11/05/2017

CRÔNICA DE VALÉRIO MESQUITA


LUZES DA CIDADE

Valério Mesquita*

Poderia até ser o filme de Chaplin. Mas, semana passada, fui ver Macaíba do jeito que eu gosto: sem ser visto ou tocado, escondido na névoa do tempo. Rever e reviver as pessoas, as ruas, as casas e os lugares. Coisas amadas, fortuitas, semidesaparecidas, casuais, descuidadas, assombradas mas constantes em mim. Como náufrago, aos sessenta e seis anos, com os lapsos do cansaço, compreendi a palavra de Sanderson Negreiros de que: “na passagem do tempo – tudo passa e nada cessa”. Tudo ao meu redor, percebi, enfim, encerrava uma absoluta identidade comum: Macaíba permanece em mim como um cais de recordação.
Ruas da Cruz, Pedro Velho, da Conceição, do Vintém, da Aliança, do Araçá, do Gango, do Benjamim, do Cajueiro, as Cinco Bocas, da Cadeia, praças da igreja e Antonio Melo Siqueira, rua do Barro Vermelho, do Fio, do Pernambuquinho, Campo da Mangueira, Alto da Raiz, Trinta de Março, Campo Santo, cais do rio Jundiaí. Eis o inventário telúrico que tracei e naveguei em minha viagem de circunavegação emocional. Todos os lugares interagem como fator de unicidade vivencial porque me falam uma linguagem intimista, visual e sentimental de tudo que vivi e representei em minha terra.
Revisitei de memória o cinema Universal de Walter Ferreira; o cine teatro Independência de Manoel Corcino; o de Ranilson Costa e seu “cinegrafista” Rui Marciano, e, por fim, o de D. Terceira para dizer que em Macaíba não existem mais as casas de exibição. E nem clubes sociais como o Pax Clube e o Centro Líbero Recreativo que congregavam a sociedade local. Por igual, não existem mais banhos na maré (rio Jundiaí), que deu lugar à poluição. Hoje é o mar morto de minha ilusão, da rebentação de minha meninice, onde o navio perdido na imensidão dos sonhos é o barco do velho marinheiro João Lau.
Entre alguns sobressaltos: o desaparecimento de “Cocadinha”, baixo, atarrancado, ajudante de oficina, freqüentador habitual da Farmácia Milagrosa de Vinício Ferreira – outra figura macaibense que ajudava o folclórico “Cocadinha” a livrar-se do alcoolismo que piorava quando o apelidavam de “Açucareiro”. Nas “Cinco Bocas”, petrificados nas paredes, como chamas que a saudade semeia, estão escritos os nomes de Alfredo de Almeida, Antonio Assis, D. Mocinha, Zezito da “banca de bicho”, a padaria Central de mestre Pedro e o bar “Gato Preto” de seu Vital.
“Vai trabalhar Maria Cabral”, era o dito indefectível dos mais jovens só para ouvir, em troca, os impropérios da velha caminhante das tardes pelo centro das ruas. Morena escura, cabelos soltos e grisalhos, mais parecia uma feiticeira raivosa só para assustar crianças desobedientes. No patamar da matriz, lembrei-me de muitos vigários. Do sacristão Adelino Moreira, personagem extraído da bíblia para compor o cerimonial da igreja onde o padre Chacon perdoava cochilando no confessionário os pecados da cidade. O caminhão de Zé Pelado, tal e qual um Nautilus remendado, que arrecadava os detritos, não daria conta, hoje, do lixo urbano. Isto porque lá do outro lado da ponte, as bodegas de Chico Bento e a de Zé Deca, cá na rua da Cruz, demarcavam os pontos cardeais de Macaíba.
Já falei em crônicas passadas, em muitos nomes e renomes que desenhavam o universo de minha terra. Igualmente, aos que são revividos nesta página eu os cumprimento da janelinha aberta sobre a imensidão da noite do meu tempo. Já era tarde quando retornei a Natal. Foi quando senti, ao chegar, uma imensa saudade de Alfredo e Nair.

(*) Escritor.

