28/03/2019
IHGRN: NOVO
RUMO, NOVO PRUMO
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
O tempo é a dimensão da
mudança. O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte é o único
bem que ficará após tudo o mais passar.
O prédio foi construído
por Augusto Tavares de Lyra, entre 1905 e 1906, na área nobre e histórica da
cidade, vizinho à antiga catedral metropolitana e ao palácio do governo erguido
por outro conterrâneo, Alberto Maranhão. Tem frentes tanto para a rua da
Conceição como para a praça André de Albuquerque. É um chão sagrado de
antepassados. Bem próximo, está a praça Padre João Maria, hoje transformada num
lastimável camelódromo. Ainda ali perto, o museu Café Filho, a primeira
construção assobradada, ainda do período colonial. E um pouco mais adiante, o
sobradão clássico onde funcionou o Tesouro Provincial, hoje Memorial Câmara
Cascudo e o Convento Santo Antonio, todos monumentos tombados pelo Patrimônio
Histórico. E com importância político-administrativa estão cravados também
nesse quadrilátero de ocorrências históricas as sedes dos Poderes Legislativo e
Judiciário.
Venho encarecer a
atenção das excelentíssimas autoridades para os cuidados que essa contextura
patrimonial, histórica, turística, representa para Natal nos dias de hoje. Os
prédios, as praças, a iluminação pública ao derredor, necessitam de paisagismo
compatível como berço da cidade dos Reis Magos. Nesse território emocional e
dominó de reminiscências inapagáveis imperam o lixo, a predação, a escuridão, o
abandono e a insegurança. Urge, para essa área, um tratamento diferencial e
seletivo de ressurreição de ambiente.
E o Instituto
Histórico, pobre mas altivo, é o capataz dos mistérios circundantes, há 117
anos – a completar no dia 29 de março. Ele permanece como guardião do mais
importante acervo histórico do estado. Agora, eu indago, deve continuar
abandonado? Ele detém a guarda de todas as leis e decretos de governo de 1835 a
1952, documentos de demarcação de terras de 1615 a 1807, sesmarias de 1702 a
1716 e de 1748 a 1754. O livro de Barleus, no qual Gaspar Van Barle descreve os
oito anos do governo holandês de Maurício de Nassau, de 1647, bíblias antigas,
bibliotecas, mapas geográficos, objetos de museus, versos, manuscritos e
registros eclesiásticos, fotografias de personagens da história política,
social, cultural, jurídica e religiosa do Rio Grande do Norte de cem a
trezentos anos passados desde os períodos: colonial, imperial e republicano.
No Rio Grande do Norte, por
exemplo, está na hora do governo atual reunir os órgãos de cultura do estado:
Academia Norte-Riograndense de Letras, Conselho de Cultura, Instituto Histórico
e mais ensaístas, poetas, historiadores, sociólogos e críticos literários para
ouvir sugestões dessa atividade tão pluralista e significativa da sociedade,
porem, totalmente esquecida e somente lembrada para eventos passageiros.
A beleza plástica dos
casarões, o teor emotivo e sentimental que retratam a abordagem lírica de
épocas imemoriais, em qualquer país civilizado, nunca foram substituídos por
folguedos e fanfarras. A preservação do patrimônio histórico e artístico do Rio
Grande do Norte precisa de maior atenção e acuidade perceptiva dos governos.
Como na Trindade Santa, o passado, o presente e o futuro se entrelaçam na mesma
realidade temporal. São três tempos distintos numa só integridade temporal;
amalgamados de idéias e inteiriços. Que esse cabedal seja intenção e
deliberação permanentes dos órgãos de cultura do estado.
Não existe outra
maneira de salvar tudo sem o apoio resoluto dos órgãos governamentais, das
instituições privadas e da sociedade de modo geral. Esse patrimônio que estamos
guardando, protegendo, é público, é da história, é do povo do Rio Grande do
Norte. Parabéns ao presidente Ormuz Barbalho Simonetti e aos diretores do
IHGRN.
