13/09/2018
USO E ABUSO DE DISFARCES
Valério Mesquita*
O Brasil é um país
saturado de feriados e pontos facultativos. O desperdício do tempo útil, em vez
de ser um sinal de reverência a santos ou eventos cívicos, corresponde a uma
insuficiência de conteúdos pragmáticos. Isto, pela inexpressividade de alguns
costumes e mediocridade cultural de pífios acontecimentos. Existem até guias
práticos de feriados. Verdadeiros suplementos de superficialidades, onde a
caótica natureza humana prefere a profissionalização do não produzir e o
consumo de buscar a felicidade química do divertir-se a toque de caixa,
burlando o erário. Num país de fronteiras quebradas pela violência que cresce
mais do que a educação; com a justiça lenta e tardinheira; com a vida pública
desacreditada e incoerente, pergunto: em que superfície social o espelho
medonho dessa realidade de pontos facultativos, ausências, abandonos,
dispersões, vai reaver e refletir o tempo perdido?
Sempre triunfa o esforço
concatenado entre os poderes públicos para se desvencilharem de normas e
padrões que imprimem seriedade. O Congresso Nacional e assembleias legislativas
somente funcionam três dias por semana. Um feriado, quando cai num sábado ou domingo,
muda-se a vigência para o dia útil. Se o feriado é santificado, como preconiza
a Igreja Católica, oitenta por cento dos seguidores vão às praias ou viajam.
Mas, somente na hora da dor ou da provação pegam no terço. Quando o feriado é
cívico, muita gente passa diante do monumento da “vítima” só para vaiar. Aí
depreende-se que vivemos num mundo aleatório, fútil, instável e irresponsável.
Instala-se o império burocrático do vazio, da sufocação. O ponto facultativo é
pior do que o feriado porque estimula a vadiagem oficial. Feriado não é
doutrina nem dogma de fé. E o ponto facultativo é má fé com a coisa pública e
com a produtividade da economia.
Enquanto isso, no
primeiro mundo, países capitalistas democráticos da Europa, da América do Norte
e nos mulçumanos da Ásia, além das nações da África e Oceania não vigoram tais
licenciosidades. Já imagino um deputado federal propondo projeto de lei para
tornar o resto do calendário de 2018 ponto facultativo, por ser imprensado
entre dois turnos eleitorais.
O meu espanto é com
relação unicamente ao abuso. Lembro-me que há quase quarenta e cinco anos
passados, o governo militar suprimiu, com acerto, os feriados juninos dos
santos Antônio, João e Pedro, além do próprio dia de Todos os Santos (primeiro
de novembro), apesar de, paradoxalmente, a liturgia cristã salmodiar: “Só vós
sois Santo, só vós o Senhor, só vós o Altíssimo Jesus Cristo!”. Os outros são,
apenas, santificados, padrinhos, padroeiros que devem ser reverenciados sem
precisar interromper, com tanta frequência, o processo econômico, financeiro,
administrativo e judiciário do Brasil.
Nada
mais deprimente para a nação o fato de não optar pela ordem, pelo equilíbrio e
funcionalidade e optar pelo esbanjamento do tempo. O edifício e o aprimoramento
da pátria não podem ser construídos através da desfaçatez, da preguiça ou do
comodismo. Não pense o leitor que estou oferecendo lições de vida ou de
cidadania. Os pedagogos plantonistas estão aí para o ensino dessas matérias.
Quero, apenas, protestar ante a parafernália de feriados no calendário de 365
dias no nosso Estado e capital. É preciso rasgar essa fantasia que já virou
luxúria. Sair da alegoria do oba-oba para fazer da concretude do trabalho um
instrumento de elevação e da pedra facejada um espírito verdadeiro de
brasilidade. O sentido é despertar os acomodados contra a superficialidade
compulsiva da multidão desregrada de feriados e pontos facultativos. Dia seis
de janeiro é um feriado municipal despropositado porque os Reis Magos estão
inseridos no contexto das festas natalinas. O ponto facultativo desse dia é
pura fanfarronice de Baltazar, Belchior e Gaspar que chegaram atrasados para
anunciar o Senhor.
