26/09/2018



ALFREDO MESQUITA EM TRÊS TEMPOS

Valério Mesquita*
mesquita.valerio@gmail.com

Uma vida pública exercida ao longo de mais de quarenta anos é impossível de ser memorizada de uma ou duas vezes. Quase sempre fatos isolados ou esquecidos emergem e são lembrados, aqui e acolá, por mentes privilegiadas que ajudam a moldar o perfil de quem já se foi, mas que deixou inesquecíveis lições de vida. Assim foi Alfredo Mesquita Filho, ex-prefeito de Macaíba (três vezes) e ex-deputado estadual, também por três legislaturas.
Um traço predominante de sua personalidade era o desprendimento, o despojamento de bens materiais ou vantagens que lhes fossem, porventura, oferecidos. Esse legado grandiloquente de sua vida tive poucas chances de narrá-lo em várias notas biográficas que produzi, principalmente por ocasião do seu centenário de nascimento.
01) Integrava uma prole de seis irmãos herdeiros de um rico patrimônio em fazendas, rebanhos, lojas de tecidos e dinheiro quando sobreveio a morte do seu pai. Como não poderia deixar de ser, ocorreram inúmeras discussões e disputas entre os irmãos pelo espólio. Ao receber o seu quinhão percebeu que dois dos seus irmãos litigavam pessoalmente e na justiça, insatisfeitos pelo que lhes coubera. Numa atitude inusitada, ofereceu “de mão beijada” a sua parte na Loja Natal Modelo aos dois contendores e com isso sepultou a dissensão dos manos José e Vicente Mesquita.
02) De outra feita, lá pelo final dos anos quarenta, testemunhou a firma Santos e Cia Ltda, pertencente ao seu grande amigo José dos Santos, atravessar seríssimas dificuldades de crédito, além de outros problemas que inviabilizavam a organização. Desfrutando de excepcional prestígio político e pessoal nos governos pessedistas de José Varela, no Rio Grande do Norte, e de Eurico Gaspar Dutra, presidente, através de Georgino Avelino e João Câmara, conseguiu no Rio de Janeiro, capital da República, a recuperação econômica da empresa, tornando-se credor da gratidão e do profundo reconhecimento da família Santos. Seu José, português, homem honrado e líder do grupo, convidou Mesquita para ser sócio da firma. “Não posso ser sócio se não tenho capital nem ações para tal objetivo”, foi a sua resposta. “O que você fez é bem mais do que todos esses papéis”, retrucou o velho José dos Santos. “Mas não posso aceitar”, concluiu Alfredo Mesquita e encerrou o assunto. Geraldo Ramos dos Santos e José dos Santos Filho conheceram o episódio.
03) No plano político, menores não foram os exemplos do seu desapego às ofertas ou benesses que pudessem lhe trazer vantagens ou significar se curvar aos poderosos. Lembro-me que no governo de Aluízio Alves, em 1965, recebeu uma missão chefiada pelo economista Roosevelt Garcia com o fito de oferecer-me um cargo de fiscal de rendas, em troca do abrandamento de sua atuação política no município para beneficiar a candidatura do monsenhor Walfredo Gurgel. A resposta só não foi truculenta em respeito ao emissário, que era um dos seus sobrinhos prediletos. E assim perdi a missão de arrecadar tributos. Ainda na política, acode-me a história do discurso explosivo de Carvalho Neto na praça pública de Macaíba, em 1966, contra Francisco Seráfico e Mônica, adversários de Mesquita no plano municipal. Logo se formou um grupo hostil para agredir fisicamente o inflamado orador. Ao tomar conhecimento, Alfredo Mesquita deslocou-se até o comício e ao lado de amigos formou uma muralha de defesa em torno de Carvalho Neto e foi deixá-lo em Natal, seguido por um comboio de automóveis. São e salvo.

(*) Escritor


   
Marcelo Alves

 


Estórias venenosas

Em “Imitando a arte”, nosso artigo da semana passada, tratei do curioso e ao mesmo tempo trágico cometimento de crimes verdadeiros alegadamente sob inspiração dos romances da minha amiga Agatha Christie (1890-1976). Infelizmente, aquilo que nos faz tão bem – a companhia e a genialidade da Rainha do Crime –, também pode ser usado para o mal. 

Como visto, a tônica nesses crimes – supostamente praticados sob inspiração da obra de Christie – é o uso de venenos. E, como também dito, um romance em especial, “The Pale Horse” (“O cavalo amarelo”, 1961), parece haver instigado a imaginação desses assassinos reais. Em “The Pale Horse”, assassinos profissionais, forjando pretensas cerimônias de magia negra, fazem uso de uma droga incolor e inodora, difícil de detectar, cujos sintomas decorrentes do seu uso são facilmente confundidos com os de outras enfermidades: o tálio. 

