02/10/2015

O 30 DE SETEMBRO E A REALIDADE HISTÓRICA

Tomislav R. Femenick
vinheta172
Hoje estamos comemorando com festas o 132º aniversário da abolição da escravidão nesta terra de Santa Luzia de Mossoró. Mas será que sabemos o que estamos comemorando? Ou somente estamos participando de uma festa?
 Neste século XXI, época das descobertas espaciais, quando outros planetas e outros sistemas solares começam a ser visitados por sondas terrestres, tempo das comunicações globalizadas por satélites e das guerras “limpas” comandadas à distância e programadas por computadores (guerras que mais parecem jogos de videogame, porém decisões que podem vitimar milhares de vidas); neste século XXI a escravidão é vista pelo mundo civilizado como uma aberração do comportamento humano ou, no mínimo, como uma herança que sobreviveu aos tempos em que os homens eram menos racionais, uma prática de povos bárbaros, limitada a regiões não civilizadas. Esta seria uma visão correta não fosse o fato de que resquícios da escravidão tenham sobrevivido até neste novo século, embora disfarçada, escondida, dissimulada.
 Sabendo-se que somente fenômenos incomuns e anormalidades é que podem ser considerados como aberrações, temos, pois, que do ponto de vista histórico, desconsiderar essa classificação pelo simples fato de que, no passado de quase todos os povos do mundo, há a presença do escravismo como prática, quando não como instituição – em ambos os casos fazendo parte do “inconsciente coletivo” da sociedade humana. Os povos que não a exercitaram formam uma minoria tão inexpressiva que, do ponto de vista acadêmico, somente servem para confirmar a regra.
 Passei vinte anos de minha vida pesquisando a escravidão em vinte e cinco países, em quatro continentes. Foi a base de minha dissertação de mestrado em economia, com extensão em sociologia e história. Mais tudo isso começou com a visão de um estandarte verde claro onde estava escrito Mossoró Livre, em letras que a memória me diz serem douradas, lá na antiga sede do Museu Municipal de Mossoró, no prédio do antigo Clube Ipiranga, nas minhas conversas-aulas com Vingt-un Rosado e Dona América. Ou ouvindo as histórias contadas pelo seu Terto Aires, na calçado do meu tio Padre Mota.
 Mas voltemos a questão inicial: o que realmente é a escravidão? Essa é uma indagação que deve preceder a todo e qualquer estudo que trata do assunto. Daí a necessidade de se fazer uma digressão teórica sobre o assunto. Em alguns livros é comum encontrar explicações incompletas e até controversas entre si, pois este é um terreno de uma das ciências humanas, capazes de suportar posições opostas e até de negativas conjuntas, que têm por base interpretações de evidências – e as interpretações envolvem julgamento de valor e todo julgamento é marcado por preconceitos.
 Assim, nessas obras o conceito sobre a escravidão é genérico – geralmente simplesmente dizem que é “um sistema em que alguns seres humanos são tratados como se fossem propriedades de outros seres humanos, podendo ser vendidos e comprados”. O significadotambém é genérico: seria “um fenômeno que consiste em uma pessoa dispor o trabalho de outra pessoa, sem remunera-la”. A definição, no entanto, é taxativa: “escravidão é o status do escravo, a pessoa que está sob o domínio de uma outra pessoa, portanto privado da liberdade”. É na definição do que seja a escravidão que se encontra a unanimidade: ao escravo é negado o direito à liberdade.
 Todas as sociedades humanas aceitaram a escravidão. Até na Grécia Antiga, o berço da democracia, a escravidão era prática comum. Aristóteles, em A Política, desenvolveu o raciocínio de que existiam dois tipos de escravos: os legais, homens livres que foram escravizados circunstancialmente; e os naturais, aqueles que teriam nascido para serem escravos. Já na África negra, a instituição da escravidão estava intensamente arraigada à concepção de vida, à economia e à forma de pensar politicamente. No reino de Benim, além de escravizar os cativos de guerra (coisa comum em todas as sociedades escravocratas, desde a pré-história), todas as pessoas do país eram consideradas escravas do rei, até os mais importantes membros da corte.
Em síntese: a escravidão é uma categoria de relacionamento social e econômico, que tanto pode ser estabelecida pelos costumes como pela lei, isto é, pelo direito consuetudinário ou pelo status jurídico organizador de uma determinada sociedade. Sua característica primordial é reconhecer a algumas pessoas a prerrogativa de terem o direito de propriedade sobre outras, as quais podem ser obrigadas a trabalhar de forma coercitiva, para os seus proprietários. Desta forma o senhor apropriava-se da maior parcela do produto do trabalho do escravo, deixando-lhe apenas o necessário para sobreviver, além de poder dispor do escravo como se fosse uma mercadoria qualquer. Na forma mais radical de escravidão, o escravo é reificado, desprovido de sua autonomia e de sua dignidade, transfigurado, transformado de indivíduo em coisa, em objeto, por meio de um processo de alienação em que perde a sua qualidade de ser humano, em função da uma realidade objetiva adversa. Legalmente o escravo é apenas mais uma mercadoria, que pode ser adquirida por captura ou compra; após isso o dono obtém o direito de vender, penhorar, dar ou trocar por qualquer outra mercadoria ou direito, sem que o escravo envolvido na transação possa expressar ou exercer qualquer opinião ou direito.
 Mas nem todos os sistemas escravagistas foram iguais. A divisão mais comum é sem dúvida a diferença entre a escravidão antiga (ou clássica) e a escravidão moderna, a das colônias americanas.
 A Escravidão Clássica
 A evolução da capacidade do homem de produzir e a institucionalização da escravidão como categoria social e econômica andaram pari passu, simultaneamente e, repito, não foi fato singular, existente em determinada região da terra. Ao contrário, com maior ou menor intensidade é elemento evidenciado nos estudos históricos da maioria dos povos.
