11/03/2018


O presidente do Instituto Histórico do Maranhão publicou um artigo interessante sobre Jerônimo de Albuquerque no blog do instituto deles. Acredito que seria interessante não só enquanto conteúdo aos nossos leitores, como também para intercambiar conhecimento entre os institutos, reproduzi-lo no nosso blog.

Segue o link: 

Um abraço,
Gustavo Sobral
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08/03/2018

DIA INTERNACIONAL DA MULHER (HOJE)


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RN IHGRN <ihgrn.comunicacao2017@gmail.com>


Caro sócio,

Na próxima quinta-feira - dia 08 (oito) de março - dia dedicado à mulher, haverá uma palestra ministrada pela escritora e poeta DIVA CUNHA, que ocorrerá no Salão Nobre do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, às 18 (dezoito) horas. 

Por oportuno informamos que o local, atualmente, está protegido por duplas de policiais, que guarnecem a segurança da Assembleia Legislativa, Tribunal de Justiça e Palácio da Cultura.


Aguardamos a sua presença

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO

07/03/2018

A HISTÓRIA DA FACULDADE DE DIREITO DA RIBEIRA (H O J E)



OAB/RN <assessoriadeimprensa@oabrn.org.br>


CONVITE

Data: 7 de Março de 2018 (quarta feira).
Local: Temis Clube Balcão (Sede do América Futebol Clube) 
Av. Rodrigues Alves , nº 950.
Horário: A partir das 18h.
Autor: Gileno Guanabara de Sousa