10/05/2017

DIA 11



 CENTENÁRIO DE SEU POTI

Valério Mesquita
mesquita.valerio@gmail.com

Nascido no dia 11 de maio de 1917, no povoado de Rego Moleiro, na antiga Vila de São Gonçalo do Amarante/RN, Francisco Potiguar Cavalcanti, mais conhecido com Poti Cavalcanti, era filho de Alexandre Carlos Cavalcanti e de Maria Isabel Rodrigues Cavalcanti. Viveu a infância e a adolescência com seus pais e irmãos, tendo estudado no G. E. Otaviano, no colégio Marista e no Atheneu Norte-riograndense, tendo contraído núpcias com Iolanda Lins d’Albuquerque, em 18 de setembro de 1943.
Nessa época, já estava em curso o movimento político para extinção do município de São Gonçalo e a consequente criação de São Paulo do Potengi, ocorrida em dezembro de 1943. Transferida a sede do extinto município para São Paulo do Potengi, Poti e Iolanda mudaram-se para aquela cidade. Dessa união nasceram seis filhos: Paulo Tarcísio, Ana Maria, Maria das Graças, Alexandre Cavalcanti, Marta Maria e João Maria falecido aos seis meses de idade. Em janeiro de 1954, dona Iolanda faleceu na Casa de Saúde São Lucas.
Após rápida passagem no Departamento de Imigração em Natal, Poti retornou às lides da sua terra natal, à época, distrito de Felipe Camarão, município de Macaíba. Decretada a emancipação política de São Gonçalo do Amarante em dezembro de 1958, o patriarca Manoel Soares da Câmara foi nomeado prefeito e governou de 1959 a 1960. Devido a experiência no serviço público, Poti foi nomeado secretário municipal. Nas eleições realizadas em outubro de 1959, Poti foi eleito vice-prefeito, na chapa encabeçada por Leonel Mesquita, tomando posse no dia 19 de janeiro de 1960. Durante o referido mandato, exerceu comulativamente o cargo de presidente da Câmara Municipal, tendo sido, portanto o primeiro presidente. A legislatura inicial da Municipal era assim composta: Francisco Potiguar Cavalcanti – vice-prefeito e os seguintes vereadores: Deomedes Barbosa do Nascimento, Geraldo Correia de Lima, José Moacir de Oliveira, José Horácio de Góis, José Protásio de Lima, José Mendes Emerenciano, Lourival Florêncio de Morais, Maurício Fernandes de Oliveira, Severino Rodrigues da Silva e Sílvio de Pontes Bezerra.
Em 1965, tomou posse no cargo de prefeito ao lado do vice, Lauro Pinheiro da Costa (Capito). Dentre as principais realizações administrativas, destacam-se a integração do município a rede de cidades beneficiadas pela energia de Paulo Afonso, contemplando à sede e o distrito de Santo Antonio do Potengi, a melhoria do sistema educacional, a ampliação e conservação das estradas vicinais, a desapropriação de terrenos na área urbana para doação a famílias carentes, fazendo surgir diversas ruas, como a 31 de Março, rua da Floresta, Poti Cavalcanti, entre outras, inclusive no povoado de Jacaré-Mirim.
Em 16 de janeiro de 1960, casou-se com Iracy Alcoforado, de tradicional família de São Paulo do Potengi. Professora, diretora do G. E. Maurício Freire, Iracy Guedes teve destacada atuação na sua cidade natal. Dessa união nasceram: Poti Junior (hoje Conselheiro do TCE/RN) e Suely. Em 1961, Poti assumiu o cargo de tabelião oficial do registro civil, do 2º cartório judiciário da comarca, no qual permaneceu em exercício até dezembro de 1983, quando se aposentou. Aos 70 anos, em 18 de maio de 1986, ele faleceu na Casa de Saúde São Lucas e foi sepultado no cemitério da Saudade, em São Gonçalo do Amarante.
Agradeço ao Instituto de Arte e Cultura e Educação Popular Maurício Fernandes de São Gonçalo, na pessoa de Teófilo Justino de Oliveira Neto, pelo fornecimento dos dados biográficos aqui registrados. Dia 11 de maio próximo, portanto, o seu centenário será lembrado por todos que admiram a sua conduta, honestidade e liderança política, entre os quais me incluo.