 Nessa fase evolutiva da civilização, o escravismo se caracterizou pelo trabalho forçado, destinando-se a atender às necessidades comunais. O estudo dessas sociedades evidencia que uma parcela da sociedade trabalha e produz, enquanto outra somente se beneficia do resultado do trabalho do produtor direto. A distribuição e o consumo da riqueza obtidos nessas sociedades tinham proporção inversa ao esforço para obtê-los. Os produtores diretos ficavam com o mínimo necessário para continuarem vivos e trabalhando e os seus senhores recebiam o restante, a maior parte. Somente nos grandes impérios havia a produção de excedentes em maior proporção, destinados aos mercados internos e externos. Assim aconteceu na Mesopotâmia, na Suméria, no Império da Babilônia, na China, na Índia, no Egito Antigo, entre os Hebreus e na Roma Republicana e Imperial. Aconteceu também na América pré-descobrimento entre os Olmecas, os Maias, os Astecas e os Incas.
 Em quase todos esses casos, em todas essas nações, o que o escravo produzia era tão somente o necessário para suprir as necessidades imediatas dos seus senhores, pois quase não se pensava em produzir excedentes em larga escala. A estrutura econômica dessas sociedades tinha uma visão limitada ao seu território; raras eram as exceções.
 A Escravidão Moderna
 O descobrimento da América deu-se em um período da história conhecido pela expansão do poder europeu, que já tinha explorado a costa ocidental da África e descoberto o caminho para as Índias. O encontro deste Novo Mundo não teria sentido para a Europa de então se não o explorasse, se dele não tirasse proveito. Primeiro tentaram escravizar os nativos, porém teve pouca representatividade numérica, geográfica e, em alguns casos, temporal. Sem dúvida existiu no Caribe, América Central, México, Peru e no Brasil, principalmente. No Caribe, logo os indígenas foram drasticamente reduzidos, na América Central os indígenas eram pouco numerosos, no Brasil sua utilização foi limitada (ou teve relativa importância nas regiões norte e centro-sul). No México e nos Andes é que realmente superaram a escravidão negra.
 No Novo Mundo, o homem criou uma sociedade nova quando construiu uma nova relação sua com a natureza, quando transformou a própria natureza em coisa nova e quando desenvolveu uma nova maneira de se apropriar dos recursos naturais, uma nova forma de se apropriar de seus produtos (produtos da natureza) e de agir sobre si mesmo. Singular é que entre os mesmos fatores que contribuíram para a formação do novo sistema escravista, a escravidão moderna, estava a cor negra da pele do escravo – fato gerador do preconceito contra os africanos e seus descendentes.
 E aqui se levanta uma questão: quantos foram os escravos africanos introduzidos na América? Há tentativas de se chegar a um número plausível, utilizando-se métodos quantitativos acadêmicos aceitáveis, por grandes que sejam as variações; mas são tentativas, tão somente tentativas. A quantificação mais plausível é que tenha sido algo em torno de dez milhões. Para o Brasil vieram entre três e meio e cinco milhões de africanos. Aprisionados em sua terra natal, afastados do convivo de sua família, brutalizados nos confinamentos dos portos de embarques e na travessia do Atlântico, aqui vendidos em praças públicas como se animais fossem.
 Esse novo tipo de escravidão diferenciava-se da escravidão clássica em vários aspectos, principalmente pelo grande número dos escravos e pelo volume e destino da produção; produção em grande escala e quase toda ela voltada para a comercialização no mercado internacional. O açúcar, o rum, o algodão, o fumo, o café, a prata, o ouro produzido na América era destinado à Europa, que os beneficiava. Alguns deles, como o rum e algodão – este transformado em tecido –, também serviam como moeda de troca por novos escravos na África, escravos que eram trazidos para a América para produzirem mais açúcar, mais rum, mais algodão, mais fumo, mais café, mais prata, mais ouro. Em resumo: mercadorias europeias eram levadas para a África onde eram trocadas por escravos, que eram trazidos para a América, onde em trocados por produtos das colônias que eram levados para a Europa, onde o ciclo se completava e tudo se reiniciava. Havia variantes desse triângulo. Produtos das Antilhas iam para as colônias inglesas da América do Norte e vice-versa. Produtos brasileiros iam para a África. Negros eram reexportados das Antilhas para as Colônias do Norte ou para a América do Sul, ou em sentido inverso. Entretanto, o tráfico sempre esteve no âmago do pacto colonial: estava inserido na transferência de renda da colônia para a metrópole; impulsionou a acumulação capitalista primitiva; foi um instrumento do desenvolvimento da América e, principalmente, da Europa; um instrumento do atraso, da pobreza, do despovoamento e de martírio para os povos da África negra.
 A escravidão em Mossoró
 Reli recentemente alguns textos de novos historiadores sobre o fenômeno da escravidão em Mossoró. Notei que em uns poucos deles desponta se não uma tendência, porém uma presunção, de dessacralização do movimento abolicionista que teve a sua eclosão naquela memorável reunião de trinta de setembro de 1883 e na mensagem mandada ao senhor imperador, dizendo que nesta terra todos são livres mesmo contra sua vontade – poderiam ter poeticamente completado, “como é livre o vento sussurrante nas palmas dos carnaubais”.
 Esses novéis contadores de história devem ter lido apressadamente alguns trechos de livros sobre teorias marxistas e se empolgaram com os conceitos mais divulgados – e por isso mais fáceis de compreender – sobre os conceitos de modo de produção e do etapismoleninista-stalinista. Do primeiro pinçaram a noção de que “todo modo de produção possui em si mesmo as contradições que levarão à sua substituição por um processo mais avançado”. Do etapismo aceitaram a versão de que os modos de produção evoluem de forma ordenada do comunismo primitivo ao comunismo científico (seja lá o que isso for), coisa que Marx nunca disse em parte alguma. Estes estudiosos geralmente fazem“releituras” sobre assuntos particulares que, via de regra, nada mais são que tentativas de desvalorizar fatos maiores em troca do destaque de outros assuntos que, se algumas vezes também importantes, não têm fôlego para sobrepujar o âmago da questão.
