29/06/2017

VIAGEM FINAL DE UM HOMEM DE BEM



ARQUIVOS

Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com

Rebuscando papéis, certo dia, fui achar uma carta que remeti ao jornalista e poeta maior Sanderson Negreiros, datada de 21 de novembro de 1971. Eterno capataz dos mistérios circundantes, o poeta utilizava os seus “Quadrantes” para captar o humanismo asmático. Para tanto, tinha profunda e oxigenada “respiração filosófica”. Sou seu leitor e eleitor de suas emoções. Vez por outra, me empolgava com a cosmologia dos seus sentimentos e lhe escrevia. Ai vai uma cartinha de 46 anos que o poeta de “Lances Exatos” recebeu sobre um assunto ainda bem atual:
“Lendo a sua última crônica sobre os fariseus da maledicência, deduzi, com pesar, que a grandeza de alma, nesses dias decadentes, não é contagiosa. Aqui, parafraseando Shakespeare, é o exílio e longe a liberdade.
A hidrofobia deixou de ser um caso veterinário para se tornar um problema psiquiátrico de muita gente. E ninguém mais do que você se acha saciado da expressão claramente perceptível dos homens e das coisas. Por isso, entre agir e ser imbecil nessa terra, é preferível, permanecer na regra três. O bom é ser místico. Místico na arte, na vida e na natureza. Buscar nas profundezas da vida ou nas solenidades da dor, a verdade blindada: crêr no invisível para não se suicidar no palpável. O visível encerra vícios redibitórios. Viver encarcerado na vontade hesitante de ao invés de ser herói da própria vida, ser o espectador do próprio drama.
Resta assumir aquele compromisso com o imponderável de que você sempre falou. Para que as maledicências ou o ódio dos homens não puxem o tapete de alguém, o remédio é não tomar as feições das circunstâncias. Nesses tempos agitados a intenção deve equilibrar-se a coragem. O importante é repetir e repetir sempre que “o amor pode ler o que se acha escrito nas mais remotas estrelas”, no dizer de Wilde.
E por último a dolorosa constatação: Edmar Letreiro aplaudido pelo povo e Baracho cultuado como santo. Daí se conclui que nos desencontros do mundo toda celebridade quando não é célere é celerada”.”.
Qualquer semelhança com alguma autoridade política hoje no Rio Grande do Norte é mera coincidência.

(*) Escritor.

22/06/2017

A ESTRELA DA TARDE, PARA OUVIR E SENTIR



DA SUPERPOPULAÇÃO NASCE O CAOS

Valério Mesquita

O agravamento dos problemas de saúde, segurança e desemprego no mundo e, particularmente, no Brasil, tem a sua raiz na explosão populacional. Não precisa ser cientista social, sociólogo, socialista ou qualquer profissional especializado para chegar às conclusões. Há cinquenta anos as entidades de planejamento familiar no Brasil não foram bem recebidas pela igreja, partidos políticos, governos estaduais e sociedade civil. Velhos tabus se interpuseram e malograram os propósitos da diminuição da natalidade que poderia ter atenuado hoje o crescimento geométrico da população e da demanda de saúde, de alimento, de emprego, de violência e tantas outras mazelas. O homem continua predador do globo terrestre e da sua própria vida quando, a cada dia, gera competitividade a si mesmo.
Observem o continente africano, com uma gama imensa de pobreza e de carências de todo o tipo. Ali a raça humana se acha em processo de extermínio mesmo, pela fome e pela doença. E os países ainda promovem guerras brutais numa verdadeira e escandalosa carnificina. E qual o divertimento dessa superpopulação oprimida e atrasada: o sexo, a procriação, que substituem ilusoriamente a falta de sustento, de assistência, de remédio, todos subjugados ao talante político de golpistas e demagogos corruptos. Mas, as nações do Novo Mundo, de idiomas espanhol e português, enfrentam as mesmas sobrecargas, migrando para a Europa que já fechou, por sua vez, as porteiras alfandegárias e diplomáticas. Para africanos e asiáticos, idem. As razões defensórias são as mesmas: os estrangeiros solapam e rivalizam o acesso à saúde, ao emprego e ao alimento com os nacionais, além de promoverem tumultos pela conquista de direitos sociais iguais.
O Brasil já supera os duzentos milhões de habitantes. É uma população que já ultrapassa a grandeza da sua dimensão territorial. Isso, por conta dos bolsões de pobreza, de desemprego, criminalidade e saúde pública (federal e estadual) sucateadas. Outro ponto concorrente reside na migração do homem do campo para as áreas metropolitanas. Aí se instala a desordem social, onde tudo que é excesso se transforma em coisa demasiadamente ruim. Quer um exemplo: a quantidade de veículos motorizados, o número crescente de assaltos, rios poluídos, água potável contaminada, escassez de moradias, e por aí vai. Tudo por quê? Porque existe gente demais. O país ignorante e analfabeto não elegeu uma política educacional de controle da natalidade para um desenvolvimento sustentável.
E daí? Tome improvisação e choque de gestão! Medidas oficiais somente paliativas e projetos megalomaníacos. O brasileiro espera sempre pelo milagre da terra, sem prepará-la, contudo, adequadamente, para produzir alimentos. No Rio Grande do Norte, quem está no campo produzindo? Quem deseja mais manter propriedade rural para ser tomada por bandos organizados e oficializados? A economia mundial sofre a pior crise da sua história, face à concentração de riquezas dos que aplicam dinheiro no arriscado mercado de capitais, em detrimento de bilhões de indivíduos marginalizados. Com efeito, levam os governos ao “salvamento” de bancos e empresas gigantescas, tirando das populações empobrecidas o direito ao pão, à saúde e ao teto. O “crescei e multiplicai-vos” foi levado muito ao pé da letra. Como diria um padre amigo meu, “isso aí é uma alegoria...”. Sou a favor da vida, mas é preciso ensinar o povo que botar gente no mundo sem condições de criar, hoje, é burrice e dor.


