03/04/2018

ENTREVISTA



IHGRN, a biblioteca e a bibliotecária
Entrevista com Cristiane França
A diretoria de Biblioteca, Arquivo e Museu conversou com a bibliotecária Cristina França, formada em biblioteconomia pela UFRN em 2015.2, que tem participado do processo de reestruturação do acervo do IHGRN.  A entrevista foi realizada em março de 2018, no IHGRN, o entrevistador é o diretor Gustavo Sobral.

IHGRN: Em que consiste o trabalho de um bibliotecário em um acervo híbrido como o IHGRN?
Cristiane França: Assim como nos demais centros de informação; recuperar, tratar e disseminar a informação, é o principal objetivo do bibliotecário. A diversidade do acervo agrega um vasto conhecimento, não só técnico, mas também intelectual para o profissional. Se tratando do IHGRN é de suma importância conscientizar a sociedade, pois, a grande maioria ainda crer se tratar de produção local, apenas.

IHGRN: Qual a importância e o papel do bibliotecário na organização, guarda e manutenção do acervo?
Cristiane França: A profissional bibliotecário tem papel fundamental, principalmente, pela crescente massa informacional hodierna, o que ocasiona o desperdício de tempo do usuário na hora da busca. O bibliotecário tem a missão de garantir a qualidade da informação através do conhecimento e técnicas adquiridos na sua formação.

IHGRN: Quais a s principais dificuldades que um bibliotecário encontra nas suas atividades diárias?
Cristiane França: Identificar e selecionar a informação, ter a percepção sobre os usuários reais e potenciais, afim de satisfazer a necessidade informacional de cada um. A extensa demanda de informações ocasionada pelo avanço tecnológico, dificulta esse trabalho, o que exige habilidades e atualização do profissional.

IHGRN: Qual a sua opinião sobre a importância do IHGRN e do seu acervo para o Rio Grande do Norte?
Cristiane França: O IHGRN, representando a memória do estado, proporciona o conhecimento quanto ao seu desenvolvimento, histórico e geográfico, principalmente. Através do seu rico acervo contribuindo junto a sociedade para sua formação intelectual, e valorização a memória.

IHGRN: Lições, desafios, aprendizados, o que representa participar deste processo de organização do acervo do IHGRN?
Cristiane França: É de valor imensurável ser uma colaboradora de tão nobre trabalho, adquirir experiência profissional numa instituição de referência como o IHGRN é de grande privilégio, assim também, como cidadã norte-rio-grandense, conhecendo a fundo a história do estado, e, contribuindo na disseminação aos demais.

