21/02/2018



CALENDÁRIO CULTURAL – 2018.1

EVENTOS
25/01
17h00
Abertura dos trabalhos de 2018
Lançamento do sítio do IHGRN

22/02
17h00
Lançamento “Catálogo do IHGRN"

28/03
19h00
Sessão Solene de aniversário
Lançamento da Revista do IHGRN

PALESTRAS – QUINTA CULTURAL
22/02
17h00
Coronelismo e Cangaço no Rio Grande do Norte.
Ministrada pelo escritor Honório Medeiros
08/03
17h00
O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte
Ministrada pelo professor e pesquisador Cláudio Galvão
05/04
17h00
Câmara Cascudo e o Símbolo Jurídico do Pelourinho
Ministrada pelo jornalista Vicente Serejo
19/04

03/05
17h00

17h00
O Atol das Rocas
Ministrada pela professora Zélia Sena
História Constitucional do Rio Grande do Norte
Ministrada pelo advogado Paulo Henrique Marques Souto
17/05
17h00
História do Rio Grande do Norte
Ministrada pelo historiador Luiz Eduardo B Suassuna (Coquinho)
14/06
17h00
O Arquipélago de São Pedro e São Paulo
Ministrada pelo professor José Lins
EXPOSIÇÕES
25/01
17h00
Nossas Velhas Figuras – ENCERRADA
Acervo do IHGRN
15/02
17h00
Nordeste de São Sebastião – EM ANDAMENTO
Telas do acervo particular do médico, escritor e artista plástico Iaperi Araújo
15/03
17h00
Minérios do Rio Grande do Norte
Mostra da coleção particular de Pedro Simões Neto Segundo, com explicação e distribuição de catálogo sobre o assunto.


NO RÁDIO


NO TEMPO DOS AUDITÓRIOS

Valério Mesquita*

A fase áurea dos programas de auditório no Brasil vai dos anos trinta aos sessenta. Vivia-se o período do rádio e das novelas radiofônicas. A televisão ainda não havia pintado no pedaço. Menino nos anos cinqüenta acompanhava pelo rádio à bateria, os programas de César de Alencar, o humorístico “Edifício balança mais não cai”, entre outros, transmitidos do Rio de Janeiro pelas emissoras Nacional, Tupi, Mayring Veiga, etc. Em Natal, pontificavam as rádios Poti, Nordeste, Rural e os arautos do palco eram Genar Wanderley, Vanildo Nunes, Gutemberg Marinho de Carvalho, Edmilson Andrade, Ivan Lima (doublé de locutor esportivo e animador), Carlos Gomes e outros, também famosos, mas traídos pela minha memória indigente.
Todavia, eu desejo mesmo me deter em Macaíba. Concebo que os programas de auditório alcançaram a sua plenitude mesmo, de 1950 em diante, até o seu declínio por volta de metade da década de sessenta. O primeiro show de auditório que conheci na terra do “pisa na fulo”  foi “Miscelânea de atrações”, apresentado, durante anos por Manoel Firmino de Medeiros, Jorge de Papo, Gutemberg Marinho de Carvalho e Rui Marciano. As atrações conhecidas era Nestor Lima ao violão, Chicó do cavaquinho e “Vovô Julinho”, um velhinho simpático que cantava para delírio da garotada “A bomba”, cujo esforço para produzir a explosão ao final da música lhe custava alguns desconfortos intestinais. Havia ainda, Diógenes Correia de Almeida que imitava o tenor Vicente Celestino interpretando “O ébrio”. Não era fora de propósito que o Diógenes possuía um depósito de aguardente, bem em frente ao cinema de Ranilson Costa, local das animadas domingueiras. O seu bar, na praça Augusto Severo, estampava no banheiro um aloprado letreiro: mijada um cruzeiro e cagada dois. Não posso deixar de mencionar outros astros da constelação musical da cidade como Belchior do banjo, Banga da bateria, Neif Nasser do sax, Pereira do piston, Geraldo Paixão do contra-baixo, Rey do trombone de vara e sem a vara os trombonistas Ronaldo e Bodete. E para concluir o famoso cast (desculpem a má palavra), integravam ainda a miscelânea de talentos os músicos: Cícero Galante (sax alto), sargento Edivan (sax) irmão de Dozinho que sempre aparecia nas matinês, Perequeté, o rei do tarol, além de Sebastião Melo e seu violão boêmio e carpidor. Havia sorteio de prêmios, concurso de calouros e, aqui ou acolá “presenças destacadas” de astros de sucesso nacional do quilate de Jackson do Pandeiro que bebeu várias meiotas de cana na bodega de seu Alfredo de Almeida, sob os meus olhares atônitos.
Ainda vi desfilar em programas pilotados pelo vigário local padre Alcides Pereira os seguintes artistas famosos diretamente do seu Cine Clube Paroquial: Alcides Gerardi, Núbia Lafaiete. Na era do Pax Club, lembro-me de Nelson Gonçalves. E, para não esquecer, o velho Luiz Gonzaga, em 1972, no governo de Cortez Pereira, que esteve em nossa casa e de lá foi realizar um show no parque governador José Varela. O foco dessas relembranças foi o achado de um autógrafo do cantor Cauby Peixoto, concedido em 1955 na calçada do Cine Rex, por interferência do saudoso Gutemberg. Achei outros papéis gastos e amarelecidos que o tempo dissolveu, menos a cor da memória dessa época de ouro. Tempo bom da brilhantina Glostora e da pasta Gessy.

