07/09/2017

DIA DA PÁTRIA



Independência do Brasil

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Independência do Brasil
Independence of Brazil 1888.jpg
Independência ou Morte, do pintor paraibano Pedro Américo (óleo sobre tela, 1888).
Outros nomesProclamação da Independência
ParticipantesPedro de Alcântara
José Bonifácio de Andrada e Silva
Maria Leopoldina de Áustria
Joaquim Gonçalves Ledo
LocalizaçãoRiacho do Ipiranga, São Paulo, SP
 Brasil
Data7 de setembro de 1822 (195 anos)
ResultadoSeparação política do Reino do Brasil do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e instituição do Império do Brasil.
Independência do Brasil é um processo que se estende de 1821 a 1825 e coloca em violenta oposição o Reino do Brasil e o Reino de Portugal, dentro do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. As Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, instaladas em 1820, como uma consequência da Revolução Liberal do Porto, tomam decisões, a partir de 1821, que tinham como objetivo reduzir novamente o Brasil ao seu antigo estatuto colonial.
Antecedendo o processo de independência do Brasil, mas com fortes influências sobre o mesmo, ocorre a transferência da corte portuguesa para o Brasil. Em 1807, o exército francês invadiu o Reino de Portugal, que se recusava a se juntar ao bloqueio continental contra o Reino Unido. Incapaz de resistir ao ataque, a família real e o governo português fugiram para o Brasil, que era então a mais rica e desenvolvida das colônias lusitanas.[1][2] A instalação do Tribunal de Justiça no Rio de Janeiro traz uma série de transformações políticas, econômicas e sociais que levam à decisão do Príncipe Regente D. João, consumada em 16 de dezembro de 1815, de elevar o Brasil à condição de reino, unido com sua ex-metrópole.
Porém, em 1820, uma revolução liberal eclodiu em Portugal e a família real foi forçada a retornar para Lisboa. Antes de sair, no entanto, D. João nomeia o seu filho mais velho, D. Pedro de Alcântara de Bragança, como Príncipe Regente do Brasil (1821). Fiel ao seu pai, o príncipe-regente vê sua condição complicada pela vontade política das cortes portuguesas em repatriá-lo e de retornar o Brasil ao seu antigo estatuto colonial. Oficialmente, a data comemorada para independência do Brasil é a de 7 de setembro de 1822, em que ocorreu o chamado "Grito do Ipiranga", às margens do riacho Ipiranga (atual cidade de São Paulo). Em 12 de outubro de 1822, o príncipe foi proclamado imperador pelo nome de Pedro I e o país leva o nome de Império do Brasil.
Assim começou a guerra de independência que vê nascer e atuar o exército brasileiro, formado a partir da contratação de mercenários, do alistamento de civis e de tropas coloniais portuguesas,[3] contra aquelas que permaneceram fiéis ao Reino de Portugal em algumas partes do país.[4] Em meio ao conflito, há em Pernambuco o levantamento da Confederação do Equador, que pretendia formar seu próprio governo, republicano, mas foi duramente reprimido. Depois de três anos de conflito armado, Portugal finalmente reconheceu a independência do Brasil, e em 29 de agosto de 1825 foi assinado o Tratado de Amizade e Aliança firmado entre Brasil e Portugal. Em troca, o Brasil se comprometeu a pagar ao Reino de Portugal uma indenização substancial e assinar um tratado de comércio com o Reino Unido, para indenizá-lo por sua mediação.