(*) Escritor
11/09/2018
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POSSE NO IHGRN
Instituto Histórico e Geográfico do RN <ihgrn.diretoria@uol.com.br>
Caro confrade,
Amanhã, dia 12/09, quarta-feira, com início previsto para as 9 horas, no salão nobre do nosso IHGRN, haverá a posse de 7 (sete) sócios Efetivos (Humberto Hermenegildo de Araújo, João Correia Saraiva Júnior, Jorge Eduardo Lins Oliveira, Lúcio Teixeira dos Santos, Maria Vilmaci Viana dos Santos, Marlúcia Menezes de Paiva e Raimundo Muniz de Oliveira), 8 (oito) sócios, alçados de efetivos à honorários (Iaperi Soares de Araújo, Jeanne Fonseca Leite Nesi, João Maurício F de Miranda, João Medeiros Filho (Pe), Lenine Barros Pinto, Luiz Gonzaga Meira Bezerra (Honoris Causa), Manoel de Medeiros Brito e Marlene da Silva Mariz) e 5 (cinco) sócios mantenedores (Francisco Marcos de Araujo, José Wellington Barreto, Ludmilla Carvalho Serafim de Oliveira, Welma Maria Ferreira de Menezes e Jerônimo Dix-Sept Rosado Maia Sobrinho).
Convocamos toda a diretoria para estar presente à cerimônia de posse que, mesmo não sendo festiva, tem a formalidade que o evento requer e, nesse sentido, os diretores deverão recepcionar os novos sócios.
Nós, os diretores devemos usar a Capa Acadêmica no evento.
Ormuz Barbalho Simonetti
Presidente
UM BELO ESPETÁCULO
A Casa de Badia
Por Gustavo Sobral
Estive na Casa de Badia. Como em um conto das 1001 noites, a milésima
segunda estaria para ser contada: a história de Badia Massabni e de
suas dançarinas, e nos palcos. Duas sessões, casa lotada, o Teatro de
Cultura Popular em palmas ao ritmo da música Árabe, em uma viagem ao
Oriente perdido, à origem da dança do ventre e a biografia de Badia.
Badia Massabni reinventou a dança na sua movimentada casa de
espetáculos no Cairo, Egito. Nascida na Síria, sua vida foi uma
conturbada aventura em que a dança não foi apenas um negócio, mas a
razão de sua vida. Inventiva, ousada, mostrou que a dança é o caminho da
liberdade, da beleza dos movimentos, sonho e encantamento.
O show vai começar
Um cenário de Casablanca, três homens, uma mesa, o ambiente festivo
da casa e todo o poder transformador da dança. O palco vibrava. A
plateia, aplaudia. Alvoroço nos camarins, é que por trás dos palcos, há
uma outra cena. Cada entrada, uma surpresa, figurino impecável, passos
perfeitos, sorrisos, a luz do teatro. Coragem!, tudo vai dar certo, é o
que se sussurra nas coxias. Teatro é solidariedade.
Produção e apoio são vitais, não há espetáculo sem a soma de suas
partes: roteiro, direção, coreografia, figurino, cenografia, som,
música, luz, bilheteria, fotografia, e tudo pode acontecer: um grampo
que se precisa, um botão que cai. Na plateia, o público sonha, longe no
tempo. No escurinho do teatro, sai de si, viaja no encanto e na beleza.
Tudo é mágico e quando se vê já são os aplausos, os agradecimentos, os
abraços e as flores. Tudo saiu perfeito. Sonho de mil e uma noites.
Dança é celebração.
Créditos
Agradeço a Cia Nawar pelo convite para participar do espetáculo, ser
figurante foi um presente, experiência indescritível, obrigado!,
parabenizo a todas as bailarinas no nome de Lígia Moura e recomendo a
leitura da entrevista com a diretora e bailarina da companhia, Joelma
Azevedo que você pode ler aqui.
Para ler esse e outros escritos acesse www.gustavosobral.com.br
09/09/2018
COQUEIRO, O TREINADOR – Berilo de Castro
COQUEIRO, O TREINADOR –
Em épocas passadas, o nosso futebol contava com times que, apesar de simples, pequenos, até hoje são lembrados com muita saudade e boas recordações. Um deles é o Clube Atlético Potiguar (CAP), rubro negro, uma homenagem às belas cores da agremiação náutica — o Sport.
O Clube pertencia ao admirado e inesquecível João Cláudio de Vasconcelos Machado ( João Machado, 1914—1976).
