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16/01/2018
12/01/2018
Para baloiçar, cadeira de balanço
Mobiliário & objetos
texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra
Na cena da infância a avó na cadeira de balanço da sala cochilando enquanto a novela corria na tevê. No quarto do bebê, entre o vai e volta vagaroso, a mãe nina a criança que amamenta. No terraço, quatro primos danados riem e gargalham no balanço veloz da cadeira que ora é um barco, uma aeronave ou um carro desgovernado.
Nem só de se sentar, esta vendo, se faz cadeira. Presta-se aos mais corriqueiros e não imaginados usos, nela se assentam o sono, o amor da mãe, a brincadeira dos meninos. A descoberta dela se usar se revela a surpresa de despretensão da vida. Sentar e começar aquele balanço que se impulsiona com as pernas, lá e cá, lá e cá, e assim ficar numa conversa, olhando a paisagem, ouvindo passarinho ou música. A cadeira de balanço é um convite para o sossego.
Há séculos na história da mobília dizem que foram os ingleses quem primeiro nelas se balançaram. É coisa antiga do século XVIII e como tudo que se inventa e vem de antigamente, passou do fabrico artesanal para produção em fábrica, mas sem perder o seu propósito de ao nela se sentar um pouco se deitar.
São os pés dela que permitem o movimento, formam um arco, que a sustenta pelas laterais onde se fixa a base da cadeira, e assim os antigos nela baloiçaram, leram jornais e revistas, tomaram chá (inglês, por certo, mas que na verdade vem da China) e assim seguiu pelo tempo até ganhar desenho de móvel de grife, assinatura, materiais diversos (para além da madeira).
No Brasil, famosa foram as cadeiras de balanço Cimo da Móveis Cimo de Curitiba, hoje peça de colecionador ou herança bem guardada de família, proprietária de muitos balanços pela vida.
06/01/2018
Dia de Reis
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O Dia de Reis, segundo a tradição cristã, seria aquele em que Jesus Cristorecém-nascido recebera a visita de "alguns magos do oriente" (Mateus 2:1) que, segundo o hagiológio, foram três Reis Magos, e que ocorrera no dia 6 de janeiro. A noite do dia 5 de janeiro e madrugada do dia 6 é conhecida como "Noite de Reis".
Histórico
A data marca, para os católicos, o dia para a veneração aos Reis Magos, que a tradição surgida no século VIII converteu nos santos Melchior, Gaspar e Baltazar. Nesta data, ainda, encerram-se para os católicos os festejos natalícios - sendo o dia em que são desarmados os presépios e por conseguinte são retirados todos os enfeites natalícios.
Tradições
Em Portugal e na Galiza, o bolo-rei ou bolo de Reis possui grande tradição e é confeccionado com um brinde e uma fava. A pessoa que encontra a fava deve trazer o bolo de Reis no ano seguinte. Por todo o país, as pessoas costumam «cantar as janeiras», «cantar os Reis» ou as «reisadas», de porta em porta. São convidadas a entrar para o interior das casas, sendo-lhes oferecidas pequenas refeições como doces, salgados, charcutarias, vinhos, etc. Neste dia eram também muito comuns os autos dos Reis Magos, peças de teatro popular.
No Brasil, geminado culturalmente com Portugal, esta tradição tem muito do que se faz no velho país. A festa é comemorada com doces e comidas típicas das regiões. Há ainda festivais com as Companhias de Reis (grupo de músicos e dançarinos) que cantam músicas referentes ao evento, as conhecidas festas da Folia de Reis.
Em alguns países, como Espanha, é estimulada entre as crianças a tradiçãode se deixar sapatos na janela com capim antes de dormir para que os camelos dos Reis Magos possam se alimentar e retomar viagem. Em troca, os Reis magos deixariam doces que as crianças encontram no lugar do capim após acordar. A tradição também consiste em comer o Bolo de Reis.
