Marina Colassanti, classificados nem tanto
12/12/2016
texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra
Suas lembranças viraram um dos muitos livros que escreveu. É poeta,
ficcionista, uma contadora de histórias. Sua literatura é também
infantil. O nome dela é Marina Colasanti. Nasceu na África, mas é
italiana de infância e de pai e mãe. Foi menina numa Europa em guerra e,
apesar disso, foi feliz e foi menina. Chegou ao Brasil ainda pequena e
foi morar com a tia e o marido brasileiro da tia que era dono do
palacete onde hoje é o Parque Guinle, no Rio de Janeiro. Quando foi
casar, casou com um dos seus pares, o também escritor de nome Afonso
Romano Santana, que é assim como ela.
Um dia, atrevida, disse que para escrever contos de fadas era preciso
um castelo. E uma conhecida que tinha um castelo ofereceu a ela e a
Afonso. E foram os dois fazer literatura. Décima entrevista da série
entrevistas imaginadas,
quando se falará de e com poetas e escritores, pelo que já disseram em
seus versos e prosa, por isso, imaginadas, mas nunca imaginárias, porque
o fundo da verdade é o que já disse e está estampado no que já
disseram. Entrevistamos a escritora num espaço de tudo, o jornal, que
tomou para si e fez um livro de classificados (e nem tanto!) e com este
mesmo nome Classificados e Nem tanto.
Entrevistador: Marina, nos classificados o que anuncia a bicicleta?
Marina Colasanti: Que procura seu dono ciclista perdido algum dia fora da pista.
E: E o que nos classificados venderia em leilão?
MC: o pouco que resta do meu coração.
E: O que anda oferecendo a quem queira?
MC: um gato sem eira nem beira.
E: O que anunciaria uma tartaruga?
MC: que busca creme contra ruga!
E: É verdade que o continente é uma ilha?
MC: um continente é uma ilha em tamanho família.
E: A agulha, o que procura?
MC: sem linha em tecido procura a costura que lhe dê sentido.
E: Em papo de bandagem...
MC: a múmia leva vantagem!
E: Pra não fazer nem de brincadeira...
MC: falar a queima-roupa com a passadeira!
E: E o que seria um círculo?
MC: um quadrado bem esticado.
E: A vaca, o que rumina?
MC: verdadeira usina que recicla o que come, a vaca rumina a sua própria fome.
E: Como uma pessoa revela os seus modos?
MC: com o dedo no nariz dos seus modos você diz.
E: Nos classificados quem pede para ser adotado?
MC: um pensamento rejeitado!