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03/03/2017
02/03/2017
INVENTÁRIO DOS
BENS ESSENSIAIS
Valério
Mesquita*
Vivo
o desconforto e a nostalgia de mim mesmo ao me deparar com o sonho dos meus
vinte anos que a idade madura não confirmou. Sinto-me disperso, irrealizado,
quando retorno às minhas origens telúricas. A meta de trazer o passado ao
presente, reconstruí-lo pela palavra e pensamento a fim de reconquistar a minha
autoestima, parece-me uma tarefa hercúlea porque constato que o personagem não
sou eu mas, sobretudo, o tempo. Deduzo que, precisaria recriar os fatos e
renascer as pessoas. Verifico que sou o resultado de todas as convivências e
acontecimentos afins do passado. Por isso o vácuo e a irritação me arrastam ao
entendimento inconcluso de que tudo foi ilusão e fantasia, ou infecção
sentimental.
Mas,
existe o patrimônio existencial da terceira idade, onde a memória olfativa, a
auditiva e, principalmente, a visual, procuram restituir-me o universo perdido
das fases inaugurais da vida. Aquela lua cheia, por exemplo, vista do cais do
rio Jundiaí em Macaíba, como se estivesse pendurada por fios invisíveis, atrás
dos coqueiros e eucaliptos, infundia-me na adolescência negro mistério do tempo
da colonização dos escravos, índios e colonos, de escuridão e medo, como se as
fases lunares chegassem naquele tempo por édito imperial. Como me perco na
contemplação do Solar do Ferreiro Torto e os seus sortilégios de poder, carne,
cobiça e paixão. E a descortinação surpreendente do Solar dos Guarapes. Quantas
perguntas insaciadas não existem sobre o que ocorreu ali? Os seus fantasmas que
subiam e desciam a colina sob a batuta do senhor de engenho numa cosmovisão ora
polêmica, ora lírica, dentro do abismo da memória?
“Tu
não mudas o mundo. Mas o mundo te muda”. Talvez essa frase de Otto Lara Rezende
explique e me convença que o futuro nada tenha a ver comigo, porque o passado
está mais presente em mim do que o próprio presente. Em cada rua onde passo em
minha terra revisito os mortos na lembrança tentando reconstituir os fatos com
os quais dividi o tempo.
Para
mim o chão dos antepassados é sagrado, mesmo que estejam sepultados nele
resquícios enferrujados e rangentes de um antigo fausto. Mesmo debilitada pela
decadência física, da feição das caras e das coisas, o que mais me dói é a
decadência das mentalidades e dos antigos costumes, como se fosse hoje um porão
cheio de escuro, melancolia e solidão.
Dias
sem esperança. Dentro, minha alma gritam as inconformações. A terceira idade me
oprime e me desgasta mais depressa. Seria mesmo a juventude o “único bem digno
de inveja?”. Quantos desejos não sufoco nessa vida de perplexidades e fantasias
insaciadas? Percebo o quanto é frágil o ser humano. Vulnerável, mas egoísta.
Salve-se a mulher que, apesar das fraquezas, ainda é a água potável de sempre.
O que me domina mesmo é o medo de saber para onde tudo se encaminha. Não há
certezas. Só dúvidas e dívidas. Por isso é que me volto, invariavelmente, ao
passado, ao ritmo da busca, aos lances exatos. O universo que construí nos tempos idos e
vividos não foi destruído. Permanece em mim, intacto, imune às aberrações da
modernidade. Não me julguem severamente. Para viver naturalmente preciso me
lembrar que não somente existo, mas que existi e já fui feliz. Não sou nostálgico
ou antiquado. Por acaso, estudar a história do Brasil ou do Rio Grande do Norte
é saudosismo? Reler a Bíblia ou os clássicos literários seria pieguismo? Cada
um de nós tem uma história de vida com as suas lições imorredouras. Ignorar
tais coisas é ser talibã.
