de um silogismo inicial, à inexorável engrenagem de um processo criminal. O esboço é quase sempre o mesmo: a polícia descobre um crime e um dos agentes, mais avisado que os outros, em vez de julgar segundo a aparência e a verosimilhança, chega, por indução, a encontrar uma pista segura. Então, graças aos indícios reveladores que escapam à crítica superficial de seus colegas, ele chega, através dos tortuosos meandros da verdade, a colocar as mãos sobre o culpado”.
E é o mesmo Ferri que nos explica a relação entre a ficção e a realidade judiciária: “Os dramas judiciários apresentam-nos um gênero análogo ao destes romances: têm também por assunto a descoberta de um delinquente, quase sempre um assassino, e excitam a emoção, mostrando-nos um erro judiciário mais ou menos definitivo e o embaraço dos indícios criminais nos episódios de uma vida normal”.
De minha parte, não tenho como afirmar, com 100% de segurança, quem foi mesmo o inventor dos tais romances judiciários. Mas, como já disse aqui certa vez, adoro essas estórias. Acho-as intrigantes e viciantes. E agradeço penhoradamente a Émile Gaboriau. Entretanto, muito mais gratos devem ser gente como Scott Turow (1949-) e John Grisham (1955-). Foi certamente subindo nos ombros do gigante francês, do século XIX, que esses americanos de hoje puderam enxergar e imaginar tão longe.
Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

20/06/2019





         Para o cristão, nunca é demais invocar as coisas divinas e comemorar as datas, os atos e fatos religiosos.

        Hoje comemoramos o Dia de CORPUS CHRISTI, ou seja do Corpo de Cristo para celebrar o mistério da eucaristia, o sacramento da transubstanciação, dogma católico que representa a presença do corpo e do sangue de Jesus na hóstia e no vinho.

      A palavra hóstia é originada do latim, e é um sinônimo para a palavra vítima. Sendo assim, ela representa o próprio Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que tirou o pecado do mundo, nos livrando de todos os nossos pecados.

      Com essa atitude, os católicos acreditam estarem recebendo essas dádivas.

              Por esse motivo, a data é registrada como a festa de Corpus Christi, que acontece sempre 60 dias depois do Domingo de Páscoa ou na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, quando Jesus instituiu o sacramento da eucaristia e como tal o povo de Deus enfeita as ruas, as igrejas e as casas.

        A festa do Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV no dia 8 de setembro de 1264 e a procissão de Corpus Christi lembra a caminhada do povo de Deus, peregrino, em busca da Terra Prometida. O Antigo Testamento diz que o povo peregrino foi alimentado com maná, no deserto. Com a instituição da eucaristia o povo é alimentado com o próprio corpo de Cristo.

        Outras religiões cristãs não adotam esse ritual, o que em nada modifica o seu significado para a fé. A hóstia, eventualmente, pode estar representada no pão que se ofereça em determinadas circunstâncias incomuns, desde que o gesto envolva o sentimento sincero da invocação do Cristo.
        Sirvo-me da data Santa para relembrar a fé inquebrantável da minha inesquecível Therezinha, que nunca descurou de comemorá-la com extremo amor e devoção. A ela, in memoriam, entrego o Corpo Santo do Nosso Senhor, ansiando que esteja sob a sua proteção e interceda pelos que aqui ficaram. Um beijo saudoso do seu esposo Carlos Roberto de Miranda Gomes. AMÉM.