(*) Escritor
26/03/2019
Sobre Jean Bodin (IV)
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP
Na semana passada, eu prometi fazer um balanço sobre Jean Bodin
(1530-1596), como homem e como pensador. Cumpro agora, dizendo, desde
logo, que minha análise sobre Bodin é deveras positiva.
É
verdade, e eu não nego, que a sua “Demonomania dos feiticeiros” (“De la
demonomanie des sorciers”, de 1580), nos mostra um homem impregnado de
concepções místicas. Suas menções a demônios, a bruxas e aos
procedimentos para os julgamentos destas deram a Bodin uma fama de homem
impiedoso. Mas esse misticismo misturado a um certo fervor religioso é
uma característica da época, presente, aliás, em quase todos os grandes
espíritos do seu tempo. E, por outro lado, o seu manuscrito “Colóquio
entre sete sábios de diferentes sentimentos acerca dos segredos das
coisas sublimes” (“Colloquium heptaplomeres: des secrets cachez des
choses sublimes entre sept sçavans qui sont de differens sentimens”, de
1593), que narra diálogos/discussões entre um filósofo naturalista, um
católico, um luterano, um calvinista, um judeu, um muçulmano e um
cético, é frequentemente tido como um dos precursores da tolerância
religiosa no mundo ocidental.
Há ainda outros aspectos da vida e
dos escritos de Jean Bodin, pouco explorados, que refletem sua empatia
para com o ser humano. Bodin, em seus “Les six livres de la République”
(1576), por exemplo, se contrapõe à equivocada tese de Aristóteles de
que o caráter universal e permanente do instituto da escravidão seria
prova de que existiriam povos e homens naturalmente a ela vocacionados.
Bodin argumenta, com razão, que a existência de certo fenômeno, mesmo
que perene, não é prova de que ele se dá por vontade de Deus; caso
contrário, toda e qualquer impiedade, desde que permanente, poderia ser
atribuída à vontade Dele. Para Bodin, nem mesmo um suposto direito de
guerra justificaria a escravidão. Prisioneiros não são animais. A partir
de exemplos do passado (da Antiguidade Clássica e mais recentes), de
crueldades e revoltas, Bodin se opunha à escravidão e, mais ainda,
depois de abolida (na Europa, por volta do século XIII), à sua
reintrodução no mundo de então. Ele critica especialmente a expansão
colonial portuguesa (mas não somente ela), que espalhou o tráfico de
africanos pelo Novo Mundo, a partir da ambição de mercadores, de
traficantes e de outros interessados. Para ele, somente um poder
monárquico forte, absoluto, poderia dar um fim a essa indesejável
empreitada. Sem dúvida, com esse Bodin, eu simpatizo deveras.
E
mesmo em relação à soberania e ao absolutismo, Bodin não foi tão
“despótico” assim. Lembremos, como o faz Paulo Jorge Lima em seu
“Dicionário de filosofia do direito” (Editora Sugestões Literárias,
1968), que ele admitia que certos direitos dos cidadãos “fossem
invioláveis mesmo ante o poder do rei, porque situados no âmbito do
direito natural”. O monarca que os viola “transforma-se em tirano, a
quem não é mais devida obediência”. Aqui Bodin também me representa.
Apesar das limitações de sua época, é preciso também reconhecer o
espírito marcadamente científico de Bodin, que supera em muito o de
Maquiavel (1469-1527) e daqueles que buscaram nos evangelhos a
explicação e a solução para os problemas políticos de então. É preciso
reconhecer a vasta cultura de Bodin em quase todos os ramos do saber.
Como aponta Cabral de Moncada em sua “Filosofia do Direito e do Estado”
(vol. 1, Arménio Amado Editor Sucessor, 1955), enquanto Maquiavel –
realmente é impossível não sucumbir à tentação de comparar os dois – era
um pensador “avesso a especulações teóricas, Bodin, pelo contrário,
devido a sua educação humanista, jurídica e teológica, representava o
tipo oposto do ‘pensador abstrato’ e era, antes de tudo, um teórico”.