Como
me alegrava caminhar pelas ruas de Macaíba ao lado do meu pai! Era simples,
humano, disponível. Dividia com os moradores da sua Fazenda “Uberaba” o fruto e
o usufruto. Aos domingos, promovia no alpendre grande da sua casa o forró “pé
de serra” e se divertia vendo os trabalhadores dançar. Era “devoto” das músicas
de Luiz Gonzaga. E como era gostoso ouvir à tardinha o berreiro de Gonzagão:
“Vai boiadeiro que à noite já vem. Leva o teu gado e vai prá junto do teu
bem...”. Mas, há tantas coisas que eu recordo e não cabem todas nessa procissão
de relembranças. Talvez, isso esteja explicado dentro do fator tempo, a
presença familiar e nenhuma agressão ainda ao meio ambiente. O viver é muito
complicado. E fica mais emblemático quando se procura entender o significado do
antes, durante e depois.
(*) Escritor.
27/02/2017
A Baronesa de Ceará-Mirim e os mártires de Uruassú
Por João Felipe da Trindade
jfhipotenusa@gmail.com
jfhipotenusa@gmail.com
Na internet, tomamos conhecimento
que as informações sobre o Barão de Ceará-Mirim continuam desencontradas. Tanto
há discordâncias quanto ao nome do pai de Manoel Varela do Nascimento, quanto a
data do seu nascimento. Por mais pesquisa que se faça, não se chega a um
denominador comum. E mesmo com a divulgação do seu casamento, vários escritos sobre o barão não corrigiram suas
informações.
Minha família Trindade, lá de
Angicos, vivia, em sua maioria, em Santa Luzia, onde se localiza uma das
propriedades do barão. Encontramos, vários eventos religiosos onde Manoel
Varela do Nascimento e seus familiares se apresentaram como padrinhos ou testemunhas.
Para exemplificar, em 27 de
dezembro de 1855, na Matriz de São José de Angicos, ocorreu o batizado de
Francisca, filha legítima de João Batista da Costa Xavier e de Michaela
Francisca da Trindade, esta minha tia-bisavó. A batizada tinha nascido aos 30
de novembro desse mesmo ano, e teve como padrinhos Manoel Varela do Nascimento
e sua esposa Bernarda Varela Dantas, moradores em Extremoz, por procuração
passada ao casal José Bonifácio da Trindade e Rosa Maria da Conceição.
As dificuldades para se fazer
algumas genealogias aumentam quando uma mesma pessoa aparece com vários
sobrenomes, e algumas vezes com nomes diferentes.
A ascendência de da Baronesa é
mais rica em informações, pois vai até os mártires de Uruassú, Antônio Vilela
Cid e Estevão Machado de Miranda. Ela era filha de Francisco Teixeira de Araújo
e de Izabel Xavier de Sousa, que casaram em 8 de fevereiro de 1804. Esses pais
de dona Bernarda eram parentes muito próximos, pois foram dispensados no 3° e
4º graus de consanguinidade. Os pais de Francisco Teixeira de Araújo eram o
português José Teixeira da Silva e Thereza Duarte de Jesus, enquanto os pais de
Dona Izabel eram o capitão Francisco Xavier de Sousa e Dona Bernarda Dantas da
Silveira.
Para entender melhor esse
parentesco dos pais de Dona Bernarda, que herdou o nome da avó materna, vamos
avançar na sua ascendência. O português José Teixeira da Silva tinha como pais
João Teixeira da Silva e Maria Joana, enquanto sua esposa, Thereza Duarte de
Jesus, era filha de João Rodrigues Seixas e Dona Joana Rodrigues Santiago; já o
capitão Francisco Xavier de Sousa era filho do baiano Francisco Xavier de Sousa
e Thereza Duarte de Jesus, enquanto os pais de sua esposa, Dona Bernarda Dantas
da Silveira, eram o mestre de campo, o português Sebastião Dantas Correia, e
sua mulher Dona Ana da Silveira Freire.
As bisavós Joana Rodrigues
Santiago e Thereza Duarte de Jesus, a primeira paterna, e a segunda materna,
eram irmãs, sendo ambas filhas de Salvador de Araújo Correia e Isabel Rodrigues
Santiago. Esse parentesco das bisavós é que gerou a dispensa de 3º grau entre
os pais da Baronesa.
