21/08/2018
A MULHER DO DELEGADO
Valério Mesquita*
Macaíba é um filão inesgotável de histórias e de tipos inesquecíveis. No
final de semana reencontrei um velho amigo e conterrâneo hoje residente em
Natal. Relembrou-me antigas passagens da vida emocional da cidade. Brindamos a
vidinha de ontem e de hoje falando de coisas, de pessoas, daquela atmosfera
lírica do final dos anos cinquenta para o início dos sessenta, sob testemunho e
juramento do bom vinho do Porto. Só me pediu para que não revelasse o seu nome.
E logo me contou uma do delegado de Macaíba, homem valente e de pavio curto
designado no governo Dinarte Mariz para “resolver as pelejas políticas e as
pendências dos contrários”. Aliás, delegado político naquele tempo era o que
não faltava pelo interior do Rio Grande do Norte. Tratava-se de um tenentão,
alto, olhos azuis, namorador, arbitrário, cuja presença no cabaré inibia até
ereção. Tudo aquilo que representasse jogatina, roleta 36, jogo do bicho,
caipira, etc., era permitido desde que pagasse “dízimo” à delegacia. Mas, o
contraponto da conduta policial era proibir jogo de sinuca para os menores de
dezoito anos. Nós dois estávamos inseridos no contexto proibitório, e, por
várias vezes, batíamos em fuga com a aproximação dos marrons fardados.
Nessa época, Nelson Gonçalves desfilava os últimos sucessos que embalavam
a boemia local nas festas e nos bares. Inclusive, lembra-me o amigo, ele
estivera na cidade cantando no Pax Clube. Mas a nossa história começa no bar de
Jorge Leite da Costa que fora arrendado a uma família chegada a Macaíba, vinda
do interior. Uma garota, filha do locatário, tornou-se a sensação da cidade em
plena rua João Pessoa, coração do comércio. Rosto e pernas bonitas, olhos e
cabelos sensuais, tudo enfim, enfeitiçava a galera jovem que começou a fazer
ponto no tradicional bar de Jorge Walkiria, assim chamado por causa da marca do
seu charuto. Uma garota como Ivânia – esse o seu nome – o delegado tenente logo
iria capturá-la – à guisa de proteção às atividades comerciais da família.
Afinal, eram forasteiros. E, assim aconteceu. “Seu Delega” apaixonou-se,
comentavam as vozes da rua. E logo chegou uma radiola novinha comprada na
Importadora Omar Medeiros, Natal. A musa sentava-se à calçada ouvindo as
canções de Nelson: “a flor do meu bairro, tinha o lirismo da lua...”. O
vestidinho curto mostrava uma nudez parcial para desespero do delegado. A turma
entrava no bar mesmo sem ter o que comprar. Inventava. O fato estava atrapalhando
as missões e investigações do tenente que transferiu o seu expediente funcional
para o bar. Qualquer olhar indecoroso de algum distraído esbarrava na cara do
delegado. “O que foi que viu? Dê o fora!”.
A coisa atingiu um ponto que a delegacia se tornou um problema muito
menor do que a incolumidade física da “flor do nosso bairro”. O ciúme policial
havia chegado às raias do absurdo. Mas, só depois que um conhecido vereador foi
surrado pelo delegado, flagrado com a sua paquera em atitude libidinosa no escurinho
da esquina, é que tudo terminou. O tenente foi transferido, Nelson emudeceu, o
bar fechou e a cidade perdeu a musa que veio de longe. Dia seguinte, a
rapaziada afanosa procurava saber para onde havia partido a princesa. E teve
gente que foi atrás. Aí começa outra história.
(*) Escritor.
20/08/2018
PAUSA PARA A MEDITAÇÃO - NINGUÉM É DE FERRO
Para descansar das labutas diárias do IHGRN, Dona Joventina Simões brindou os colegas com um cozido especial em sua casa. Papo solto, mas também discussão de projetos, pois o cachimbo deixa jeito na boca.