A NOSSA ETERNA RAINHA DO CHORINHO



ADEMILDE FONSCECA (1921 – 2012) – Berilo de Castro

ADEMILDE FONSCECA (1921 – 2012) –
No do dia 4 de março de 1921, nascia, no povoado de Pirituba, município de Macaíba/RN, a menina Ademilde Ferreira  Fonseca, filha de Raimundo Ferreira da Fonseca e Maria Amélia da Fonseca.                                             
Desde criança já ensaiava e cantarolava canções que chamavam a atenção dos seus pais. Aos 4 anos a família mudou-se para Natal, com a transferência do seu pai que trabalhava na Rede Ferroviária do Estado. Fez seus estudos primários no Grupo Escolar Antônio de Souza, em Natal.
Aos sete anos aprendeu a letra da música Tico-tico no Fubá, de Zequinha de Abreu (1917), letrada por Eurico Barreiros (1931).
Na adolescência já fazia parte de grupos de seresteiros e dava uma “palhinha” no serviço de alto-falante de Luiz Romão. Nesse ambiente seresteiro, conheceu o violonista Laudemar Gedeão Delfim, com quem casou com apenas 19 anos de idade, passando a se chamar de Ademilde Fonseca Ferreira Delfim. Tiveram uma única filha: Eymar Fonseca. Com a separação,  assumiu definitivamente o seu nome artístico: Ademilde Fonseca.
No ano de 1941, foi morar na cidade do Rio de Janeiro, com o intuito de dar prosseguimento à carreira de cantora de rádio. Seu grande sonho.
Foi selecionada para se exibir sem receber cachê no programa Papel Carbono de Renato Murce, na Rádio Clube do Brasil. Cantou o samba Batucada em Mangueira, do repertório de Odete Amaral, acompanhada pelo grande instrumentista  Benedito Lacerda. Desse encontro, surgiram novas e frutíferas oportunidades para Ademilde, que passou a ser chamada para cantar em clubes e festas da alta sociedade carioca. Em uma delas, Ademilde pediu para cantar Tico-tico no fubá, até então só ouvida instrumentalmente. Foi um sucesso, uma apoteose. A interpretação lhe rendeu a apresentação ao famoso compositor João de Barro, o Braguinha, diretor artístico da gravadora Colúmbia.
No mesmo ano, 1942, aconteceu a sua estreia em disco pela Colúmbia, com um 78 rpm que trazia o choro “Tico-Tico no Fubá” e o samba “Voltei pra o morro”, de Benedito Lacerda e Darci de Oliveira.
A carreira de Ademilde decola. É contratada pela Rádio Clube do Brasil, onde permanece até 1944. Transfere-se para Rádio Tupi do Rio de Janeiro, onde grava novos discos, firmando-se como intérprete de imortais chorinhos, como: “ Apanhei-te cavaquinho”, de Ernesto Nazareth e Darci de Oliveira, “Urubu Malandro”, de Lourival Carvalho e João de Barro, “Brasileirinho”(1950), de Waldir Azevedo e Pereira da Costa.
Na Radio Tupi, se apresenta em horário nobre ao lado de consagrados compositores e famosos regionais, como: Rogério Guimarães e Claudionor Cruz, e grandes instrumentistas como Waldir  Azevedo, Severino Araújo, Canhoto, Jacob do Bandolin, Pixinguinha, Radamés Gnattali e  K-Ximbinho. Permaneceu por mais de dez anos na Rádio Tupi. Os seus discos renderam mais de meio milhão de cópias. Recebeu do parceiro instrumentista Benedito Lacerda o título de “Rainha do Chorinho”.
Em 1951, pela primeira vez grava baião: “Delicado”, de Waldir Azevedo e Miguel Lima, considerada uma de  suas mais marcantes interpretações.
No ano de 1952, viajou para a França  com Jamelão, Elizeth Cardoso, Orquestra Tabajara  Severino Araújo, a convite do jornalista, famoso homem da comunicação e dono dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, e o costureiro francês Jacques Faath, onde realizaram grandes shows na Cidade Luz.
Em 1964, excursionou para a Espanha e Portugal novamente com Jamelão, fazendo grande sucesso em shows que duraram  mais de seis meses na capital, Lisboa.
No ano de 1967, participou do II Festival Internacional da Canção (FIC), patrocinado pela Rede Globo de Televisão, no Rio de Janeiro, interpretando “Fala baixinho”, de Pixinguinha, com letra do poeta-compositor Hermínio Belo de Carvalho. Em 1984, abriu o carnaval brasileiro em Nova York.
Em 1970, apresentou-se em shows no Teatro Opinião, no Rio de Janeiro, e lançou, em 1975, um LP pela gravadora Top Tape, onde se destaca  a faixa “Títulos de Nobreza” (Ademilde no choro), uma homenagem da dupla João Bosco e Aldir Blanc à  Rainha do Choro.
Em 1977, fez parte do conjunto As Eternas Cantoras do Rádio, com Carmélia Alves, Violeta Cavalcante e Ellen de Lima. Participou também, no ano de 2001, do CD “Café Brasil”, produzido por Hildo Hora, ao lado de Marisa Monte, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Henrique Cazes, Leila Pinheiro e o conjunto Época de Ouro.
Em 1975, Ademilde fez parte da caravana de músicos potiguares radicados no Rio de Janeiro: K-Ximbinho, Raymundo Olavo, Paulo Tito e Fernando Luiz, convidados pelo então governador  Cortez Pereira, para percorrer o interior do Estado, fazendo apresentações e entregando o troféu Catavento por ocasião das inaugurações de obras  realizadas no seu governo.
No cinema, Ademilde Fonseca participou de filmes: “O batedor de carteiras”, “ O viúvo alegre”, no qual  a cantora potiguar interpreta a música “Minha marcação”, de Uzias da Silva (Dicionário da Música do Rio Grande do Norte – Leide Câmara, Natal/RN, 2001; pagina 19).
No Teatro Alberto Maranhão (Natal), no ano de 1996, no Programa Seis e Meia, patrocinado pela Fundação José Augusto, tive a felicidade e a alegria de ouvi-la e apreciá-la. Foi a sua última apresentação em Natal. Ademilde já não conseguia mais acompanhar os trejeitos vocais que o choro exigia, e logo ela, que dera ao choro a sua mais pura e verdadeira identidade. A sua afinadíssima voz estava sendo vencida pela idade. Subia o palco sempre acompanhada e ajudada pela filha Eymar, que lhe prestava ajuda em dueto.
Nós potiguares nos sentimos muito enriquecidos e vaidosos com tudo que Ademilde Fonseca deixou de legado para a história da música brasileira. Ciente, sim, do orgulho de termos presenteado ao país a sua maior e melhor intérprete nesse gênero gracioso, brejeiro e bastante difícil de ser cantado – o choro.
Ademilde, faleceu no ano de 2012, aos 91 anos, na cidade do Rio de Janeiro, em sua residência, no bairro da Lagoa, vítima de um enfarte do miocárdio fulminante. Encontra-se sepultada no Cemitério de São João Batista.


