31/05/2017

O BRASIL ESTÁ DESPIDO
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO

Neste país, chamado Brasil, ninguém mais se espanta com algum novo escândalo de corrupção ativa ou passiva, malversação e tráfico de influência. O tecido de nossa institucionalidade política, social, administrativa, econômica (e até religiosa, consoante alguns) esgarçou, carcomido pelos desmandos, desvios e até pela desfaçatez. Os eleitores – seria ou levianamente – votam. Mas, geralmente é o poder econômico que elege. No ápice da pirâmide da desonra e da improbidade, muitos eleitos se entendem, “compartilham os despojos”, se recompensam e se rejubilam. Provavelmente, riem da ingenuidade e inépcia do povo brasileiro.
No entanto, nem por isso devemos desacreditar na democracia, desde que haja disposição de acabar com a plutocracia e cleptocracia, já denunciadas pelo Padre Vieira, em seu famoso e atualíssimo “Sermão do Bom Ladrão”, proferido na Igreja da Misericórdia (Lisboa), no ano de 1655. Muitos concordam que a operação Lava Jato é, em tese, positiva, não obstante os riscos, as pressões e tentações que a cercam.
Lembrando o livro de Fernando Sabino e a crônica de Andersen, o Brasil está nu, humilhado nacional e internacionalmente. E dois poderes republicanos – legislativo e executivo – estão dependurados no judiciário. Às vezes, tem-se a impressão de ser este último quem governa e preside de fato o país, malgrado suas deficiências. A Imprensa nem sempre cumpre o seu papel imparcial e objetivo de formadora da opinião. E para as redes sociais, de alcance incalculável, parece ser mais fácil e atraente atear lenha na fogueira e se jactarem em pôr à lume escândalos e desgovernos.
Contudo, o Brasil merece retomar o curso normal do processo democrático e, para isso, vários governantes, políticos e homens públicos deveriam renunciar a seus cargos e funções. O Evangelho é claro. Porém, a maior nação católica do mundo não entendeu ainda a frase de Cristo: “Pois todo aquele que se exalta, será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lc 14, 11). Não é possível tentar costurar “remendo de pano novo em roupa velha” (Mt 9, 16), relembrando outra passagem evangélica. É triste ver o Brasil em queda livre. A população, além de sofrida, está perplexa e atordoada, diante de um mar de acusações, denúncias e delações. Onde fica a Igreja, sacramento de Cristo, “Lumen Gentium” (Luz dos Povos)? Ela não deve aumentar o nosso sofrimento, fazendo crescer a hemorragia do desencanto e da desesperança, acatando posições de pessoas e instituições oportunistas – de intenções eleitoreiras – que usam nossa gente. A Igreja deve servir ao Povo de Deus e não se servir dele. Mais do que nunca, como instituição religiosa e apartidária, deverá neste instante crucial da história brasileira ser isenta, buscando pessoas, acima de qualquer suspeita, sugerindo e apontando caminhos que conduzam ao bem-estar da nação. Não se deve escolher os que poderão ser desalojados, isto é, os suspeitos de corrupção ou por eles indicados.
O Brasil enfrenta uma fase difícil de sua história. Isto exige retidão, audácia e criatividade capazes de promover dinâmicas e encontrar respostas, que tornem a sociedade mais civilizada, com igualdade e respeito à dignidade humana. Nessa direção, devem ser eliminados privilégios que causam exclusão e envergonham o país. Também é hora para se cultivar o sentimento patriótico.
As instituições nacionais são chamadas a procurar o caminho das mudanças. A própria Igreja Católica encerra na sua essência o princípio doutrinário “Ecclesia semper reformanda”, mencionado em documentos eclesiásticos e presente em contextos históricos, levando-a a ser compreendida como passível de revitalizações em sua missão e estrutura. A exigência de transformações é inquestionável, quando se busca oferecer respostas a desafios prementes.
É, portanto, imprescindível estabelecer um amplo diálogo para superar os obstáculos advindos da desonestidade e assim avançar rumo às inadiáveis reformas. É preciso começar a construir uma virada civilizatória e cultural no Brasil. O repto maior é como efetivá-las, diante do momento abissal vivido no país, de debilidade política e moral. Um contexto que exige ainda mais lucidez, sabedoria e sentido de cidadania. O alicerce reside também na fé. “Não ficarão desiludidos os que Nele confiam” (Sl 25, 3). O problema do Brasil é, sim, a fragilidade ética e moral, de cultura e educação, sobretudo, ausência de Deus.