(*) Escritor

07/05/2017

A BANDIDAGEM CHEGA ÀS BIBLIOTECAS


JADIR FARIAS escreveu




MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO

Durante muito tempo tivemos em nossa cidade cinco emissoras de rádio AM. Todas elas tinham programação local, com locutores, programadores e técnicos que divulgavam nosso cotidiano, nossa música, cultura, costumes, sempre com nosso sotaque e interesses. Com a passagem do tempo, vieram inovações tecnológicas, novas emissoras FM e programações retransmitidas de grandes emissoras de outros Estados, sobretudo do eixo Rio-São Paulo.
Algumas rádios AM foram retiradas do AR (Rádio Poti, Tropical), outras tiveram suas programações direcionadas a religiões (Rádio Nordeste, Emissora Rural) ficando apenas a Radio Globo (Antiga Cabugi), como retransmissora da Radio Globo (Rio ou São Paulo), e programação local apenas em horários específicos (esporte) e um programa de variedades, (Manhã da Globo), que era comandado por um radialista local, Duarte Júnior, com mais de trinta anos de rádio, e que através de suas informações, conversas com o público, noticiário, opiniões e notas de utilidade pública, se constituía como o único programa que falava dos nossos problemas, de cultura e falava a nossa linguagem, com sotaque local, sem tentativas de imitação de outros sotaques.
Como aficionado por rádio, sempre que podia mantinha o rádio sintonizado na emissora Globo Natal, no horário do Radialista Duarte Junior. Entretanto, para surpresa minha e de seus inúmeros ouvintes, o programa foi retirado do ar, entrando no horário programas da Radio Globo (Rio/São Paulo). Posteriormente tomei conhecimento que o radialista havia sido dispensado da emissora (Contrato de Trabalho rescindido). Não houve qualquer comunicação ou aviso aos seus ouvintes.
É evidente que, como empresa, a Rádio Globo Natal, tem todo o direito de contratar, rescindir ou mudar sua programação, até aí, nada a contestar contra a decisão da emissora. Entretanto, como ouvinte, como defensor da nossa cultura e da nossa cidade, lamentei tal atitude, pois o “Manhã da Globo” era o último ou o único programa legitimamente potiguar/natalense, como porta voz da nossa cultura, problemas costumes e interesses locais, que utilizava e cultuava o nosso sotaque e dava vez e voz ao público.  Lamento o ocorrido, pois perdemos todos, um programa local e ficamos escravos de uma imposição cultural diversa do nosso cotidiano, com noticiário nacional, com informações que não interessam a maioria da população que ansiava por ouvir o Duarte Junior, suas notícias, conselhos, opiniões e promover debates populares.
Somos conscientes de que a evolução tecnológica é sempre acompanhada pela evolução cultural e que, normalmente a sociedade maior vai, pouco a pouco “consumindo” os costumes locais e sua cultura. Isso é inevitável. Entretanto, temos obrigação de preservar nossa cultura, nossos costumes. Uma emissora de rádio como concessionária de um serviço público, poderia manter acesa essa chama da nordestinidade, do nosso linguajar sem as grosseiras, na maioria das vezes, imitações de sotaques de outras regiões, sem nenhum compromisso com o nosso dia-a-dia. É comum hoje, sabermos muito mais o que ocorre no eixo Rio/São Paulo, do que acontece em nossa cidade e é nostálgico ouvir nossos locutores (uns poucos que ainda aqui trabalham, sobretudo nas emissoras FM), tentando imitar sotaques diferentes do nosso, falando de problemas que não são nossos, carregando a voz nos “esss” e outros estrangeirismos.
É lamentável e nos consola que temos ainda algumas organizações que lutam, a muito custo de alguns poucos homens e mulheres, em preservar a nossa cultura, como o Instituto Histórico e Geográfico do RN, a Academia de Letras, Associação de Danças antigas e Semidesaparecidas, alguns defensores de danças folclóricas e uns poucos estudiosos que tentam de todo modo, manter acesa a chama da nossa cultura, como foi o nosso Câmara Cascudo, o saudoso Prefeito Djalma Maranhão, de Deífilo Gurgel, Veríssimo de Melo,  e uma plêiade de estudiosos, cronistas, jornalistas teatrólogos, e escritores que lutaram e lutam para que nossa história e nossa cultura não seja de todo absorvida pela devorador processo de imitação, sobretudo numa sociedade como a nossa onde os valores culturais não são prioridade, onde a cultura não é prioridade, haja vista que temos uma biblioteca pública fechada e abandonada há anos, um belo teatro fechado há anos, um teatro popular idem, um histórico forte abandonado, acervos históricos às moscas, jornais fechados, museus sem conservação adequada uns poucos, fechados à visitação pública.

Não quero ser nostálgico, apenas penso que a nossa cultura e história carece ser preservada e tratada com mais carinho, com mais cuidado, em prol do nosso futuro.

03/05/2017

H O J E


Caros  amigos, com prazer, anuncio o lançamento de meu novo livro de poesias, o “CADERNO DO IMAGINÁRIO”, programado para o dia 3 de maio de 2017, e conto, para completa alegria, com suas honrosas presenças. No cartão-convite abaixo (e no anexo) reproduzido, há detalhes do evento, tais como horário, local e endereço.


Abraço fraterno de HORÁCIO PAIVA. 


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
 
 
    
     
RESOLUÇÃO No 004/2017-CONSUNI, de 31 de março de 2017.
        