Isabel Rodrigues Santiago,
trisavó da Baronesa, era filha de Manoel Rodrigues Santiago e de Catharina
Duarte de Azevedo. Esta, por sua vez, era filha de Manoel Duarte de Azevedo e
Margarida Machado de Miranda. Segundo o memorialista Manoel Maurício Correia de
Sousa, no seu manuscrito sobre as famílias de Utinga, datado de 1840, Margarida
era a filha do mártir Estevão Machado de Miranda e Dona Bárbara Viela Cid. Esta
última, por sua vez, era filha do outro mártir, Antônio Vilela Cid e de Dona
Ignez Duarte, irmã do Padre Ambrósio Ferro, também sacrificado em Uruassú.
Não foi possível identificar o
parentesco de 4º grau entre os pais de Dona Bernarda, mas desconfio que
se dá através
das trisavós deles, Joana da Silveira, pelo lado paterno, e Domingos da
Silveira, pelo lado materno. É possível que esses trisavôs fossem
irmãos. Dona Joana era casada com outro João Rodrigues Seixas, enquanto
Domingos era casado com Catharina de Amorim.
Completando nossas informações, o português Sebastião Dantas Correia era filho de José Dantas Correia e de Izabel Pimenta da Costa.
Completando nossas informações, o português Sebastião Dantas Correia era filho de José Dantas Correia e de Izabel Pimenta da Costa.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
O casamento do Barão de Ceará-Mirim
Por João Felipe da Trindade
jfhipotenusa@gmail.com
Ainda persiste na internet informação errada sobre os pais de Manoel Varela do Nascimento. Por isso, colocamos aqui o registro de casamento dele que, posteriormente, se tornou Barão de Ceará-Mirim.
jfhipotenusa@gmail.com
Ainda persiste na internet informação errada sobre os pais de Manoel Varela do Nascimento. Por isso, colocamos aqui o registro de casamento dele que, posteriormente, se tornou Barão de Ceará-Mirim.
Aos
nove de outubro de 1839, na Capela, em casa de Francisco Teixeira de
Araújo, se receberam em matrimônio, Manoel Varella do Nascimento, filho
legítimo de José Félix da Silveira, e Ana Teixeira Varella, com Bernarda
Dantas da Silva, filha legítima de Francisco Teixeira de Araújo e
Izabel Dantas Xavier, presentes as testemunhas Felippe Varella Santiago,
e Francisco de Souza Xavier, do que para constar, mandei fazer o
presente assento, que assino. Cândido José Coelho, Vigário Encomendado
23/02/2017
ACADEMIA DE LETRAS INFORMA
A V I S O
A Academia Norte-Rio-Grandense de Letras - ANRL, para os fins e efeitos de direito, COMUNICA aos seus Membros Efetivos e TORNA PÚBLICO, a aprovação da reforma do seu Estatuto Social pela Assembleia Geral Extraordinária do dia 03(três) de novembro do ano de 2016 (dois mil e dezesseis), que substitui o anterior de 04 de janeiro de 1977, com alteração de 27 de novembro de 1979, contendo os TÍTULOS: I – DA INSTITUIÇÃO E SEUS SÓCIOS; II - DA ADMINISTRAÇÃO; III – DO PATRIMÔNIO E DAS FONTES DE RECURSOS; IV – DAS ALTERAÇÕES ESTATUTÁRIAS E DA DISSOLUÇÃO; V – DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS, num total de 29 (vinte e nove) artigos, bem assim a Reforma do REGIMENTO INTERNO correspondente ao Estatuto Reformado, contendo UM INTRÓITO e os TÍTULOS: I – DA ADMINISTRAÇÃO; II – DOS ACADÊMICOS E DO PROCESSO DE ESCOLHA; III – DISPOSIÇÃO FINAL, contendo 35 (trinta e cinco) artigos, este aprovado na reunião de Diretoria realizada no dia 06 de dezembro de 2016, passando a valer a partir da data da publicação deste aviso, estando os textos completos publicados no Quadro de Avisos da ANRL.