 Um forte argumento dessa nova história é que as atividades econômicas desenvolvidas na Mossoró da segunda metade do século XIX prescindiam da mão de obra escrava, pois aqui seria um empório comercial. De fato o modo de produção econômica de nossa região não estava centrado na mão de obra escrava, que era periférica ou senhorial, caseira, de prestação de serviço á casa dos senhores. Isso não quer dizer que não houvesse escravos nas plantações de algodão, nas salinas e nas fazendas de criação de gado. Havia sim, porem eram em pequeno número.
 O mesmo aconteceu em nosso Estado. Segundo Paulo Pereira dos Santos – meu colega na diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – em 1600, quando a primeira Sesmaria foi concedida, seu beneficiário João Rodrigues Colaço usou “escravos vindo de Guiné”, cuja “presença foi constante no processo produtivo” da província, porém em outras regiões que não o oeste. No entanto, os portos de desembarque desses trabalhadores eram Mossoró, Areia Branca e Macau. Essa carga humana era procedente da África (em menor número), do Maranhão e de Pernambuco. Desses pontos os africanos e seus descentes eram levados para o agreste e o Seridó. Porém as condições geográficas desses lugares propiciavam que houvesse muitas fugas de cativos.
 Por outro lado, o Rio Grande do Norte não dependia totalmente da força de trabalho escrava para o seu desenvolvimento. Em 1811 a Província possuía uma população de 49.250 habitantes, dos quais 8.072 eram negros; poucos alforriados. Em 1835, o numero de negros subiu para 12.363, porém já com 6.247 libertos; a metade.
 O mesmo fenômeno aconteceu com Mossoró, que nunca foi uma sociedade predominantemente escravocrata do ponto de vista econômico; somente o aspecto social da escravidão aqui houve em destaque. Em 1862 havia no Município 2.493 habitantes, dos quais somente 153 eram escravos, cerca de 6% das pessoas. A cidade não era produtora de cana de açúcar e não possuía engenhos, as lavouras de algodão (diferentes de outras regiões) não usavam grande número de escravos e a pecuária exigia pouca mão de obra. Em junho de 1883, ano da abolição, havia 126 escravos em nossa terra; 40 foram alforriados em 13 junho e 86 em setembro, do mesmo ano.
 Mesmo pouca a mão de obra escrava não deixava de ser fonte de lucros. Segundo Camara Cascudo, “em Mossoró diversas casas comerciais tornaram-se compradoras de escravos, destacando-se entre elas a Mossoró & Cia, do Barão de Ibiapava”.
 A Abolição
 A abolição da escravatura em Mossoró deu-se no movimento abolicionista nacional, grandemente influenciado pelos acontecimentos do vizinho Estado do Ceará. Nessa época, o parlamento imperial, pressionado pela opinião pública e por algumas lideranças políticas, discutia leis que pregavam à abolição imediata, outras que eram totalmente contrárias e outras mais que queria uma “abolição gradativa“.
 Enquanto isso a sociedade civil se organizava contra a escravidão: Em 1880, Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e outras figuras importantes criaram, no Rio de Janeiro, aSociedade Brasileira Contra a Escravidão. Também no Rio, filósofos como Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes, se engajaram na campanha. Em São Paulo o advogado Luís Gama, um ex-escravo, transformou-se em um dos maiores heróis da causa emancipadora. No Recife, os alunos da Faculdade de Direito fundaram uma associação abolicionista, da qual eram sócios Castro Alves, Rui Barbosa, Aristides Spínola, Plínio de Lima, Regueira Costa.
 A Maçonaria e a Abolição
 A Maçonaria teve participação destacada e decisiva na campanha pela abolição da escravidão no Brasil. Isso é comprovado pelo fato de que quase todos os principais líderes da abolição eram maçons. José Bonifácio, o patriarca da independência e pioneiro da pregação da abolição; Eusébio de Queirós; que aboliu o tráfico de escravos; o Visconde do Rio Branco e outros abolicionistas como Luís Gama, Antônio Bento, José do Patrocínio, Joaquim Nabuco, Silva Jardim e Rui Barbosa eram maçons. Os maçons David Canabarro e Bento Gonçalves deram exemplos práticos de abolicionismo quando, em 1839 declararam a emancipam de escravos, durante a Guerra dos Farrapos.
 A história abolicionista da Maçonaria de Mossoró vem de 1875, quando passou a vedar a iniciação em seus quadros de pessoas que fossem comerciantes de escravos. Antes disso, no ano anterior o maçom Jeremias da Rocha Nogueira já propugnava pela “emancipação dos cativos”. No dia 24 de dezembro de 1882, como em datas anteriores, no templo maçônico foram entregues cartas de alforrias para alguns escravos, fruto do “fundo de emancipação”. Segundo o Historiador Raimundo Nonato: “A Maçonaria de Mossoró foi a grande incentivadora do grande movimento Libertário, em Mossoró”.
 O 30 de setembro
 Muito já se disse sobre os acontecimentos do dia 30 de setembro de 1833, em Mossoró. Muito já se contou sobre a sessão solene que quebrou os grilhões que prendiam a terra de Santa Luzia à aberração da escravidão. Muito já se falou sobre os homens que deram aquele grito de liberdade. Por isso é-nos limitada a abordagem de assunto tão nobre, porém já tão conhecido. Então, acho que é mais recomendado analisar a conjuntura daquele momento.
 A ideia de libertar os escravos – mesmo sem chancela de uma Lei ou qualquer outro instrumento legal em nível do Império – teve início no Ceará nos anos de 1970 e se propagou mais intensamente a partir do início da década seguinte. As libertações dos escravos se iniciaram por Acarape, no dia 1º de janeiro de 1883, que emancipou 116 escravos; depois vieram outras, como em Paracatuba, São Francisco, Barurite, Icó, Fortaleza, por exemplo.