(*) Escritor.

19/06/2017

CHICO ANYSIO, O COMPOSITOR – Berilo de Castro


Durante muitos anos, o Brasil se alegrou, riu, aplaudiu e reverenciou o seu  humorista maior – Chico Anysio.
Em março do ano de 2012, perdemos o seu convívio. Faleceu aos  80 anos na cidade do Rio de Janeiro/RJ; uma perda lastimável e de difícil substituição.
Como é bom poder rever os seus inesquecíveis programas, quando são reprisados em forma de homenagem ao grande mestre do humorismo brasileiro.
Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho -( Chico Anysio ), Maranguape/CE, abril de 1931- Rio de Janeiro/RJ, março de 2012.
Sua história como compositor, surgiu e foi inspirada no final da década de 1950, ao escutar a música “Gente Humilde”, na versão instrumental gravada por Aníbal Augusto Sardinha ( Garoto – 1915-1955); muitos anos depois, a música recebeu a letra de Vinicius de Moraes e Chico Buarque de Holanda, consagrando-se como uma das mais belas poesias musicais da MPB.
Recebeu influência direta de sua mãe Haydée Paula, sua primeira parceira;  portanto, herdara uma forte influência genética da família, onde  todos  respiravam e nutriam música.
Teve a feliz e genial  companhia no início da sua carreira de compositor, da amiga, compositora e parceira   Dolores Duran (1930-1959), chegando a gravar um LP com quase todas as músicas de sua autoria; destaque para “A fia de Chico Brito”, um baião que fez muito sucesso e foi destaque no LP – “Estrada da Saudade”, de Dolores.
Em 1955, a revista Disco – Tocando/RJ, apresentou uma relação com as 100 melhores músicas brasileiras, na qual figuravam quatro composições de Chico Anysio em parceria com o potiguar( macauense) Hianto de Almeida, considerado por ele( Chico) como um grande músico e um dos precursores da Bossa Nova.
Foi na canção “Conversa de Sofá”, da parceria Chico/ Hianto, que o maestro Tom Jobim, fez o seu primeiro arranjo – o início da consagração e da imortalidade do genial maestro.
Chico compôs mais de 200 músicas. Seus principais parceiros foram: Dolores Duran, Arnaud Rodrigues (1942-2010) e Piau, que juntos criaram o trio musical e humorístico “Caetano e os Novos Baianos”(1970), como uma sátira ao movimento tropicalista; fez grande sucesso; gravou vários LPs; registro maior para a música “Vou batê pá tu”. Outra feliz parceria foi com Nonato Buzar (1932-2014), com a música ” O Rio Antigo”, com a belíssima interpretação de Alcione; com João Roberto Kelly,compôs “Rancho da Praça 11”, gravada brilhantemente por Dalva de Oliveira, a canção foi premiada no carnaval carioca do IV Centenário, no ano de 1965; com o músico potiguar Hianto de Almeida, gravou mais de 60 músicas.
Teve as suas músicas gravadas por grandes e famosos intérpretes, como: Dolores Duran, Elizete Cardoso, Dalva de Oliveira, Luiz Gonzaga, Benito di Paula, Alcione e outros.
 É bom rever, revelar e reviver essa bela e inteligente faceta, do nosso genial humorista Chico Anysio.
 Saudades!!!
Berilo de CastroMédico e escritor