Mas o uso de veneno na ficção de Agatha Christie não se restringe a “The Pale Horse”. Contam-se mais de 80 personagens que morreram envenenadas em seus livros. E suas descrições sobre o uso e os efeitos de toxinas, cujo conhecimento foi adquirido durante a 1ª Guerra Mundial, são universalmente consideradas como acuradas e engenhosas, emprestando ainda mais qualidade aos seus surpreendentes enredos. Eu mesmo posso recomendar uma meia dúzia dessas “estórias venenosas”. Diversão certa. 

Começo logo pelo excelente “The Mysterious Affair at Styles” (“O misterioso caso de Styles”, 1920), o primeiro romance da Rainha do Crime. É aqui que nos são apresentados o inconfundível Hercule Poirot (o detetive belga imaginado por Christie), o seu companheiro de aventuras Capitão Hastings (que narra a estória) e, ainda, o laborioso Inspetor Japp, da Scotland Yard. A coisa se passa numa isolada casa de campo, a mansão Styles. A casa está cheia de hóspedes. A rica proprietária da casa, no que parece ser um ataque cardíaco misturado com convulsões, morre. Todos na casa tinham algum interesse no passamento da falecida. Surge a suspeita de envenenamento. A droga usada é a fatal estricnina. 

Outro título que não fica atrás em qualidade – e no qual também se faz uso homicida de uma droga – é “Lord Edgware Dies” (“A morte de Lorde Edgware” ou “Treze à mesa”, 1933). Aliás, não é raro ser este considerado um dos melhores romances – e quicá o melhor – escritos pela minha amiga Agatha Christie. Também protagonizado pelo pitoresco Hercule Poirot, ao lado de seu escudeiro Capitão Hastings e do Inspetor Japp, a trama inicia-se com o assassinato, com uma facada [o que me evoca os tempos bisonhos que vivemos], do Lorde Edgware. A esposa, Jane Wilkinson, que o havia ameaçado de morte ante a recusa de um divórcio, é a primeira suspeita. Mas ela tem um álibi numa festa com treze convidados. E, para encobrir o primeiro crime, outro é praticado. Desta feita, usa-se um antigo e conhecido barbitúrico, o veronal. 

Em “Sparkling Cyanide” (“Um brinde de cianureto”, 1944) o título já diz tudo. Na sua festa de aniversário, a belíssima e infiel Rosemary Barton aparentemente comete suicídio. Mas a coisa não é tão simples assim. É o que dizem as cartas anônimas recebidas pelo marido. Uma reconstituição da morte é empreendida, pois todos os convidados têm motivos e coisas a esconder. O Coronel Race, outro dos personagens da Rainha do Crime, é o convidado para desvendar essa trama cheia de cianureto. 

Cicuta foi o veneno tomado por Sócrates (469-399 a.C.) para se autoexecutar na raivosa Grécia de então. Essa mesma droga causa a morte do pintor Amyas Crale em “Five Little Pigs” (Os cinco porquinhos”, 1942). Caroline, sua esposa, foi condenada pelo crime. Morreu na prisão. Criança à época do trágico evento, a filha Carla Lemarchant, dezesseis anos depois, prestes a se casar, decide provar a inocência da mãe. A pedido da jovem, entra em cena o inolvidável Hercule Poirot, que sai à caça dos cinco porquinhos (digo, suspeitos) da trama. Quase à unanimidade, “Five Little Pigs” é considerado o melhor romance de “murder in retrospect” (aliás, título desta estória, quando de sua primeira publicação) da Rainha do Crime. 

“Dumb Witness” (“Poirot perde uma cliente”, 1937) é mais um caso para a dupla Hercule Poirot e Capitão Hastings. A senhorita Emily Arundell sofre um estranho e grave acidente em casa. Desconfiada dos parentes, ávidos por sua herança, ela escreve ao amigo Poirot. Mas quando a carta chega ao detetive, ela já está morta. Poirot e Hastings vão a Littlegreen House para esclarecer o acontecido. Do crime, a principal testemunha é Bob, o cãozinho da finada. Assim como o meu Capote (esse é o nome do meu cão), ele não pode dizer nada. De toda sorte, esse melhor amigo do homem tem um papel destacado nessa trama cuja toxina assassina é o fósforo. 

Por fim, nesta minha lista, tem um romance em que é utilizado aquele que talvez seja o mais famoso dos venenos: o arsênico. Em “After the Funeral” (“Depois do funeral”, 1953), os parentes acham-se presentes às exéquias do rico industrial Richard Abernethie. A irmã Cora, para o desconforto dos demais, insinua que o de cujus foi assassinado. No dia seguinte, com machadadas, a impertinente Cora é assassinada. Para desvendar todo o sucedido: chama o Poirot. 