(*) Escritor.
________________
Colaboro com o articulista e acrescendo, daquela época, os nomes de Odúlio Botelho, Edmilson Avelino e José Filho.

20/02/2018

A TEORIA E A PRÁTICA NO FUTEBOL – Berilo de Castro


A TEORIA E A PRÁTICA NO FUTEBOL –
O tema em questão é  muito discutido e tem levado a muitas reflexões no meio esportivo. A teoria, quando aplicada de uma forma geral, é muito bem aceita e muito bem respeitada, seja qual  for a atividade exercida. No entanto, quando isolada e soberba, não surte o resultado desejado e se perde no vazio do tempo.
A prática, por sua vez, quando desenvolvida de forma bem orientada e baseada em princípios teóricos bem alicerçados, revelam resultados bem fortes e positivos.
No  futebol, temos  observado que nem todo craque torna-se um excelente treinador; assim como os grandes teóricos, os estudiosos do futebol, os grandes comentaristas esportivos, quando chamados para o campo prático de ação como treinadores, nem sempre alcançam resultados satisfatórios.
O exemplo recente aconteceu com a nossa seleção de futebol, cujo resultado foi novamente  o desastroso e vergonhoso vexame, quando fomos   desclassificados da Copa América Centenária/2016, pela sofrível seleção Peruana. Fato que  motivou a demissão da Comissão Técnica, comandada por Dunga pela segunda vez. Vale ressaltar que alguém, no topo do poder da CBF, não havia se convencido ainda  da primeira experiência negativa do ex-jogador mediano, que não apresentava em seu currículo nenhum estudo e aprendizagem teórica.
De forma mais cerebral e amadurecida, uma nova convocação foi feita. A escolha recaiu sobre o nome do gaúcho Tite (Adenor Leonardo Bachi), experiente e vitorioso treinador da equipe do Corinthians Paulista, cujo currículo reunia  a prática (foi um razoável meio campista do time do Caxias do Sul) e teve aproveitáveis estudos teóricos sobre futebol, no Brasil e na Europa.
Assumindo o comando da seleção, conhecendo bem os seus atletas,  fez poucas mudanças físicas no elenco. Aproximou e uniu o grupo, fez valer a sua condição de líder e amigo dos jogadores.
Partiu para a prática com um forte embasamento teórico e foi para o campo de ação. Em pouco e  surpreendente tempo, a equipe absorveu o seu recado e começou a se soltar, mostrando um futebol leve, com graça e beleza, sem deixar de lado a seriedade e o compromisso de uma forte e poderosa equipe de futebol.
O craque Neymar não mais passou a ser visto como o único e “salvador” da pátria. Integrou-se à equipe como um destacado coadjuvante, passando a render muito mais no coletivo; deixou de reclamar e a cair muito em campo à procura de faltas.
Assim sendo, subimos de maneira rápida e merecedora das últimas posições no ranking, para o topo da pirâmide na classificação da FIFA, com uma ressalva impressionante: fomos a primeira seleção mundial classificada para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia. Estamos, na verdade, vivendo um momento de “lua de mel” com nossa garbosa e vibrante seleção, esperando o bom momento de voltar a conquistar mais um título mundial de futebol.
A teoria e a prática,  quando bem aplicadas e exercitadas, ganham jogo, sim!