29/03/2018

SEMANA SANTA


MAIS UMA SEMANA SANTA
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO
Iniciamos no domingo mais uma celebração da Semana Santa. Já no século IV, Santo Agostinho recomendava aos fiéis de Hipona a vivência do Tríduo Pascal. Talvez aflorem às nossas mentes apenas sentimentos de tristeza, dor, sofrimento, paixão e cruz. Há algo de fundamental: Cristo derrota o pecado e a morte. “Aos vencedores as palmas da vitória”! Eis o sentido dos ramos aclamando o Filho de Deus, como Rei e Senhor da História. Mas, “O meu Reino não é deste mundo” (Jo 18, 36), declarou Cristo. Muitos contemporâneos de Jesus (como alguns cristãos, hoje) não compreenderam os motivos de sua condenação. Cristo atingiu, pela pregação de sua doutrina e pelo testemunho de sua vida, as estruturas da sociedade do seu tempo, representando uma ameaça para os que dominavam e oprimiam o povo. Pelo seu Evangelho, Ele veio instaurar novos tempos (Ap 21, 5). 
“É preciso completar em nossa carne aquilo que faltou à cruz de Cristo” (cfr. 2Cor 4, 10), eis o pensamento do apóstolo Paulo. Deste modo, a Semana Santa não é meramente o memorial ou a comemoração da Paixão do Senhor. É também a celebração de nossas decepções, inquietudes, dificuldades e indignações. Este ano, presenciamos o desrespeito à vida e à pátria, os inócuos embates políticos e julgamentos polêmicos, desprovidos de compromisso com o bem-comum, alguns eivados de partidarismo. Isso dá-nos uma ideia daquilo que vivemos na Semana Santa, ou seja, a nossa cruz. Cristo afirmara: “O discípulo não é maior do que o Mestre” (Mt 10, 24). Deste modo, estamos sujeitos a percorrer o mesmo caminho de Jesus. É nossa paixão e morte. Somos o Corpo Místico de Cristo, por isso atualizamos em nossas vidas o que acontecera, há dois mil anos. 
Mas, não só de tragédias, fracassos, derrotas e tristezas é feita a vida humana. A Ressurreição de Cristo é a vitória sobre a maldade. “Confiança, eu venci o mundo” (Jo 16, 33) Assim, celebramos igualmente no Domingo de Páscoa nosso triunfo sobre o pecado e a morte. Cristo ressuscitou e já não morre mais! Há uma versão corrente de que as ideias de um ser humano não morrem. Cristo é imortal não só pelos seus ensinamentos, sobretudo porque é o Filho de Deus. “Ó morte, onde está o teu aguilhão?” (1Cor 15, 55). 
Nesta Semana Santa sepultemos o egoísmo, a falta de solidariedade, a indiferença, a violência, a injustiça, a insensibilidade, o radicalismo político e ideológico, enfim, nossos pecados. É necessário haver uma Sexta-Feira Santa para cada um de nós, onde crucificaremos tudo o que é negativo, para haver Domingo de Páscoa. Mas, a paixão e a ressurreição não são atos isolados. Eles foram precedidos da Quinta-feira Santa, que é a celebração da unidade e da fraternidade. Haverá Páscoa, se existir comunhão; ressurreição, se o amor se faz presente. 
Não podemos esquecer que a última mensagem de Cristo não foi o silêncio da morte, nem seu último gesto o túmulo lacrado. A Semana Santa é o convite da Igreja a acreditar que nossa cruz é também libertadora e se Ele ressuscitou, também nós haveremos de ressurgir de tudo aquilo que nos deixa prostrados e abatidos. É preciso ter sempre em mente que Deus levanta-nos ao alto de nossas cruzes para que possamos divisar melhor o que Ele nos reserva de belo e grandioso, capaz de nos assegurar paz e alegria. São Paulo já dizia que Deus confunde os fortes e poderosos com a aparente fraqueza humana. Aquilo que aos olhos do mundo parece nossa derrota, será a nossa vitória, pois é a força divina em nós! 
A Semana Santa é a resposta suprema de Cristo e dos cristãos ao desafio cotidiano e permanente do mal. É a manifestação do amor infinito de Jesus por nós. Neste ano, vamos celebrar o sofrimento de Cristo na vida de tantas vítimas da violência ou insegurança de nossas cidades, os injustiçados pela ganância, pela exclusão da terra, pelos que não têm direito a tratamento digno e adequado. Rezemos a fim de que haja Páscoa para todos, passagem da tristeza à alegria, da derrota à vitória, da morte para a vida!

   
Marcelo Alves


Os três direitos 

Desde os tempos da universidade, o estudante de direito ouve falar do direito romano, pois nele, sem dúvida, está a origem da nossa tradição jurídica, apelidada, não por mera coincidência, de romano-germânica. Mas esse falar, pelo menos nos cursos jurídicos de hoje, é quase sempre superficial. Uma pena. 

Uma das coisas que nunca se diz, por exemplo, é que esse direito (o romano), sob o ponto de vista histórico e de conteúdo, passou por fases bem distintas, sendo possível distinguir pelos menos “três direitos romanos”: o “clássico”, o “vulgar” e o “bizantino”. 

Segundo os especialistas no tema, o direito romano dito “clássico” conheceu o seu apogeu entre os séculos I a.C. e III d.C., quando o Império estendeu-se por toda Europa meridional, chegando ao que hoje é o norte da França (à época, a Gália) e ao sul da Grã-Bretanha. Para o oriente, a dominação romana passava pelos Bálcãs e pela Grécia, indo até a chamada Ásia Menor. Isso sem falar nas suas províncias no norte da África. 