Antecedentes

Origem do Brasil

Ver artigo principal: Colonização do Brasil
A terra agora chamada Brasil (nome cuja origem é contestada) foi reivindicada por Portugal em abril de 1500, com a chegada da frota portuguesa comandada por Pedro Álvares Cabral.[5]
A colonização foi efetivamente iniciada em 1534, quando D. João III dividiu o território em quatorze capitanias hereditárias,[6][7] mas esse arranjo se mostrou problemático, uma vez que apenas as capitanias de Pernambuco e São Vicente prosperaram. Então, em 1549, o rei atribuiu um governador-geral para administrar toda a colônia.[7][8] Os portugueses assimilaram algumas das tribos nativas,[9] enquanto outras foram escravizadas ou exterminadas por doenças europeias para as quais não tinham imunidade,[10][11] ou em longas guerras travadas nos dois primeiros séculos de colonização, entre os grupos indígenas rivais e seus aliados europeus.[12][13][14]
Em meados do século XVI, quando o açúcar de cana tornou-se o mais importante produto de exportação do Brasil,[15] os portugueses iniciaram a importação de escravos africanos, comprados nos mercados de escravos da África ocidental.[16][17] Assim, estes começaram a ser trazidos ao Brasil, inicialmente para lidar com a crescente demanda internacional do produto, naquele que foi chamado ciclo da cana-de-açúcar.[18][19]

Transferência da corte portuguesa

A partir de 15 de julho de 1799, o Príncipe do Brasil, D. João Maria de Bragança, tornou-se príncipe-regente de Portugal, pois sua mãe, a rainha D. Maria I, foi declarada louca pelos médicos. Os acontecimentos na Europa, onde Napoleão Bonaparte se afirmava, sucederam-se com velocidade crescente.
Desde 1801 que se considerava a ideia da transferência da corte portuguesa para o Brasil. As facções no governo português, entretanto, se dividiam: a facção anglófila, partidária de uma política de preservação do Império Colonial Português e do próprio Reino, através do mar, apoiados na antiga aliança Luso-Britânica; e a facção francófila, que considerava que a neutralidade só poderia ser obtida através de uma política de aproximação com a França. Ambas eram apoiadas pelas lojas maçônicas quer de origem britânica, quer de origem francesa. Considere-se ainda que as ideias iluministas francesas circulavam clandestinamente em livros, cada vez mais abundantes.
A decretação do Bloqueio Continental em Berlim (1806) tornou mais difícil a neutralidade Portuguesa. Em 1807, o Tratado de Fontainebleau dividiu arbitrariamente Portugal em três reinos. Desde Outubro desse ano, Jean-Andoche Junot, antigo embaixador francês em Lisboa, preparava-se para invadir Portugal. Foi nesse contexto que D. João pactuou com a Grã-Bretanha a transferência do governo para o Rio de Janeiro, sob a proteção dos últimos.
Com a invasão francesa de Portugal em progresso, a 29 de novembro de 1807 iniciou-se a viagem da Família Real e da Corte Portuguesa. Dezoito navios de guerra portugueses e treze britânicos escoltaram mais de vinte e cinco navios mercantes de Lisboa até à costa do Brasil. A bordo seguiam mais de quinze mil portugueses. O Reino ficava a ser governado por uma Junta de Regência que Junot logo dissolveu.
Com a presença da Família Real Portuguesa no Brasil a partir de 1808, registrou-se o que alguns historiadores brasileiros denominam de "inversão metropolitana", ou seja, o aparelho de Estado Português passou a operar a partir do Brasil, que desse modo deixou de ser uma "colônia" e assumiu efetivamente as funções de metrópole. Pressionado pelo triunfo da revolução constitucionalista, o soberano retornou com a família real para Portugal, deixando como príncipe regente no Brasil o seu primogênito, D. Pedro de Alcântara.

