Revista da Cidade
15/04/2019
Revista da Cidade
Jornal de WM. Woden Madruga, Tribuna do Norte 28/08/2016
Agosto marcou bem o momento literário por estas aldeias potiguares,
houve o Festival Literário da Praia de Pipa e logo depois a Feira do
Livro de Mossoró. Na mesma trilha, lançamentos de livros em Natal.
Vários. Na grande maioria autores papa-jerimuns. Ensaístas, poetas,
cronistas, ficcionistas. Entre estes livros o de Gustavo Sobral, Berilo
Wanderley – O cronista da cidade, incluído na coleção Presença, projeto
da 8 Editora em parceria com o Caravela Selo Cultural. Já andei falando
sobre o livro por este canto da TN, onde surgiu o cronista BW que já
era poeta e assumia a bancada da sadia boemia natalense. Depois seria
promotor de justiça e professor universitário, sem que as novas funções o
tirassem do jornalismo. Nem da boa boemia.
Entramos na Tribuna do Norte no mesmo ano: 1956. Lá se vão 60 anos.
Eu acabava de fazer 19 anos de idade, Berilo chegando aos 21. Tínhamos
terminado de servir o Exército, soldados da mesma Companhia do 16º
Regimento de Infantaria. Estudávamos Direito. Antes de chegar a TN e ser
soldado eu já tinha tido uma passada pelo Diário de Natal, que foi a
minha primeira redação, 1953/54. A da Tribuna foi a primeira de Berilo.
Gustavo Sobral, escreve:
- Conjugando poesia e boemia, foi Berilo Wanderley um vivente de
Natal muito antes de atuar na “Revista da Cidade”, estreando na ‘Tribuna
do Norte’, em 1956. Ia para substituir, numa coluna que mantinha com o
título de “Revista da Cidade”, o jovem estudante de Direito e cronista
social Woden Madruga de viagem marcada para Maceió/AL. Ali desfilavam
casamentos, batizados, noivados, aniversários, chegadas e partidas, a
conversa diária, os famosos ‘fait divers’, precursores do que seria a
crônica moderna do Rio Grande do Norte. Berilo seguiu à risca o conteúdo
proposto para a coluna, mas foi modificando-o aos poucos, foram saindo
os batizados, os casamentos, as notinhas e foram chegando os comentários
sobre livros e cinema. O cinema era uma paixão. Em torno de Berilo
Wanderley, bê-dábliu (B.W.), como assinava ao final de cada crônica, é
que viviam os cineclubistas, os aficionados por cinema que se reunião em
associações.
A revista muda de tom
Berilo Wanderley começou a assinar a Revista da Cidade no dia 8 de
novembro de 1956. Eu passava para Tribuna Social e continuava repórter
cumprindo a pauta determinada por Waldemar Araújo, secretário da redação
Uma coisa que poucos sabem: quem me inventou “cronista social” foi
Aluízio Alves, numa das tantas reuniões da casa para “modernizar” o
jornal por ele fundado. Como eu já era da noite e frequentava os bailes
do Aero Clube, sabia das coisas. Aluízio, achava que sim.
No livro, Gustavo Sobral publica a crônica de estreia de Berilo, sua
primeira assinatura sob a coluna, 8 de novembro de 1956, uma
quinta-feira, com o título “A revista da cidade muda de tom”. Vai na
íntegra: “A Revista da Cidade vai mudar, a partir de hoje, de dono e de
tom. Woden Madruga, cronista social que fazia nesse campo a resenha das
festas e coquetéis da cidade, viajou de malas arrumadas para a Tribuna
Social. E de agora, passa a ser nosso vizinho da esquerda.
A Revista da Cidade assumirá, assim, um caráter menos festivo. Ela,
de agora em diante, não rescenderá a cervejas e espumantes e sorrisos
alegres de aniversários familiares. De agora em diante, ela será
exclusivamente, a revista da cidade, noticiando o que ela apresente
mesmo dentro de sua paisagem festiva, embora distante dos bailes e das
sociais do soçaite.
Nela, a partir de hoje, o leitor encontrará notícias dos cinemas da
cidade, dos teatros da cidade, enfim todas as coisas que fujam aos
domínios dos “chanéis” do grand mond festivo (com a devida vênia aos
Ibrahins potiguares).
Ao lado de todas estas notas, estaremos com a nossa crônica de duas
colunas, falando de tudo, onde naturalmente, uma vez por outra, podem
entrar os tais sorrisos alegres e as cervejas e espumantes. Porque,
afinal de contas, eles não são patrimônio exclusivo dos cronistas
sociais. E também somos filhos de Deus. B.W
A história da coluna
Gustavo Sobral conta a história da coluna, de como ela surgiu nas
páginas da TN que, aqui e acolá, às vezes, mudando o jeito do título.
Vejamos:
“(...) Conta a história (há controvérsias) que Zila Mamede foi a
primeira ocupante da “Revista da Cidade”. Zila assinava uma coluna com o
título “Aspecto da Cidade”, cujo tema era política e sociedade e foi aí
onde começou a publicar os seus poemas, tudo por volta de 1951 e 1952.
Depois veio Woden e definitivamente Berilo, substituído ocasionalmente
por Paulo e Moacy.
Este Paulo e este Moacy são, respectivamente, os poetas Paulo de
Tarso Correia de Melo e Moacy Cirne. Os dois assinavam uma mesma coluna,
tendo sempre como motes o cinema e a literatura, gente do Cine Clube
Tirol. Por aí. Naquela mesma época a redação da TN contava com a
presença de um redator muito especial, também mais ou menos da mesma
idade dessa patota: Geraldo José de Melo. Escrevia os artigos políticos.
Não sei se imaginava ser governador do Estado. Foi. O doutor Rômulo
Wanderley, como eu o tratava, professor de História, advogado, pai de
Berilo, assinava uma coluna diária que saia na última página com o
título de Nota da Manhã.
A velha Ribeira dos anos 50.
O casamento
O livro, que é um ensaio biográfico, também registra o casamento de
Berilo com Maria Emília, a sua grande paixão. Gustavo Sobral contra a
história assim:
- Casaram em 1964 e com direito à festa no clube da Rampa. Nesse
mesmo dia, Berilo seria preso por afrontar os militares em sua coluna,
mas dona Maria Amélia, sua mãe, que tinha parentesco com o coronel, foi
falar-lhe. Berilo disse: “Casei entre a cruz e a espada”. O casamento
foi permitido, mas a lua de mel foi em prisão domiciliar. Woden
noticiava: “Berilo Wanderley está casado. Foi ontem, no começo da noite.
Ninguém sabia de nada. O rapaz esteve na redação como se fosse um dia
normal. Não transpareceu nadinha mesmo. Saiu, pegou Maria Emília pelo
braço e foi até a igreja. Casaram-se sob as bênçãos da igreja. Estão
felizes. Vão ser felizes. BW está casado. É a grande notícia deste 5 de
abril”.
No livro o leitor vai se deliciar também com a história de como Maria
Emília e Berilo Wanderlei, acompanhados do poeta pernambucano Ascenso
Ferreira, saindo do Granada Bar, foram se encontrar com Veríssimo de
Melo em Maria Boa.
Pegue essa boa leitura.