17/10/2018
O TEMPO E O SENSO
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
Nos dias de hoje, o ânimo
de viver nos torna inconstante e nos empurra para buscas ávidas de expressão, imaginação
e criatividade. O próprio Luís da Câmara Cascudo, no passado, apesar de um ser
simples, foi uma figura numerosa, pois escreveu sobre tudo e sobre todos.
Conheço muitos escritores conterrâneos que detêm idêntica curiosidade inesgotável
e volubilidade inventiva contagiadas pelas ideias, gostos e poder aliciante do
charme da escrita cascudiana. E nesse particular, todos foram largamente
influenciados pelo desejo insofreável de ressurreição do tempo morto, pela
inestimável compreensão da alma coletiva das gerações passadas que se encontram
como que cristalizadas em todos nós.
São as nossas afinidades
eletivas fincadas na íntima, nostálgica página evocativa que romantiza a
realidade ou, às vezes, a fantasia. Daí, não me encantar tanto com os
procedimentos rotulados de culturais pela mídia eletrônica e certos gestores
públicos. Não é a compulsão de recapturar o antigo só por ser antigo. O que
desejamos, penso, é respirar o oxigênio cultural que foi dotado de um poder de
radiação imanente, que se manteve vivo, apesar do efeito paulatino, paradoxal e
destrutivo de uma “cultura de aparências”, fóssil e fútil, atualmente em alto
astral! O crítico Paulo Prado chegou a afirmar no seu livro Retrato do Brasil
que a proliferação desse contraditório “representava a astenia da raça, o vício
de nossas origens mestiças”. Nada mais verdadeiro e impiedoso.
A cultura se transformou
num circo mambembe de vaidades ressentidas, perdida nas suas cismas e
inseguranças, desde o tempo em que o Ministério da Cultura tornou-se
serpentário de figuras exóticas e estereotipadas. No Rio Grande do Norte, por
exemplo, está na hora do futuro governador reunir os órgãos de cultura do
estado: Academia Norte-riograndense de Letras, Conselho de Cultura, Instituto
Histórico e mais ensaístas, poetas, historiadores, sociólogos e críticos
literários para ouvir sugestões dessa atividade tão pluralista e significativa
da sociedade, porém, totalmente esquecida e somente lembrada para eventos
passageiros. Nas vésperas, por exemplo, do governo contrair um vultoso empréstimo
internacional, as entidades culturais não foram ouvidas para discutir e
identificar os seus problemas estruturais.
É com profunda lástima
que vemos as edificações, casarões e monumentos que representam o vasto painel
da dramática criação de uma sociedade civil de cem e de duzentos anos passados
se encontrarem em estado de deterioração. Lembremo-nos que o “passado não
passa”. A beleza plástica dos casarões, o teor emotivo e sentimental que
retrata a abordagem lírica de épocas imemoriais, em qualquer país civilizado,
nunca foram substituídos por folguedos e fanfarras. A preservação do patrimônio
histórico e artístico do Rio Grande do Norte precisa de maior atenção e
acuidade perceptiva dos governos. Como na Trindade Santa, o passado, o presente
e o futuro se entrelaçam na mesma realidade temporal. São três tempos distintos
numa só integridade temporal; amalgamados de ideias e inteiriços. Que esse cabedal
seja intenção e deliberação permanentes dos órgãos de cultura do estado. Vamos
aguardar.
(*) Escritor
16/10/2018
Viajando com a amiga (III)
Agatha Christie (1890-1976) ganhou o mundo. Com suas estórias,
traduzidas para um sem-número de línguas, chegando a todas as partes do
planeta. E, também, para o nosso deleite, em suas estórias. Como já dito
aqui, se sua Miss Marple, mais provinciana, esteve uma vez de férias no
Caribe, o seu Hercule Poirot, com meios e recursos para tanto, andou
muito mais longe: nos Bálcãs, em Istambul, na Mesopotâmia, no Egito e
por aí vai.
Na verdade, a própria vida de Agatha Christie sob
esse aspecto é bastante peculiar. Se hoje, com os preços mais acessíveis
das passagens áreas, estamos acostumados com a ideia de visitarmos
outras culturas, no tempo de Christie, sobretudo nos seus anos de
formação, não era assim. A futura Rainha do Crime, entretanto, desde
cedo, viajou muito. E para bem longe.
