HERIVELTO MARTINS, UMA HISTÓRIA – Berilo de Castro
HERIVELTO MARTINS, UMA HISTÓRIA –
Aqueles que curtiram e que ainda curtem a
boa música romântica, com uma letra sofrível de história de amor,
dramas e conflitos a dois, jamais irão esquecer do nome de Herivelto
Martins (1912-1992), compositor, ator e cantor, estrela de primeira
grandeza da Música Popular Brasileira.
Herivelto de Oliveira Martins (Herivelto
Martins), nasceu em Rodeio/RJ, em 30 de janeiro de 1912. Filho de Félix
Buenos Martins, agente ferroviário, excelente músico e arranjador
teatral e Cartola de Oliveira Martins, costureira e doceira. Da união
tiveram quatro filhos: Herivelto, Hedelacy, Hedenir e Holdira.
Herdara do pai a vocação artística, e já
com três anos de idade fazia parte como ator nas peças que seu pai
organizava e apresentava.
Em 1916, a família mudou-se para Barra
de Piraí, onde seu pai criou a Sociedade Dramática Dançante Carnavalesca
Florescente de Barra de Piraí, local que organizava bailes, criava e
dirigia espetáculos teatrais, já com a participação do filho menor,
Herivelto.
Aos 9 anos de idade, o menino músico
compôs a paródia “Quero uma mulher bem nua” e o samba “Nunca mais”, que
não chegou a ser gravado.
Com treze anos, conheceu Zeca Lima e
Colosso, artistas circenses, com os quais formou um trio, que passou a
se apresentar com sucesso pelo interior do estado do Rio de Janeiro. Um
fato inusitado aconteceu, em uma de suas apresentações, quando os seus
parceiros foram presos pela polícia ( por dívida com a justiça).
Com a promoção funcional de seu Félix, a
família foi morar no bairro do Brás/São Paulo, mais precisamente na rua
Salão Lobato, onde Herivelto foi trabalhar em um botequim, passando a
ser conhecido por Carioca.
Aos dezoito anos, deixou a convivência
com os pais e foi morar na cidade do Rio de Janeiro, onde passou ocupar
múltiplas funções: palhaço de circo, vendedor, caixa de botequim,
ajudante de contabilidade e, aos sábados, ajudando o irmão Hedelacy,
como aprendiz de barbeiro.
Criou gosto para o novo ofício, e logo
recebeu um convite para trabalhar em uma barbearia no Morro do São
Carlos, onde conheceu o compositor José Luiz da Costa (o Príncipe
Pretinho), e o seu futuro parceiro J.B. de Carvalho, do Conjunto Tupy,
amigo do dono da gravadora RCA Victor.
Compôs a canção “Da cor do meu violão”,
que foi apresentada a J.B de Carvalho, que a gravou no ano de 1932,
pela RCA Victor. Nascia aí o compositor Herivelto Martins.
Em 1932, Herivelto, juntamente com
Francisco Sena, que conhecera no Conjunto Tupy, começa a ensaiar algumas
canções, entre elas a música “Preto e Branco”. A dupla recebeu convite
de Vicente Mazulo para fazer uma apresentação no Cine/Teatro Odeon,
quando foi muito elogiada e, de imediato, contratada, passando a ser
chamada “Dupla Preto e Branco”, nomenada por Vicente Mazulo.
O primeiro disco da dupla foi gravado em
1934 pela Odeon, composto pelos sambas: “Quatro Horas” e “Preto e
Branco”; vindo depois a gravar “A vida é Boa”, “Vamos soltar balão” e
“Como é belo”.
Em 1935, morre Francisco Sena. Herivelto
passa a atuar sozinho, voltando a trabalhar como palhaço e caipira com o
nome de Zé Catinga. Um ano depois, é apresentado ao cantor e compositor
Nilo Chagas, com quem forma novamente a Dupla Preto e Branco, gravando
quatro discos.
Em 1937, a dupla gravou com a cantora
Dalva de Oliveira (1917-1972) “Batuque de Itaquari” e a marcha “Cecí e
Peri”, de autoria de Príncipe Pretinho, com sucesso. No seu programa na
Rádio Mayrink Veiga, o apresentador César Ladeira (1910-1969) mostrou
pela primeira vez o Trio: Herivelto, Nilo Chagas e Dalva de Oliveira, o
qual batizou de Trio de Ouro.
A vida de Herivelto foi recheada de
casamentos. Em 1930, conheceu Maria Aparecida Pereira de Mello, sua
primeira esposa, com quem teve 2 filhos: Hélcio e Hélio. A união durou
cinco anos.
Em 1937, oficializou o seu segundo
casamento com a sua companheira de Trio, Dalva de Oliveira, em um ritual
de umbanda. Tiveram 2 filhos, Pery Ribeiro (cantor) e Ubiratan de
Oliveira Martins (produtor de TV). Dez anos depois (1947), veio uma nova
separação, depois de muitas brigas, traições e ciúmes. Momento que teve
início a uma das maiores batalhas polêmicas musicais, com participação,
por um lado, de Herivelto e David Nasser (1917-1980), seu grande
parceiro; jornalista brilhante, compositor polêmico e de carácter
duvidoso; do outro lado, famosos compositores amigos de Dalva, entre
eles Ataulfo Alves.
Três anos depois (1950), o Trio recebe uma nova formação, com a participação da cantora Noemi Cavalcanti.
Em 1952, Herivelto casa pela terceira
vez com a aeromoça Lurdes Nura Torelli, prima do Barão de Itararé; a
união perdurou até o ano de 1990, quando do falecimento de Lurdes. No
mesmo ano (1952), o Trio recebeu uma nova formação com a entrada da
cantora Lourdinha Bittencourt (esposa do cantor Nelson Gonçalves),
permanecendo juntos e unidos por 27 anos (1952-1979). O conjunto
musical recebeu ainda sua quarta e última formação com a chegada de
Raul Sampaio e Shirley Dom, na década de de 1980.
No ano de 1992, aos 80 anos, no dia 16
de setembro, na cidade do Rio de Janeiro, faleceu vítima de uma embolia
pulmonar, deixando uma vasta e rica discografia, com quase setecentas
canções, como: “A Lapa”, “Caminhemos”, “Atiraste uma Pedra”, “Ave Maria
no Morro”, “A Bahia te espera”, o clássico e imortal tango” Carlos
Gardel”, “Camisola do dia”, “Nega Manhosa”, “Pensando em ti”, “Praça
Onze” e muitos e muitos outros belos e inesquecíveis sucessos, que ainda
são bem audíveis pelos amantes da boa música brasileira.
Berilo de Castro – Médico e Escritor – berilodecastro@hotmail.com.br