 Segundo Emanuel Pereira Braz, no momento imediatamente anterior à abolição dos escravos nesta cidade, a propagação do movimento não encontrou proprietários de escravos receosos de perderem seu patrimônio, ou exigindo indenização para libertar seus escravos. Não há registros de depoimentos de políticos no âmbito local que fossem contrários ao abolicionismo”. O que se encontrava aqui era a difusão da uma consciência libertária, tanto é que nenhum senhor de escravo questionou a abolição ou pressionou por indenização.
 Em Mossoró, a ideia de libertar os escravos se consolidou no decorrer de uma homenagem, que teve lugar em dezembro de 1882, prestada pela Loja Maçônica 24 de Junho a Romualdo Lopes Galvão pelo seu casamento com Amélia Dantas de Souza Melo, acontecido no dia 5 do mesmo mês, em Fortaleza. Dona Amélia era portadora de uma “prancha” da Maçonaria cearense endereçada aos maçons de Mossoró, propugnando a participação de todos na luta emancipadora. No dia 06 de janeiro de 1883 a “Sociedade Libertadora Mossoroense” foi instalada, na Câmara Municipal, que funcionava do edifício da Cadeia Pública, hoje Museu Lauro da Escóssia.
 Segundo o historiador Geraldo Maia, a Sociedade Libertadora estabeleceu uma meta para alcançar seu objetivo de libertar todos os escravos que viviam em Mossoró. “Foi instituído o 30 de setembro para que até esse dia os 86 escravos que aqui existiam fossem libertos”.
 Diz, ainda, Geraldo Maia:  “Um ponto interessante é que aqui na cidade, os escravos libertos continuaram vivendo nas fazendas, não mais como cativos, e sim como funcionários, remunerados. Ou seja, foi um movimento organizado, diferente do aconteceu com a Lei Áurea, quando os escravos foram expulsos das fazendas, tornando-se marginalizados”.
 Desde 1913, através da Lei nº 30, o dia 30 de setembro foi declarado feriado municipal e, desde então, passou a ser a grande data cívica mossoroense. Em recente reunião do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Almino Afonso Neto (ou Almino Monteiro Álvares Affonso), ex-ministro, deputado federal e vice-governador de São Paulo, disse que esse é um fato único: uma cidade comemora como sua data não o dia de sua emancipação política, mais a sua emancipação social, a libertação dos seus antigos escravos.
 Mas devemos preencher uma lacuna que sempre acontece: grande número das comemorações do dia 30 de setembro parece se esquecer do Clube do Spartacus e da figura de Rafael Mossoroense da Glória, seu presidente. Após a abolição, nossa cidade passou a ser o destino preferencial para os escravos fugidos e que viviam em regiões escravocratas. A lei garantia aos senhores de escravos, a devolução dos seus cativos, que, além do mais, por isso poderia ser castigados. Aqui esta uma das muitas contradições do regime escravocrata: a legislação era, em sua essência, totalmante dual. Negava ao escravo os direitos das leis, sob a desculpa de que o seu estado de reificado tirava-lhe a condição de cidadão, ao mesmo tempo em que lhe exigia os deveres das leis, sob a alegação de que sua condição de “ser” assim exigia.
 Visando dar cobertura aos escravos fugidos, foi criado o “Clube dos Spartacus”, que tinha por objetivo dar guarida e refugio aos escravos que aqui chegavam escapando das amarras de seus donos e, mais importante, evitar que os seus donos ou os capitães de mato os descobrissem. Esse clube era a tropa de elite dos abolicionistas e tinha um ex-escravo como presidente, Rafael Mossoroense da Glória, e como secretário seu antigo dono, Alexandre Soares do Couto.
 Senhores, senhoras. Todo o movimento que desembocou no que hoje chamamos simplesmente de “30 de setembro”, tinha como fulcro, a parte essencial e mais importante, uma simples palavra: liberdade. Liberdade é condição daquele que não se acha submetido a qualquer força física ou legal, é condição daquele que não é cativo ou que não é propriedade de outrem, é a faculdade de decidir ou agir segundo a própria determinação.
 Segundo a filosofia, liberdade é um conjunto de direitos, inerente ao indivíduo, de exercer a sua vontade dentro dos limites da lei. De acordo com a ética, a liberdade está relacionada com responsabilidade, uma vez que um indivíduo tem todo o direito de ter liberdade, desde que essa atitude não desrespeite a liberdade dos outros, não ultrapasse os princípios da ética e da Lei.
 Mas será que isso explica realmente o que é essa coisa chamada liberdade? Não. Acho que não. Liberdade é um sentimento sublime que se deve saber que existe, mas que não se deve ter necessidade de nela pensar – a não ser de forma acadêmica ou em solenidades como esta. A humanidade somente pensa na liberdade quando dela sente falta. A liberdade é como as borboletas, os anjos os santos, algo diáfano, delicado e que se deve preservar com carinho; mas com todo o afinco possível. E devemos nos lembrar de que sempre que a liberdade do outro desaparece a nossa está ameaçada.
 Meus senhores e minhas senhoras,
 Felizes de nós que nascemos no chão deste “país de Santa Luzia de Mossoró”, que recebemos por herança a pira da liberdade, da cidadania. Felizes de nós que temos heróis a quem cultuar. Felizes de nós que sabemos que a liberdade é uma chama quase efêmera e que para sobreviver necessita de uma vigilância sem trégua; agora não contra a escravidão, mas contra os arrotos dos governos autoritários, o aparelhamento do Estado, o tratamento desigual dos códigos e trâmites legais, os privilégios classistas e das autoridades e elites impuníveis. Todo dia é dia de luta. Bravos são aqueles dentre nós que a vigiam; que zelam pela liberdade.
 Obrigado pela benevolência por ouvirem esse professor falar de coisas que vocês já sabiam como se novidades fossem.
 Muito Obrigado.
_____
Palestra proferida na Loja Maçônica 24 de Junho, no dia 30 de setembro 
de 2015, em comemoração da abolição da escravidão em Mossoró.

