15/11/2017

Proclamação da República do Brasil

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Proclamação da República do Brasil
"Proclamação da República", 1893, óleo sobre tela de Benedito Calixto (1853-1927). Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo
ParticipantesDeodoro da Fonseca
Quintino Bocaiuva
Benjamin Constant
Ruy Barbosa
Campos Sales
Floriano Peixoto
LocalizaçãoRio de Janeiro,  Brasil
Data15 de novembro de 1889 (128 anos)
ResultadoExtinção do Império do Brasil, banimento da família imperial brasileira e dos principais políticos favoráveis à monarquia constitucional parlamentarista e criação do Governo Provisório republicano.
A Proclamação da República Brasileira foi um levante político-militar ocorrido em 15 de novembro de 1889 que instaurou a forma republicana federativa presidencialista do governo no Brasil, derrubando a monarquia constitucional parlamentarista do Império do Brasil e, por conseguinte, pondo fim à soberania do imperador D. Pedro II. Foi, então, proclamada a República do Brasil.
A proclamação ocorreu na Praça da Aclamação (atual Praça da República), na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil, quando um grupo de militares do exército brasileiro, liderados pelo marechal Manuel Deodoro da Fonseca, destituiu o imperador e assumiu o poder no país.
Foi instituído, naquele mesmo dia 15, um governo provisório republicano. Faziam parte, desse governo, organizado na noite de 15 de novembro de 1889, o marechal Deodoro da Fonseca como presidente da república e chefe do Governo Provisório; o marechal Floriano Peixoto como vice-presidente; como ministros, Benjamin Constant Botelho de Magalhães, Quintino Bocaiuva, Rui Barbosa, Campos Sales, Aristides Lobo, Demétrio Ribeiro e o almirante Eduardo Wandenkolk, todos membros regulares da maçonaria brasileira.


Antecedentes

Azulejo em São Simão em homenagem à proclamação da república brasileira
Homenagem da Revista Ilustrada à proclamação da república brasileira
"Alegoria da República", quadro de Manuel Lopes Rodrigues pertencente ao acervo do Museu de Arte da Bahia
O movimento de 15 de novembro de 1889 não foi o primeiro a buscar a república, embora tenha sido o único efetivamente bem-sucedido, e, segundo algumas versões, teria contado com apoio tanto das elites nacionais e regionais quanto da população de um modo geral:

Crise da Monarquia

Veja também: Segundo reinado
A partir da década de 1870, como consequência da Guerra do Paraguai (também chamada de Guerra da Tríplice Aliança, 1864-1870), foi tomando corpo a ideia de alguns setores da elite de alterar o regime político vigente. Fatores que influenciaram esse movimento:
  • O imperador D. Pedro II não tinha filhos, apenas filhas. O trono seria ocupado, após a sua morte, por sua filha mais velha, a princesa Isabel, casada com um francês, Gastão de Orléans, Conde d'Eu, o que gerava o receio em parte da população de que o país fosse governado por um estrangeiro.
  • O fato de os negros terem ajudado o exército na Guerra do Paraguai e, quando retornaram ao país, permaneceram como escravos, ou seja, não ganharam a alforria de seus donos.

Situação política do Brasil em 1889

O governo imperial, através do 37.º e último gabinete ministerial, empossado em 7 de junho de 1889, sob o comando do presidente do Conselho de Ministros do Império, Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, do Partido Liberal, percebendo a difícil situação política em que se encontrava, apresentou, em uma última e desesperada tentativa de salvar o império, à Câmara-Geral, câmara dos deputados, um programa de reformas políticas do qual constavam, entre outras, as medidas seguintes: maior autonomia administrativa para as províncias, liberdade de voto, liberdade de ensino, redução das prerrogativas do Conselho de Estado e mandatos não vitalícios para o Senado Federal. As propostas do Visconde de Ouro Preto visavam a preservar o regime monárquico no país, mas foram vetadas pela maioria dos deputados de tendência conservadora que controlava a Câmara Geral. No dia 15 de novembro de 1889, a república era proclamada.