Dos seus muitos treinadores, um ficou e marcou história no time de João: a figura folclórica do ex-jogador da equipe do Riachuelo Atlético Clube (RAC), de codinome Coqueiro, ex-marinheiro, tatuado e cheio de gírias (raridade na época).
Marcou época na cidade quando o seu time ficou conhecido como o “Moleque Travesso”, devido aos bons resultados obtidos contra os grandes e poderosos esquadrões do campeonato da cidade.
Não era um grande estrategista de futebol, porém, usava muito da sua “psicologia de ex-marinheiro” e, um exímio retranqueiro.
De muitas de suas tiradas, lembro bem de duas: a presença sempre frequente de uma pequena bolsa preta debaixo do braço. Dizia ele que era para guardar “o mio” — alimento essencial para alimentar os meninos antes do jogo; como dava resultado, haja correria! A segunda era quando tinha de substituir, por contusão, um dos seus bons atletas por um meia boca: olhava com desdém para o banco de reserva e fixava o olhar no jogador suplente e dizia: vai tu, só tem tu mesmo!
Grande Coqueiro!
Berilo de Castro – Médico e Escritor – berilodecastro@hotmail.com.br
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
08/09/2018
O PIANISTA IMORTAL
ORIANO: ÚLTIMA ESTROFE
Valério Mesquita*
Direi pouco sobre Oriano de Almeida. Outros falarão melhor
porque conviveram de perto com o seu talento e a sua vida. Cláudio Galvão, Diógenes
da Cunha Lima, por exemplo, Maria Luiza Dantas, Sanderson Negreiros, Enélio
Lima Petrovich (que inaugurou o Memorial Oriano Almeida no anexo do IHGRN em
2001), já dissertaram, com brilho e propriedade. Resolvi pronunciar-me porque
gosto de pontuar atitudes e assumir gestos quando vejo algo que me desagrada.
Fui à Academia de Letras me despedir do seu corpo, na sua tarde derradeira e
melancólica. Não apenas movido pelo dever de colega acadêmico ou por
solidariedade cristã, mas porque efetivamente ele foi um compositor e
intérprete maravilhoso para a honra e orgulho do Rio Grande do Norte, cujo povo
não “está nem aí”. No recinto, durante os discursos de despedida, pouquíssimos
presentes.
Aí começou a
nascer em mim a necessidade de protestar, de me indignar, de não me calar.
Comentei com Genibaldo Barros, Armando Negreiros e o saudoso Ernani Rosado que
ali estavam: é o menor público da vida de Oriano, quando deveria ser o maior.
Ele que havia conquistado as platéias milionárias, exigentes e refinadas do
mundo inteiro não conseguia reunir para o último adeus a intelectualidade de
sua terra. Quanta ironia, quanto paradoxo a vida nos ensina. O maior intérprete
do mundo da obra de Chopin, que encantou os palcos da arte musical, gênio da
música, compositor, foi ocupante da cadeira nº 13 que pertenceu a Câmara
Cascudo, estava ali totalmente esquecido. Havia atingido a “verdadeira
imortalidade”. Já escrevi que Natal sofre de ataraxia, indiferença. É pobre de
sentimentos.
Chegou um momento,
no velório, que Diógenes preocupou-se com os circunstantes para conduzir o
esquife do salão ao veículo funerário. A maioria era mulheres entre reduzido
grupo de sexagenários em débito com o teste ergométrico. Afirmo, sem qualquer
preconceito, que talvez tenha faltado a Oriano a passagem por uma banda de
forró.
Resta a esperança
de que o nome, a importância do que fez como musicista, intérprete, compositor
e escritor não desapareça. Não tenho dúvidas de que Oriano Almeida é maior do
que os ausentes. A sua obra tem abrangência nacional e internacional. Simples,
não buscava os refletores da fama. Ela vinha até ele. Nem o elogio fácil.
Já disse que na
vida quando se passa dos 60 ou 70 anos, torna-se estatística. Diferente dos
países mais civilizados. E Oriano se foi com 83. Fica para os pesquisadores,
memorialistas e estudiosos da música e da obra que ele nos legou, a tarefa
permanente de afirmar que Oriano Almeida vive. Na frase, que não é minha e nem
sei de quem, mas que eu gosto de lembrar: “Não se acaba o homem. Constrói-se a
cada dia sua performance”.
(*)
Escritor.
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