01/10/2015

CALENDÁRIO DE EVENTOS DO IHGRN

IHGRN


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE
Calendário para o restante do ano, aprovado na sessão do dia 30 de junho do ano corrente:

OUTUBRO:
Encontro de escritores.

NOVEMBRO:
10 – Eleição para a nova Diretoria e Conselho Fiscal do IHGRN.

DEZEMBRO:
11 – Confraternização no Largo Vicente de Lemos;
28 – Início do recesso.

Natal, 29 de setembro de 2015
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES
Secretário-Geral


Natal, o patinho feio




. João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Matemático, sócio do IHGRN e do INRG.
Jerônimo de Albuquerque, quando recebeu a Fortaleza dos Reis Magos, tinha uma missão a cumprir: apaziguar os índios a fim de se poder instalar a cidade do Rio Grande. Em 25 de dezembro de 1599, dia do Natal de Jesus Cristo, a nossa cidade foi inaugurada.
Mas o berço da nossa cidade parece que não atraia as pessoas que vinham para cá, tendo muitas delas moradias nas redondezas. Os relatos dos nossos visitantes do passado não eram nada elogiosos, começando com Nassau, que já encontrou a cidade destruída pelos embates aqui travados, e sem nenhuma melhoria por parte de seus comandados. Alguns moradores solicitaram na época da presença dos batavos por aqui a construção de uma nova cidade. Tollenare e Koster também não fizeram nenhum elogio maior nas suas anotações.
Em um dos relatórios dos holandeses sobre o Rio Grande, estava escrito: Já teve uma cidade chamada Cidade do Natal, situada a uma légua e meia do Castelo Ceulen, rio acima, mas está totalmente arruinada, pelo que foi consentido aos escabinos e moradores levantar uma nova cidade em Potigi, pois é terreno fértil e melhor situado para os seus habitantes. Deverão construir de início um Paço da Câmara para aí terem o seu tribunal de justiça.
Koster, em 1810, quando aqui esteve, escreveu: Cheguei às 11 horas da manhã à cidade do Natal, situada sobre a margem do Rio Grande ou Potengi. Um estrangeiro que, por acaso, venha a desembarcar nesse ponto, chegando nessa costa do Brasil, teria uma opinião desagradável do estado da população nesse País, porque, se lugares como esse são chamados cidades, como seriam as vilas e aldeias? Esse julgamento não havia de ser fundamentado e certo porque muitas aldeias, no Brasil mesmo, ultrapassam  esta cidade. O predicamento não lhe foi dado pelo que é, ou pelo que haja sido, mas na expectativa do que venha a ser para o futuro.
Tollenare, que viveu em Recife, nos anos de 1816 e 1817, escreveu: Natal, conquanto capital, é ainda assaz insignificante; conta apenas 700 habitantes; mas, espera-se que chegará a um alto grau de prosperidade, porque o seu porto, que pode receber navios de 150 toneladas é excelente e próximo das regiões cultivadas.
Sendo um centro de defesa de nossa Costa, o Rio Grande do Norte e sua cidade, não merecera,, por isso, maior atenção, principalmente por sua dependência com a Bahia, Pernambuco e Paraíba.
Mais adiante, ainda no século XIX, quiseram mudar novamente a capital do Rio Grande. É o que encontramos no relatório com que abriu a 1ª sessão ordinária da Assembleia Legislativa Provincial do Rio Grande do Norte o Exmo. Sr. Governador Dr. Henrique Pereira Lucena, no dia 5 de outubro de 1872,  quando falou sobre a construção da estrada de ferro
“No relatório do meu antecessor encontrareis, em apenso, cópia do contrato que em 8 de junho último celebrou com o engenheiro da província João Carlos Greenhalgh e o major Affonso de Paula de Albuquerque Maranhão, em virtude de autorização que lhe foi concedida pela lei nº 630 de 26 de novembro de 1870, para a construção de uma estrada de ferro pelo sistema –Tram-way, que partindo desta capital se dirija ao vale do Ceará-mirim, passando pelo de S. Gonçalo, e de uma ponte de ferro de sistema misto sobre o Rio Potengi no lugar Refóles.
Conquanto o referido contrato esteja somente dependente de vossa aprovação na parte relativa à ponte, todavia  entendo que esta circunstância não impede que o aprecieis sobre todas as suas faces, a fim de verificardes, como é do vosso dever, se nele foram ou não consultados e devidamente protegidos os direitos e interesses  da província, principalmente no tocante à mudança da capital, que já tem preocupado mais de uma administração e ao próprio governo geral, e que em um contrato, como o de que se trata, não devia ser esquecida, mas sim tomada na maior consideração, e sujeita a um detido e refletido exame.
Pelos dados estatísticos que vos tenho apresentado, vê-se que a província do Rio Grande do Norte não é tão pobre, como à primeira vista parece, e compreende-se facilmente que em um futuro mais ou menos remoto que sejam removidas as causas primordiais do atraso de sua agricultura e comercio, facilitando-se-lhe, além disso, os meios de transporte, de que tanto precisa.
Posto que com mais de 80 léguas de costa arenosa e estéril possui ela, no entanto, terrenos de uma fertilidade assombrosa, apropriados à cultura de cana do açúcar, fumo, algodão e mesmo do café, que produz maravilhosamente nos lugares denominados – Extremoz e Arêz.
A exportação do açúcar e do algodão faz-se já em larga escala, competindo o primeiro desses produtos, muito superior ao da Paraíba, com o de Pernambuco, nos mercados estrangeiros;  outranto, porém, não pode dizer-se do fumo, que muito mal cultivado, é ainda pessimamente preparado, assim como do café, cuja cultura nem ao menos foi ensaiada.
É realmente para admirar, que uma província, que noutras áreas adquirira os foros de criadora, e que no tempo da guerra da restauração holandesa servia de celeiro à cidade do Recife, que ela extraía o gado e farinha de mandioca, de que precisava para sustento de sua população faminta, mande hoje aos talhos de sua capital número mais que limitado de gado bovino, magro, cansado e por preço elevadíssimo, chegando a importar diretamente das província limítrofes e algumas vezes mesmo do Rio de Janeiro a farinha precisa para seu consumo.
Além da geral incúria e falta de iniciativa de seus habitantes (é forçoso dizê-lo), cumpre apontar como uma as principais causas desse estado desanimador, em que se acham todas as fontes de produção e riqueza da província, a péssima posição topográfica de sua capital, o pior lugar, sem contestação alguma de toda a província, quer como cidade igual a outras do interior, quer como sede principal da autoridade e centro produtor donde se irradiem para as extremidades a civilização, comércio, indústria e artes.