Perda de prestígio da monarquia

Muitos foram os fatores que levaram o Império a perder o apoio de suas bases econômicas, militares e sociais. Da parte dos grupos conservadores pelos sérios atritos com a Igreja Católica (na "Questão Religiosa"); pela perda do apoio político dos grandes fazendeiros em virtude da abolição da escravatura, ocorrida em 1888, sem a indenização dos proprietários de escravos.
Da parte dos grupos progressistas, havia a crítica que a monarquia mantivera, até muito tarde, a escravidão no país. Os progressistas criticavam, também, a ausência de iniciativas com vistas ao desenvolvimento do país fosse econômico, político ou social, a manutenção de um regime político de castas e o voto censitário, isto é, com base na renda anual das pessoas, a ausência de um sistema de ensino universal, os altos índices de analfabetismo e de miséria e o afastamento político do Brasil em relação a todos demais países do continente, que eram republicanos.
Assim, ao mesmo tempo em que a legitimidade imperial decaía, a proposta republicana - percebida como significando o progresso social - ganhava espaço. Entretanto, é importante notar que a legitimidade do Imperador era distinta da do regime imperial: Enquanto, por um lado, a população, de modo geral, respeitava e gostava de dom Pedro II, por outro lado, tinha cada vez em menor conta o próprio império. Nesse sentido, era voz corrente, na época, que não haveria um terceiro reinado, ou seja, a monarquia não continuaria a existir após o falecimento de dom Pedro II, seja devido à falta de legitimidade do próprio regime monárquico, seja devido ao repúdio público ao príncipe consorte, marido da princesa Isabel, o francês Conde d'Eu. O conde tinha fama de arrogante, não ouvia bem, falava com sotaque francês e, além de tudo, era dono de cortiços no Rio, pelos quais cobrava aluguéis exorbitantes de gente pobre. Temia-se que, quando Isabel subisse ao trono, ele viesse a ser o governante de fato do Brasil.[4]
Embora a frase de Aristides Lobo (jornalista e líder republicano paulista, depois feito ministro do governo provisório), "O povo assistiu bestializado" à proclamação da república, tenha entrado para a história, pesquisas históricas, mais recentes, têm dado outra versão à aceitação da república entre o povo brasileiro. É o caso da tese defendida por Maria Tereza Chaves de Mello (A República Consentida, Editora da FGV, EDUR, 2007), que indica que a república, antes e depois da proclamação, era vista popularmente como um regime político que traria o desenvolvimento, em sentido amplo, para o país.

Crise econômica

A crise econômica agravou-se em função das elevadas despesas financeiras geradas pela Guerra da Tríplice Aliança, cobertas por capitais externos. Os empréstimos brasileiros elevaram-se de três milhões de libras esterlinas em 1871 para quase 20 milhões em 1889, o que causou uma inflação da ordem de 1,75% ao ano, no plano interno.[carece de fontes?]

Questão abolicionista

Ver artigo principal: Abolicionismo no Brasil
A questão abolicionista impunha-se desde a abolição do tráfico negreiro em 1850, encontrando viva resistência entre as elites agrárias tradicionais do país. Diante das medidas adotadas pelo Império para a gradual extinção do regime escravista, devido a repercussão da experiência mal sucedida nos Estados Unidos de libertação geral dos escravos ter levado aquele país à guerra civil, essas elites reivindicavam do Estado indenizações proporcionais ao preço total que haviam pago pelos escravos a serem libertados por lei. Estas indenizações seriam pagas com empréstimo externo.
Com a decretação da Lei Áurea (1888), e ao deixar de indenizar esses grandes proprietários rurais, o império perdeu o seu último pilar de sustentação. Chamados de "republicanos de última hora" ou Republicanos do 13 de Maio, os ex-proprietários de escravos aderiram à causa republicana, não por causa de um sentimento, mas como uma "vingança" contra a monarquia.
Na visão dos progressistas, o Império do Brasil mostrou-se bastante lento na solução da chamada "Questão Servil", o que, sem dúvida, minou sua legitimidade ao longo dos anos. Mesmo a adesão dos ex-proprietários de escravos, que não foram indenizados, à causa republicana, evidencia o quanto o regime imperial estava atrelado à escravatura.
Assim, logo após a princesa Isabel assinar a Lei Áurea, João Maurício Wanderley, Barão de Cotegipe, o único senador do império que votou contra o projeto de abolição da escravatura, profetizou:

Questão religiosa

Ver artigo principal: Questão religiosa
Desde o período colonial, a Igreja Católica, enquanto instituição, encontrava-se submetida ao estado. Isso se manteve após a independência e significava, entre outras coisas, que nenhuma ordem do papa poderia vigorar no Brasil sem que fosse previamente aprovada pelo imperador (Beneplácito Régio). Ocorre que, em 1872, Vital Maria Gonçalves de Oliveira e Antônio de Macedo Costa, bispos de Olinda e Belém do Pará respectivamente, resolveram seguir, por conta própria, as ordens do Papa Pio IX, que excluíam, da igreja, os maçons. Como membros de alta influência no Brasil monárquico eram maçons (alguns livros também citam o próprio dom Pedro II como maçom), a bula não foi ratificada.
Os bispos se recusaram a obedecer ao imperador, sendo presos. Em 1875, graças à intervenção do maçom Duque de Caxias, os bispos receberam o perdão imperial e foram colocados em liberdade. Contudo, no episódio, a imagem do império desgastou-se junto à Igreja Católica. E este foi um fator agravante na crise da monarquia, pois o apoio da Igreja Católica à monarquia sempre foi essencial à subsistência da mesma.