Como bem relata Martin
Fido, em “The World of Agatha Christie: the Facts and Fiction behind the
Word’s of Greatest Crime Writer” (Editora SevenOaks, 2010), “a
variedade de experiências de viagem de Agatha Christie era realmente
incompreensível para a sua geração. França, Alemanha, Cairo. Ainda antes
de se casar, ela já tinha viajado aquilo que seus contemporâneos só
teriam alcançado em uma vida inteira. Aos Pirineus com Archie [Archibald
Christie, 1889-1962, seu primeiro marido]. Pelas colônias e pelos
domínios onde o sol nunca se punha com o Major Belcher [1871-1949, líder
do ‘Grand Tour’ realizado para promover a ‘British Empire Exhibition’
nos anos 1920]. A inesquecível viagem no Expresso do Oriente, a partir
da qual o Oriente Médio tornou-se um território familiar. Lua de mel com
Max Mallowan [1904-1978, o grande arqueólogo e seu segundo marido] em
Veneza, na Iugoslávia e na Grécia. Férias na Alemanha, na Áustria, na
Suíça. Visitas à Índia, ao Paquistão e ao Ceilão. No fim da vida, a
muito almejada e tanto adiada viagem às Índias Ocidentais”.
Muitíssimo disso, claro, foi transposto para os seus romances.
De minha parte, de uma variada lista, destaco três títulos nos quais
essas “andanças” da minha amiga por outras culturas nos encantam quase
tanto quanto a trama detetivesca em si: “Murder on the Orient Express”
(“Assassinato no Expresso do Oriente”, 1934), “Murder in Mesopotamia”
(“Morte na Mesopotâmia”, 1936) e “Death on the Nile” (“Morte no Nilo”,
1937). Os três títulos, não coincidentemente, são protagonizados pelo
inconfundível Hercule Poirot. E esses títulos, também não
coincidentemente, estão relacionados, com algumas alusões recíprocas,
como veremos a seguir.
Por exemplo, em “Murder on the Orient
Express” (1934) a estória começa com Poirot na (hoje) triste Alepo, na
Síria, para depois chegarmos à maravilhosa Istambul, na Turquia. É dali –
da outrora Bizâncio e, depois, Constantinopla – que o nosso detetive
toma o famoso Expresso do Oriente. Aliás, nessa jornada, ele está
precisamente voltando da sua aventura em “Murder in Mesopotamia”, muito
embora, curiosamente, esse título só tenha sido publicado
posteriormente, em 1936. O resto da história, como sabemos, se passa na
Europa do leste. O famoso trem, devido a uma nevasca noturna, para no
meio dos Bálcãs. Na manhã seguinte, um dos passageiros é encontrado
morto. O crime, aliás, está relacionado com um sequestro e assassinato
acontecido ainda mais longe, nos EUA. O resto da trama, claro, eu não
vou contar. Mas já dá para ver quão interessantes eram as viagens da
minha amiga.
Já em “Murder in Mesopotamia” (1936), o título já
diz tudo. Mais uma vez com Hercule Poirot no comando, a trama é
ambientada no Iraque, em meio a uma escavação arqueológica. Aqui, os
especialistas não têm dúvida: a inspiração para a ambientação e para as
personagens da trama veio da experiência de Christie na escavação da
necrópole da antiquíssima (e bote antiga nisso) cidade de Ur, no que
hoje é o Iraque. Aliás, foi nessa expedição que a minha amiga conheceu,
em meio a outros arqueólogos britânicos, Sir Max Mallowan, que viria a
ser o seu segundo marido. Bendita escavação, para ela e para nós. Sim,
aqui a trama gira em torno do assassinato da misteriosa (e um tanto
paranoica) Louise Leidner, esposa do arqueólogo chefe da expedição. Já
ia me esquecendo desse “pequeno” detalhe.
Por derradeiro, temos
“Death on the Nile” (1937). O Nilo, não preciso dizer, é o famoso rio
que corre pelas terras dos faraós. E aqui, mais uma vez, temos prova da
relação entre os três títulos citados, quando Poirot afirma haver
aprendido uma das técnicas do seu método de investigação – a remoção de
toda matéria estranha para que se possa enxergar a verdade – em uma
expedição arqueológica na qual esteve profissionalmente (ou seja, em
“Murder in Mesopotamia”). Para mim, “Death on the Nile” é muito mais que
excelente. Aliás, não canso de assistir à versão cinematográfica deste
romance, de 1978, com direção de John Guillermin (1925-2015). O elenco é
simplesmente fantástico: Peter Ustinov, David Niven, Lois Chiles, Jane
Birkin, Maggie Smith, Angela Lansbury, Bette Davis, Mia Farrow, George
Kennedy e Jack Warden, entre outros. Adoro Peter Ustinov (1921-2004) no
papel de Poirot. Não canso de olhar para a beleza bem nascida de Lois
Chiles (1947-) no papel da jovem assassinada, a muito invejada Linnet
Ridgeway. Afinal, ela tinha tudo: juventude, beleza, dinheiro e até
inteligência. Mas talvez isso não seja uma mistura boa. Talvez seja
demais para qualquer pessoa.