Bom, eu podia citar inúmeros outros títulos. De toda sorte, quando eu falo que recomendo esses romances aí, quero dizer a leitura, tão somente. Nada dessas sandices de ficar bulindo com venenos. Assim como Agatha Christie, que fazia apenas ficção, eu tento somente misturar direito com literatura. Embora com bem menos estilo que minha amiga. 

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP
Papai,
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1932, Francisco escreve de Minas ao pai, pedindo notícias dos seus, o pai morreria em 1937 e ele nunca mais voltaria...




Há muitos meses que não tenho notícias diretas suas, apenas o Paulo, ultimamente, me tem escrito, falando-me a seu respeito. Não sei se V.Mcê recebeu uns livros que mandei escritos por mim quando estava no Rio. Tenho muito que contar e estou agora em Alto do Rio Doce, que fica perto de Piranga, em que eu estava, porém, tem melhor clima e o povo goza de muita saúde.

É impossível melhor clima do que este. V.Mcê deve ter conhecido a Serra do Martins. Pois nem o frio de lá no inverno se compara com o calor de cá. Daqui a pouco o termômetro baixará para dez até agosto ou setembro. Quando me lembro que o povo ai morre de sede pelas estradas enquanto a água aqui cascateia por todos os lados das montanhas mineiras movendo engenhos de cana, moinhos de triturar milho e usinas de luz e força elétrica, tenho a impressão que Deus esqueceu do Nordeste.

Como vai V.Mcê? Todos ai vão bem? Onde estão os meninos que Silvino e Segunda deixaram? O Manuel já casou? Paulo comunicou-me do noivado dele ficando eu satisfeito porque a moça é nossa prima do Recife, em 1925, era a mais bonita da capital.

Não sei se algum dia voltarei ai. Dalila está sofrendo de uma aneurisma no coração, proibida de qualquer viagem por terra ou por mar. Além disso, os meus interesses aqui não me deixariam ir a não ser a passeio. Já deixei a promotoria e estou advogando, por dar mais rendimento.

Espero em Deus que a minha sorte se forme de uma vez e que eu possa algum dia ser útil ao nosso país e àqueles que precisam de mim. Recomende-me a Iaiá e aos de casa. Abençoe-nos a todos, Francisco, Alto do Rio Doce, 4-5-1932.


Para ler esse e outros escritos acesse www.gustavosobral.com.br

21/09/2018

















PRESENÇA ACADÊMICA

Cadeira 2 Humberto Hermenegildo
Cadeira 5 Manoel Onofre Jr.
Cadeira 13 Eulália Barros
Cadeira 15 Lívio Oliveira
Cadeira 17 Ivan Maciel
Cadeira 24 Sônia Faustino 
Cadeira 26  Diogenes da  Cunha Lima
Cadeira 27 Vicente Serejo (palestrante) 
Cadeira 31 Leide Câmara
Cadeira 33 Carlos Gomes




Fotos Leide Câmara e Lívio Oliveira

H O J E


No dia da árvore, hoje, 21 de setembro, um passeio pela Mata Atlântica nesta série sobre algumas espécies do Parque das Dunas


Erva de Passarinho



Texto e ilustração Gustavo Sobral

Seu nome científico tem ritmo e rima: Struthanthus flexicaulis. Ganha outros nomes populares, mas não é xingamento não, embora seja de morte. Da classe parasita, ela se hospeda nas árvores, onde for cômodo, se aloja e exige da anfitriã tudo que pode, sugando-lhe a seiva bruta para sobreviver.

Se fortalece e cresce até não mais poder, forma na hospedeira uma cabeleira power inconfundível, viçosa, e vai se enroscando toda, deixando a dona da casa, sem brilho, desfolhada, seca. Por isso, é combatida pelo homem como uma praga.

Bem nutrida, serve no preparo de chás fortificantes que se usam para combater doenças. Quem quiser ver a caracterização botânica, leia esta aqui: planta subarbustiva, caule muito ramificado, flexuoso e cilíndrico, com três a quatro milímetros de diâmetro; a folha tem de cinco a dez e a florzinha cinco na cor branco-esverdeada, já o fruto, anota-se assim: de cinco a seis milímetros de diâmetro, onde ainda cabe uma semente envolvida por uma massa viscosa.

Erva de passarinho, porque são eles que espalham as sementes dela por ai. São eles os agentes de povoamento.

[Leia mais aqui sobre o Jatobá]