INSUSTENTÁVEL LEVEZA DE SER
Valério Mesquita*
Leonel Mesquita foi
agropecuarista, proprietário da Fazenda Arvoredo, que depois veio a pertencer a
sua esposa Nídia Mesquita, minha irmã. Leonel faleceu ainda moço, em 1979. Foi
prefeito constitucional de São Gonçalo do Amarante tendo, durante muito tempo,
militado na UDN, como membro do diretório estadual desse partido em Macaíba.
Foi seguidor fiel de Dinarte Mariz e Djalma Marinho, nos quais sempre votou.
Era homem de coragem pessoal, de fidelidade aos amigos, mas implacável como
inimigo. A sua marca registrada era a irreverência.
01) Certa vez, ele se
indispôs com um então deputado estadual que fazia política também em seu
município, São Gonçalo do Amarante. Tal deputado era tido como pessoa dúbia,
que sempre ficava em cima do muro para lhe prejudicar politicamente. Numa
manhã, sentado à mesa do gerente do Bandern, no Grande Ponto, estava justamente
falando do referido parlamentar quando este entrou na agência. Ao vê-lo, o
gerente o apontou a Leonel, que em cima do lance retrucou: “Ele veio ao banco
para depositar caráter!”.
02) Numa das campanhas
municipais de Natal, era candidato a vereador o senhor Leonel Monteiro,
comerciante da capital. Leonel Mesquita residia em Natal, à rua Nilo Peçanha,
quase em frente à Maternidade Januário Cicco. Num começo de tarde, quando
almoçava, tocaram a campainha. Era uma comissão do bairro Bom Pastor que viera
procurar o candidato Leonel Monteiro para lhe fazer uma série de reivindicações
eleitorais. Leonel Mesquita, percebendo o equívoco, mandou entrar, deu um
esporro na comissão dizendo entre outras coisas: “Eu, Leonel Monteiro, estou
eleito. Não preciso do voto de vocês, que são uns exploradores e só querem me
marretar”. Daí, você pode imaginar tudo e até as consequências para o pobre do
Leonel Monteiro, que era uma boa pessoa.
03) Em Utinga, um dos
redutos eleitorais em São Gonçalo, havia um seu compadre que, apesar de muito
favorecido, não lhe inspirava bastante confiança. Era no tempo do fanatismo
político do ex-governador Aluízio Alves. Dia da eleição, Leonel fora advertido
de véspera pelo vereador José Pegado Mendes que o duvidoso compadre não votaria
nos seus candidatos, muito embora tivesse recebido farto material de
construção. Comprovadas as evidências, foi esperá-lo à porta da secção
eleitoral. Quando o eleitor recebeu a cédula de votar, Leonel a pediu, cravou
os números dos seus candidatos; fechou o envelope e finalizou: “Pronto,
compadre, bote na urna. É corno quem disser que você não votou comigo!!”.
04) Leonel Mesquita foi
um emérito gastador na política. Financiou muitas eleições em Macaíba e São
Gonçalo do Amarante para Dinarte Mariz e Djalma Marinho, dois dos maiores
amigos políticos. De uma feita, o seu tio Paulo Mesquita alarmado com os gastos
e a devastação que ele fazia na propriedade rural, profetizou: “Arvoredo é tão
rica e tão boa, que Leonel todos os meses passa o dia depredando a propriedade,
mas ela durante a noite se refaz para ele no dia seguinte fazer tudo novamente”.
05) Leonel era
abecedista de carteirinha. Vez em quando, frequentava o Castelão. Certa vez,
estacionou, à tarde, o seu carro em frente ao estádio e pediu os cuidados de um
garoto “pastorador”. Ao final do jogo, constatou que seu automóvel havia sido
deslocado do ponto onde o deixou, o que danificou a caixa de marchas. O
“pastorador” denunciou de pronto, que empurraram o veículo, mas anotou a placa
do carro do responsável. Dia seguinte, ele foi ao Detran e descobriu o nome do
proprietário. Era um conhecidíssimo engenheiro, dono de uma construtora. Sem
maiores contemplações, Leonel colocou um paralelepípedo no banco do seu carro e
se dirigiu à sede da empresa, no bairro da Ribeira. Lá encontrou o automóvel do
empreiteiro. Ato contínuo, atirou o petardo no parabrisa do automóvel do proprietário
e, sob os olhares dos curiosos, sentenciou: “Tamos quites!!!”.
(*) Escritor.