Maquiavel partia das “necessidades práticas da vida” para construir suas
ideias; Bodin, sem perder de vista essas necessidades, partia do
direito, de viés naturalista, para formatar sua visão do Estado. De
fato, Bodin teve uma carreira no serviço público que, embora não
excepcional, lhe deu um bom conhecimento da política francesa.
Entretanto, sem dúvida, como anota Jean Touchard em sua “Historia de las
ideas políticas” (Editoral Tecnos, 2013), ele deve bem mais o seu saber
“às suas vastíssimas leituras, à sua curiosidade universal. Bodin, que
lê o hebraico e as línguas clássicas, se interessa por todos os
fenômenos sociais. É jurista, historiador, economista (a famosa ‘Réponse
au paradoxe de M. de Malestroict’ é de 1568) e também filósofo. Não
chegou a publicar seu pouco ortodoxo ‘Heptaplomeres colloquium’ [uma
utopia social e religiosa, antes de qualquer coisa], no qual se percebe
já o seu ‘esprit fort’. Sua ‘Demonomanie des sorciers’ (1580) nos mostra
um homem impregnado de concepções mágicas, à semelhança dos grandes
espíritos de seu tempo. A cultura de Bodin tem as dimensões e a ambição
enciclopédica do humanismo do Renascimento. Sua ambição intelectual,
quando compõe os ‘Les six livres de la République’ (1576), está à altura
de sua erudição; trata de fundar a ciência política e traçar, ao mesmo
tempo, as vias para o endireitamento da França”.
Humanista,
historiador, jurista, filósofo e teólogo (com deslizes calvinistas
huguenotes), Bodin formatou uma política absolutista, no interesse da
unidade e da grandeza do seu Estado francês, que, antes de mais nada,
mostrou ser a real e urgente necessidade do momento histórico. Talvez
esteja aí, na coincidência da política certa para o momento certo, a
razão da enorme influência das suas ideias.
Mas a doutrina da
soberania absolutista de Bodin foi também e sobretudo (posso até dizer)
um salto para o futuro. E é isso o que nós veremos, finalmente, na
semana que vem.
Marcelo Alves Dias de SouzaProcurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP
UMA VIDA DEDICADA À CAUSA PÚBLICA
O ex-deputado e ex-conselheiro do TCE/RN Valério Mesquita iniciou
praticamente a sua vida política em 1962, ao lado do seu pai, ex-deputado e ex-prefeito
de Macaíba, Alfredo Mesquita Filho. Foi coadjuvante, e coordenador das campanhas
políticas até 1970, quando assumiu a liderança do pai, com o falecimento deste em
1969.
Ocupou os seguintes cargos da administração pública:
Em 1967, Representante Federal da Campanha Nacional de
Alimentação Escolar no Rio Grande do Norte, a ele se creditando a descentralização do
programa no Estado, tendo criado os setores regionais de Mossoró, Santa Cruz, Santo
Antônio, Caicó e João Câmara.
Em 1971, no governo Cortez Pereira, foi Sub-Chefe da Casa Civil,
Coordenador de Assistência aos Municípios do Rio Grande do Norte e Diretor Geral do
Departamento de Serviço Social do Estado.
Em 1973, assumiu a Prefeitura de Macaíba, tendo construído o Centro
de Abastecimento Municipal, a praça da Saudade, iniciado a edificação do Colégio Dr.
Severiano de 1º e 2º graus, a eletrificação de Traíras, Cana Brava e Mangabeira e
diversas ruas e avenidas, além de trazer para a cidade a TELERN, o BANDERN, a Casa
do Agricultor (CIDA), o Conjunto Habitacional Alfredo Mesquita, além da Escola
Estadual do mesmo nome.
Em 1976, foi o 2º presidente da EMPROTURN, sucedendo a Eudes
Galvão, tendo continuado os seus planos de implantação da Via Costeira, no governo
Tarcisio Maia, tendo implantado a área de camping, perto de Ponte Velha e a conclusão
da restauração do Centro de Turismo (antiga Casa de Detenção de Natal).