Berilo de Castro – Escritor
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores 
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Ademilde recebeu o título de sócia honorária da Academia Macaibense de Letras.

05/03/2018


   
Marcelo Alves

 


Coisa de cinema (II)

Antes mesmo de partir para a Índia, já curioso do nosso roteiro por lá, li no meu querido “Guia Visual Folha de São Paulo – Índia” (PubliFolha, 2015) elogios e mais elogios à “cidade rosada” de Jaipur, cujo centro histórico seria, entre outras coisas, um “labirinto fascinante de bazares, palácios suntuosos e locais históricos”, onde “a tradição coexiste com a modernidade”. 

Fui lá e conferi. É mais do que isso. Parece coisa de cinema. 

E eu não falo aqui do City Palace Museum, do Jantar Mantar e do Hawa Mahal, monumentos históricos dessa cidade de marajás, sobre os quais eu escrevi na semana passada. Falo das esquinas e das ruas de Jaipur, do dia a dia da cidade, da vida que ali se vive, que nós, embora de passagem, experimentamos um pouco (na medida em que isso é possível a um turista de primeira viagem). 

De fato, esse centro antigo de Jaipur – que gira ao derredor da “Badi Chaupar” (ou Praça Grande) e do Tripolia Bazaar – é simplesmente fantástico. Urbanisticamente, como informa o meu instrutor/guia de todas as horas: “Pouco se mexeu na planta original das ruas e praças do século XVIII. Das ruas principais, ramificam-se vielas de pedestres onde artesãos modelam marionetes, joias de prata e outras peças em oficinas minúsculas. Atrás, estão as havelis de cidadãos importantes, algumas usadas como escola, loja e escritório. A área é um centro de atividades, rico em aromas penetrantes e cores vibrantes, com o toque de sinos para aumentar a cacofonia dos sons das ruas”. É isso mesmo. Um cenário de filme de Indiana Jones. 

Caminhões, carros, motos e tuc-tucs, todos muito velhos, acotovelam-se nas ruas. Quase não há semáforos e sinais orientativos. O som das buzinas preenche o seu dia. O trânsito parece – acho que é mesmo – caótico. Mas não me lembro de uma batida. Eles se entendem. 

Nas ruas, ruelas e lojas que formam aqueles bazares, topa-se com uma multidão. Gente, sobretudo. Mas, aqui e acolá, macacos, cães e até mesmo vacas sagradas. A imensa maioria é de indianos, de todas as tribos e credos, que se misturam aos “estrangeiros”, bem-vindos ali, incluindo os brasileiros. Os estrangeiros também compram. E mais caro, invariavelmente. 

Vende-se de tudo. Tudo mesmo. Comida de rua, por exemplo, tem aos montes, embora eu, já ressabiado com a triste aventura na pimenta do primeiro dia na Índia, tenha declinado de experimentar qualquer coisa. Vende-se também muita seda, vestidos variados, cashemir e pashmina (cuja diferença, entre uma e outra, parece estar no uso de lã de cabra ou de carneiro), cerâmicas, os mais diversos utensílios domésticos, uma variedade sem fim de especiarias, flores de todos tipos, bolsinhas estampadas, pulseiras, canetas decoradas, chaveiros de elefantinhos e quase tudo mais que você imaginar. Tive trabalho para conter despesas, digamos, não programadas. 

Para mim, tinha até um mercado de livros (vide o artigo “Os livros da Índia”). Um lado quase inteiro da Chaura Rasta Road, dedicado ao comércio de livros novos e usados, onde achei o meu “fornecedor”, um tal “Shiv Book Depot”, no nº 167. Voltei com a sacola cheia de livros de editoras e autores indianos. Tudo baratíssimo. E essas despesas já estavam programadas. 

