27.6.09
(José Correia Torres Neto *)
Natal, década de 40 - A cidade fervilhava de militares americanos e brasileiros. Aviões, hidroaviões, Catalinas e Jeeps patrulhavam a vida dos natalenses.
Instalava-se na cidade a paraibana de Campina Grande, Maria de Oliveira Barros (24/06/1920 - 22/07/1997). Começava neste ínterim a história da mais conhecida casa de tolerância do estado (do país ou do mundo?).
Entre as movimentações na Ribeira, nas pedidas de Cuba Libre no saguão do Grande Hotel, nas notícias pelas Bocas de Ferro, na Marmita, em Getúlio e em Roosevelt e na nova geração de meio americanos e meio brasileiros, lá estava Maria Barros enaltecendo-se na Cidade do Natal como a proprietária do melhor (ou maior) cabaré.
TORNOU-SE CONHECIDA COMO MARIA BOA. Mesmo com pouco estudo ela despertou o gosto por música, cinema e leitura. O seu "estabelecimento" era o refúgio aos homens da cidade, com residência fixa ou, simplesmente, por passagem por Natal e servia de referência geográfica na cidade.
Jovens, militares e figurões acolhiam-se envoltos as carnes mornas das meninas de Maria Boa.
Muitas mães de família tiveram que amargar, em silêncio, a presença de Maria Boa no imaginário de seus maridos em uma época de evidente repressão sexual.
Vários fatos envolveram a personagem. Um episódio muito comentado foi a pintura realizada pelos militares em um avião B-25. Um dos mais famosos aviões da 2a Guerra Mundial, os B-25 eram identificadas com cores características de cada Base Aérea. Os anéis de velocidade das máquinas voadoras da Base Aérea de Salvador eram pintados com a cor verde.
Os aviões de Recife, com a cor vermelha, e os de Fortaleza, com a cor azul. Para a Base de Natal foi convencionada a cor amarela. Os responsáveis pela manutenção dos aviões em Natal imaginaram também que deviam ser pintados no nariz do avião, ao lado esquerdo da fuselagem junto ao número de matricula, desenhos artísticos de mulheres em trajes de praia.
Autorizada pelo Parque de Aeronáutica de São Paulo, a idéia foi colocada em prática. Pouco tempo depois, os B-25 de Natal surgiram na pista com caricaturas femininas e alguns até com nomes de mulheres.
Alguns militares da Base escolheram o B-25 (5079), cujo desenho se aproximava mais da imagem de Maria Barros. Outras aeronaves também receberam nomes como "Amigo da Onça" e "Nega Maluca".
QUEM CUSTOU A ACREDITAR NESTE FATO FOI A PRÓPRIA MARIA. ATÉ QUE ALGUNS TENENTES DECIDIRAM LEVÁ-LA ATÉ À LINHA DE ESTACIONAMENTO DOS B-25 LOGO APÓS O JANTAR PARA NÃO DESPERTAR A ATENÇÃO DOS CURIOSOS. ELA CONSTATOU O FATO. AS LÁGRIMAS VERTERAM DE SEUS OLHOS QUANDO VIU À SUA FRENTE, PINTADA AO LADO DO NÚMERO 5079, A INSCRIÇÃO "MARIA BOA".
O mito "Maria Boa" rendeu trabalhos acadêmicos o de Maria de Fátima de Souza, intitulado: "A época áurea de Maria Boa (Natal-RN 1999)".
O trabalho aborda o "fenômeno da prostituição infanto/juvenil, suas consequências e causas no desenvolvimento físico e psicossocial de crianças e adolescentes (...).
Com o aprofundamento dos estudos percebemos o importante papel dos bordéis na prostituição, bem como o fechamento dos mesmos (...). Chegamos então ao cabaré de Maria Boa, já fechado. Tivemos, assim, a oportunidade de conhecer um pouco da saga da Sra. Maria de Oliveira Barros, uma profissional do sexo, com grande importância na história da prostituição de adultos, ou ainda, tradicional; das histórias contadas a seu respeito chamou-nos atenção para sua representação social, seu "mito" e sua ligação com o imaginário masculino. Com isso, passamos a averiguar mais profundamente uma participação na sociedade da época e buscamos reconstruir parte de sua história enquanto meretriz, cafetina, e proprietária da mais famosa casa de prostituição que o RN já conheceu."
O Professor Márcio de Lima Dantas publicou em 2002 o texto "Retratos de silêncio de Maria Boa". "(...) Para além da atitude ética de proteger sua família, o que faz parecer um jogo com a hipocrisia da sociedade, penso que, na atitude de se manter reservada, se inscreve outro aspecto digno de ser ressaltado.