Como informa António Manuel Hespanha, em “Panorama histórico da cultura jurídica europeia” (Publicações Europa-América, 1998): “Na base de poucas leis – desde a arcaica Lei das XII Tábuas (meados do século V a.C.) até às leis votadas nos comícios no último período da República (séculos I e II a.C.) – e das acções (legis actiones, acções da lei) que elas concediam para garantir certas pretensões jurídicas, o pretor, magistrado encarregado de administrar a justiça nas causas civis, desenvolvera um sistema mais completo e mais maleável de acções (actiones praetoriae), baseado na averiguação das circunstâncias específicas de cada caso típico e na imaginação como um meio judicial de lhes dar uma solução adequada”. Assim, nessa empreitada para atualizar um arcabouço jurídico arcaico (o “ius civile”), fazendo uso dos seus poderes de magistrados e das “actiones praetoriae” – fórmulas específicas para cada situação, que verificam e valorizam os fatos do caso, apontando sua solução –, os pretores criaram um direito muito sofisticado e afinado com a justiça de cada caso concreto. E isso explica, no que toca à doutrina, “o desenvolvimento de uma enorme produção literária de juristas, treinados na prática de aconselhar as partes e o próprio pretor, que averiguam e discutem a solução mais adequada para resolver casos reais e hipotéticos”. De 130 a.C. a 230 d.C., aproximadamente, foram produzidas muitas milhares de páginas de resoluções de questões, de respostas a consultas, de opiniões e de comentários. Um período fulgurante, de fato, para o direito romano. 

Mas a coisa não se dava do mesmo modo fora de Roma (a cidade imperial), sobretudo nas regiões/províncias de culturas mais específicas (como a Grécia ou o Egito) ou menos romanizadas (como boa parte da Germânia). Nessas paragens, afora o direito romano, tinham também lugar – de modo predominante, corriqueiramente – outras regras ou usos locais de realização do direito. Ademais, no século III d.C., principia-se a crise do Império Romano do Ocidente, que vem desaguar, como nós sabemos, com a sua queda no ano 476. Esse panorama naturalmente também se reflete no direito romano. Temos aí o surgimento de um “segundo” direito romano, apelidado de “vulgar”. Como registra o mesmo António Manuel Hespanha: “A crise do Império Romano, a partir do século III d.C., e a ulterior queda do Império do Ocidente (em 476) põem em crise este saber jurídico, cujo rigor exigia uma grande formação linguística, cultural e jurídica, e cujo casuísmo impedia uma produtividade massiva. (…). De um saber de uma elite cultivada numa longa tradição intelectual passou para uma técnica burocrática de aplicação, mais ou menos mecânica, de ordens do poder. Ganha em generalidade e automatismo aquilo que se perde em fineza casuística e apuramento intelectual. Dizer o direito torna-se uma actividade menos exigente e mais simplificada, acessível mesmo aos leigos. O saber jurídico perde o rigor e a profundidade de análise. O direito vulgariza-se. Essa vulgarização é mais pronunciada nas províncias, em virtude das corruptelas provocadas pela influência dos direitos locais. Aí, forma-se um direito romano vulgar (Vulgarrecht), que está para o direito romano clássico como as línguas novilatinas ou românicas estão para o latim”. 

Por fim, é nesse panorama de acentuada disfunção jurídica que surge a grande empreitada do imperador Justiniano (483-565) – imperador romano (bizantino ou do “Oriente”) de 527 a 565, sobre o qual já escrevi aqui em “O grande codificador” –, consolidando o “terceiro” direito romano, apelidado de “bizantino”. À época de Justiniano, o direito romano era um colossal emaranhado de provisões, composto de “constituições”, éditos, decisões judiciais etc., que datavam de várias eras (com diferenças de séculos entre elas). O seu “Corpus Iuris Civilis”, gerado em cinco anos, de 529 a 534, veio exatamente para pôr um fim nisso. 

Como outrora expliquei aqui, o “Corpus Iuris Civilis” era (ou é) composto de quatro partes: (i) o “Código” (de 534), que reuniu em 12 livros, subdivididos em títulos e matérias, uma imensidão de “constituições” (provisões legais romanas), que datavam desde o século I até o período de Justiniano; (ii) o magnífico “Digesto” (de 533), obra coordenada pelo grande jurista e questor Triboniano (500-547), salvando para a posteridade parte dos escritos dos maiores juristas da Roma antiga, certamente o fruto mais doce dessa grande civilização; (iii) as “Novelas”, uma coletânea suplementar de 168 “constituições” produzidas por Justiniano nos anos do seu governo posteriores à edição do “Código”; (iv) e as “Instituições”, obra que, inspirada nas “Instituições” de Gaio (130-180), destila os princípios emanados dos outros três documentos. 

Justiniano pretendeu que o seu “Corpus Iuris Civilis” se tornasse a única fonte do direito no Império. À época, entretanto, o “Corpus Iuris Civilis” teve mais sucesso no Oriente que no Ocidente. No Ocidente, dada a conhecida invasão dos bárbaros, sua influência (e do direito romano como um todo) foi menor. E assim foi por vários séculos. 

