DE TREVO A TREVO, RETROSPECTIVA
Valério Mesquita*
Devagar, como compete aos penitentes, vou
soprando minha flauta aos ouvidos das autoridades. Esse prelúdio indefectível
diz respeito ao Centro Industrial Avançado - CIA. Continuo sendo o fantasma dos
seus mistérios circundantes. Aqui e acolá apareço que nem visagem pedindo e
lembrando. Vamos ao assunto que há quase dez anos eu clamo. Partindo de Natal a
BR-101 vem duplicada e iluminada enrolando a curva no trevo de Parnamirim.
Nessa bifurcação a estrada que segue à direita para Macaíba chama-se BR-304,
também duplicada até Macaíba. Na sua extensão implanta-se paulatinamente o CIA,
obra do governo do estado, no tempo de Garibaldi Filho.
São dez quilômetros do trevo com viaduto, de
Parnamirim, até o modesto trevo de Macaíba. Trata-se de um trecho no qual estão
sendo investidos milhões de dólares representados nos investimentos de mais de trinta
empresas. Somadas, essas indústrias irão oferecer nos próximos anos mais de dez
mil empregos diretos. É o que se imagina. O fluxo, hoje, de veículos, segundo o
DNIT já é preocupante. E irá, com certeza, ficar congestionado quando o CIA atingir
a plenitude do funcionamento, com o tráfego permanente de coletivos e caminhões
pesados. E qual a solução pretendida em prosa, oração e verso: que seja feita a
a sua iluminação de trevo a trevo, de pólo a pólo. Já publiquei tal afirmação
em jornal e televisão, faz tempo.
De há muito, diretores das fábricas
queixavam-se de que, à noite, os ônibus não estavam mais parando para os
operários, aumentando o perigo de todos que trabalham ao longo da via. Mais aí
vem a interrogação irreprimível: a quem compete iluminar a BR-304 nesse trecho?
Para ser pontual respondo: o governo do estado, cuja reivindicação já completou
vinte anos. Nesse tempo eu ainda estava na Assembleia Legislativa. Mas, acima
de tudo, é preciso o impulso, a sensibilidade e a vontade política de alavancar
o projeto e buscar a decisão de executá-lo, igual a Rota do Sol que liga Natal
a Pirangi.
Cheguei depois a pedir, como cidadão e
eleitor, que o DNIT e o DER informassem algo a respeito. Uma obra dessa
importância, com tantos usuários se perguntando a cada dia (o que está
acontecendo?) não pode ficar sem justificativas, até mesmo as óbvias. A BR-304
serve de escoamento de quem vem das regiões do Seridó, do oeste e do Ceará, bem
assim para quem vai ou vem da Paraíba, Pernambuco, além do litoral agreste do
estado. As prefeituras, as câmaras de
Parnamirim e Macaíba, os deputados federais e estaduais que representam os dois
municípios devem se pronunciar, suscitar questionamentos, como também as
associações de classe, setores do comércio e do próprio Centro Industrial.
Calar é consentir com a inércia e o abandono.
Tinha
certeza e confiava que Vilma, Rosalba e o atual governador despertassem para o
problema. Foi tudo em vão.
Não, não estou sendo visionário apesar de
ter falado, no início, em fantasmas. Isso porque, tanto na política quanto na
gestão pública, é preciso acreditar no invisível para não incorrer nos
equívocos dos que se suicidaram no palpável. Sonhar é necessário até mesmo
sozinho porque o sonho é contagiante. Virótico. De trevo a trevo. Uma avenida iluminada
de dez quilômetros, que reivindico há mais de vinte anos. Só agora fui ouvido!
Mesmo assim, parabéns, aleluia!
Agora
relembro o imortal José Américo de Almeida, ao dizer o seguinte: “É minha hora de silêncio mas não me calo.
Sustento a alma que não se rende. Porisso, continuarei a beijar a terra que me
deu a benção da maternidade”. Considerado-me seu “vigia da noite” como
falou Sanderson Negreiros e sem mandato, carrego comigo o sentimento telúrico e
o destino da natividade. Parabéns a todos por terem me escutado. Mãos à obra
com a iluminação da BR e a restauração dos Guarapes, pois neste governo, hum
milhão de reais liberados pelo Ministério do Turismo aqui chegaram através da
Caixa Econômica Federal mas foram devolvidos pelo rancor e politicagem do atual
gest or porque o recurso foi conseguido pelo
seu ex-adversário quando ministro. “O
homem ofende por medo ou por ódio”, Maquiavel.
(*) Escritor