30/05/2017

UMA TRAJETÓRIA DES-VIÁVEL
O PERCURSO PROFISSIONAL DE ARIALDO PINHO
ENTRE NATAL E FORTALEZA
Frederico Augusto Luna Tavares
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE/
CENTRO DE TECNOLOGIA/PPGAU
NATAL/RN
2017

RESUMO
Parte significativa da produção arquitetônica das décadas de 1950 e 1960 está sendo destruída
em Natal, atingindo não somente o acervo edilício, mas levando consigo testemunhos de
reminiscências dessa época, incluindo-se os autores desses projetos, que muitas vezes sequer
foram devidamente mencionados ou reconhecidos pelos estudos acadêmicos. Entre esses
profissionais com distintas formações e procedências, veio à tona, na busca irrequieta pelo
registro do ainda existente, Arialdo Pinho. Nascido no Rio de Janeiro, com o domínio da
técnica laboral e o significativo aporte cultural, à margem da instrução formal, chega a Natal
em 1951 e torna-se importante referência da escola modernista residencial. Em 1958, já em
Fortaleza-CE, dá continuidade ao potencial conquistado à luz de suas funções intelectuais e às
estreitas relações sociais. Ao custear as fendas atinentes a estas circunstâncias, pergunta-se:
como os decursos pessoal, intelectual e profissional de Arialdo Pinho materializado nos
empreendimentos nas duas cidades podem ser apreendidos na construção historiográfica dos
bens culturais edificados? Acredita-se, assim, que o momento fazia-se favorável para a
execução de seus projetos nestas capitais, que vivenciavam a insuficiência de profissionais
com formação de nível superior, e cuja clientela composta pela elite, passava a exigir,
entretanto, uma arquitetura diferenciada. Nesse delinear perceptivo, configura-se como ponto
de partida as trajetórias e as vicissitudes profissionais e o conhecimento e registro da prática
da arquitetura. Pretende-se, então, compreender a distinção dos caminhos traçados pelo
profissional Arialdo Pinho na sua atuação entre Natal e Fortaleza, contribuindo para a
construção de uma ferramenta que condense as informações e ao mesmo tempo estimule e
publicize novas reflexões acerca da história da arquitetura e da cidade. Para abranger essas
nuanças, os aportes teóricos basearam-se nas contribuições concernentes à memória, ao
patrimônio e ao audiovisual. Os acervos estáticos experienciados pelo uso dos dispositivos na
vivência de campo resultaram no encontro com Arialdo Pinho e no desfolhar de sua trajetória.
A experiência empírica manifestou o documentário “Arialdo Pinho: Uma trajetória desviável”
como produto material, em livre criação argumentativa, da tese. Desses caminhos
particulares esquecidos, muitas vezes alijados pela literatura especializada, evidenciou-se um
retrato pouco compreendido e explorado das incursões da prática da arquitetura e, portanto, da
história das cidades..

28/05/2017

O INSTITUTO ESTÁ VIVO (Texto de Carlos Roberto de Miranda Gomes)


          Em que pesem os percalços vividos desde 2013 até 2016 pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, duas vezes fechado por motivo de embargo para o público e por denúncia anônima de inimigos da cultura, a obstinação dos Presidentes Valério Alfredo Mesquita e Ormuz Barbalho Simonetti, com o apoio de toda a Diretoria e mais do Presidente Honorário Jurandyr Navarro, conseguimos, mercê do trabalho profissional dos advogados Armando Holanda, Carlos de Miranda Gomes e Rocco José Rosso Gomes, a compreensão dos que integram o IPHAN e a boa vontade dos Magistrados e Procuradores Federais que decidiram a querela, UMA VITÓRIA ANSIADA. Podemos agora afirmar que o IHGRN está vivo.
        Graças a dotações obtidas do Governo do Estado, com a ação da Assembleia Legislativa e uma substancial ajuda da então Secretária Betânia Ramalho, continuado por Cláudia Santa Rosa e mais a grata participação da Prefeitura Municipal do Natal e da Câmara de Vereadores, conseguimos os recursos necessários para adquirir estantes deslizantes, recuperar integralmente a sala da biblioteca, pintura geral do prédio e início do acondicionamento dos documentos e livros no novo espaço, restando a catalogação, já em andamento, para viabilizar pesquisas virtuais, sem a necessidade do desgaste dos documentos originais.
     Como prova de tudo isso, publicamos uma sequência de fotografias reveladoras da alegria com que ressurgimos no cenário cultural:

A alegria da reabertura


 22/05/17 - Visita de cortesia a Secretária  de Educação, Cláudia Santa Rosa por membros da diretoria do IHGRN.  Foto Márlio Forte




O prédio com a pintura recuperada



28/05/17 - Crianças de escolas primárias em visita ao Largo Vicente de Lemos (Largo Florido) recebendo aula de seus professores sobre a Coluna Capitolina. Muito em breve poderão adentrar as dependências do INSTITUTO HISTÓRICO e receber outras aulas em seu interior. Situações como essa é que nos fortaleceu no passado e nos fortalece para enfrentar todas as dificuldades do por vir.


A alegria da visita contaminou todos os que fazem o IHGRN. Doravante isso será constante.

O nosso jardim é motivo de orgulhos. Parabéns para a dedicação de Manoel.


 Disciplina elogiável das crianças visitantes.

Momento da despedida.

FOTOS DE ORMUZ.

MARCADA A DATA DA REABERTURA OFICIAL, COM EXPOSIÇÃO DAS OBRAS DE "DORIAN GRAY", DO  ACERVO PARTICULAR DA FAMÍLIA.
8 DE JUNHO


EM DIA COM A ACADEMIA Nº 47 DE 2/5/2017
“Ad  Lucem Versus – Rumo à Luz”
Cuidando da Memória Acadêmica

MAIO
Aniversariantes do mês de maio
Parabéns aos aniversariantes
                                       Maio

JOSÉ AUGUSTO DELGADO   - Cadeira 36 
07/05
ARMANDO NEGREIROS -  Cadeira 14 
09/05
LENINE PINTO - Cadeira 34
12/05


ITAMAR DE SOUZA -  Cadeira 29
29/05

Cadeiras recuperadas ( mais 20)


Cadeiras recuperadas


Acadêmica  Leide Câmara
Secretária Geral
e-mail: academianrl@gmail.com
e-mail: leide.camara@live.com
Fone  9.9982-2438
=================================
CNPJ: 08.343.279/0001-18
Rua: Mipibu, 443 – Petrópolis – Natal/RN  CEP 59020-250  -  Telefone: 84- 3221.1143
http://www.academialetras.com.br / E-mail: academianrl@gmail.com




EDITAL Nº 10, DE 18/5/2017.
Assembleia Geral Extraordinária

CONVOCAÇÃO DE ELEIÇÃO PARA  VAGA DA CADEIRA nº 9.

O Presidente da A Academia Norte-rio-grandense de Letras – ANRL, na forma regimental, considerando  Vaga a Cadeira nº 9 que tem como:

Patrono  Almino Afonso, Fundador Nestor Lima,  Sucessor 1 Cristovaão Dantas,  Sucessor 2 Humberto Dantas, Sucessor 3   Peregrino Júnior, Sucessor 4  Dorian Gray Caldas ,  seu último ocupante.

 CONVOCA os Senhores Acadêmicos para a Assembleia Geral Extraordinária Eleitoral aprazada para o dia 1 de junho  (quinta-feira) do ano em curso, pelas 17h, em primeira convocação e às 17h15 em segunda, com duração até às 18h00.
Para a escolha do imortal desta Instituição Cultural, na sua sede Rua Mipibu, 443 - Petrópolis, CEP 59.020-250 – Natal – Rio Grande do Norte.


Natal/RN  18 DE MAIO l  de 2017


Diogenes da Cunha Lima

25/05/2017

C O N V O C A Ç Ã O





INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE
 
CONVOCAÇÃO PARA SESSÃO DE ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA
E D I T A L
            O Presidente do INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE – IHGRN, na conformidade das disposições combinadas dos artigos 10, parágrafo único e 15, letra “d” do Estatuto Social vigente, CONVOCA os seus sócios que estejam em pleno gozo dos seus direitos sociais estabelecidos no referido Estatuto, para se reunirem em Sessão de Assembleia Geral Ordinária, que se realizará no dia 31 de maio vindouro (quarta-feira), no auditório da Instituição, à Rua da Conceição, 622 – Cidade Alta, nesta Capital, às 10:0h em primeira convocação, com presença da maioria absoluta dos sócios e 10:30h em segunda convocação, com qualquer número, a fim de discutir e deliberar sobre a seguinte pauta:
a)      Apreciação do Relatório de Gestão e Demonstração Contábil da Diretoria, exercício de 2016;
b)     Outros assuntos correlatos.
Natal, 19 de maio de 2017
Ormuz Barbalho Simonetti
Presidente