Berilo de CastroEscritor

19/02/2018


 
   
Marcelo Alves

 

Ao que tudo espera...

Ao partirmos em direção à Índia, uma das coisas que mais nos empolgava era a visita à cidade de Agra, para, especialmente, conhecer o célebre Taj Mahal, belissimamente cantado na voz do nosso Jorge Ben Jor. 

Localizada no estado de Uttar Pradesh, às margens do importantíssimo rio Yamuna, Agra é – juntamente com Nova Déli e Jaipur – uma das três cidades do turístico “Triângulo Dourado” indiano. Todavia, se você for a Agra esperando encontrar uma cidade esplendorosa (ou, no mínimo, organizada), vai se decepcionar. Como fomos advertidos pelo nosso guia assim que chegamos em Déli, um tanto exageradamente, “Agra não passa de um vilarejo”. Nem tanto, até porque ela é bem grande. Mas ali a pobreza condói. O trânsito – de caminhões, carros, motos, tuc-tucs, pessoas, vacas, cães e por aí vai – é muito mais que caótico. A sujeira é gritante. E toda essa confusão, que incrivelmente funciona, faz de Agra, de fato, “outra civilização”. 

Para o turista médio, o que mais importa em Agra são os monumentos do seu passado como antiga capital do Império Mugal, que, com os seus soberanos muçulmanos, dominou grande parte da Índia por cerca de dois séculos. O primeiro desses “conquistadores” muçulmanos foi Babur, que era, segundo registra Alain Deniélou em “A Brief History of India” (Inner Traditions, 2003), descendente tanto de Tamerlão como de Genghis Khan. A ele se seguiram outros famosos soberanos, como Humayun, o grande Akbar, Jahangir, Shah Jahan (o responsável pela caríssima construção do Taj Mahal), Aurangzeb (que depôs o pai pelas “loucuras” do tipo Taj Mahal) e por aí vai. Se você for à Índia, vai ouvir muito esses nomes. 

Agra teve seu apogeu sobretudo nos séculos XVI e XVII, sob o domínio dos imperadores Akbar, Jahangir e Shah Jahan, que trouxeram à corte artistas de toda a Índia e da Ásia Central, para construção de seus belíssimos fortes/palácios e mausoléus, alguns deles declarados Patrimônio da Humanidade pela Unesco. 

Um deles é o Forte de Agra (“Agra Fort”, como ele é chamado por lá), que se espalha nas beiradas do rio Yamuna. Em arenito vermelho, ele foi edificado por Akbar, que é considerado o maior dos imperadores da dinastia Mugal, entre os anos de 1565 e 1573. Shah Jahan e, mais recentemente, os britânicos fizeram consideráveis acréscimos ao complexo de áreas públicas e privadas. Com seus portões, pátios, salões, galerias e fossos, esse forte/palácio me encantou por dar a noção de uma corte – seja do império Mugal, seja do Taj britânico – em pleno funcionamento. 