01/01/2018
COMECEMOS 2018 COM EMOÇÕES
SETE ELEGIAS DE UM ANO FINDO
1
Vestida de azul levaram a infanta
e a sua casa ficou vazia
2
A Luiz Maranhão Filho, mártir do povo:
Sob o peso da noite
e do vinho amargo
bati à porta da treva
e gritei o teu
nome
mas nada ouvi senão ecos
a fulminar
a
memória
3
Dois olhos vazios
bebem sonolentos
as águas do rio
entre eles a ponte
recolhe o choro inútil
da argila molhada
4
Noite
noite fria
o vento traz a lembrança
da poeira pisada
e do estrume dos currais
a lua e o vento
brincam na rua deserta
e o som do
chocalho
desmaia
nas cinzas do
passado
5
Alguém chora
mas não há
lágrimas
exceto vagalumes
náufragos aéreos
que à deriva espalham
luzes
do
éden perdido
6
Há um abismo doce
nesses beirais que
falam
da chuva que veio do mar
e que esqueceu
a velha paixão do sal
abandonado
no leito secreto
dos amores
soterrados
7
essas águas que
passaram
levando no asfalto
folhas caídas
das sete colinas de Lisboa
no último dia do
ano findo
mas a passar vejo-as ainda
pois na eternidade nada finda
(Horácio Paiva)
FIM DE ANO
convém a um velho
jovem
celebrar
o fim e o começo
convém
preparar o banquete
(e sobretudo o vinho)
do último
e do primeiro
instante
convém
celebrar com alegria
a partida
e a chegada
a antiga
e a nova aliança
e no ocaso celebrar
o triunfo da vida
afinal
o velho foi
necessário
ao advento do novo
(HORÁCIO PAIVA)
PAN Y LUZ
con lápiz invisible
describo en la oscuridad
lo que no veo
y puesto sobre la mesa
creo haber un pan
a la espera de la luz
PÃO E LUZ
com lápis invisível
descrevo na escuridão
o que não vejo
e posto sobre a mesa
creio haver um pão
à espera da luz
(Horácio Paiva)
Lisboa, 31/12/2013)
31/12/2017
FELIZ ANO NOVO
FELIZ ANO NOVO, DE VERDADE
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO
O tempo é
um enorme desafio, emoldurando a vida. Não se trata apenas de uma
sucessão de dias, revelando a impotência humana para detê-lo. Apesar do
progresso da ciência e de suas conquistas, não conseguimos pará-lo. A
sua realidade fugaz é uma complexidade, que não se explica por um
conceito meramente cronológico. Porém, a humildade, que desnuda o
coração humano de toda pretensão, é capaz de criar a possibilidade de
não o tornar um aguilhão que aponta diariamente a verdade de cada um. A
simplicidade faz-nos aceitar os enganos das escolhas. O tempo passa
inexoravelmente. Ninguém é capaz de segurá-lo. E hoje se tem a impressão
de que ele é mais veloz. Há avalanches de solicitações, propostas,
informações, possibilidades, necessidades criadas etc. que nos assaltam,
muitas desprovidas de interioridade. Os mestres da espiritualidade,
filósofos e místicos ensinam que o tempo é, antes de tudo, uma questão
interior. Se concentrarmos tudo na exterioridade e nas aparências, ele
não só passa mais rápido, como também se esvai à nossa revelia. Sem
interioridade, adota-se um modo egoísta de existência, sem compromisso
com o próximo.
O desejo de um verdadeiro “Feliz Ano Novo” necessita
de algo a mais. Urge cultivar a sensibilidade humana e social,
desenvolvendo outro estilo de relacionamento humano. O profeta Isaías,
para despertar a consciência do povo sobre a novidade do tempo, fala do
sentimento e do propósito de Deus a ser assumido por todos. Afirma que o
Onipotente, por amor e solidariedade a seu povo, não descansa enquanto
“não surgir na sociedade, como um luzeiro, a justiça, e não se acender
nela, como uma tocha, a paz” (cfr. Is 62, 1). E isso é o novo para o
profeta. Deste modo se desenha o caminho para que se possa trazê-lo, na
contramão de interesses egoístas, grupais, partidários e até religiosos,
por vezes mesquinhos e alienantes.
Para que haja realmente um Ano
Novo, vamos reduzir a insensibilidade, a violência, o pessimismo, o
ódio, e regar de ternura nossos sentimentos mais profundos. Não podemos
nos mirar totalmente nos outros. A inveja mina a autoestima e fomenta o
ressentimento. Em 2018, empenhemo-nos a todo custo por crer em nós
mesmos e em nossa criatividade para superar crises e dificuldades, bem
como abraçar os desafios. Acreditemos que carregamos dentro de nós a
força maior da esperança, do amor e da fé. Esforcemo-nos para estender
aos outros as mãos, como pessoas livres e não reféns do egoísmo. Para
que o ano seja realmente novo, é necessário cuidar daquilo que falamos.