Em 1978, foi Secretário Executivo do Escritório Técnico-
Administrativo da UFRN, responsável pela consolidação física do Campus
Universitário na gestão do reitor Domingos Gomes de Lima.
Em 1980, foi presidente da Fundação José Augusto, onde realizou uma
administração eficiente voltada para a restauração de monumentos e a editoração (foram
lançados e reeditados mais de duzentos livros na sua gestão). Restaurou os seguintes
monumentos históricos: Em Natal, construiu a nova passarela do Forte dos Reis Magos,
a restauração do Antigo Q.G. (hoje Memorial Câmara Cascudo), a Igreja de Santo
Antônio. Em Macaíba, restaurou o Solar do Ferreiro Torto, as Capelas São José e
Soledade. Em São Gonçalo, a Capela de Utinga e a Igreja Matriz da cidade. Em Vila
Flor, a Casa de Câmara e Cadeia e a igreja de Nossa Senhora do Desterro. Em
Canguaretama, a Capela de Cunhaú, Em Mossoró, a antiga Cadeia Pública de Mossoró,
hoje Centro Cultural. Em Arêz, a restauração da fachada do cemitério local. Em Macau,
o inicio da restauração do atual Centro Cultural. Em Ceará-Mirim, a restauração do
Mercado Público da cidade; efetuou o concluiu o inventário dos bens culturais móveis e
imóveis do RN e, em convênio com a FIERN a restauração do Solar Bela Vista.
Em 1986, elegeu-se deputado estadual, com 24.525 votos, reelegendo-
se em 1990 para um segundo mandato. Seus projetos e proposições como deputado,
foram dirigidos em favor dos municípios, solicitando estradas, escolas, eletrificação,
poços tubulares, preservação do meio ambiente, defesa da cultura, saúde das populações
mais carentes e da Polícia Militar.
Em 1994, pela legenda do Partido da Frente Liberal, o deputado Valério
Mesquita reelegeu-se para o terceiro mandato.
Por serviços prestados a diversos municípios, o deputado Valério
Mesquita, bacharel em Direito pela UFRN, escritor com dezoito livros publicados, é
cidadão honorário de Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Bom Jesus, Serrinha,
Canguaretama, Extremoz, Ceará-Mirim e Natal. É membro da Academia Norte-
Riograndense de Letras, cadeira nº 21, do Conselho Estadual de Cultura, da Academia
Macaibense de Letras e Presidente Eméritodo Instituto Histórico e Geográfico do Rio
Grande do Norte. Possui comendas do Exercito, Marinha e Aeronáutica, Departamento
de Estado do Governo Norte-Americano, cidadão honorário do Estado do Novo
México, personalidade cultural da União Brasileira de Escritores duas vezes, benfeitor
de dezenas de entidades esportivas e culturais do Estado.
Em 1998 reelegeu-se para o seu quarto mandato.
Foi presidente da Comissão de Constituição e Justiça por três vezes e
da Comissão de Administração Pública e Trabalho. Foi líder do PL e do PPB na
Assembleia Legislativa e relator do projeto de implantação do Centro Industrial
Avançado em Macaíba. Autor da lei que determinou o sete de agosto como data
aniversária dos 500 anos do Rio Grande do Norte e da emenda constitucional que
estabelece o ensino de “Literatura Potiguar, Artes Plásticas e Folclore” nas escolas de 1º
e 2º graus da rede pública.
São seus os requerimentos pedindo ao governo a eletrificação do
canteiro central da BR-304/Parnamirim e a sua duplicação. Em Macaíba: a restauração
do casarão Histórico dos Guarapes; asfaltamento da estrada unindo Cana Brava ao
município de Vera Cruz; asfaltamento da estrada Macaíba/São Gonçalo e
Macaíba/Igreja Nova.
Em outubro de 2000, foi eleito pela unanimidade dos deputados
presentes Conselheiro do Tribunal de Contas do Rio Grande do Norte de onde exerceu a
presidência da 1ª. e da 2ª. Câmara, foi Corregedor, Vice-Presidente e Presidente do
TCE.