Situada na margem direita do Potengi, ou Rio Grande, a uma légua pouco mais ou menos de sua foz, acha-se a cidade do Natal, por assim dizer, comprimida e asfixiada, do lado do Sul e Leste por alteroso morros de areia, mais ou menos movediça e improdutiva, e do lado de Este por um longo e imenso lençol d’água, que para o oceano conduz o Potengi.
O seu pequeno comércio acha-se inteiramente avassalado ao da praça de Pernambuco, e mais ou menos sujeito ao de algumas povoações circunvizinhas, onde a facilidade do transporte tem tornado mais cômodo e menos dispendioso o tráfico mercantil.
É-lhe pouco abundante a água potável, e faltam-se absolutamente as estradas regulares e fáceis que a ponham em comunicação com o interior da província  da qual se acha, por assim dizer sequestrada.
No exterior, em um raio de mais de duas léguas quase nenhuma cultura; no interior causa dó ver as suas ruas estreitas e tortuosas, compostas ela mor parte de palhoças, cercadas de matos, verdadeiras capoeiras, e de imundícies.
A ideia, pois, da transferência da capital para um outro local, para a planície denominada –Carnaubinha, por exemplo, fronteira a Guarapes, é por demais transcendente e de necessidade indeclinável, visto ser o único ponto conhecido que mais vantagens oferece para isso.
O lugar ali é inteiramente plano na extensão de uma a duas léguas quadradas; indo suave e gradualmente subindo para o interior das terras, a ponto de se tornar quase insensível o pendor do terreno. Acham-se à pequena distância, quase à mão, o barro, a areia, a cal e a madeira necessária para a construção, além de sofrível pedra de cantaria e pedra própria para o calçamento à meia légua pouco mais ou menos de distância. Possui considerável abundancia d’água potável da melhor qualidade, notando-se uma lagoa ou poço na Carnaubinha, uma fonte d’água cristalina e dois fortes riachos perenes em Guarapes, além do caudaloso rio Pitimbú, que corre à menos de uma légua distante; o Cajupiranga não menos caudaloso, poucas braças mais longe, e entre ambos a formosíssima lagoa Parnamirim.
Mudando para aquele lugar a capital, e lançada sobre o rio uma pequena ponte de madeira que, quando muito poderá custar uns 20:000$000, ficará a cidade admiravelmente situada, e para melhor me exprimir, colocada no centro de um vasto perímetro constelado de cidades e povoados mais ou menos distantes, tais como S. José e Ceará-mirim à cinco léguas, aproximadamente, cada uma com estradas traçadas em terreno plano e consistente; Extremoz, com sua extensa e piscosa lagoa; S. Gonçalo, Macaíba, Santo Antonio, Utinga, Ferreiro Torto e Pitimbú; e finalmente a cidade do Natal a três léguas por água, podendo muitas dessas povoações servi-lhe  de arrabaldes.
Além disso, convém notar que o tráfico mercantil em Guarapes, em tempo em que ali ainda residia o major Fabrício, lutou com vantagem  com o do Natal e sobrepujou o da Macaíba, apesar de ser Fabrício negociante único naquele lugar; afluindo de todos os lados compradores  aos seus armazéns, até mesmo do sertão da Paraíba e desta capital.
Como sabeis, da sua foz até o ponto de Guarapes, forma o Potengi uma verdadeira doca natural de mais de três léguas de extensão, e de profundidade mais ou menos considerável, servindo-lhe de segundo quebra-mar a ponta do morro e os bancos de areia denominados – As velhas - , fronteiros ao porto da Redinha; o que o torna de incontestável superioridade sobre o da Paraíba, e quiçá sobre o de Pernambuco, embora careça de melhoramentos.
Com uma profundidade variável de 3 a 7 pés acomodou o porto Guarapes por vezes galeras de mais de 500 toneladas de arqueação. Somente no exercício de 1869 a 1870 carregaram naquele porto para fora do Império vinte navios de diferentes lotações; ombreando desta forma com o porto do Natal, que dentro do mesmo período carregou vinte e um.
Como vereis pelo mapa, em apenso, a diferença entre as medidas dos carregamentos dos dois sobreditos portos nos dez últimos exercícios andou por 27/10 % (?); diferença que só por aí constitui um dos melhores argumentos a favor do Guarapes, principalmente se atender-se que até 1868 a casa comercial Fabrício & C. lutou com sérios tropeços, que posteriormente foram removidos, e que no penúltimo exercício de 1870 a 1871 resolveu ela acabar com todo o negócio por motivo de moléstia de seu proprietário.
Com relação à estrada de ferro contratada, a primazia de Guarapes sobre Natal não sofre discussão.
O capital orçado para a estrada de que se trata, é de 800:000$000 e a garantia que a província tem de pagar anualmente, na razão de 6% é de 48:000$000. Ora, se a capital for transferida para Guarapes a estrada custará apenas metade da quantia orçada, isto é, 400:000$000, descendo também a garantia à metade, que vem a ser 24:000$000. A ponte no porto do Natal, segundo o contrato, custará 250:000$000, enquanto que a que se fizer no de Guarapes não excederá talvez de 20:000$000.
Ainda com relação a ponte, nota-se que não devendo ela ser movediça, mas sim fixa, segundo o contrato, a navegação do rio por vapores e navios de alto bordo, na distância de três léguas, se tornará impossível; porquanto o rio ficará literalmente fechado para tais embarcações; inconveniente este que não se dará no porto de Guarapes, porque, desse ponto para cima, o rio só pode ser navegado por barcaças e canoas.
Considere-se mais, que a estrada de ferro devendo acompanhar uma as margens do rio, e sendo ambas alagadas, incultas e desabitadas, nenhum lucro dará aos empreiteiros ou à companhia, que se organizar, principalmente nos primeiros dez ou vinte anos; além de que quase todos os produtos  que atualmente tem saída pelo porto da Macaíba continuarão a vir por água para esta cidade,  por ser esta espécie de transporte mais cômoda e barata. Colocada, porém, a capital em Guarapes, e devendo dali partir a estrada de ferro, esta percorrerá uma zona toda povoada e cultivada, e nenhuma concorrência sofrerá da parte do rio para o transporte das mercadorias, que tiveram de ser conduzidas àquele mercado.
Eis, Senhores, o que me cumpria dizer-vos com referência a um assunto de tanta magnitude, e a que se liga tão estreitamento o futuro da província. Considerai, que são já 273 anos que a cidade do Natal é a capital da província. E que o seu aspecto é o de uma vila insignificante e atrasadíssima do interior.
Considerai, que a província é um corpo sem cabeça, e que é devido exclusivamente a esta circunstância que ela se conserva à retaguarda de todas as suas irmãs.
Cumpre arrancá-la desse estado de abatimento e de torpor. Não vos entregueis à inércia e ao indiferentismo, ao contrário, reagi com todas as vossas forças contra estas duas traças destruidoras de todo o progresso.