 
Concede Título de Professor Emérito a CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES.
 
 
A REITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE faz saber que o Conselho Universitário – CONSUNI, usando das atribuições que lhe confere o Artigo 14, Inciso V, do Estatuto da UFRN, combinado com os artigos 138, 141 e 142 do Regimento Geral da UFRN,
CONSIDERANDO o desempenho didático, pedagógico e administrativo do professor Carlos Roberto Miranda Gomes, enriquecido com sua extensa produção acadêmica e pelo convívio estimulante e fraterno com seus incontáveis discípulos;
CONSIDERANDO sua inestimável contribuição como Presidente da Comissão da Verdade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, no período de 2012 a 2015 – função que desempenhou com coragem, isenção e brilhantismo sem abrir mão da sua condição de cidadão crítico, atuando como verdadeiro magistrado;
CONSIDERANDO a decisão da Plenária do Departamento de Direito Público – DPU, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas – CCSA, em reunião ordinária realizada no dia 14 de setembro de 2016; e do Conselho de Centro – CONSEC, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas – CCSA, em reunião ordinária realizada no dia 03 de novembro de 2016;
  CONSIDERANDO o que consta do processo no 23077.054823/2016-32,
           
RESOLVE:
           Art. 1o Conceder o Título de Professor Emérito ao pesquisador, advogado, auditor, escritor e professor CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, pela notável contribuição ao ensino e à aplicação do Bom Direito – atitudes diuturnamente demonstradas em sua exemplar vida de docente.
  Art. 2o Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
 
                                           Reitoria, em Natal, 31 de março de 2017.
 
 
Ângela Maria Paiva Cruz

                                                                   REITORA

02/05/2017



PROFESSOR CARLOS GOMES – O EMÉRITO.
        Odúlio Botelho Medeiros-IHG-RN

“Feliz o homem que acha sabedoria e o homem que adquire conhecimento”. (Provérbios- 3:13).
        Mais uma vez escrevo, com alegria, sobre o meu ilustre e querido amigo Carlos Roberto de Miranda Gomes – Carlos Gomes para os íntimos. No distanciado mês de agosto de 2005, no âmbito das comemorações da SEMANA DO ADVOGADO, justamente quando a OAB/RN o homenageou, o então Presidente Seccional Joanilson Paula Rego designou-me para saudá-lo em nome da entidade. Naquele momento, assim manifeste-me, em alguns tópicos:
“(...) Carlos é uma personalidade múltipla, pois consegue ser, com muito gabarito, professor universitário, advogado, pesquisador, historiador, escritor, conferencista e destacado orador”.
“(...) Se Carlos Gomes é brilhante professor de Direito Tributário de nossa Universidade Federal, com livros publicados sobre tão importante disciplina, sabe manejar o direito com formas simples e objetivas, sem alardes, sem culto a personalidade e desprovido de soberba”.
“(...) Sou testemunha ocular dessa trajetória de uma vida útil à sociedade e ao seu tempo”.
“(...) Dizia o magistral Ortega y Gasset que ‘os indivíduos à semelhança das gerações têm destino preestabelecido, do qual não se pode afastar, sob pena de censura da sociedade’. Com toda certeza, Carlos não se afastou da sua destinação; ao contrario! É força atuante e ativa no perpassar de sua vida, no conviver com o tempo presente e o permanente compromisso com as gerações do futuro”.
        Repito, agora, já decorridos quase 12 anos das palavras acima transcritas, que Carlos Gomes continua firme e inabalável. Em 2015 foi eleito membro da Academia Norte-riograndense de Letras. Presidiu – com a dinâmica de sempre- a Comissão da Verdade da UFRN, instituída pela magnífica Reitora Ângela Maria Paiva Cruz, o que redundou na publicação de um alentado trabalho relatando todos os fatos apurados. Essa contribuição, inegavelmente, transpõe as dimensões universitárias e a própria história do Estado.
        Recentemente, a Universidade concedeu-lhe o justo título de Professor Emérito, em reconhecimento ao efetivo exercício do magistério por 35 anos, com muito entusiasmo e comprovada eficiência.
        Sobre a contribuição de Carlos Gomes à cultura potiguar já se manifestaram, além de tantos outros autores contemporâneos, o advogado João Medeiros Filho, no seu livro Contribuição a História Intelectual do Rio Grande do Norte – fls. 111/2 e o Escritor Jurandyr Navarro no livro “Rio Grande do Norte- Conferencistas”.
        Por fim, Carlos Gomes, parabenizo-o pelo novo galardão. Você é mesmo um professor emérito, de fato e de direito. Representa a vitória de nossa geração.