Recebeu, ainda, as seguintes comendas: Medalha do Mérito Cultural
Câmara Cascudo” outorgada pela Assembleia Legislativa do RN, Medalha da Honra ao
Mérito “Varela Santiago”, Mérito Cultural “Fabrício Gomes Pedroza” e a Medalha de
Honra “AlbertoMaranhão” outorgados pela Câmara Municipal de Macaíba; a Ordem do
Mérito Aeronáutico conferido pelo Ministério da Defesa do Comando da Aeronáutica,
Mérito “Luiz Cúrcio Marinho” ofertado pela Federação do Comércio do RN e a Ordem
do Mérito Judiciário do Trabalho “Djalma Aranha Marinho” concedida pelo TRT – 21ª.
Região.
25/03/2019
Nos meus longos anos de atividade
esportiva, mais especificamente no futebol recreativo – a pelada –,
convivi e presenciei algumas histórias que vez por outra aflora à
mente.
Na década de 1980, nosso grupo de
peladeiros ocupou, por obra e graça dos nossos amigos e também atletas, o
bom campo de futebol do ABC F.C., no bairro de Morro Branco.
Época em que alguns atletas que iam
deixando o futebol profissional se uniam ao grupo, enriquecendo mais e
mais o nível técnico da nossa confraria amadora. Lembro bem de Maranhão,
excelente meio de campo, ex-vascaíno; capitão Edson, grande nome da
zaga do time alvinegro; Soares, bom ponta esquerda, que deixou o
zagueiro lateral Fidelis da equipe do Vasco da Gama com a bunda no chão
no Estádio Machadão e muitos outros bons atletas. Recordo também da
inclusão do treinador do time mais querido na época, o paulista Clovis
Queiroz, que atuou como quarto-zagueiro no timão do Corinthians
Paulista.
Certo sábado, na resenha pós pelada
(momento mais gostoso e convidativo), o papo recai sobre o tempo em que
Clóvis atuou no timão paulista; época dos grandes embates com a super
equipe do Santos, com o rei Pelé, Coutinho (1943-2019), Pepe, Mengálvio e
Cia.
Contava o quarto zagueiro do timão
paulista que, quando os times se defrontavam, a preocupação maior era em
cima da dupla de área do time Santista: Pelé e Coutinho.
Em um desses belos confrontos, jogo em
andamento, a defesa do timão batendo cabeça, procurando a todo custo
marcar os “negões” com suas rápidas e curtas tabelas na pequena área.
Perdidos nas jogadas, o defensor Clóvis Queiroz do timão grita
apavorado:
– Pega, pega, pega o negão!
Responde seu parceiro de zaga:
– Qual deles? Qual deles? Vai, vai, pega tu!
Passado o vexame e depois de conseguirem
se orientar, só viam os negões se abraçando e correndo com a bola
debaixo do braço para o centro do gramado.
Que saudade!!!
Berilo de Castro – Médico e Escritor – berilodecastro@hotmail.com.br
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
23/03/2019
VOCÊ É AQUILO QUE APROVA
Valério Mesquita*
As minhas sensações se revezam depressa. Por mais que me esforce,
não consigo me fixar em coisa alguma. Se penso ou sinto algum tema, deduzo que
tudo será esquecido e me calculo inútil. Esse prelúdio indefectível talvez
chegue a algum lugar. Gostaria de denunciar, por exemplo, aquilo que muitos já
fizeram: a deterioração institucional do país que teve quebrados todos os
padrões éticos e estéticos. A fragilidade e a inoperância dos poderes se
tornaram tão patentes que já se comentam medidas autoritárias. Continuo
pensando que é preciso urgentemente humanizar o político brasileiro. Ele mesmo
animalizou os seus traços.