30/09/2015

ÚLTIMO DIA PARA REGISTRO DE CHAPAS


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE – IHGRN

NORMAS EDITALÍCIAS

Art. 1º. A eleição para os cargos da Diretoria e Conselho Fiscal do INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE - IHGRN – TRIÊNIO 2016-2019, se realizará no dia 10 de novembro próximo vindouro, em sua sede da Rua da Conceição, 622 – Centro – Cidade Alta, CEP 59.025-270 – Natal – Rio Grande do Norte, no horário corrido das 8 às 17 horas, para o preenchimento dos seguintes cargos: DIRETORIA: Presidente; Vice-Presidente; Secretário-Geral; Secretário-Adjunto; Diretor Financeiro; Diretor Financeiro-Adjunto; Orador; Diretor da Biblioteca, Arquivo e Museu. CONSELHO FISCAL: Três (03) Membros Titulares e um (01) Membro Suplente.

Art. 2º. Será garantida a lisura do pleito eleitoral, assegurando-se condições de igualdade às chapas concorrentes, inclusive no que concerne à propaganda eleitoral, podendo, para isso, serem nomeados fiscais que atuarão nas fases da propaganda, escrutínio e apuração dos votos.

Parágrafo Único. O voto será secreto, exercido através de cédula específica e depositado na urna previamente designada para tal fim, podendo os Acadêmicos não residentes na sede da Instituição, cumprir o seu dever estatuário mediante carta postada através dos Correios ou entregue à Comissão Eleitoral, até 30 (trinta) minutos antes do encerramento da votação, em envelope lacrado e colocado em urna especial, em separado, o qual será apurado após a verificação do preenchimento das condições de eleitor, adotando-se o seguinte critério:
I - O voto será colocado em um envelope especial, isento de timbre e dizeres e devidamente lacrado;
 II - em seguida será colocado em outro envelope endereçado à Comissão Eleitoral, acompanhado de uma folha de identificação do eleitor, com seus dados essenciais, a saber: nome legível, local, data e assinatura.
III - Recebida pela Comissão Eleitoral, esta decidirá sobre sua computação, tomando as cautelas necessárias para não quebrar o sigilo do voto conforme as regras aprovadas para o respectivo pleito, aplicada, subsidiariamente, a legislação eleitoral pátria, registrando todo o procedimento na ata dos trabalhos.

Art. 3º. O prazo para o registro das chapas se dará entre os dias 21 de agosto a 30 de setembro de 2015, devendo ser entregues no endereço referido no Art. 1º até às 15 horas.

Art. 4º. O requerimento de registro de chapa, com o nome completo dos candidatos, endereçado ao Presidente da Comissão Eleitoral, deverá estar assinado por qualquer dos candidatos que a integram, com lista contendo a anuência dos demais candidatos e acompanhado da prova de quitação dos componentes da chapa com a Tesouraria até 2014.

Parágrafo único. Verificando irregularidades na documentação apresentada, a Comissão Eleitoral notificará o interessado para que promova a regularização, no prazo de 2 (dois) dias, sob pena de indeferimento do pedido.


29/09/2015



A Academia se abre. E isso se impõe

Lívio Oliveira [Advogado público e poeta - livioalvesoliveira@gmail.com]


O tempo é caracterizado pela inexorabilidade. As mudanças e as transformações se impõem. Não há muito o que ser feito. E há. Faz-se, refaz-se o mundo, até porque é necessário manter-se criando. Criar é pensar. E ser. É viver em essência. E pensamento requer ação. Ação requer planos. Planos buscam perpetuação do fazer. Tudo gira. A fila anda. Acontece que portas se fecham e se abrem enquanto o mundo e a mente humana descrevem suas circunvoluções e as superluas se posicionam sobre os nossos olhares curiosos que se jogam à escuridão da noite, em busca do sanguíneo e sensual satélite a nos advertir sobre nossas ancestralidades, nossas antiguidades e nossas possibilidades, limitadas ou nem tanto. 