Também adorei a visita ao “místico” Fatehpur Sikri, mistura de forte, palácio, cidade e capital, situado não muito longe de Agra, cuja história já tinha visto inúmeras vezes num desses ótimos canais de TV por assinatura. Como explica o “Guia Visual Folha de São Paulo – Índia” (PubliFolha, 2015): “Fundada pelo imperador Akbar entre 1571 e 1585, em homenagem a Salim Chishti, famoso santo sufi da ordem chishti (p. 380), Fatehpur Sikri foi capital mogul por catorze anos. Ótimo exemplo da cidade murada mogul, possui áreas públicas e privadas bem definidas e portas imponentes. Sua arquitetura, uma mistura de estilos hindu e islâmico, reflete a visão secular de Akbar, assim como seu estilo de governo. Depois que a cidade foi abandonada (dizem que por falta de água), muitos de seus tesouros foram pilhados. Ela deve o atual estado de manutenção aos esforços iniciais do vice-rei, lorde Curzon, um conservacionista lendário”. Minha sensação aqui foi outra. A satisfação de ver “in loco” aquilo que assistia maravilhado pela TV, misturada com a aura de abandono e de mistério que envolve a história daquele lugar. Foi muito bom mesmo. 

E o tal Taj Mahal? 

Bom, o Taj Mahal é um dos monumentos mais badalados do mundo. Construído pelo imperador Shah Jahan, como prova de amor a sua consorte favorita, Mumtaz Mahal (falecida em 1631), ele é cantado em verso e prosa (vide a música do nosso Jorge). Finalizado em 1643, custou muitos milhões de rúpias, muito ouro e doze anos de suor de dezenas de milhares de artesãos e operários de então. E, mais à frente, também o trono do próprio Shah Jahan, nas mãos do seu filho Aurangzeb. De proporções perfeitas, esse túmulo-jardim é realmente muito belo. Belíssimo. O mármore trabalhado, o luxo das pedrarias, a caligrafia rebuscada, os tapetes, a câmara mortuária, o espelho d'água na parte de fora e tudo o mais mostram o refinamento do apogeu da arte mugal. Em termos de harmonia e elegância, difícil achar outro igual. Tiramos muitos retratos com um fotógrafo local que, pelas ordens que me dava, devia ser descendente de um dos imperadores acima citados. 

Mas sabem de uma coisa? Depois da visita, conversando, nós dois concluímos que restou uma certa sensação de decepção. Não foi tudo aquilo que esperávamos. Cogitamos que a razão disso talvez esteja no fato de o Taj Mahal ser essencialmente um túmulo e não ter a vivacidade/dramaticidade daqueles maravilhosos fortes/palácios que já havíamos visitado. 

Mas eu tenho uma explicação melhor. Simplesmente esperamos antecipadamente demais do mausoléu de amor (talvez um êxtase?). Sem ignorar a sua história, muito pelo contrário, ficamos ansiosos demais pelo calmo Taj Mahal. E assim infringimos gravemente uma das leis de Ricardo Reis/Fernando Pessoa. Afinal: “Aos que a riqueza toca, o ouro irrita a pele/Aos que a fama bafeja, embacia-se a vida/Aos que a felicidade é sol, virá a noite/Mas ao que nada espera, tudo que vem é grato”. 