Definitivamente, a minha Agatha
Christie não era uma paroquiana. Nem muito menos uma escritora que
“cantou” apenas a sua aldeia. Ela era até uma cosmopolita, muito embora,
como descreve o já citado Martin Fido, “numa forma anglocêntrica de
ser, que hoje é provavelmente apenas encontrada entre aqueles da
carreira diplomática”. Ademais, sem dúvida, suas viagens lhe deram um
razoável cabedal de conhecimento em áreas como arqueologia, geografia,
histórias clássica e contemporânea e por aí vai, que foi, para o nosso
prazer, utilizado em seus inúmeros livros.
Bom, mas como podemos
nos aproveitar das andanças de Agatha Christie? Como podemos viajar,
por tão diferentes culturas, com a Rainha do Crime?
Eu conheço duas formas. E as duas eu explicarei nas nossas próximas conversas.
Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP
SAUDOSA HISTÓRIA DO INSTITUTO BATISTA DO NATAL
Amigos do IHGRN, tenho a particular alegria de postar esta mensagem, em homenagem ao DIA DO PROFESSOR, que envolve um saudoso, mas venturoso tempo de Natal.
Geovanira Galvão de Lima compartilhou uma publicação no grupo Falando do RN.
Prof. Carlos D Miranda Gomes quem sabe, não estamos nessa foto... É do nosso tempo!
Junia Pires Falcão
Hino do Instituto Batista de Natal
(Aonde fiz o curso primário)
Ex alunos (as) quem ainda se lembra?
—
Para frente ò mocidade,
Cheia de fé e bondade.
Avancemos na peleja!
Embora má sorte seja,
Nada nos abaterá.
Cada qual aprenderá
A sofrer com paciência,
De todo mal a inclemência
(Aonde fiz o curso primário)
Ex alunos (as) quem ainda se lembra?
—
Para frente ò mocidade,
Cheia de fé e bondade.
Avancemos na peleja!
Embora má sorte seja,
Nada nos abaterá.
Cada qual aprenderá
A sofrer com paciência,
De todo mal a inclemência
Serás IBN
Eternamente o nosso bem,
Oh! IBN.
Em nossas almas viverás,
Oh! IBN.
Até a morte e além,
Oh! IBN,
Teu nome ficará.
Disciplina, esforço, estudo,
Pela pátria, tudo, tudo.
Morrer pela pátria é glória.
É fazer parte da história!
Ressuscita cedo ou tarde,
Enquanto o homem covarde
Não terá nome alcançado
E nem terá nome exaltado.
Coro
Em prol do bem e contra o vício
Não poupemos sacrifício.
Ser bom, ser justo e forte ser,
Tenhamos sempre por dever.
Seja o céu o nosso abrigo
E o livro, o melhor amigo,
Vem ser nossa diretriz
Para orgulho do país.
______________
Eternamente o nosso bem,
Oh! IBN.
Em nossas almas viverás,
Oh! IBN.
Até a morte e além,
Oh! IBN,
Teu nome ficará.
Disciplina, esforço, estudo,
Pela pátria, tudo, tudo.
Morrer pela pátria é glória.
É fazer parte da história!
Ressuscita cedo ou tarde,
Enquanto o homem covarde
Não terá nome alcançado
E nem terá nome exaltado.
Coro
Em prol do bem e contra o vício
Não poupemos sacrifício.
Ser bom, ser justo e forte ser,
Tenhamos sempre por dever.
Seja o céu o nosso abrigo
E o livro, o melhor amigo,
Vem ser nossa diretriz
Para orgulho do país.
______________
Esta foto me foi enviada há alguns anos pelo saudoso colega CIRO TAVARES. Foi tirada após nosso desfile numa comemoração do DIA DA INDEPENDÊNCIA - 7 de Setembro dos anos 50. Eu estou aí, Ciro também e mais grande quantidade de amigos: Netinho, Ester, Marta, Soriano, Caetano Damasceno, OS PROFESSORES: Pastor Gabino Brelaz, Dona Arquimínia, Izabel, Mirandolina, Iracema....(perdoem outros que me faltam à memória). Com eles e elas HOMENAGEIO OS MESTRES DE TODOS OS TEMPOS. É uma saudade gostosa essa que nos proporcionaram Geovania e Junia, inclusive com o nosso Hino, o qual ainda sei cantar. O INSTITUTO BATISTA DO NATAL foi construído por missionários da GeórgIa - Estados Unidos, tendo à frente o Dr. TAMBLIN e Dona FRANCISCA.