(Publicado no D.O.E. de 20/5/2017)
A INTENTONA COMUNISTA DE 35 EM MACAÍBA

Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com

Transcorria o mês de maio na pacata e provinciana Macaíba de 1935, contou-me o saudoso memorialista José Inácio Neto (Zezinho), testemunha ocular daqueles dias. Na rua João Pessoa, no centro, instalava-se a Alfaiataria Estética, do alfaiate e pastor evangélico Pedro Dantas, que tinha dois filhos: Silas e Esdras. Administrava o município o prefeito Alfredo Mesquita Filho. Aqui e acolá os convescotes da cidade se sucediam. No Café Gato Preto, o vento leste do rio Jundiaí trazia rumores de tiroteios em Natal. Paulo Teixeira, eterno apaixonado de D. Belinha, Santos Lima e outros atribuíam os disparos aos folguedos da celebração da festa de Santa Luzia, logo contestado por católicos de plantão com relação à data festiva da santa.
Ali perto, na rua da Cruz, o riacho da raiz cavara uma enorme vala e nela caiu o popular Tutu, pai de Zé Caju. A importância e a espetacularidade da queda provocaram a visita do juiz de Direito, à época Dr. Virgilio Dantas, com todo séquito cartorial. Depois daí, Tutu são e salvo, passou a ser chamado o homem do buraco. Dia seguinte, domingo, às oito da matina entra na cidade uma volante comandada pelo sargento Wanderley, que rendeu sem reação todos os soldados da cadeia pública local e entregou os fuzis aos presos de justiça. Em seguida, tomou conta da cidade construindo uma trincheira na rua do Vintém e disparando tiros para amedrontar a população. O fato fez a cidade ficar deserta e fugir para os sítios e arredores. O próprio delegado Barbosa recomendou aos habitantes que se refugiassem fora dos limites urbanos da cidade. Mas não contava com a presepada de Alberto Vitalino, munido de uma pistola TB que fazia mungangas na via pública. Bastaram os vôos rasantes e barulhentos de um avião teco-teco para os dois baterem em retirada, em desabalada carreira, na direção de Jacobina. O prefeito Alfredo Mesquita abrigou-se no sobrado de Francisco Pinheiro observando o movimento pelas rótulas da janela e recebendo instrução das forças legalistas através de emissários. O vigário da paróquia era o padre Pedro Paulino Duarte da Silva. Mas, o fato surpreendente estava por acontecer. O alfaiate Pedro Dantas postulou assumir a prefeitura demonstrando, com isso, súbita vocação bolchevista. O desejo lhe foi negado de pronto. Faltava-lhe o atestado ideológico. Escoadas as inquietantes 48 horas do movimento, na terça-feira, Macaíba voltou paulatinamente à normalidade.
Os moradores retornaram do “exílio” dos sítios e lugarejos. Apenas, alguns comentários perduraram nas rodas da cidade. Primeiro, o célebre buraco de Tutu foi fechado por Paulo Bulhões, de ordem do prefeito, que lamentou, depois, o fato de nenhum comunista nele não haver desabado; na cadeia pública, onde os movimentos de 35 instalaram o seu “quartel general”, foi achado dinheiro escondido até nas privadas. O próprio Zezinho, movido pela curiosidade, fez uma fezinha e prospecção nas escavações das trincheiras comunistas; e, por fim, o prefeito que não foi, o alfaiate Pedro Dantas foi para a berlinda passando a ser conhecido mais como comunista do que como alfaiate e evangélico. Sem falar no hilário caso de sua cunhada que namorava José Chinês, tipo popular e irmão do soldado Joaquim de Juvêncio, que se despiu na rua debatendo-se com uma pulga comunista e radical que lhe penetrou no saco escrotal, picando-o por várias horas. Segundo Zezinho, esse foi o saldo da intentona em Macaíba.


(*) Escritor.