Falo do mito que entorna a personagem Maria Boa, de certa maneira, criada e ritualizada por ela mesma, dimensão de fantasia para além do empírico vivenciado. (...) Astuciosamente se fez conhecer por "Maria", o antropônimo mais comum no universo feminino, genérico e pouco dado a divagações semióticas. Ironicamente é o nome da mãe de Jesus...
Quem não tinha conhecimento no Estado de uma proprietária de um requintado lupanar, e que se chamava Maria, a Boa. O mito, da constituição do éter, era aspirado por todos, preenchendo necessidades, ocupando lugares no espírito, imprimindo fantasias nos adolescentes, despertando em jovens mulheres às aventuras da carne, engendrando adultérios imaginários. Integrava, assim, o patrimônio individual e coletivo. (...)"
Eliade Pimentel, no artigo "E o carnaval ficou na memória" destaca a presença de Maria Barros nos carnavais de Natal: Lá pela década de 50, os desfiles passaram a acontecer na avenida Deodoro da Fonseca. Maria Boa desfilava com Antônio Farache em carros conversíveis, "
Em 2003 o cantor Valdick Soriano, quando entrevistado por Everaldo Lopes, registrou que quando esteve em Natal, pela primeira vez, cantou até para as meninas de "Maria Boa".
Maria Barros é história. Mesmo sendo paraibana é a Primeira Dama (ou anti-Dama) de Natal.
Impera nas lembranças dos seus contemporâneos e se faz presentes nos prostíbulos que ainda resistem nas periferias da cidade ou travestidos de casas de "drinks" nos bairros mais nobres.
Ela é citada no filme For All - O Trampolim da Vitória (vencedor do Festival de Gramado em 1997) de Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz. O filme retrata a cidade do Natal em 1943 quando a base americana de Parnamirim Field, a maior fora dos Estados Unidos, recebe 15 mil soldados, que vão se juntar aos 40 mil habitantes da cidade.
Para a população local a guerra possuiu vários significados. A chegada dos militares americanos alimentou fantasias de progresso material, romance e, também o fascínio pelo cinema de Hollywood. Em meio aos constantes blecautes do treinamento antibombardeio, dos famosos bailes da base aos domingos, dos cigarros americanos, da Coca-Cola e do vestuário estavam os sonhos natalenses. Sem questionamentos, "Maria Boa" foi uma das principais atrizes no elenco desse belicoso teatro. A Primeira Dama Maria Boa... (*com notas do Blog).
Recebi de Pery Neto,
Eu tenho uma informação que poderá servir para enriquecer esse assunto Maria Boa.
Fui colega no colégio de Abílio Fernandes filho de Nezinho Fernandes, um dos Diretores da firma Fernandes & Cia, ligada ao comércio de algodão.
Abílio certa vez me contou:
"Maria Boa foi trazida de Campina Grande por Nezinho Fernandes (meu pai) para trabalhar como babá ou doméstica na residência dele. Com o decorrer do tempo, Nezinho avançou o sinal com a jovem Maria (ainda não era Maria Boa) e para não ter complicação com a família, conseguiu acomodá-la numa residência, naturalmente patrocinada por ele."
Abílio não adiantou mais nada, porém creio que a partir daí, Maria, uma mulher inteligente, em lugar de assumir a vida de prostituta, assumiu a de cafetina que era mais rentável.
Certamente foi aí que se tornou amante do Dr. Manoel Vilar, um médico oftalmologista, o único que havia em Natal.
É apenas um retalho da vida daquela que fez história em Natal com o nome de Maria Boa.
Pery Lamartine
Postado por Manoel de Oliveira Cavalcanti Neto.
Provavelmente muitos, principalmente os mais novos ainda não ouviram falar da foto "Maria Boa", e muito menos tiveram a oportunidade de colocar os olhos sobre ela que é o Troféu do Torneio Maria Boa, constituído de vários jogos que testam a intelectualidade e a parte física dos pilotos e que se tornou um símbolo dentro da Aviação de Caça.
Com a entrega da Base Americana para ao Brasil, os oficiais Graco Magalhães, Durval, Vercillo e Teixeira Rocha, passaram noites e noites procurando negativos de moças de Natal. E logo encontraram a foto da mulher nua, que um sargento americano garantiu ser de Maria Boa.
O Teixeira Rocha se apossou da foto, colocou num quadro de madeira e ficou com ela na sua mesa. Neste tempo ele comandou uma parte imensa da Base, o “Supply and Maintenance”, ou seja, Suprimento e Manutenção.