Questão militar

Ver artigo principal: Questão Militar
Os militares do Exército Brasileiro estavam descontentes com a proibição, imposta pela monarquia, pela qual os seus oficiais não podiam manifestar-se na imprensa sem uma prévia autorização do Ministro da Guerra. Os militares não possuíam uma autonomia de tomada de decisão sobre a defesa do território, estando sujeitos às ordens do imperador e do Gabinete de Ministros, formado por civis, que se sobrepunham às ordens dos generais. Assim, no império, a maioria dos ministros da guerra eram civis.
Além disso, frequentemente os militares do Exército Brasileiro sentiam-se desprestigiados e desrespeitados. Por um lado, os dirigentes do império eram civis, cuja seleção era extremamente elitista e cuja formação era bacharelesca, mas que resultava em postos altamente remunerados e valorizados; por outro lado, os militares tinham uma seleção mais democrática e uma formação mais técnica, mas que não resultavam nem em valorização profissional nem em reconhecimento político, social ou econômico. As promoções na carreira militar eram difíceis de serem obtidas e eram baseadas em critérios personalistas em vez de promoções por mérito e antiguidade.
A Guerra do Paraguai, além de difundir os ideais republicanos, evidenciou aos militares essa desvalorização da carreira profissional, que se manteve e mesmo acentuou-se após o fim da guerra. O resultado foi a percepção, da parte dos militares, de que se sacrificavam por um regime que pouco os consideravam e que dava maior atenção à Marinha do Brasil.

Atuação dos republicanos e dos positivistas

Durante a Guerra do Paraguai, o contato dos militares brasileiros com a realidade dos seus vizinhos sul-americanos levou-os a refletir sobre a relação existente entre regimes políticos e problemas sociais. A partir disso, começou a desenvolver-se, tanto entre os militares de carreira quanto entre os civis convocados para lutar no conflito, um interesse maior pelo ideal republicano e pelo desenvolvimento econômico e social brasileiro.
Dessa forma, não foi casual que a propaganda republicana tenha tido, por marco inicial, a publicação do manifesto Republicano em 1870 (ano em que terminou a Guerra do Paraguai), seguido pela Convenção de Itu em 1873 e pelo surgimento dos clubes republicanos, que se multiplicaram, a partir de então, pelos principais centros no país.
Além disso, vários grupos foram fortemente influenciados pela maçonaria (Deodoro da Fonseca era maçom, assim como todo seu ministério) e pelo positivismo de Auguste Comte, especialmente, após 1881, quando surgiu a igreja Positivista do Brasil. Seus diretores, Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes, iniciaram uma forte campanha abolicionista e republicana.
A propaganda republicana era realizada pelos que, depois, foram chamados de "republicanos históricos" (em oposição àqueles que se tornaram republicanos apenas após o 15 de novembro, chamados de "republicanos de 16 de novembro").
As ideias de muitos dos republicanos eram veiculadas pelo periódico A República. Segundo alguns pesquisadores, os republicanos dividiam-se em duas correntes principais:
  • Os evolucionistas, que admitiam que a proclamação da república era inevitável, não justificando uma luta armada;
  • Os revolucionistas, que defendiam a possibilidade de pegar em armas para conquistá-la, com mobilização popular e com reformas sociais e econômicas.
Embora houvesse diferenças entre cada um desses grupos no tocante às estratégias políticas para a implementação da república e também quanto ao conteúdo substantivo do regime a instituir, a ideia geral, comum aos dois grupos, era a de que a república deveria ser um regime progressista, contraposto à exausta monarquia. Dessa forma, a proposta do novo regime revestia-se de um caráter social revolucionário e não apenas do de uma mera troca dos governantes.