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

UM SONHO QUE PODERÁ SE CONCRETIZAR






FACULDADE DE DIREITO DA RIBEIRA
Carlos Roberto de Miranda Gomes, ex-aluno
            Quando era precária a esperança, mercê dos problemas dos porões da burocracia, eis que surge uma luz no fim do túnel para iluminar o caminho da restauração da velha Faculdade de Direito da Ribeira, obra originária do Grupo Escolar Augusto Severo, prédio concebido pelo Arquiteto Herculano Ramos em 1907.
            Na sexta-feira passada, foi realizada proveitosa e eficiente audiência na Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, presidida pelo Professor José Daniel Diniz Melo, em exercício, oportunidade em que, com sua equipe técnica, apresentou para os presentes e os representantes da OAB/RN Paulo Coutinho, Marcos Guerra e Carlos Gomes, as dificuldades encontradas para a realização das obras/serviços e o projeto de restauração pretendido pela UFRN, com a aprovação do IPHAN.
            Naqueles instantes fomos envolvidos por uma atmosfera de saudade da Casa que abrigou os estudantes por muitos anos e os instantes de aflição decorrentes do movimento de 1964, onde foram caçados colegas e professores, barrados os agentes da repressão pela autoridade do então Diretor Otto de Brito Guerra.
            Retornaram às nossas mentes pessoas e fatos que marcaram a vida daquele estabelecimento de ensino superior, os passos iniciais da assistência jurídica aos necessitados, das palestras e outros eventos no aconchegante auditório, nas assembleias, exposições, comentários e momentos de lazer no pátio que ficava defronte à biblioteca, criada e mantida com todo amor pelo Professor Otto.
            Foi possível avaliar a viabilidade da restauração, não apenas como recomposição de um patrimônio histórico, mas com objetivo elogiável de dar continuidade ao atendimento aos necessitados, com uma central de assistência jurídica e social, como utilização do auditório para funcionamento de sessões de arte e de cinema, além da apresentação de memoriais contando a história do Grupo Escolar e da Faculdade e dos momentos marcantes da própria UFRN, afixando para a posteridade as placas de formaturas e o painel dos perseguidos durante o estado de exceção, como ficou decidido no relatório da Comissão da Verdade da UFRN.
            A restauração marcará a recuperação do bairro histórico da Ribeira, fazendo ressurgir a sua funcionalidade e restaurando um dos períodos mais importantes da vida política, cultural e social da Cidade de Natal.
            Esta iniciativa da nossa Universidade, com a colaboração da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Rio Grande do Norte merece o aplauso da população e o anseio maior de todos aqueles que viveram os tempos de ouro da cidade presépio, ponto fundamental no conflito da 2ª Grande Guerra e berço cultural do modernismo literário, da efervescência da economia local e das imorredouras sessões da Casa de Espetáculos concebida pelo Governo Alberto Maranhão, erguido no largo histórico do bairro dos Canguleiros, por muitos anos guarnecido pela vigilância de Luís da Câmara Cascudo.

17/02/2018


Academia Norte Riograndense de Letras <academianrl@gmail.com>


EDITAL Nº 02, DE 08/02/2018.

Assembleia Geral Extraordinária

O Presidente da Academia Norte-rio-grandense de Letras, de conformidade com seu Estatuto Social e  Regimento Interno, convoca os Srs. Acadêmicos, para a Assembleia Geral Extraordinária,
no dia 22 de fevereiro (quinta-feira) do corrente ano às 16 horas,  para deliberarem sobre a seguinte pauta:


                     
1-   Apreciação dos itens do Estatuto objeto de Diligência  do Cartório 2º Ofício de Notas;
2-   Apreciação e aprovação do texto final do Estatuto
3-   Designação de  Comissão Revisora para apreciação do Regimento Interno;
4-   Definição do Calendário de Eventos de 2018;
5-   Outros Assuntos correlatos ou de interesse da Instituição.