Era um mundo e havia mais de 15 daqueles barracões de madeira com material sobressalente que teria de ser identificado, pois era muita coisa de B-17, de B-24, de C-46 e C-47.
Nessa ocasião, já estava criado o 5º Grupo de Bombardeio Médio, e o Grupo de Caça, constante com os P-40, foi transferido para o Rio Grande. Os P-40 foram levados por pilotos de Natal e o último deles foi levado pelo T. Rocha que gastou mais de 40 dias para voltar, retido por panes repetidas, e o material tinha que ser mandado daqui.
Pois bem, quando o T. Rocha chegou a Natal o quadro já havia sumido de sua mesa. Lá pelos idos de 1954, estavam os caçadores do 2o/5o G.Av. (por coincidência, comandados pelo então Major T. Rocha), em expediente normal, quando chegou o então Maj. Hipólito com o quadro da Maria Boa.
Ofereceu-o como troféu a ser disputado pelo Esquadrão contra o 1o/5o G.Av., Unidade de B-25, então comandada pelo Maj. Carrão, numa partida de futebol de salão a ser realizada no Campo da Navy, pois ali residiam quase todos os oficiais das Unidades. Jogo disputadíssimo e decidido num pênalti contra o 1o/5o, O quadro passou a ser do 2o/5o. Posteriormente essa Unidade foi transferida para Fortaleza e levou o troféu e posteriormente ficou embutida em uma parede do 1o/4o G.Av. lá em Fortaleza.
Desde então as disputas não têm sido tão cordiais, valendo qualquer meio pela posse da "Maria Boa". Incluem-se aí "furtos" e "roubos", técnicas, aliás, largamente utilizadas.
O Esquadrão detentor do troféu obriga-se a guardá-lo dentro de suas dependências e fora de quaisquer cofres, mantendo acesa a chama pela sua conquista. Pode também levá-lo a prêmio, sendo, neste caso, quem define as regras da competição.
Desde 1989 (quando foi colocada em disputa pelo 1º GpAvCa) o 3º/10º GAv. tem a honra de ser possuidor de tão digno prêmio, e informa a todos os que porventura estejam interessados, que a fotografia, já bastante avariada, passou por uma restauração em Novembro de 1996. A foto original da "Maria Boa" é entregue ao vencedor do torneio entre os esquadrões e ocorre normalmente na "Semana do 22 de Abril” na Base Aérea de Santa Cruz.
Possuir a foto é sinal de prestígio dentre os diversos esquadrões, e representa uma das mais importantes tradições cultivadas pelos Caçadores. A regra diz que a foto pode ser "surrupiada" por qualquer um dos perdedores... por isso é mantida na maior segurança pelo detentor do Torneio. (Fontes: Associação Brasileira de Pilotos de Caça /ABRA-PC e notas do Blog)
23.6.09
O Centro de Memória da Justiça Eleitoral do Rio Grande do Norte Professor Tarcísio Medeiros, foi assim designado em homenagem ao seu primeiro servidor. Nascido aos 8 de setembro de 1918, em Natal, Tarcísio da Natividade Medeiros foi nomeado em 27 de junho de 1945 para o cargo de Oficial da Secretaria do Tribunal, nele permanecendo até aposentar-se, em 1970, como Diretor da Divisão Administrativa da Secretaria. Servidor da Justiça Eleitoral, durante toda sua vida funcional, prestou relevantes serviços à instituição e contribuiu, de forma inestimável com a cultura do Estado, como acadêmico e literário, tendo escrito vários livros e ensaios sobre a história do Rio Grande do Norte.
Foi membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras; sócio efetivo e redator da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e do Instituto Histórico do Ceará; professor de História Geral, do Brasil, das Américas e do Rio Grande do Norte na Escola Técnica de Comércio de Natal, no Ginásio 7 de Setembro e professor adjunto do Departamento de História da UFRN. Em 1937 ingressou na Faculdade de Direito do Recife, interrompendo o curso ao ser mobilizado para servir à pátria, no período de 1942 a 1945, e à Força Expedicionária Brasileira. Concluído o curso, exerceu a advocacia por mais de trinta anos, inclusive como Procurador da LBA por vinte e cinco anos e Conselheiro da OAB/RN. Condecorado com várias honrarias de mérito cultural e medalhas como ex-combatente de guerra, o Professor Tarcísio Medeiros faleceu em Natal, em 26 de maio de 2003, aos 84 anos de idade.
Fonte: Centro de Memória da Justiça Eleitoral do Rio Grande do Norte