Golpe militar de 15 de novembro de 1889 e a proclamação da República

Charge da proclamação da República, com José do Patrocínio em primeiro plano.
No Rio de Janeiro, os republicanos insistiram que o Marechal Deodoro da Fonseca, um monarquista, chefiasse o movimento revolucionário que substituiria a monarquia pela república.
Depois de muita insistência dos revolucionários, Deodoro da Fonseca concordou em liderar o movimento militar.
Segundo relatos históricos, em 15 de novembro de 1889, comandando algumas centenas de soldados que se movimentavam pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro, o marechal Deodoro, assim como boa parte dos militares, pretendia apenas derrubar o então Chefe do Gabinete Imperial (equivalente a primeiro-ministro), o Visconde de Ouro Preto. "Os principais culpados de tudo isso [a proclamação da República] são o conde D'Eu e o Visconde de Ouro Preto: o último por perseguir o Exército e o primeiro por consentir nessa perseguição", diria mais tarde Deodoro.[4][5]
O golpe militar, que estava previsto para 20 de novembro de 1889, teve de ser antecipado. No dia 14, os conspiradores divulgaram o boato de que o governo havia mandado prender Benjamin Constant Botelho de Magalhães e Deodoro da Fonseca. Posteriormente confirmou-se que era mesmo boato. Assim, os revolucionários anteciparam o golpe de estado, e, na madrugada do dia 15 de novembro, Deodoro dispôs-se a liderar o movimento de tropas do exército que colocou um fim no regime monárquico no Brasil.
Os conspiradores dirigiram-se à residência do marechal Deodoro, que estava doente, com dispneia,[6] e acabam por convencê-lo a liderar o movimento. Aparentemente decisivo para Deodoro foi saber que, a partir de 20 de novembro, o novo Presidente do Conselho de Ministros do Império seria Silveira Martins, um velho rival. Deodoro e Silveira Martins eram inimigos desde o tempo em que o marechal servira no Rio Grande do Sul, quando ambos disputaram as atenções da baronesa do Triunfo, viúva muito bonita e elegante, que, segundo os relatos da época, preferira Silveira Martins. Desde então, Silveira Martins não perdia oportunidade para provocar Deodoro da tribuna do Senado, insinuando que malversava fundos e até contestando sua eficácia enquanto militar.[4]
Além disso, o major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro dissera a Deodoro que uma suposta ordem de prisão contra ele havia sido expedida, argumento que convenceu finalmente o velho marechal a proclamar a República no dia 16 e a exilar a Família Imperial já à noite, de modo a evitar uma eventual comoção popular.[7]
Proclamação da República no Rio de Janeiro (por Georges Scott, publicado em Le Monde Illustré, nº 1.708, 21/12/1889).
Desembarque de Dom Pedro II em Lisboa: a canoa imperial atraca no Arsenal da Marinha.
Convencido de que seria preso pelo governo imperial, Deodoro saiu de sua residência ao amanhecer do dia 15 de Novembro, atravessou o Campo de Santana e, do outro lado do parque, conclamou os soldados do batalhão ali aquartelado, onde hoje se localiza o Palácio Duque de Caxias, a se rebelarem contra o governo. Oferecem um cavalo ao marechal, que nele montou, e, segundo testemunhos, tirou o chapéu e proclamou "Viva a República!". Depois apeou, atravessou novamente o parque e voltou para a sua residência. A manifestação prosseguiu com um desfile de tropas pela Rua Direita, atual rua 1.º de Março, até o Paço Imperial.
Os revoltosos ocuparam o quartel-general do Rio de Janeiro e depois o Ministério da Guerra. Depuseram o Gabinete ministerial e prenderam seu presidente, Afonso Celso de Assis Figueiredo, Visconde de Ouro Preto.
No Paço Imperial, o presidente do gabinete (primeiro-ministro), Visconde de Ouro Preto, havia tentando resistir pedindo ao comandante do destacamento local e responsável pela segurança do Paço Imperial, general Floriano Peixoto, que enfrentasse os amotinados, explicando ao general Floriano Peixoto que havia, no local, tropas legalistas em número suficiente para derrotar os revoltosos. O Visconde de Ouro Preto lembrou a Floriano Peixoto que este havia enfrentado tropas bem mais numerosas na Guerra do Paraguai. Porém, o general Floriano Peixoto recusou-se a obedecer às ordens dadas pelo Visconde de Ouro Preto e assim justificou sua insubordinação, respondendo ao Visconde de Ouro Preto:
Em seguida, aderindo ao movimento republicano, Floriano Peixoto deu voz de prisão ao chefe de governo Visconde de Ouro Preto.
O único ferido no episódio da proclamação da república foi o Barão de Ladário, que resistiu à ordem de prisão dada pelos amotinados e levou um tiro. Consta que Deodoro não dirigiu crítica ao Imperador dom Pedro II e que vacilava em suas palavras. Relatos dizem que foi uma estratégia para evitar um derramamento de sangue. Sabia-se que Deodoro da Fonseca estava com o tenente-coronel Benjamin Constant ao seu lado e que havia alguns líderes republicanos civis naquele momento.
Na tarde do mesmo dia 15 de novembro, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, foi solenemente proclamada a República.
À noite, na Câmara Municipal do Município Neutro, o Rio de Janeiro, José do Patrocínio redigiu a proclamação oficial da República dos Estados Unidos do Brasil, aprovada sem votação. O texto foi para as gráficas de jornais que apoiavam a causa, e, só no dia seguinte, 16 de novembro, foi anunciado ao povo a mudança do regime político do Brasil.
Dom Pedro II, que estava em Petrópolis, retornou ao Rio de Janeiro. Pensando que o objetivo dos revolucionários era apenas substituir o Gabinete de Ouro Preto, o Imperador D. Pedro II tentou ainda organizar outro gabinete ministerial, sob a presidência do conselheiro José Antônio Saraiva. O imperador, em Petrópolis, foi informado e decidiu descer para a Corte. Ao saber do golpe de estado, o Imperador reconheceu a queda do Gabinete de Ouro Preto e procurou anunciar um novo nome para substituir o Visconde de Ouro Preto. No entanto, como nada fora dito sobre República até então, os republicanos mais exaltados espalharam o boato de que o Imperador escolhera Gaspar Silveira Martins, inimigo político de Deodoro da Fonseca desde os tempos do Rio Grande do Sul, para ser o novo chefe de governo.[9] Deodoro da Fonseca então convenceu-se a aderir à causa republicana. O Imperador foi informado disso e, desiludido, decidiu não oferecer resistência.
No dia seguinte, o major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro entregou a dom Pedro II uma comunicação, cientificando-o da proclamação da república e ordenando sua partida para a Europa, a fim de evitar conturbações políticas. A família imperial brasileira exilou-se na Europa, só lhes sendo permitida a sua volta ao Brasil na década de 1920.