19/08/2018
QUINTA CULTURAL
A QUINTA CULTURAL DO IHGRN - SUCESSO TOTAL.
No último dia 16, o INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE viveu um dos seus grandes momentos de cultura histórica, com a excelente exposição do Arquiteto, artista plástico, escultor em madeira e escritor JOÃO MAURÍCIO, da tradicional família MIRANDA HENRIQUES, que encantou aos que compareceram ao evento, lotando o salão nobre da Instituição.
O tema desenvolvido foi por demais sugestivo: "FELIZ É A CIDADE DE ROMA", justificado pela exibição de fotos dos prédios mais importantes da cidade e que sofreram intervenções inadequadas, ou estão sem conservação, em contraste com a cidade de Roma, que preserva o seu patrimônio arquitetônico e dele faz o uso adequado.
Em seguida, apresentamos flagrantes da ilustrativa palestra:
Em seguida, o Diretor Orador LÍVIO OLIVEIRA faz a apresentação do palestrante, com a leitura de um texto preparado pelo Assessor da Presidência, primo do palestrante, que por motivo de enfermidade súbita não pôde comparecer, assim deduzido:
QUINTA CULTURAL – IHGRN
– NATAL 16/8/2018
APRESENTAÇÃO DO
PALESTRANTE JOÃO MAURÍCIO
JOÃO MAURÍCIO já seria
suficiente para apresentar um profissional consagrado nas plagas potiguares.
Contudo, a obrigação protocolar exige dizer sobre JOÃO MAURÍCIO FERNANDES DE
MIRANDA, por sinal meu primo, é natalense de quase 85 anos, a completar na próxima
semana (dia 24), posto que nascido em 1933.
Veio ao mundo pelas mãos
da parteira Dona Adelaide Cavalcanti, a mesma que muitas vezes foi requisitada
pela família MIRANDA HENRIQUES, gente de sangue quente e fazedor de gente (até
rimou).
Menino irrequieto,
herdou os predicados da competência, dedicação e honestidade dos seus pais
(meus padrinhos) João Virgílio de Miranda e Dona Lili (Olívia Fernandes de
Miranda), e os conserva até os dias presentes, ainda que relutante combatendo
os moinhos de vento trazidos pela modernidade que se espelha em valores
diferentes – oportunismo, ganância e falta de ética.
João Maurício, por
muitos anos, fez parte da geografia sentimental da Avenida Deodoro, 480, que
recentemente começou a ser demolida, apagando o exercício da minha memória
quando por ali sempre passo.
Começou a ser
alfabetizado no tempo da palmatória, quando eu era preparado para nascer,
depois foi fazer parte da linhagem dos meninos do Marista.
Viveu o clima da 2ª
Grande Guerra, praticou remo no Centro Náutico Potengi (eu também o fiz), viveu
a Natal do após guerra, ressurgindo como a era de ouro e em 1950 entrou na vida
(profissional é claro), quando galgou seu primeiro emprego na Prefeitura de
Natal, ganhando a afortunada remuneração de Cr$ 40,00. Foi para o Rio morar (de
avião e não num Ita, como meu irmão Moacyr) e em lá chegando foi recepcionado
em 14 de abril de 1953, exatamente por aquele primo que já se encontrava na
Cidade Maravilhosa.
Hospedou-se, inicialmente, na pensão de Dona Antonieta, na
Rua Conde de Baependi, quase num porão, pois da janela tinha acesso, apenas, às
belas pernas das cariocas. Ali terminou o científico e o preparatório que o
levou à Escola Nacional de Engenharia.
Chegou a se perder no emaranhado da cidade grande e encontrou
o caminho de volta através da polícia, que deixou o pau de arara no Catete ao
vislumbrar o prédio de sua morada.