Reino Unido com Portugal

Aclamação do Rei Dom João VI do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, no Rio de Janeiro.
Com o fim da Guerra Peninsular em 1814, os tribunais europeus exigiram que a rainha Maria I e o príncipe regente D. João regressassem a Portugal, já que consideravam impróprio que representantes de uma antiga monarquia europeia residissem em uma colônia. Em 1815, para justificar a sua permanência no Brasil, onde a corte real tinha prosperado nos últimos seis anos, o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves foi criado com a elevação do Estado do Brasil à condição de reino, estabelecendo, assim, um Estado monárquico transatlântico e pluricontinental.[20]
No entanto, isso não foi suficiente para acalmar a demanda portuguesa pelo retorno da corte para Lisboa, como a revolução liberal do Porto exigiria em 1820, e nem o desejo de independência e pelo estabelecimento de uma república por grupos de brasileiros, como a Revolução Pernambucana de 1817 mostrou.[20]
Em 1821, como uma exigência de revolucionários que haviam tomado a cidade do Porto,[21] D. João VI foi incapaz de resistir por mais tempo e partiu para Lisboa, onde foi obrigado a fazer um juramento à nova constituição, deixando seu filho, o príncipe Pedro de Alcântara, como Regente do Reino do Brasil.[22]

Independência

Cortes portuguesas

Cortes portuguesas em 1822
Em 1820, a Revolução Liberal do Porto eclodiu em Portugal. O movimento iniciado pelos constitucionalistas liberais resultou na reunião das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa (ou Assembleia Constituinte), que teria de criar a primeira constituição do reino.[23][24] As Cortes ao mesmo tempo que exigiram o retorno do rei Dom João VI, que vivia no Brasil desde 1808 e que elevou o Brasil para a categoria de reino, como parte do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em 1815. Seu filho e príncipe herdeiro Dom Pedro passou a governar o Brasil como regente no lugar do pai em 7 de março de 1821.[25][26] O rei partiu para a Europa em 26 de abril, enquanto Dom Pedro permaneceu no Brasil liderando o governo ao lado do ministros do reino.[27][28]
Os oficiais militares portugueses sediados no Brasil foram completamente solidários ao movimento constitucionalista em Portugal.[29] O principal líder dos oficiais portugueses, General Jorge Avilez, forçou o príncipe a demitir e banir do país os ministros do Reino e das Finanças. Ambos eram fiéis aliados de Pedro, que se tornou um peão nas mãos dos militares.[30] A humilhação sofrida pelo príncipe, que jurou que nunca iria ceder à pressão dos militares novamente, teria uma influência decisiva na sua abdicação dez anos depois.[31] Enquanto isso, em 30 de setembro de 1821, as Cortes aprovaram um decreto que subordinava os governos das províncias do Brasil diretamente ao governo de Portugal. O príncipe Pedro tornou-se, para todos os efeitos, somente o governador da Província do Rio de Janeiro.[32][33] Outros decretos que vieram depois exigiam seu retorno à Europa e também extinguia os tribunais judiciais criados por João VI em 1808.[34][35]
A insatisfação quanto às resoluções das Cortes foi generalizada entre a maioria dos residentes do Brasil (tanto os de origem brasileira quanto os de origem portuguesa), ao ponto em que ela logo se tornou conhecida publicamente.[32] Dois grupos que se opunham as ações das Cortes para minar gradualmente a soberania brasileira apareceram: os Liberais, liderados por Joaquim Gonçalves Ledo (que teve o apoio dos maçons), e os Bonifacianos, liderada por José Bonifácio de Andrada. Ambas as facções não tinham nada em comum em suas metas para o Brasil, com a única exceção de seu desejo de manter o país unido com Portugal como uma monarquia soberana.[36]

Convenção de Beberibe

Pernambuco foi a primeira província brasileira a se separar do Reino de Portugal. No dia 29 de agosto de 1821, teve início um movimento armado contra o governo do capitão general Luís do Rego Barreto — o algoz da Revolução Pernambucana —, culminando com a formação da Junta de Goiana, tornando-se vitorioso com a rendição das tropas portuguesas em capitulação assinada a 5 de outubro do mesmo ano, quando da Convenção de Beberibe, responsável pela expulsão dos exércitos portugueses do território pernambucano.[37][38][39][40]
O Movimento Constitucionalista de 1821 é considerado o primeiro episódio da Independência do Brasil.[37]