Diogenes da Cunha Lima
Presidente

13/02/2018

UM POUCO DA NOSSA HISTÓRIA RECENTE


NOS PORÕES DA MEMÓRIA

Valério Mesquita*

01) Corria a era da graça de 1960 e lá se vão cinquenta e oito anos. Década das profundas transformações políticas e sociais no Estado e no país. Mas quero mesmo me referir à minha aldeia Macaíba que era administrada por Alfredo Mesquita Filho pela terceira vez. Estava filiado ao velho PSD e ligado politicamente ao major Theodorico Bezerra. Vencera a eleição de prefeito em 1958, renunciando ao mandato de deputado estadual numa luta extremada com o genro e sobrinho Leonel Mesquita, da UDN, prestigiado pelo governador Dinarte Mariz. Dois candidatos ao governo do Rio Grande do Norte pontificavam naquele ano: Djalma Marinho e Aluízio Alves, ambos udenistas. Alfredo Mesquita estava propenso a ficar com o segundo, não fosse a reconciliação do casal, obrigando-o, ante a divisão do seu PSD, a ficar com o candidato situacionista a fim de pacificar a família e não se repetir o sofrimento pessoal da campanha anterior. Politicamente entrou na contramão da história, mas manteve intacta a união da família pelo resto da vida, com o sacrifício da derrota eleitoral por noventa votos.
02) Em 1965, feriu-se nova batalha. Dessa vez, o próprio Dinarte Mariz pela Oposição, enfrentaria o monsenhor Walfredo Gurgel para governador. O velho contra o padre. Dessa disputa, lembro-me de uma missão do economista Roosevelt Garcia junto a Alfredo Mesquita, chancelada pelo então governador Aluízio Alves. O meu pai, ao deixar a prefeitura de Macaíba em 1963, se desfizera de sua propriedade rural “Uberaba”, no município de Macaíba, acossado pelas dívidas políticas. Eu cursava a Faculdade de Direito da UFRN aos 23 anos de idade e nunca assumira um emprego. Nem na famosa “vaga existente”. A visita significava que o “Trem Bacurau” apitava à minha porta. O maquinista era precavido e competente e sabia lidar com o temperamento do seu tio Alfredo Mesquita. Inicialmente, Roosevelt me antecipou o assunto: um cargo de fiscal de rendas em troca do alheamento de Alfredo Mesquita no pleito de outubro. De minha parte, solteiro, universitário e desempregado, a proposta era de um arcanjo e não de um parente. A conversa entre os dois, pontilhada de cautela e prudência, pude observar a curta distância, o que me permitiu ensaiar discreta torcida. Sabia que o sobrinho predileto do meu pai, era o melhor interlocutor naquele instante. Mas, a resposta do velho Mesquita foi não. Às vezes me pergunto: caso a resposta tivesse sido afirmativa, teria mudado o curso da minha vida? Só o astrólogo do universo sabe. A eleição foi perdida por quatrocentos votos, mas Alfredo Mesquita manteve-se firme na Oposição até falecer, no dia 12 de abril de 1969. A palavra dada e a fidelidade mantida eram sua marca registrada.
03) O tempo passou e quase tudo mudou. Em 1974, já prefeito de Macaíba, o meu primeiro encontro político com o senador Dinarte Mariz ocorreu na candidatura do seu filho Wanderley para deputado federal. Eu já havia me definido por Grimaldi Ribeiro, em quem votava desde 1970. O velho senador solicitou-me que dividisse os votos para deputado federal. Não concordei, alegando o meu compromisso e a dificuldade da reeleição do seu correligionário. Conversa difícil que deixou profundo mal-estar. Dinarte conseguiu outros apoios. Mas houve no curso da campanha um choque de passeatas, que resultou num discurso patético do senador contra o prefeito. “Esse rapaz”, falou, “está desenvolvendo em Macaíba uma tática comunista. Amanhã mesmo, vou comunicar ao presidente Geisel o que está se passando aqui”. O fato é que essa ameaça nunca se concretizou. Mas, me valeu o veto radical de Dinarte ao meu nome para prefeito indireto de Natal. O governador nomeado, Tarcísio Maia, que me preferia, por sugestão de Djalma Marinho, sucumbiu à imposição do velho senador que apontou Vauban Bezerra de Faria. Mais uma vez, ficou provado que a fidelidade também tem o seu preço.

(*) Escritor