Quando me apetece voltar a suplicar às autoridades públicas e
privadas a restauração do empório dos Guarapes, onde o pioneiro e gigante
desbravador Fabrício Gomes Pedroza ambientou um dos maiores domínios comerciais
de que se tem notícia no estado, recebe-se em troca repetidamente a leniência e
a indiferença. Ai eu indago: pra que escrever mais? Pergunto-me se não estou me
transformando em esteta contemplativo com uma tendência zen. Mas, continuarei
lutando porque não é apenas um impulso da mente nem do corpo. Os “Guarapes” representam
para aqueles que o ignoram, o equilíbrio entre a beleza e o passado.
Falar, por exemplo, das poças profundas de sangue que fluidificam
a área metropolitana da grande Natal. Nela a juventude continua sendo executada
nas ruas pelo cartel das drogas. Sinto que falecem os dons que me ligam a
Macaíba, hoje, tão irreconhecível a ponto de não me rever mais em suas paredes
e praças. A fuga é dormir à distância, debaixo de qualquer céu, como diria o
poeta. Minha terra padece de uma enfermidade física, orgânica, urbana,
suburbana, sensível, visível, palpável chamada “comércio de droga” que tem
escravizado e mutilado suas melhores tradições.
Poderia até discorrer sobre as opiniões e posturas dos políticos
potiguares repletas de privilégios para si nas traição e maldição, para os
servidores públicos, todos num beco sem saída. Os efeitos especiais empregados
não são improvisados. E parece que não há pressa em definir situações. Tudo
deve ser queimado subrepticiamente a fogo lento. Tem gente gastando anos luz
para compor o arquipélago da obra de chegar ao poder queimando incenso no
velório da própria falência do poder público. Na política, sabemos que
acidentes e incidentes nunca surpreenderam ninguém. Todos têm rostos e
máscaras. Trata-se de uma peça de teatro onde o fascínio é exibido em prosa e
gestos fesceninos. Que importa tudo isso, se depois da tempestade todos se
unirão novamente para começar tudo de novo? O palco será o mesmo. Só muda a
idade.
E o pugilo da saúde pública nos hospitais da capital? Esse merece
veemente repulsa. É um libelo à competência dos administradores. A situação
deplorável me infunde a convicção de que ninguém mais se comove com a dor
humana. O melhor homem é o homem morto. Vivo é desprezível. Doente e pobre, ele
fede. Onde deveriam remunerar melhor, paga-se pior e se gasta menos. Hospital
público é a antessala da morte iminente porque está desprovido das condições de
higiene e serviços. Denunciar o estado de calamidade finaneira não constitui falar
apenas em atraso dos vencimentos mas assistir privilégios vergonhosos das elites.
Lembro ao leitor que o ser humano coisificou-se. Deixou de ser carne
inteligente. Hospital “lugar de repouso e cura”, virou empório do estado,
verdadeiro guardador de rebanho, onde o pobre, sem nenhum plano de saúde, tem
defeito de circulação do sangue no corpo à alma.
(*) Escritor.
21/03/2019
Os fundadores
17/03/2019
J. de Maistre
Uma cidade de 13 mil habitantes. Não muita gente sabendo ler e escrever. Navios à vapor, iluminação pública à querosene. Natal já era o que continua a ser: provinciana.
No Estado do Rio Grande do Norte, a república de Pedro Velho andava no vapor entre o Rio de Janeiro e a capital, e um único dia no ano de 1902 muda toda a história do Rio Grande do Norte.
29 de março de 1902, na sala da biblioteca pública, no Atheneu, bairro de Cidade Alta, um grupo de intelectuais, entre juristas, políticos e funcionários públicos, se reunia. A pretensão era única e o desejo uno: fundador o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.
A história do Rio Grande do Norte desde então nunca mais foi a mesma.
É procurando o que se passou naquele dia e naqueles ano e quem eram aqueles que ali se reuniam que Gustavo Sobral voltou ao ano de 1902 e ao dia 29 de março à procura de vestígios da história, do passado e da memória, e escreveu Os fundadores.
Lançamento
Aniversário de 117 anos do IHGRN, quinta-feira, 29 de março, às 19h, no Centro Pastoral Dom Heitor de Araújo Sales, rua da Conceição, 615, Cidade Alta.
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