Rebelião de Avilez

Ver artigos principais: Rebelião de Avilez e Dia do Fico
Príncipe Pedro ordena o oficial português Jorge Avilez retornar a Portugal após sua rebelião malsucedida. José Bonifácio pode ser visto ao lado do príncipe.
Em Lisboa, os membros das Cortes Portuguesas não mostravam respeito para com o príncipe-regente no Brasil e zombavam abertamente dele.[41] Assim, a lealdade devida por Pedro às Cortes gradualmente foi transferida à causa brasileira.[34] A sua esposa, a princesa Leopoldina de Habsburgo, favorecia o partido brasileiro e encorajou o marido a permanecer no país,[42] enquanto os Liberais e Bonifacianos fizeram representações públicas.[43] A resposta de Pedro veio em 9 de janeiro de 1822, quando, de acordo com jornais, declarou: "Como é para o bem de todos e para a felicidade geral da nação, estou pronto: Diga ao povo que eu vou ficar."[44]
Após a decisão de Pedro em desafio às Cortes, cerca de dois mil homens sob o comando de Jorge Avilez amotinaram-se, vindo a concentrar-se no Morro do Castelo, que logo foi cercado por 10 mil brasileiros armados, liderados pela Guarda Real da Polícia.[45] Dom Pedro, em seguida, "demitiu" o comandante geral português e ordenou-lhe que retirasse com os seus soldados para o outro lado da baía, para Niterói, onde aguardaram o transporte para Portugal.[46]
José Bonifácio foi nomeado ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros em 18 de janeiro de 1822.[47] Bonifácio logo estabeleceu um relacionamento paternal com Pedro, que começou a considerar o experiente estadista seu maior aliado.[48] Gonçalves Ledo e os Liberais tentaram minimizar a estreita relação entre Bonifácio e Pedro oferecendo ao príncipe o título de Defensor Perpétuo do Brasil.[49][50] Para os liberais, era necessária a convocação de uma Assembleia Constituinte para o Brasil, enquanto os Bonifacianos preferiam que Pedro concedesse por si mesmo a Constituição para evitar a possibilidade de uma anarquia semelhante ao que ocorrera durante os primeiros anos da Revolução Francesa.[49] O príncipe concordou com os desejos dos liberais e assinou um decreto em 3 de junho de 1822 convocando para a eleição os deputados que se reuniriam na Constituinte e Assembleia Geral Legislativa do Brasil.[50][51]