Controvérsias

Bandeira histórica, não oficial actualmente Proposta de bandeira criada por Lopes Trovão, içada na Câmara Municipal do Rio de Janeiro por José do Patrocínio em 15 de novembro de 1889.
Bandeira histórica, não oficial actualmente Versão alternativa do projeto de Lopes Trovão, criada por Ruy Barbosa, adotada por quatro dias pelo governo provisório republicano.
Bandeira histórica, não oficial actualmente Primeira versão da atual bandeira nacional, inspirada na bandeira do Império, com 21 estrelas, oficializada em 19 de novembro de 1889.
É possível considerar a legitimidade ou não da república no Brasil por diferentes ângulos.
Do ponto de vista do Código Criminal do Império do Brasil, sancionado em 16 de dezembro de 1830, o crime cometido pelos republicanos foi:
"Artigo 87: Tentar diretamente, e por fatos, destronar o imperador; privá-lo em todo, ou em parte da sua autoridade constitucional; ou alterar a ordem legítima da sucessão. Penas de prisão com trabalho por cinco a quinze anos. Se o crime se consumar: Penas de prisão perpétua com trabalho no grau máximo; prisão com trabalho por vinte anos no médio; e por dez anos no mínimo."
O Visconde de Ouro Preto, deposto em 15 de novembro, entendia que a proclamação da república fora um erro e que o Segundo Reinado tinha sido bom, e, assim se expressou em seu livro "Advento da Ditadura Militar no Brasil":
Proclamação da República em frente ao Quartel General do Rio de Janeiro.
Embora se argumente que não houve participação popular no movimento que terminou com o regime monárquico e implantou a república, o fato é que também não houve manifestações populares de apoio à monarquia, ao imperador ou de repúdio ao novo regime.
Alguns pesquisadores[quem?] argumentam que, caso a monarquia fosse popular, haveria movimentos contrários à república em seguida, além da Guerra de Canudos. Entretanto, segundo outros pesquisadores[quem?], o que teria ocorrido foi uma crescente conscientização a respeito do novo regime e sua aprovação pelos mais diferentes setores da sociedade brasileira. Versão oposta é dada pela pesquisadora, Maria de Lourdes Mônaco Janoti, no livro Os Subversivos da República, no qual relata o medo que tiveram os republicanos, nas primeiras décadas da república, em relação a uma possível restauração da monarquia no Brasil. Maria Janoti mostra também, em seu livro, a repressão forte, por parte dos republicanos, a toda tentativa de se organizar grupos políticos monárquicos naquela época.
Neste sentido, um caso notável de resistência à república foi o do líder abolicionista José do Patrocínio, que, entre a abolição da escravatura e a proclamação da república, manteve-se fiel à monarquia, não por uma compreensão das necessidades sociais e políticas do país, mas, romanticamente, apenas devido a uma dívida de gratidão com a Princesa Isabel. Aliás, nesse período de aproximadamente dezoito meses, José do Patrocínio constituiu a chamada "Guarda Negra", que eram negros alforriados organizados para causar confusões e desordem em comícios republicanos, além de espancar os participantes de tais comícios.
Em relação à ausência de participação popular no movimento de 15 de novembro, um documento que teve grande repercussão foi o artigo de Aristides Lobo, que fora testemunha ocular da proclamação da República, no Diário Popular de São Paulo, em 18 de novembro, no qual dizia:
Na reunião na casa de Deodoro, na noite de 15 de novembro de 1889, foi decidido que se faria um referendo popular, para que o povo brasileiro aprovasse ou não, por meio do voto, a república. Porém esse plebiscito só ocorreu 104 anos depois, determinado pelo artigo segundo do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição de 1988.
Segundo historiadores, a aristocracia cafeeira do oeste paulista e os militares foram os principais articuladores da queda da monarquia, mas sem uma aliança formal.

Relação com a manutenção do país unido

Com a proclamação da república, "segundo todas as probabilidades", acabaria também o Brasil, pensava, no fim do século XIX, o escritor português Eça de Queirós. "Daqui a pouco" - acrescentava, numa das suas cartas de Fradique Mendes, publicadas depois de sua morte sob o título de "Cartas Inéditas de Fradique Mendes", e transcritas por Gilberto Freyre em sua obra "Ordem e Progresso":
O sociólogo Gilberto Freyre entendeu que Eça de Queirós errou redondamente:

Referências

  1. Ir para cima Renato Cancian (31 de julho de 2005). «Revolução pernambucana: República em Pernambuco durou 75 dias». Consultado em 1 de março de 2015 
  2. Ir para cima «Revolução Pernambucana de 1817». InfoEscola. Consultado em 21 de junho de 2015 
  3. Ir para cima «Confederação do Equador (1824)». Mundo Educação. Consultado em 21 de julho de 2015 
  4. Ir para: a b c Numa sexta-feira de boatos e agitação, 600 militares se revoltam, saem à rua, e o Brasil entra na era republicana. VEJA (ed. especial República), 20 de novembro de 1889.
  5. Ir para cima O que realmente aconteceu na proclamação da República. Por Paulo Gomes Lacerda
  6. Ir para cima Proclamação da República - O fim do Império
  7. Ir para cima O que realmente aconteceu na proclamação da República. Por Paulo Gomes Lacerda
  8. Ir para cima OURO PRETO, Visconde de, Advento da ditadura militar no Brasil, Imprimiere F. Pichon, Paris, 1891
  9. Ir para cima Pouco depois, D. Pedro II mudaria de posição, indicando o conselheiro José Antônio Saraiva em lugar de Silveira Martins. O Conselheiro Saraiva chegou a enviar uma carta a Deodoro para saber se o marechal o apoiaria na organização de um novo gabineto do Império, ao que Deodoro respondeu: "É tarde, a República já está feita e o novo governo constituído" ( V. "A trama da vitoria". VEJA (edição especial República), 20 de novembro de 1889.
  10. Ir para cima >"FREIRE, Gilberto, Ordem e Progresso, páginas 180 e 181, Editora Record, 5ª edição
  11. Ir para cima FREIRE, Gilberto, Ordem e Progresso, página 180 e 181, Editora Record, 5ª edição

Bibliografia

  • PEIXOTO, Floriano, Floriano 1839-1939, Editora Graphicos Bloch, Rio de Janeiro, 1939.
  • FONSECA, Deodoro, Deodoro e a Verdade Histórica, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1939.
  • BARBOSA, Rui, Ditadura e República, Editora Guanabara, Rio de Janeiro, 1932.
  • CALMON, A Vida de Dom Pedro II - O Rei filósofo, Blibioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 1975.
  • CAMPOS SALES, Dr. Manuel Ferraz de, Da Propaganda à Presidência, Edição Fac-similar, Senado Federal, Brasília, 1998.
  • CHAVES DE MELLO, Maria Tereza, A República Consentida, Editora FGV, EDUR, Rio de Janeiro, 2007.
  • JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco, Os Subversivos da República, Editora Brasiliense, São Paulo, 1986.
  • OURO PRETO, Visconde de, A Década Republicana, Editora da UNB, Brasília, 1986.
  • OURO PRETO, Visconde de, Advento da Ditadura Militar no Brasil, Editora Imprimiere F. Pichon, Paris, 1891.
  • PRADO, Eduardo, Fatos da Dictadura Militar no Brazil, Editora Revista de Portugal, 1890.


BRITO E O PROTOCOLO DA CANINHA

Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com

01)  Nas eleições diretas de 1982 para governador, a SUDENE voltou a desempenhar importante papel no desenvolvimento do Nordeste. Qualquer notícia sobre as ações da SUDENE ganhava as primeiras páginas dos principais jornais do país. Em Pernambuco, o então governador Roberto Magalhães anfitrionava os colegas e suas comitivas com whisky 12 anos, sucos e acepipes. A secretária chefe do Gabinete Civil era Margarida Cantarelli, mulher finíssima, cara de madre superiora. Certa vez, foi polidamente interpelada pelo secretário de estado Manoel de Medeiros de Brito com uma sugestão inteligente, mas não menos capciosa. “Professora Cantarelli, com todo respeito”, pondera Brito, “reconhecemos à unanimidade que Pernambuco é a terra abençoada e pródiga do melaço da cana, da galinha caipira e da carne de sol. Mas, não vemos, para nossa tristeza, esses produtos da culinária nordestina serem exibidos à mesa para todos os convidados”. Margarida Cantarelli anotou a sugestão e nas reuniões seguintes, a cachaça, a galinha caipira e a carne de sol, ingressaram no cardápio das recepções do Palácio Campos das Princesas do governo de Pernambuco, pra ninguém botar defeito, graças a Brito.
02) O garçom do Palácio chamava-se Paulo Maluf e se tornou amigo incondicional de Brito. Quando terminava a reunião da SUDENE e os primeiros grupos chegavam ao salão de recepção para os aperitivos inaugurais do almoço, e uma voz se erguia em meio aos circunstantes: “Maluf, Maluf, cadê a minha cachaça!”. Era Brito exercitando o ritual.
03) De outra feita, a caninha foi servida (ainda discriminada), sob olhares de esgueira dos presentes. O jornalista João Batista Machado, bem posicionado, comenta: “Brito parece que só nós dois estamos bebendo!”. “Que nada, Machado Lopes”, rebate Brito, “o beiçola ali já tomou três”. O beiçola era João Alves, governador do Sergipe, o mulato dos lábios carnudos. Gostava de uma pinga “amuada”.
04) Certa vez, estava no interior, quando veio o apelo irresistível de uma cachacinha. O seu fiel escudeiro era Raul, motorista. “Raul”, recomenda Brito, com parcimônia, “veja se encontra nesses botecos uma cachaça pelo menos razoável”. Empreendida a busca, volta Raul com a recomendação protocolar: “Dr. Brito, tem umas, mas não são de boa qualidade”. Brito, sediço e aliciador, sentencia: “Seu Raul, ruim é não ter”.
04) Brito é um exímio apreciador da “pinga” nordestina. Degusta o precioso líquido como se fosse um príncipe do semiárido. Como Secretário do Interior e Justiça, Brito gostava de integrar a comitiva oficial às reuniões da Sudene em Recife. E explicava ao jornalista Machadinho: “eu vou porque lá é tudo muito bom e barato”. Mas nunca perdia o paladar de uma branquinha. Na capital do frevo, encontrava sempre o amigo Raimundo Nonato Borba, chefe da Representação do Rio Grande do Norte junto à SUDENE. Como é do seu hábito, arranjou-lhe logo um apelido: Borba Gato. E no trajeto do aeroporto à Sudene, do banco traseiro Brito avisava: “Borba Gato, não se descuide de parar antes num boteco para eu beber um “rabo de lagartixa”.
05) O Palácio Campo das Princesas, em Recife, era o local refinado das reuniões da Sudene para os convescotes e rega-bofes do mundo oficial do Nordeste. Num desses eventos gastronômicos, estava presente o então Secretário da Indústria e Comércio do Rio Grande do Norte, Jussier Santos. Conhecido pela sua finesse, foi logo se servindo de champignon e sugerindo a Brito para provar aquela delícia. E esse responde de bate-pronto: “Jussier, eu não como frieira”.