Por derradeiro, para quem não sabe, Jaipur também é uma espécie de capital das joias na Índia. Como registra o meu “Guia”, “sejam os fabulosos rubis e esmeraldas dos antigos marajás e suas esposas, sejam os requintados ornamentos exibidos por pessoas comuns, as joias fazem parte da cultura rajastani. Até camelos, cavalos e elefantes têm pulseiras de tornozelo e colares com design especial. Jaipur é um dos maiores centros de fabricação de adereços da Índia, e o meenakari (trabalho com esmalte) e o kundankari (trabalho de incrustação de pedras preciosas) são duas técnicas tradicionais pelas quais a cidade ganhou fama”. Parece que essa coisa na região começou desde o século XVI, quando o marajá Man Singh I, enciumado da moda na corte Mugal, importou para a sua corte artesãos da região de Lahore (hoje pertencente ao Paquistão). De lá para cá, “gerações de joalheiros altamente capacitados viveram e trabalharam ali. Jaipur atende a todos os gostos, oferecendo desde enfeites de prata bem simples até desenhos mais sofisticados e complicados de ouro com pedras preciosas”. 

Foi nesse “templo da perdição” que nos aconteceu o fato mais inusitado da viagem. Tomados de curiosidade pelo ouro e pelos diamantes indianos, saímos à caça de um comércio de joias que nos foi indicado por uma das companheiras de viagem. Enquanto eu procurava no mapa, minha mulher segurava o celular com uma foto do cartão da dita loja. De repente, fomos abordados por um indiano, nos chamando assertivamente e nos colocando ao telefone com uma pessoa que falava português, supostamente nossa companheira de viagem, conhecedora de ouro e pedras. E foi nos “sequestrando” para a loja de joias que, segundo ele, nós procurávamos. Seria a loja dele. Ficamos todos – éramos eu e mais três mulheres – assustadíssimos. Um país estranho. Uma língua estranha, mesmo que parecida com o inglês. E sermos assim identificados na multidão. Parecia algo mal-assombrado mesmo. 

De toda sorte, fã dos filmes de Steven Spielberg, decidi enfrentar a parada, nem que essa fosse a minha “última cruzada” em “busca da arca perdida”. Entrei sozinho no comércio, não sem antes advertir a minha mulher e as nossas amigas que, se eu não voltasse em dois minutos, saíssem correndo em busca de um policial ou de um Harrison Ford de verdade que nos salvasse. Mas estava tudo bem. Nossa amiga estava lá na loja e tinha sido ela mesmo ao telefone uns minutos antes. 

Na verdade, apesar do susto, a explicação era até simples. Simples para os padrões indianos, claro. Um outro comerciante viu no celular da minha mulher, exposto enquanto caminhávamos, o cartão da loja de joias. Ele avisou ao dono desta, que, por isso, correu e nos “sequestrou”. Mesmo naquele caos do mercado, em meio à multidão de gente, tuc-tucs e buzinaços, aqueles comerciantes monitoram os potenciais compradores. Sobretudo os estrangeiros. Por incrível que pareça, somos todos observados e estudados. Até mesmo um Indiana Jones de araque como eu. 


Marcelo Alves Dias de Souza 
Procurador Regional da República 
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL 
Mestre em Direito pela PUC/SP

02/03/2018

RELÓGIO DE PAREDE


Para marcar, relógio de parede




Mobiliário & objetos
texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra


Quando apitava a hora marcada a porta abria e lá saia ele doidinho na sua missão de Cuco. Essencial relógio para parede a marcar as horas na casa. Os mais antigos de corda, uma pequena chave para tração, ajudando-o a funcionar. Geralmente na sala de refeições para ninguém perder a hora do almoço ou jantar. Graças a eles os relojoeiros tiveram muito trabalho no mundo fazendo-os funcionar, deixando-os nos trinques. Calados, mudos e discretos em sua maioria ficam lá na parede registrando o silêncio das horas.O seu pendulo lá e aqui, lá e aqui, sustentando as horas.  Sua importância ímpar levou-o aos testamentos para herança de família. Os romanos emprestaram-lhe os algarismos e o mundo tomou de si o sentido para ser horário e anti-horário. Sem os ponteiros não seriam nada, operários com funções devidamente marcadas, cada um exerce seu oficio próprio e intransferível de registrar uma fração do dia, você os minutos, e você, outro, as horas; e assim marcam aquilo que ninguém é capaz de controlar, capacitados para medir o tempo.