Todavia, ele, o direito romano, precisamente na forma do “Corpus Iuris Civilis” de Justiniano, voltou um dia à cena na Europa. E com todo esplendor. Foi no século XII, como fonte de referência do chamado “direito comum”, alastrando-se essa influência até os nossos dias. Mas isso, caro leitor, é tema para os nossos próximos artigos. 


Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

28/03/2018

ENTREVISTA




IHGRN, a biblioteca e o bibliotecário
Entrevista com Igor Oliveira

Biblioteca, arquivo e museu. O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, assim como os seus congêneres, é uma instituição múltipla. Preparando-se e adequando-se às práticas e usos atuais dispostos pela biblioteconomia, o instituto conta com a participação do estagiário em biblioteconomia Igor Oliveira.

Igor Oliveira e graduado em história pela UFRN, graduando do curso de biblioteconomia da mesma universidade e, recentemente, ingressou no mestrado acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba.

A diretoria de Biblioteca, Arquivo e Museu conversou com Igor Oliveira, em março de 2018. A entrevista foi realizada no IHGRN, o entrevistador é o diretor da Biblioteca, Arquivo e Museu, o jornalista Gustavo Sobral.


IHGRN: Em que consiste o trabalho de um bibliotecário em um acervo híbrido como o do IHGRN?
Igor Oliveira: O IHGRN guarda atualmente uma extensa e diversificada massa documental composta pelos mais diversos suportes que variam desde objetos tridimensionais até documentos em suporte de papel ou digital. As peças pertencentes ao museu devem receber um tratamento técnico adequado de tombamento e catalogação que apresente as particularidades desses objetos.
Os documentos do arquivo se apresentam como únicos, ou seja, pouco provavelmente existirão outros documentos, como os de nossa guarda, em outras instituições; e por se tratarem de documentos que já cumpriram com seu valor administrativo, são de valor histórico e por isso são de guarda permanente.
 Já o acervo bibliográfico é formando por diversas coleções que não necessariamente são compostas por um único exemplar. O IHGRN atualmente possui cerca de 10 coleções dentre obras raras, publicações de autores do Rio Grande do Norte, leis e decretos, dentre outras.
Assim, o trabalho do bibliotecário tem sua importância, pois irá contribuir para que esses acervos possam ser catalogados em meio digital, visto que, diante da tecnologia da informação, já não se utiliza mais as fichas catalográficas de antigamente. Bem como o trabalho minucioso de classificar, ou seja, expressar de forma sintética a temática de uma obra em alguns números para que elas sejam agrupas por áreas do conhecimento, facilitando a localização nas estantes. Isso tudo possibilitará que em um futuro próximo, nossos usuários acessem nosso catalogo em suas casas, otimizando o tempo da pesquisa e suprindo as necessidades informacionais.

IHGRN: Qual a importância e o papel do bibliotecário na organização, guarda e manutenção do acervo?
Igor Oliveira: a necessidade do bibliotecário, ainda que de forma não oficial, surge no momento em que o homem passa a ter a consciência de guardar os registros produzidos por ele e pela sociedade. No entanto, essa prática estava muito voltada para guarda do documento como um bem preciso, um tesouro que deveria ser protegido e mantido. Essa ideia transpassou vários anos.
O grande bibliotecário indiano Ranganathan (1892-1972) apresenta uma visão critica quanto a essa prática, ao perceber que alguns bibliotecários do seu tempo só se sentiam felizes quando todos os livros estavam guardados nas estantes das bibliotecas; para eles, tirar um livro da estante era despertar a cólera do bibliotecário.
 No entanto, uma nova realidade surge no século XX, de forma que o bibliotecário cumprirá com o seu papel não quando ele guarda, mas sim quando promove o uso, permite o fluxo e o irrestrito acesso da comunidade de usuários aos suportes informacionais.
E esse é nosso objetivo enquanto instituição, apesar de que atualmente nosso acervo não se encontra acessível para consulta, estamos realizando a importante tarefa de reorganização dos conteúdos informacionais para que em um futuro próximo, tudo nosso acervo possa estar acessível, afinal, o bibliotecário é o profissional responsável por disseminar e mediar a informação aos usuários.