Por ironia e sorte encontrou dois natalenses – Debussy e
Ebenezer que lhe ofereceram trabalho como marceneiro, onde começou a aprender a
arte do entalhe com a madeira, que lhe fez artista posteriormente, responsável
por miniaturas de embarcações históricas. Seus ganhos passaram para o patamar
de Cr$ 4.000,00, o bastante para pensar em deixar a Prefeitura, de onde estava
licenciado.
Reminiscências de lado, formou-se em 1961, já casado e pai de
Ana Maria e João Luiz. Regressa a Natal a convite de Aluizio Alves e em 1962
nasce João Henrique. Um pouco antes o mesmo acontecera com o primo Moacyr,
convocado por Dinarte Mariz – que eram políticos em colisão, mas que não
influíram na união dos dois e mais Daniel Holanda para aqui fundarem a PLANARQ.
Muito trabalho, muitos projetos, inúmeras realizações, mesmo
com o entrave de 1964. Em 1965 a empresa perde Moacyr que foi cumprir a sua
sina na construção do Castelão, mas continua firme com Daniel. Acontece o seu
ingresso na UFRN, onde fez uma rica trajetória, sendo autor do Marco e da
Capela do Campus e daí em diante, no dizer de Camões: ...Se mais mundo houvera,
lá chegara...
Sua casa e atelier é na Rua Princesa Isabel, 438, nas
cercanias de sua infância, onde pratica sua arte na construção de embarcações,
em desenhos, pinturas, lendo e escrevendo livros, além da sua missão natural de
projetos arquitetônicos, recebendo ali os seus parentes, amigos, clientes, curtindo
sua esposa e seus netinhos.
Aposentadoria? O que? Arquiteto não se aposenta!
E já falei demais e João Maurício deve estar impaciente. “Ora
direis ouvir a palavra do Grande arquiteto”.
É só, obrigado.
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES
Honras ao palestrante
Assistência atenta aos detalhes
João Maurício apresenta o cenário do que será abordado
A velha construção da esquina da Rio Branco com a João Pessoa
Primeiro Plano Diretor
O Machadão (demolido)
A M I G O S
Naquele tempo os brios não comportavam descompostura, e o noivado foi por água abaixo.
Papai Luís! Papai Luís! A cena foi em pleno passeio público, a moça
bateu pé, as meninas entenderam nada e Luís ficou contrariado. Luís
tentou explicar, Belina, Lourdes e Abigail eram suas irmãs. Não eram
suas filhas, e “Papai Luís” um chamamento carinhoso. O senhor não tem
acanhamento não, um homem com um rancho de filhas enganando a filha dos
outros.
Era pretendente nova, orgulhosa, cheia de brios, levada pelos olhos e
elegância de Luís. No dia seguinte, a par da verdade, lá foi ela
desculpar-se pelo chilique, ao que Luís retrucou, não caso com quem
desconfia de mim. Por muito menos Luís desmanchou noivado. A moça era
desleixada, aparecia a alça da combinação!
Falta de elegância total, comentaram as mulheres da casa, onde já se
viu andar toda mal amanhada assim, e Luís tão elegante, caprichoso,
bonito, com uma moça daquelas. Também o povo já falava. Luís tentou
resolver com um presente, duas alças de prata. Ela nem usou e Luís foi
noivar com a sobrinha do padre.
17/08/2018
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16/08/2018
H O J E
O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE viverá na data de hoje, à partir das 18 horas, mais uma palestra dentro do seu Projeto QUINTA CULTURAL, nesta oportunidade com a exposição do renomado Arquiteto JOÃO MAURÍCIO DE MIRANDA, que abordará tema de grande importância para nossa cidade, cujo título sugestivo é "FELIZ É A CIDADE DE ROMA", ocasião em que projetará fotografias históricas de NATAL.
Aguarda-se que o evento deste começo de noite tenha comparecimento dos nossos pesquisadores e interessados nas coistas da nossa Capital.
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