De reino unido a Império independente

Ver artigo principal: Império do Brasil
Príncipe Pedro rodeado por uma multidão em São Paulo depois de dar a notícia da independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822.
Pedro partiu para a Província de São Paulo para assegurar a lealdade dos locais à causa brasileira. Ele alcançou sua capital em 25 de agosto e lá permaneceu até 5 de setembro.
Leopoldina, sua esposa, assumiu a regência durante a viagem. Diante das exigências de Portugal para que ambos retornassem a Lisboa, ela convocou uma sessão extraordinária do Conselho de Estado no dia 2 de setembro de 1822 e, juntamente com os ministros, decidiu pela separação definitiva entre Brasil e Portugal, assinando então a declaração de independência. Em seguida, enviou o mensageiro Paulo Bregaro para entregar a Pedro uma carta informando sobre o ocorrido.[52]
Em 7 de setembro, quando retornava ao Rio de Janeiro, Pedro recebeu a carta de José Bonifácio e de Leopoldina. O príncipe foi informado que as Cortes tinham anulado todos os atos do gabinete de Bonifácio e removido o restante de poder que ele ainda tinha. Pedro voltou-se para seus companheiros, que incluiu sua Guarda de Honra e falou: "Amigos, as Cortes Portuguesas querem escravizar-nos e perseguir-nos. A partir de hoje as nossas relações estão quebradas. Nenhum vínculo unir-nos mais" e continuou depois que ele arrancou a braçadeira azul e branca que simbolizava Portugal: "Tirem suas braçadeiras, soldados. Viva independência, à liberdade e à separação do Brasil." Ele desembainhou sua espada afirmando que "Para o meu sangue, minha honra, meu Deus, eu juro dar ao Brasil a liberdade" e gritou: "Independência ou morte". Este evento é lembrado como "Grito do Ipiranga".[53]
Ao chegar na cidade de São Paulo, na noite de 7 de setembro de 1822, Pedro e seus companheiros espalharam a notícia da independência do Brasil do domínio português. O príncipe foi recebido com grande festa popular e foi chamado de "Rei do Brasil", mas também de "Imperador do Brasil".[54][55] Ele retornou ao Rio de Janeiro em 14 de setembro e nos dias seguintes os liberais espalharam panfletos (escritos por Joaquim Gonçalves Ledo), que sugeriam a ideia de que o príncipe deve ser aclamado Imperador Constitucional.[54] Em 17 de setembro, o Presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, José Clemente Pereira, enviada às outras Câmaras do país a notícia que a Aclamação iria ocorrer no aniversário de Pedro, em 12 de outubro.[56] No dia seguinte, a nova bandeira e brasão de armas do reino independente do Brasil foram criados.[57]
Coroação do imperador Pedro I em 1 de dezembro de 1822.
A separação oficial de Portugal só ocorreria em 22 de setembro de 1822, em uma carta escrita por Pedro a João VI. Nele, Pedro ainda chama a si mesmo de "Príncipe Regente" e seu pai é referido como o Rei do Brasil independente.[58] Em 12 de outubro de 1822, no Campo de Santana (mais tarde conhecido como Campo da Aclamação) o príncipe Pedro foi aclamado Dom Pedro I, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil. Era ao mesmo tempo o início do reinado de Pedro e também do Império do Brasil.[59] No entanto, o Imperador deixou claro que, embora ele tenha aceitado o título, se João VI retornasse ao Brasil ele iria descer do trono em favor de seu pai.[60]
A razão para o título imperial foi a de que o título de rei iria simbolicamente significar uma continuação da tradição dinástica portuguesa e talvez do temido absolutismo, enquanto o título de imperador derivava da aclamação popular, como na Roma Antiga.[61] Em 1 de dezembro de 1822 (aniversário da aclamação de D. João IV, o primeiro rei da Casa de Bragança) Pedro I foi coroado e consagrado.[62]

Guerra e desdobramentos

Ver artigo principal: Guerra da independência do Brasil
O Exército brasileiro adentrando Salvador após a rendição das forças portuguesas, 1823.
Consolidado o processo na região Sudeste do Brasil, a independência das demais regiões da América Portuguesa foi conquistada com relativa rapidez. Contribuiu para isso o apoio diplomático e financeiro da Grã-Bretanha.
Sem um Exército e sem uma Marinha de Guerra, tornou-se necessário recrutar mercenários e oficiais estrangeiros para comandá-los, do mesmo modo que adquirir meios. Desse modo, foi sufocada a resistência portuguesa na província da Bahia, na do Maranhão, na do Piauí e na do Pará. O processo militar estava concluído já em 1823, restando encaminhar a negociação diplomática do reconhecimento da independência com as monarquias europeias.
Exército do Império do Brasil ataca as forças confederadas no Recife, em 1824, no contexto da Confederação do Equador, principal reação contra a política centralizadora de D. Pedro I.
À semelhança do processo de independência de outros países latino-americanos, o de independência do Brasil preservou o status quo das elites agroexportadoras, que conservaram e ampliaram os seus privilégios políticos, econômicos e sociais.
Ao contrário do ideário do Iluminismo, e do que desejava, por exemplo, José Bonifácio de Andrada e Silva, a escravidão foi mantida, assim como os latifúndios, a produção de gêneros primários voltada para a exportação e o modelo de governo monárquico.
O Brasil negociou com a Grã-Bretanha e aceitou pagar indenizações de 2 milhões de libras esterlinas a Portugal num acordo conhecido como Tratado de Amizade e Aliança firmado entre Brasil e Portugal. A Grã-Bretanha saiu lucrando, tendo início o endividamento externo do Brasil. Quando D. João VI retornou a Lisboa, por ordem das Cortes, levou todo o dinheiro que podia — calcula-se que 50 milhões de cruzados, apesar de ter deixado no Brasil a sua prataria e a enorme biblioteca, com obras raras que compõem hoje o acervo da Biblioteca Nacional. Em consequência da leva deste dinheiro para Portugal, o Banco do Brasil, fundado por D. João ainda 1808, veio a falir em 1829.