Natal, 20 de dezembro de 2016
DIOGENES DA CUNHA LIMA
Presidente
LEIDE CÂMARA
Secretária-Geral
EDIÇÃO DO DIA
D. Oficial: 13874
HOSPITAL SAMARITANO
Valério Mesquita
O Hospital Infantil foi criado em 1917 pelo dr. Manoel Varela Santiago, com atendimento ambulatorial às crianças do Rio Grande do Norte, principalmente de baixo poder aquisitivo. Antes da sua morte, o dr. Sílvio Lamartine assumiu a direção do hospital, permanecendo nessa função por mais de 30 anos. Nos últimos anos o “Varela Santiago” ganhou significativo impulso, diversificando e ampliando o seu atendimento, através de mais de dezesseis especialidades, assistindo uma média de oito mil e quinhentas crianças por mês. A sua UTI, encontra-se permanentemente lotada. Sobrevive com a contribuição de algumas empresas, convênios com o governo do estado e com a ajuda financeira de pessoas que conhecem e acreditam na seriedade do trabalho desenvolvido pelo dr. Paulo Xavier, seu atual diretor.
Trata-se do único hospital pediátrico do Rio Grande do Norte que atende exclusivamente através do programa SUS. Ou seja, o SUS é porta única para se ter acesso ao mesmo. Caso raro, que merece não só o aplauso do povo norte-riograndense, mas, de igual forma, a plena aprovação ao trabalho do grande profissional e magnífico ser humano – dr. Paulo Xavier – que ali tem transformado os seus dias, em exercício de doação e permanente lição de amor.
A saúde do Rio Grande do Norte vive um quadro difícil de sua existência. O exemplo impactante é a situação do Walfredo Gurgel, mais conhecido como o “hospital dos mártires”, onde os doentes continuam jogados nos corredores. O Walfredo Gurgel não estaria sendo vítima da “ambulancioterapia” dos municípios interioranos? Por que não equipar e ampliar a estrutura de atendimento dos hospitais públicos da grande Natal para absorver essa clientela e livrar o Walfredo Gurgel desse fluxo de interminável agonia?
Cito o caso do Walfredo Gurgel porque me parece que os problemas de saúde não estão sendo tratados com racionalidade e disciplina. Digo, melhor: falta uma política descentralizada e investimentos maciços na área da saúde. Como um único hospital pediátrico, que atende somente pelo SUS, da rede privada, consegue equalizar, sistematizar e manter a sua qualidade de atendimento, como vem procedendo o Varela Santiago? Acrescente-se aí um dado importante: a demanda de pacientes que recebe do interior e da capital é geometricamente crescente, porquanto a população infantil desassistida tornou-se incalculável. Você conhece, por dentro, a ala das crianças que padecem de câncer? Eu vi e não pude controlar a emoção e um quase desespero. Foi aí que me lembrei dos que moram em mansões e palacetes de luxo, que vivem uma vida de dissipações com gastos supérfluos achando que nunca adoecerão.
Veio-me à cabeça um evento como o Carnatal, onde os promotores ganham rios de dinheiro e não se sensibilizam em ajudar a criança cancerosa. Antes, as damas da sociedade e dos clubes de serviço promoviam chás e festas em benefício do hospital infantil. Hoje, pagam caro a crônica social para exibir as suas futilidades e esquecem os inocentes pacientes portadores de tumores malignos.
Por isso, louvo e aplaudo o trabalho do dr. Paulo Xavier e toda a sua equipe de auxiliares que mantêm acesa a chama votiva do ideal hipocrático de Manoel Varela Santiago e seu sucessor Silvio Lamartine. Não significa dizer, com efeito, que o Hospital Infantil é autosuficiente e já dispensa ajudas. Absolutamente. O condão do meu reconhecimento tem o objetivo de registrar e agradecer as vidas salvas de milhares de crianças ao longo do tempo. E que a sociedade pode e deve ampliar esse apoio, esse auxílio, porque o Hospital Infantil Varela Santiago é um patrimônio de Natal e do Rio Grande do Norte. Meu Deus, o que seria das crianças pobres se ele não existisse!!
(*) Escritor
22/02/2017
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