IHGRN: Quais as principais dificuldades que um bibliotecário encontra nas suas atividades diárias?
Igor Oliveira: Ao longo dos anos o bibliotecário teve que se adaptar às novas realidades e aos novos desafios que foram impostos, sobretudo, com advento das tecnologias da informação. Apesar de que muitos bibliotecários terem resistência a novas tecnologias, eles devem encontrar meios para superar as adversidades e estar preparados para incorporar esses elementos as suas atividades diárias, como por exemplo, na recuperação da informação em meios digitais ou preservação digital.
Outra dificuldade que podemos enumerar acerca dos desafios enfrentados pelo bibliotecário é o de auxiliar os usuários a selecionar, dentre a grande quantidade de informações que são produzidas diariamente no século XXI, as informações necessárias para suprir as buscas do pesquisador. Para isso, o bibliotecário deve ter um vasto conhecimento de mundo e muitas devem se desprender de sua área e adentrar em outras áreas do conhecimento para poder auxiliar os usuários.

IHGRN: Qual a sua opinião sobre a importância do IHGRN e do seu acervo para o Rio Grande do Norte?
Igor Oliveira: O acervo do IHGRN tem sua importância, pois, apesar de diversificado se constitui um acerco singular por guardar documentos que possivelmente outras instituições, ainda que de memória, não guardem. E mais, para além de conservar os suportes informacionais o IHGRN, conserva os valores culturais que devem ser preservados para que possam ser transmitidas as futuras gerações.

IHGRN: Lições, desafios, aprendizados, o que representa participar deste processo de organização do acervo do IHGRN?
Igor Oliveira: Atuar no IHGRN, de forma mais especifica na biblioteca da instituição é uma experiência enriquecedora, por ser um campo de aprendizagem sobre a história e a geografia do nosso estado, já que se trata de uma biblioteca especializada em história, geografia e outras ciências sociais. Proporciona também, desenvolver e aperfeiçoar talentos que todo profissional bibliotecário deve ter.
Na academia aprendi que o historiador não deve ter paixão pelo seu objeto de estudo, ele sempre deve apresentar uma visão crítica mesmo para com seu objeto de estudo, já o bibliotecário pode criar esse laços afetivos com suas práticas laborais ter a sensação de dever cumprido ao contribuir com o desenvolvimento de trabalhos dos pesquisadores, sempre visando o bem comum.
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Responsável: Gustavo Sobral

VIVER O ESSENCIAL

Valério Mesquita*

Manhã depressiva aquela em que revi o mar de Cotovelo. Fazia tempo que as águas verdes de verões antigos não me agitavam. Revivi o olhar vespertino da enseada e busquei os meus sonhos desfeitos nas ondas que quebravam ali, bem perto de mim, e compreendi que já não podia mais tocá-las. A praia havia se modificado. Novas casas surgiram. Apenas o musgo e o lodo dos muros das antigas casas denunciavam o que foi passado e espalharam ao redor pedaços de profundidade vital. Cotovelo alimenta os meus presságios e me remete ao fundo do oceano, como se fosse o peixe prisioneiro de antigas redes. Levo comigo essas sensações estranhas quando retorno aos lugares que vivi. Sou comprometido com o emocional.
Ano passado, ao divisar ao longe a Fazenda Uberaba, em Macaíba, e que pertenceu ao meu pai, não pude reprimir a emoção. Ali passei a minha infância e realmente era feliz e não sabia. A casa branca, alpendrada no alto, me devolvia a visão mágica e mítica dos albores de minha vida e dos primeiros alumbramentos. As lágrimas fáceis de um coração mole deslizaram livres, como se convidassem antigos passarinhos a bebê-las.
A vida tem sido assim comigo. Sou um proustiano? Um saudosista em busca do tempo perdido? Talvez sim, talvez sim. Gosto de apostar nos tempos idos e voltar aos lugares a que já fui.

No Colégio Marista, onde estudei por oito anos, retornei às melhores lembranças. A capela, as salas de aula, o pátio do recreio, os campos de futebol e aquela atmosfera impregnada da presença dos antigos irmãos maristas: Nelson, Osvaldo, Mário, Leão, Miguel, Alípio, Adonias, Sebastião, Régis, Celso Trombeta, Estavão, Ilídio, Hipólito, Aniceto, Dalton, Paulo Berckmans, Pedro Caveira, entre outros. Vi-os em cada classe, ora comandando o recital do terço da Virgem Maria, ora ministrando aulas com tanta proficiência que até hoje quem aprendeu não esquece e muito deve aos discípulos do padre Champagnat. Mal sabia que, de saudade, choraria amanhã.