Considerações historiográficas

“Independência ou Morte!”
— Pedro, regente do Brasil, futuro imperador do Brasil, 7 de setembro de 1822
1000 Réis de 1922.png1000 Réis de 1922 (verso).png
Moeda de 1000 réis de 1922 comemorando a independência.
A data oficialmente aceita para a comemoração da Independência do Brasil é 7 de setembro de 1822, dia em que, às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo, o Príncipe Regente D. Pedro, ao receber a correspondência das Cortes, terá proclamado o chamado "grito da Independência", à frente da sua escolta: "Independência ou Morte!"
Em termos historiográficos outras, embora menos conhecidas, são a data da coroação do Imperador (12 de outubro de 1822) e a do reconhecimento da independência do Brasil por Portugal e pela Grã-Bretanha (29 de agosto de 1825). À época, em 1822, a data assumida como marco da Independência foi o 12 de outubro, dia do aniversário de Pedro I e de sua aclamação como imperador, conforme registrado pela historiadora Maria de Lourdes Viana Lyra, sócia do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em trabalho publicado em 1995. A conclusão desse estudo indica que o "grito" foi uma construção "a posteriori" e que acabou consolidado no quadro encomendado a Pedro Américo, produto da recriação artística do pintor, onde, entre outras inexatidões, se retrata D. Pedro cercado pela Guarda Imperial (os hoje chamados de Dragões da Independência), antes mesmo dele ser proclamado Imperador.[63]

Filmografia

Ver também

Referências

  1. Ir para cima Andrade, Maria Ivone de Ornellas de. "O reino sob tormenta". In: Marques, João et alii. Estudos em homenagem a João Francisco Marques, Volume I. Universidade do Porto, sd, pp. 137-144
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  3. Ir para cima GOMES, L. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007. 
  4. Ir para cima "História do Exército Brasileiro". Página acessada em 11 de outubro de 2012.
  5. Ir para cima Boxer 2002, p. 98.
  6. Ir para cima Boxer 2002, pp. 100–1.
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  8. Ir para cima Boxer 2002, p. 101.
  9. Ir para cima Boxer 2002, p. 108.
  10. Ir para cima Boxer 2002, p. 102.
  11. Ir para cima Skidmore 2003, p. 30, 32.
  12. Ir para cima Amantino, Marcia (2008), O mundo das feras: os moradores do Sertão Oeste de Minas Gerais – Século XVIII, ISBN 978-85-7419846-0, AnnaBlume, p. 47 .
  13. Ir para cima Soihet, Rachel; Abreu, Martha (2003), Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologia (Google Livros), ISBN 85-8722064-0, Faperj/Ed. Casa da Palavra, p. 29, 2º§ 
  14. Ir para cima Lopez, Adriana; Mota, Carlos G (2008), História do Brasil; Uma Interpretação, ISBN 978-85-7359789-9, São Paulo: Ed. Senac, pp. 95 (final) à 97 .
  15. Ir para cima Skidmore 2003, p. 36.
  16. Ir para cima Cashmore, Ernest (2000), Dicionário de relações étnicas e raciais (Google Livros), ISBN 85-8747806-0, SP: Summus/Selo Negro, p. 39 
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  18. Ir para cima Boxer 2002, p. 32–33, 102, 110.
  19. Ir para cima Skidmore 2003, p. 34.
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  21. Ir para cima Jeremy Adelman (2006). Sovereignty and Revolution in the Iberian Atlantic. [S.l.]: Princeton University Press. pp. 334–. ISBN 978-0-691-12664-7 
  22. Ir para cima Lustosa, pp. 109–110
  23. Ir para cima Lustosa, p.97
  24. Ir para cima Armitage. p.36
  25. Ir para cima Lustosa, p.106
  26. Ir para cima Armitage. p.38
  27. Ir para cima Lustosa, pp. 109–110
  28. Ir para cima Armitage. p.41
  29. Ir para cima Lustosa, p.112
  30. Ir para cima Lustosa, p.113–114
  31. Ir para cima Lustosa, p.114
  32. Ir para: a b Lustosa, p.117
  33. Ir para cima Armitage. p.43–44
  34. Ir para: a b Lustosa, p.119
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  36. Ir para cima Diégues, p.70
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  42. Ir para cima Lustosa, p.121–122
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  45. Ir para cima Lustosa, p.132–134
  46. Ir para cima Lustosa, p.135
  47. Ir para cima Lustosa, p.138
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  50. Ir para: a b Armitage. p.61
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  63. Ir para cima [1]