(*) Escritor.

14/11/2017

A PALESTRA DE EDGARD RAMALHO DANTAS

Reverenciando a alma ótima de Edgar Dantas


Hoje fui cedo ao trabalho para dar vencimento ao básico, uma vez que o principal do dia está nos fora muros da UFRN.

Alguns quilômetros ao leste, nos domínios do Instituto Histórico e Geográfico do RN, a alma mais viva dos Dantas, o celebrado e cerebrado Edgar Dantas marcou na agenda para assuntar sobre o vale do Ceará Mirim.
A moto percorreu as vias engarrafadas e furou filas veiculares com o passaporte de sua pequenez, alcançando a Casa da Memória a tempo de abraçar o palestrante e seu filho Henrique Muniz Dantas, antes do início da fala mágica sobre a história, os causos e as nuances desta terra rica em cultura, agricultura e humanescência, como diz Ana Tania Sampaio.
Edgard Dantas tem se notabilizado pelo mergulho aprofundado na obra do seu avô Manoel Dantas, célebre patrício potiguar, navegante de vários mares, conhecido por prever a Via Costeira e por militar no jornalismo, fotografia, literatura, gestão pública e política, estando Edgar num périplo comemorativo dos 150 anos do nascimento do famoso avô.
Edgar alcança os 75 anos cheio de boa vontade de falar e compartilhar conhecimento. Na sala de sua fala, alguns amigos com certa idade, ávidos para ouvir.
No trajeto da moto estacionada até o IHGRN muitos jovens alunos em bafafá incontido, visitavam a Igreja do Galo e o próprio instituto.
Quem ouviu Edgar agradeceu a existência esse prazer e desejou internamente, que os jovens possam ter sede de conhecimento, cultura e, claro, lazer.
Viva Edgar, Ceará Mirim, Instituto Histórico e a terra potiguar .

A imagem pode conter: 6 pessoas, pessoas sorrindo, pessoas sentadas e pessoas em pé
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A imagem pode conter: 1 pessoa, sentado e área interna  
 PALESTRANTE





 Gustavo sobral colabora com o Palestrante

 Participantes


SÁBADO, 11 DE NOVEMBRO DE 2017

PALESTRA DE EDGARD DANTAS - HOJE PELA MANHÃ


SOLENIDADE HOJE À NOITE

ACADEMIA DE LETRAS HOMENAGEIA
IMPRENSA E INSTITUIÇÕES


         Celebrando 81 anos de atividade, a Academia Norte-rio-grandense de Letras homenageia nesta terça-feira, 14 de novembro, a partir das 20h, em sua sede na rua Mipibu, 443, personalidades e instituições que valorizam a cultura potiguar. “Uma das funções básicas da nossa Academia é estimular quem incentiva a cultura do Rio Grande do Norte”, diz Diogenes da Cunha Lima, presidente da ANRL.

       No evento, serão louvados com Palmas Acadêmicas Câmara Cascudo, o arquiteto Francisco Soares Júnior, a Liga de Ensino do Rio Grande do Norte e a Fundação Cultural Capitania das Artes – Funcarte. Já as medalhas Mérito Acadêmico Agnelo Alves serão entregues a Cinthia Lopes (editora do caderno “Viver” da Tribuna do Norte), ao blog “Tok de História” de Rostand Medeiros, ao apresentador de TV José Pinto Júnior e ao jovem jornalista Ramon Ribeiro.

        Completando a programação, será lançado selo postal alusivo à obra de William Shakespeare, uma iniciativa da Empresa Brasileira de Correio e Telégrafos.