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15/10/2018
HOSPITAL PORTA FECHADA – Berilo de Castro
HOSPITAL PORTA FECHADA –
Nesses quase cinquenta anos de atividade
médica, acompanhei, presenciei e testemunhei seus grandes avanços, em
sua ininterrupta estrada de conquistas científicas. Avanços na área de
genética; novas e fantásticas técnicas de diagnósticos;
avanços extraordinários na área farmacológica; nos aprimoramentos
cirúrgicos; o avanço espetacular nos transplantes de órgãos, mais
recentemente a imunoterapia ( Prêmio Nobel – 2018), enfim, uma
interminável e benéfica evolução nessa bela e admirável arte
de curar.
Por outro lado, é bem notório que todos esses
importantes e inquestionáveis avanços não chegam a maioria da
população: a pobre, a necessitada. Ficam retidos e são de uso exclusivo
das camadas sociais de maior poder aquisitivo.
A saúde pública brasileira, com o seu Sistema
Único de Saúde (SUS), belo e eficaz (só no papel), não tem
correspondido e, muito mais, só tem piorado na sua aplicação prática –
faltou gestão desde o seu nascedouro.
Todos os dias, somos não mais surpreendidos
com situações as mais caóticas em os todos os rincões nacionais. O
descaso, a indiferença, a ausência dos governos vêm dia a dia ocupando e
fazendo mais vítimas nos hospitais públicos.
Hoje, para um cidadão comum conseguir uma
simples consulta, um exame de sangue, um exame de imagem, nem pensar!
Vai ter que esperar uma infinidade de tempo. Um internamento para uma
cirurgia nem pensar. Aí o bicho pega! Entra em
uma fila interminável. Quando, já cansado de tanto esperar, chega a sua
vez; os exames pré-operatórios realizados já estão caducos, não servem
mais. Aí começa tudo outra vez. É uma brincadeira de mal gosto, uma
ciranda desumana e cruel.
Os responsáveis administradores públicos,
vivenciando a situação, anunciam medidas midiáticas: mutirão disso,
mutirão daquilo, revelando a inércia e o não compromisso com a saúde
pública: – usando a máxima do “quanto mais, melhor”.
Deixa aumentar a fila!
E agora, recentemente, inventaram o que eles denominam – Hospital porta fechada. Que coisa louca! Que horror! O que significa?
“Fechar” a porta do maior e único hospital
público de urgências e emergências do Estado. Vamos explicar: em
determinado momento (dos mais cruéis), sem aviso prévio, como em um
passe de mágica, o maior hospital da região “fecha a
sua porta” e passa a escolher os seus pacientes. “Aqui, agora só entra
paciente traumatizado e/ou portador de acidente vascular cerebral”.
Vejam só o vexame daqueles que necessitam e procuram o Hospital. Chegam
ao nosocômio de referência com a certeza do atendimento
e são rejeitados; são orientados a procurar uma Unidade de Pronto
Atendimento (UPA) mais próxima da sua localidade. Muitos desses doentes
já sem nenhuma condição financeira e física de se locomoverem. E mais,
são encaminhados para Unidades de Saúde, onde se
sabe que não funcionam a contento. São precárias em todos os seus
aspectos. Pior ainda para aqueles que vêm do interior do Estado, que são
orientados a voltar para seu lugar de origem. Vejam só que confusão e
que humilhação! É desumano ou não é?
Entendo que Hospital porta fechada caberia
muito bem para situações onde os serviços públicos situados na periferia
da cidade funcionassem de verdade; que existisse no Estado, polos
regionais de Saúde bem estruturados, onde se realizassem
cirurgias de menores portes e riscos, equipados de UTI. Um bom e
eficiente serviço de traumatologia e ortopedia. Enfim, com uma
competente e fixa equipe médica. Aí, sim, poderíamos muito bem escolher
os doentes por tipo de doença e gravidade. Caso contrário,
vamos continuar aumentando as nossas intermináveis, sofredoras e cruéis
filas de doentes esperando os novos e mais novos mutirões da vida.
Piorou muito para a população pobre, a massa maior do nosso país.
Abram as portas dos hospitais públicos!
Berilo de Castro –
Médico e Escritor –
berilodecastro@hotmail.com.br
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