Bibliografia

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  • Barman, Roderick J. Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891. Stanford: Stanford University Press, 1999. (em inglês)
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  • Diégues, Fernando. A revolução brasílica. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004. (português)
  • Dolhnikoff, Miriam. Pacto imperial: origens do federalismo no Brasil do século XIX. São Paulo: Globo, 2005. (português)
  • Gomes, Laurentino. 1822. Nova Fronteira, 2010. ISBN 85-209-2409-3 (português)
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  • Lima, Manuel de Oliveira. O movimento da independência. 6. ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1997. (português)
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  • Vainfas, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. (português)
  • Vianna, Hélio. História do Brasil: período colonial, monarquia e república. 15. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1994. (português)

NERUDA: “O QUE JÁ ERA”!

Valério Mesquita*

Recebi da advogada conterrânea Euda Fernandes, com escritório no Rio de Janeiro, um belo texto de Pablo Neruda que me fez refletir, mais do que já faço, sobre a vida. Diz o grande poeta chileno que “morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música ou quem não encontra graça em si mesmo”.  E prossegue: “morre lentamente quem evita uma paixão, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos ou quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos”. Neruda é sábio no aconselhamento. São famosas e universais  as suas cartas e as perguntas que um dia, aqui na província, outro poeta, Diógenes da Cunha Lima, ousou responder em livro com cem respostas às cem indagações do mestre de “Conto Geral” e “Odes Elementares”.
Poeta do social e revolucionário, Neruda sempre instigou quem o lê a interpretá-lo ou recriar as suas vibrações líricas e reflexões existenciais, sem jamais perder a atualidade sentimental de um mundo que se renova e se transforma. Daí, poder dizer com o poeta, sem qualquer despautério a sua criação intelectual: que também morre lentamente quem deixa a vida pra depois ou ingressa em holocausto na carbonizada política partidária do Rio Grande do Norte; morre lentamente quem é funcionário público que desde a instituição do plano real não recebe aumento de salários; morre lentamente quem vive do salário mínimo ou depende do SUS ou da rede pública hospitalar para viver; morre lentamente quem é correntista da rede bancária brasileira, submetido aos traumas das taxas e juros extorsivos; morre lentamente quem adotou como profissão a atividade de produtor rural nesse país, sem crédito, sem proteção e sem nenhum incentivo oficial; morre lentamente quem se julga beneficiado pela enganosa qualidade do ensino universitário hoje praticada no Brasil; morre lentamente quem acreditar na eficiência da segurança pública, caso já não tenha sido ceifado de vez; morre lentamente quem acreditar que o Brasil não é um país das maiorias corruptas, praticante da lei da vantagem; morrem lentamente os quem crêm na recuperação do real perante o dólar estratosférico e inflacionário; morre lentamente quem aposta na eficiência do atual gestor público estadual e na recuperação do pagamento em dia do funcionalismo, Vagarosamente vai a óbito o ingênuo que dá crédito a política de daúde do governo potiguar ou a sua fracassada estratégia de segurança da população, cujas cifras de homicídios já atingem, este ano, patamares de uma guerra civil; é medíocre e falece sem salvação da alma, o eleitor que aplaudir o governo sem oposição, pois está sepultando a cidadania, a democracia, a liberdade de expressão, que deve ser exercida nas ruas, nas praças e nos plenários das casas legislativas.
E, por fim, com o permissão do poeta Pablo Neruda, morrem lentamente, as candidaturas dos que fizeram muito barulho para nada; dos que sonharam ou se iludiram com a mais difícil e cada vez mais enganosa atividade pública: a corrupção política. Com a sua anuência poeta, concluo, à maneira romana: saúdo aqueles que vão sucumbir nas eleições de 2018!


