ALFREDO MESQUITA EM TRÊS TEMPOS
Valério Mesquita*
mesquita.valerio@gmail.com
Uma vida pública
exercida ao longo de mais de quarenta anos é impossível de ser memorizada de
uma ou duas vezes. Quase sempre fatos isolados ou esquecidos emergem e são
lembrados, aqui e acolá, por mentes privilegiadas que ajudam a moldar o perfil
de quem já se foi, mas que deixou inesquecíveis lições de vida. Assim foi
Alfredo Mesquita Filho, ex-prefeito de Macaíba (três vezes) e ex-deputado
estadual, também por três legislaturas.
Um traço
predominante de sua personalidade era o desprendimento, o despojamento de bens
materiais ou vantagens que lhes fossem, porventura, oferecidos. Esse legado
grandiloquente de sua vida tive poucas chances de narrá-lo em várias notas
biográficas que produzi, principalmente por ocasião do seu centenário de
nascimento.
01) Integrava
uma prole de seis irmãos herdeiros de um rico patrimônio em fazendas, rebanhos,
lojas de tecidos e dinheiro quando sobreveio a morte do seu pai. Como não
poderia deixar de ser, ocorreram inúmeras discussões e disputas entre os irmãos
pelo espólio. Ao receber o seu quinhão percebeu que dois dos seus irmãos
litigavam pessoalmente e na justiça, insatisfeitos pelo que lhes coubera. Numa
atitude inusitada, ofereceu “de mão beijada” a sua parte na Loja Natal Modelo
aos dois contendores e com isso sepultou a dissensão dos manos José e Vicente
Mesquita.
02) De outra
feita, lá pelo final dos anos quarenta, testemunhou a firma Santos e Cia Ltda,
pertencente ao seu grande amigo José dos Santos, atravessar seríssimas
dificuldades de crédito, além de outros problemas que inviabilizavam a
organização. Desfrutando de excepcional prestígio político e pessoal nos
governos pessedistas de José Varela, no Rio Grande do Norte, e de Eurico Gaspar
Dutra, presidente, através de Georgino Avelino e João Câmara, conseguiu no Rio de
Janeiro, capital da República, a recuperação econômica da empresa, tornando-se
credor da gratidão e do profundo reconhecimento da família Santos. Seu José,
português, homem honrado e líder do grupo, convidou Mesquita para ser sócio da
firma. “Não posso ser sócio se não tenho capital nem ações para tal objetivo”,
foi a sua resposta. “O que você fez é bem mais do que todos esses papéis”,
retrucou o velho José dos Santos. “Mas não posso aceitar”, concluiu Alfredo
Mesquita e encerrou o assunto. Geraldo Ramos dos Santos e José dos Santos Filho
conheceram o episódio.
03) No plano
político, menores não foram os exemplos do seu desapego às ofertas ou benesses
que pudessem lhe trazer vantagens ou significar se curvar aos poderosos.
Lembro-me que no governo de Aluízio Alves, em 1965, recebeu uma missão chefiada
pelo economista Roosevelt Garcia com o fito de oferecer-me um cargo de fiscal
de rendas, em troca do abrandamento de sua atuação política no município para
beneficiar a candidatura do monsenhor Walfredo Gurgel. A resposta só não foi
truculenta em respeito ao emissário, que era um dos seus sobrinhos prediletos.
E assim perdi a missão de arrecadar tributos. Ainda na política, acode-me a
história do discurso explosivo de Carvalho Neto na praça pública de Macaíba, em
1966, contra Francisco Seráfico e Mônica, adversários de Mesquita no plano
municipal. Logo se formou um grupo hostil para agredir fisicamente o inflamado
orador. Ao tomar conhecimento, Alfredo Mesquita deslocou-se até o comício e ao
lado de amigos formou uma muralha de defesa em torno de Carvalho Neto e foi
deixá-lo em Natal, seguido por um comboio de automóveis. São e salvo.
(*) Escritor