Assim também me fascinam certos recantos de minha terra Macaíba. O antigo cais do porto, hoje depredado e abandonado; o Solar do Ferreiro Torto e os mistérios circundantes; o sobradão onde nasci à rua Nair de Andrade Mesquita, que pertenceu ao meu avô paterno já não existe; o parque governador José Varela, hoje todo desfigurado; o rio Jundiaí dorminhoco e refratário, contaminado de manguezais antipáticos no seu leito urbano e, por fim, as ruas estreitas de minha infância relembram a cidade velha do tempo dos pioneiros. Como na Bíblia “que se prenda a minha língua ao céu da boca” se de Macaíba eu me esquecer.
Enfim, sou cativo, prisioneiro do sentimento do medo de perder todas essas emoções um dia, se o progresso e a insensatez destruírem tudo em que vi o que vivi. Mesmo errante como ovelha desgarrada não deixarei de acreditar que a lei de Deus é mais sábia do que os meus inimigos. No curso da história de cada um, o Salmo 118, a água potável de sempre, desce melhor do que qualquer bebida: “Melhor é buscar refúgio no Senhor do que confiar no homem. Melhor é buscar refúgio no Senhor do que confiar nos governantes”.
Relembro, aqui, o esplendor do pensamento do escritor Mário de Andrade (1893 – 1945), no seu “Valioso Tempo dos Maduros”:
“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro.”
“Já não tenho tempo para lidar com o supérfluo.”
“Já não tenho tempo para conversas intermináveis...”
“Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas...”
“Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…”
 “Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!”

(*) Escritor.

27/03/2018

DISPONIBILIZAÇÃO ON LINE DE JORNAIS DO RN




Assunto: Re: Acervo Jornais BCZM


Graças a um trabalho conjunto entre a UFRN e o IHGRN, com a participação da Professora ângela Maria Paiva Cruz, Professora Magnólia Andrade,  Professor Graco Viana, Ormuz Barbalho Simonetti, Betânia Leite Ramalho e Gustavo Sobral está sendo possível a disponibilização on line de jornais do Rio Grande do Norte (Acervo Jornais BCZM).  link do material digitalizado pela BCZM. No que tange aos jornais, assim como está feito com o Labim/UFRN nos mesmos moldes, na seção repositório do nosso site, qual seja: 
http://www.ihgrn.org.br/repositorio




CARRO DE CHÁ - para servir


Para servir, carro de chá


Mobiliário & objetos
texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra

Está na última moda, embora não sirva mais só para o chá. Em razão do hábito vespertino do chá, que lhe fez bom uso, como apoio para louça, bule, xicaras, pires, pratinhos, talheres, e todas as guloseimas que acompanham, em bombonieres, potes para doces, pratos de bolo, tudo preciso e necessário para cerimônia do chá.

Até ousando uma licoreirazinha para então tomar outros serviços, como minibar com as bebidas, copos, balde de gelo e apetrechos mais deste universo: mexedores, dosadores, abridor de vinho que não pode faltar, porta copo, tudo mais. Com o tempo, como tudo, foi ganhando outros arrojos e formas que, se mudaram a sua fisionomia, não alteraram a sua essência de ser portátil.

Suas rodinhas permitem que ande pela casa para lá e para cá se for preciso impecável no seu serviço de guardar e servir. E, por isso, já ultrapassa o uso arraigado de andar pelas salas da casa. Já ganhou a varanda e até o escritório de trabalho exercendo a mesma função indispensável. E até já foi visto na cozinha e como apoio não faz mal. Há quem já chame mesmo carrinho para bar quando esse uso está certo e definido, tintim.

Arquitetos foram por ele conquistados e muitos já colocaram a mão para fazer a sua própria versão em uso ilimitado de materiais, madeira, ferro, vidro, metal, respeitando a sua característica essencial de ter rodas para ser conduzido e forma plana das bandejas em que se dispõem toda a matéria que deve abrigar. 

O arquiteto modernista Gregori Warchavchik fez a sua versão, ainda moderna e hoje clássica, criação de 1928, são três bandejas de madeira em uma estrutura simples de metal, linhas básicas, sem enfeite, frufru ou entalhe, disputadíssimo como peça de arte, porque desenho de um próprio artista.


No monde da arquitetura e decoração, o carro meio futurista de Jorge Zalszupin, arquiteto polonês, e naturalizado brasileiro, dos anos 1950, é a peça retrô sonho de meio mundo, senão de todo. E assim a experiência do chá ou do mini bar nunca perde o seu requinte.