 (*) Escritor.

05/09/2017


OS HERÓIS MORREM, OS BANDIDOS FICAM – Berilo de Castro


Ultimamente, vivenciamos momentos de insegurança nunca antes vistos, nem relatados em outras épocas.
Agora, de forma inusitada e destemida, o alvo maior da bandidagem tem sido a nossa guardiã maior,  a nossa querida e briosa Polícia  Militar.
Estamos assistindo e convivendo com mortes e mais mortes de policiais militares; sejam no cumprimento de suas missões ou nas suas horas de repouso ou no lazer  com seus familiares. O número é assustador, é cruel e alarmante. Famílias e mais famílias dos nossos heróis são jogadas no fosso da destruição e do desespero. As  jovens viúvas são tragicamente marcadas para o resto da vida. Os filhos, pior ainda, logo cedo ficam sem os seus pais; muitas vezes não chegam  a conhecê-los. Perdem o referencial maior de suas vidas.
É triste;  é desolador; é o caos total; o pior: não se vislumbram soluções  e percebe-se claramente a crescente evolução das organizações criminosas.
A Polícia Militar não  reúne contingente suficiente; não existem armas especiais e modernas; não existem equipamentos de proteção; seus coletes (de validades vencidas)  já não os protegem. Perdemos e perdemos feio para a bandidagem.
Não se estudam planos de ação e atuação de segurança; não se ocupam as áreas já conhecidas e reconhecidas de maior criminalidade da cidade. Sem corporação, sem plano de ação, nada faremos.
Enquanto nossos policiais, em suas operações, usam um simples revólver de calibre 38, os bandidos respondem e matam  com fuzis e metralhadoras de última geração.
A Polícia Militar antes respeitada, hoje, passou a ser vista como uma instituição comum, sem importância, sem valor e sem respeito, diante dos delinquentes bandidos.
Os policiais e suas famílias estão se escondendo; suas fardas, suas identidades  não podem ser expostas, sob pena de serem executados sumariamente. A que ponto chegamos!
Neste ano (2017), até agora, mês de agosto, já foram assassinados 13 policiais militares, somente no Rio Grande do Norte.  Que absurdo! Que imoralidade!
A Polícia perdeu literalmente o combate contra a bandidagem e padece dia a dia. A população,  inerte e desarmada, impedida de sair às ruas, enclausurada em suas próprias residências, convive com a insegurança absoluta, sem ter a quem recorrer. O que fazer?  Só nos resta clamar e pedir de volta a presença do doutor Juvenal Lamartine, o comandante Joca do Pará, o coronel Bento e o delegado Maurílio Pinto – que nos salvem pelo amor de Deus.
Berilo de Castro – Médico, escritor, membro do IHGRN  – berilodecastro@hotmail.com.br