01/03/2018



A PASSAGEM DA NOITE
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com


O homem social hoje virou ambiguidade ficcional. Previna-se o leitor: não confundir amizade social com solidariedade humana. São manifestações caracterológicas do vivente completamente heterogêneas. O egoísmo, a acomodação, modificadas pelo tom da luz reinante destruíram o sentimento cristão do mundo. O homem cresce, vive e morre numa jaula, limitado às imposições de sua vida miúda, repleta de frustrações e às circunstâncias. Há pessoas que pensam que não vão morrer nunca. Principalmente os que são ricos ou que, pelo menos, pensam. Assim imaginam muitos empresários, políticos, socialites, médicos, usineiros, juristas e outros nomes, renomes e pronomes suspeitos.
Às vezes, diante do infortúnio alheio, ancoram suas amarras no mais profundo silêncio e na mais abominável indiferença. A postura ante o mundo é de desamparo e desalento. Não há lógica própria nessa conduta centrada unicamente na anormalidade do desvio comportamental porque a amizade virou interesse, esbulho, vantagem, lucro.
Lembro a minha mãe, quando algumas vezes para rebatar a solidão centenária com uma frase humilde, sábia e confortadora: “Meu filho, se eu fosse uma pessoa rica a minha casa estaria repleta de visitas”.
A humildade e a caridade cristã teriam sido substituídas pelo messianismo dos “pobres de espírito”? Seria ataraxia, morbidez ou equívoco trágico imaginar que ninguém seu morrerá nunca? Mas a vida é um labirinto movida por difusa fluidez temporal, constituída de fases e de fezes (no sentido consumista, digestivo da palavra).
E eu pensava nesse turbilhão do tempo, dos modismos, que o exercício da amizade fosse contínuo, mas é tão “imortal” quanto a hipocrisia de acreditar nos homens que integram as instituições públicas e privadas (culturais, políticas, empresariais etc.). Daí deduzir que toda celebridade em Natal quando não é célere e celerada. A corrosão cotidiana da busca pelo dinheiro e pelo poder enferruja com rapidez as “glórias e grandezas” de alguns governantes que se julgam donos do mundo, quando pensávamos justos e coerentes. As mutações históricas dos valores da personalidade humana, ao que me parece, foram provocadas pela “revolução” dos costumes sociais, principalmente o comodismo, a apatia pelo semelhante, o medo de morrer, as fobias e a falta de religiosidade.
Aí instaura-se um jogo de buscas. O coração desumanizado do selvagem habitante da cidade, que segrega o próximo jamais conhecerá qualquer modalidade de amor, principalmente na noite sem face e derradeira do ataúde, porque em vida foi ausente, insensível, reduzido à condição de bicho. Esse será o calvário do insensato, do que utiliza a amizade como negócio, como moeda de troca. Vai vagar como Caim na noite gelada do tempo sem jamais achar abrigo.
O leito caudaloso da memória me conduz às vozes que vêm de longe. Na dor acumulada e na fadiga rotineira, ensaio os meus passos no caminho das minhas perdas. Revejo os meus personagens. Escuto o vento nas folhas e o piano da chuva no telhado como se não tivesse ainda baixado a cortina da minha infância. Diante do que possa sugerir esquisitice essa ressurreição de ambiente, impetro uma medida cautelar possessória, uma manutenção de posse do tempo que se extravia tal qual um desesperado náufrago na complexa realidade de hoje.
Nada disso significa nostalgia piegas. Apenas, me interessa o imponderável e o mistério dos desencontros humanos. Enquanto houver silêncio, solidão, tragédia, medos secretos, jamais deixarei de perseguir os significados. Além da visão, da memória, dos sonhos, tenho os meus pressentimentos.

(*) Escritor