 
Acadêmica  Leide Câmara

Secretária Geral




Fone  9.9982-2438 


13/11/2017

EDGARD DANTAS E GUSTAVO SOBRAL NA FLIN




Uma conversa na FLIN sobre Miguelinho e Manoel Dantas,
com Edgar Dantas e Gustavo Sobral, que foi uma viagem ao passado.
A leitura de Gustavo Sobral você acompanha


Leiam Manoel Dantas e conheçam Miguelinho



Uma conversa na FLIN sobre Miguelinho e Manoel Dantas,
com Edgar Dantas e Gustavo Sobral, que foi uma viagem ao passado.
A leitura de Gustavo Sobral você acompanha aqui.


Leiam Manoel Dantas e conheçam Miguelinho

11/11/2017

Conversas na FLIN 2017, Tenda Moacy Cirne
Natal/RN, 11 de novembro de 2017.
Frei Miguelinho e Manoel Dantas, com Edgar Dantas e Gustavo Sobral

Leiam Manoel Dantas e conheçam Miguelinho
Por Gustavo Sobral

Um certo guarda-livros pernambucano, Antonio Nobre de Almeida e Castro, teve que vir à Natal resolver umas pendengas da firma em que trabalhava no Recife. Veio no trem, e aquele tempo, os jornais noticiavam, está em A República: viagem de trem era o terror, os assentos quebrados, a caneca d´água furada. Imaginem.

Pois Antonio Nobre fez esta viagem, a serviço, desceu aqui na estação da Ribeira e tomou o endereço do advogado que poderia orientá-lo, e este advogado era Manoel Dantas. Aqui, começa a história que, se não tivesse acontecido, eu aqui não estaria.

Manoel Dantas, ocupadíssimo com outras causas e demandas, recomendou ao guarda-livros que procurasse, para resolver a questão, o também advogado, Manoel Hemetério Raposo de Melo, que morava aqui na Rio Branco, 41. Antonio Nobre foi bater a casa do Manoel Hemetério e quem lhe abriu a porta foi a filha de Hemetério, a jovem Maria Elisa, pela qual Nobre se apaixonou à primeira vista. Casaram em 1902.

Não fosse a cabeça fervilhante e ocupada de Manoel Dantas, este casal não teria se encontrado e a minha avó, filha deles, não teria nascido, e por tabela eu aqui não estaria para contar esta história: a história de Manoel Gomes de Medeiros Dantas.

Manoel Dantas foi uma inteligência. Nasceu em Caicó/RN, em 26 de abril de 1867 e faleceu em Natal, 15 de junho de 1924. Estudou Direito em Pernambuco, na Faculdade do Recife, a mais próxima que havia, e se formou em 1890, a muito custo.

Há uma passagem narrada, acredito que por Juvenal Lamartine, que é um traço do homem: sem recursos para adquirir uma coleção de livros cujo autor era o jurista Clovis Beviláqua e julgando a preciosidade do material, comprou cadernos e passou dias e dias na sala da biblioteca copiando em caligrafia perfeita a obra magistral.

Formado, andou pelo Rio Grande do Norte, promotor em Jardim do Seridó e Acari. Instalou a justiça federal no RN, foi juiz, diretor de instrução pública, deputado estadual, procurador do estado e professor de geografia do Ateneu.  Construiu uma grande biblioteca, atualizadíssima, inclusive, com revistas francesas, hoje no acervo do IHGRN. Sabia encadernar livros com perfeição e nas estantes do IHGRN encontram-se estas obras-primas.

Foi jornalista. E jornalista completo. Juvenal Lamartine dele disse: “é a mais completa organização jornalística do Rio Grande do Norte”.

E de tão completo foi até fotógrafo e no tempo que a fotografia era coisa mais que difícil, tinha que se mandar revelar em Paris. Fotografou Natal, o casario e as cerimônias cívicas, documentando um tempo, o seu. Deixou história e geografia que se consultam até hoje, publicadas nos jornais que fundou (Diário de Natal e O Estado) e nos que editou (O Povo em Caicó e A Republica em Natal).

Editor, articulista, cronista, redator. Foi tudo. É José Augusto (Bezerra de Medeiros) quem diz: “poeta, conteur, historiador, advogado, jurista, pedagogo, político, tribuno, jornalista, sobretudo, jornalista...” (Rio, 1941). E foi pelos jornais que narrou um sonho e escreveu a lenda da cidade do Natal. Ele mesmo conta como tudo aconteceu. Natal nasceu da lenda: quando o anjo, no alto da duna, diante de Mascarenhas Homem, disse: surge e levanta!

Osório Dantas, seu filho, perguntou a Cascudo: Cascudinho, que história de lenda é esta, existiu mesmo? E Cascudo prontamente respondeu: menino, cale essa boca, essa lenda saiu do quengo de Manoel Dantas!

Foi na revista do IHGRN, do qual foi fundador e redator, que publicou além da nossa história e geografia, os traços biográficos de Miguelinho, revolucionário de 1817. Um trabalho singular que sai na edição de 1907 e que reproduzimos ipsis litteris (até no design gráfico) nesta edição comemorativa, número 95, ano 2017. Agora, convido MD para esta conversa e pergunto: Manoel Dantas, quem foi Miguelinho? A resposta está na revista, que a gente não conta para que todos leiam MD e conheçam Miguelinho por MD.