Não pronunciemos difamações e injúrias. O ódio destrói a quem o carrega
na alma, não o odiado. Troquemos a maledicência pela benevolência.
Comprometamo-nos a expressar alguns elogios por dia, em troca das
críticas e condenações.
Para haver novidade e ano novo é preciso não
desperdiçar nosso tempo e nossa vida hipnotizados pela televisão. É
necessário não navegar irresponsável ou aleatoriamente pela internet,
naufragados no turbilhão de imagens e incontáveis informações que não
conseguimos absorver e silenciar. Não deixemos que a sedução da mídia
anule nossa capacidade de discernir e nos transforme em consumidores
compulsivos. A publicidade sugere felicidade e, no entanto, nada
oferece, senão prazeres fugazes. Procuremos centrar nossas vidas em
valores permanentes, nunca nos efêmeros. Procuremos o silêncio neste
mundo ruidoso. Lá encontraremos a nós mesmos e, com certeza, Deus, que
quase nunca é escutado. Isso, sim, será sem dúvida Ano Novo.
Tentemos
cuidar de nossa saúde, mas sem a obsessão das dietas e a escravidão das
balanças e academias. Aceitemos os cabelos brancos e nossas rugas, e
não temamos as marcas do tempo em nossos corpos. Elas são sinal de
sabedoria e experiência. Usemos revitalizadores de compreensão,
generosidade e compaixão. Procuremos não confundir o urgente com o
prioritário. Não nos deixemos guiar pelo modismo. Afastemos de nossas
mentes preconceitos, sentimentos que discriminam, pensamentos que
excluem. A vida é breve e, de definitivo e certo, só conhecemos a morte.
Guardemos um espaço em nosso cotidiano para o contato com o
Transcendente. Deixemos que Ele habite em nossa subjetividade e
aprendamos a fechar os olhos para ver melhor. Assim teremos real e
verdadeiramente um Ano Novo!
29/12/2017
A casa do Rio Vermelho
texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra
A casa de Jorge Amado e Zélia Gattai
A casa do Rio Vermelho foi o começo de uma nova vida e de muitas histórias de vida. Jorge e Zélia habitaram e planejaram cada lugar naquela casa comprada em Salvador/BA, no bairro do Rio Vermelho. Projeto do arquiteto Gildebert Chaves e pitacos de amigos, como o próximo Carybé, revelaram a composição final da casa. O que se passou durante toda uma vida de amor e filhos desde a compra, e eram os anos 1960, está sedimentado na casa.
Jorge na varanda escrevendo seus romances, que ganharam o mundo e todas as línguas, cada um com seu sabor. Gabriela veio a cravo e a canela, Dona Flor quituteira de muitos costados, esposa de dois maridos, um vivo, outro morto, um sério, outro Vadinho. E Cacau, e Capitães de Areia. Muitas histórias, tantos personagens, e tanta vida e verdade que todos eles descem e sobem Salvador todos os dias no imaginário do povo, porque é dele que foram feitos.
Uma casa para a vida simples e rica do casal, que ali recebia gente de todo canto e que lá se hospedava sem regalo. Portas estiveram sempre abertas, janelas escancaradas para a vida, porque de outra forma não receberia o espírito do baiano, aquele que nunca hesita e sempre convida, a casa é sua, sempre cheia.
Vinicius de Moraes certa vez cantando para as crianças e inventando canções, Zélia ali calada com o gravador, e assim nasceu o álbum Arca de Noé. Uma casa que também hospedou, mais de uma vez, um poeta conhecido e ovacionado de toda gente, o chileno Pablo Neruda, e sua Matilde.
Dos detalhes: o portão de ferro é desenho de Carybé; os azulejos executados por Udo Knoff; Mário Cravo projetou o lago do jardim; os móveis, desenho do arquiteto Lew Smarchewski; e a porta de entrada é do gravador Hansen Bahia. Jenner Augusto ficou com as outras. Mais, na casa, muita comida e crença baianas, um amor e uma vida a dois, Jorge e Zélia, semeada, vivida, registrada numa casa tão sonhada e realizada, porque feita de nada mais do que muita vida, a casa do Rio Vermelho.
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