A ideia da imortalidade – ou o apreço à mesma –, como maneira de fugir à mais poderosa das indesejadas personagens e prosseguir vivendo, convivendo com essas ancestrais questões, antigos vínculos humanos e permanentes tratativas em pensamento e obra, está sempre sendo cultivada na mente humana. Daí porque os símbolos fortíssimos dessa realidade se mantêm, firmando-se psíquica e culturalmente. Indivíduos e coletividades. Grupos que almejam essa espécie “salvacionista”. As academias de letras do mundo ocidental são assim. No mundo todo e aqui. São assim. Simbolizam vida eterna (ao menos se faz uma tentativa), muito mais da obra do que do homem ou da mulher que tomam assento nessa espécie de templo intelectual, associação, corporação, confraria, ou como mais se entenda sobre sua natureza. 

Não sou dos que torcem o nariz para as academias. Ao contrário. Antes, percebo-as com a naturalidade e o respeito de quem compreende a importância das instituições como alicerce das sociedades organizadas e enraizadas sob aspectos civilizatórios que se buscam perenes. As academias, em si, não são boas e nem más. Bons ou maus são os homens e mulheres que as compõem. Ali o que se mede são as biografias pessoais e as obras. É assim que deve ser, para que se mantenha a regra basilar do jogo. O jogo da arte literária e da história pessoal, medindo-se como isso pode contribuir com a posteridade. Ora, os maiores beneficiários que uma arregimentação de homens e mulheres podem ter são os homens e mulheres das gerações que lhes são contemporâneas e daquelas que estão por vir. Em suma: um lugar individual ocupado num lugar coletivo como uma academia de letras deve sempre trazer o que há de importante, elevado e digno, essencial à sociedade plural, não a um grupo estanque, vedado, impermeável, ou a um indivíduo egocêntrico, narcisicamente determinado a reinar sozinho.

Por saber disso, sinto-me reconfortado. Por saber e perceber e presenciar a realidade de que a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras está seguindo no rumo correto do casamento com a sociedade culta e com os mais profundos amantes da arte literária, tendo, em evento muito recente, seu dinâmico presidente Diógenes da Cunha Lima anunciado, dentre muitas realizações e metas, lançamentos sequenciados e contínuos da “Revista da Academia”, anunciando também nova comenda da entidade – desta feita, para o entrosamento da arte literária com a arte jornalística, homenageando-se o imortal e saudoso jornalista Agnelo Alves. Também são anunciados diálogos e debates múltiplos entre escritores de várias gerações, com o calendário já sendo construído e com diretrizes sendo estabelecidas. Os intercâmbios literários servirão aos autores-intelectuais e a todos os interessados. Evidente que haverá sólido componente didático-pedagógico, com o chamamento das escolas. E é claro que isso tudo se aperfeiçoará. Há até a possibilidade da criação de um pequeno museu ou acervo que homenageie os patronos e acadêmicos. Acho isso tudo muito importante, como contribuição artística, cultural e histórica ao desenvolvimento do Estado do Rio Grande do Norte. 

Vejo a firme intenção e o trabalho criativo de muitos dos acadêmicos e colaboradores no sentido de que todas as metas sejam alcançadas com rigor. Espero, por tudo isso, que as portas da ANRL – nesses 80 anos quase completados e nos que lhe seguirão – se mantenham mesmo abertas, escancaradas, principalmente para as gerações que vêm impondo seus desejos pétreos de transformações reais. Que fiquem assim as portas, para que o novo ingresse (e vai ingressar) serenamente e a inteligência coletiva perene possa ser, ainda mais e fielmente, louvada e garantida, sob seus vários e ricos aspectos.

28/09/2015

Fernandes Pimenta


Por Fernando Antonio Bezerra

A genealogia é um ramo da história que nos aproxima das pessoas pelo conhecimento de nossos laços familiares. É muito bom quando nos galhos da árvore genealógica descobrimos novos ramos e nos aproximamos de pessoas que não imaginávamos nossos parentes! Felizmente vários foram os seridoenses que se dedicaram a pesquisar a genealogia e alguns continuam pesquisando, o que nos ajuda a encadear os fatos do passado para compreendermos muitos aspectos do presente.

Um dos troncos antigos do Seridó, iniciado em Caicó, é a família Fernandes, originalmente, chamada “Fernandes Pimenta”. José Augusto Bezerra de Medeiros, político e escritor, descendente do citado ramo familiar, esclarece que “o ramo da família Fernandes Pimenta que habita a região seridoense procede todo elle directamente do casal Cosme Damião Fernandes-Izabel de Araújo, que residiu na Fazenda Cavalcanti, município de Caicó”. Cosme Damião, por sua vez, é neto do português Antonio Fernandes Pimenta e de Joana Francelina (ou Franklina) do Amor Divino. O casal, segundo os pesquisadores, fixou inicialmente residência na cidade de Nossa Senhora das Neves da Paraíba, em seguida em Brejo de Areia, também no estado paraibano e, finalmente, na fazenda Riacho do Pimenta, atual Município de Campo Grande-RN. Do casal Antonio e Joana, dentre outros filhos, nasceu André José Fernandes, pai de Cosme Damião que, como dito anteriormente, é o patriarca da família Fernandes no Seridó.

André José Fernandes casou duas vezes. A primeira, com Ana Francisca do Sacramento com quem gerou uma única filha: Felícia Fernandes Pimenta. Do segundo matrimônio, com Luíza Maria da Encarnação, nasceram três filhos, sendo criados dois: Cosme Damião Fernandes e Manoel José Fernandes. Luíza era filha de Manuel da Anunciação Lyra e Anna Filgueira de Jesus, e irmã do Padre Francisco de Britto Guerra.

Escreve o Desembargador Felipe Guerra, reproduzido pelo grande genealogista e pesquisador Olavo Medeiros Filho, que André José Fernandes indo a uma feira de gado sua mulher – Luíza Maria da Encarnação – “propos-lhe ficar em casa de sua mãe, que morava a poucas léguas de distância, fazenda Jatobá. O marido não concordou. Em sua ausência a mulher realizou a projetada viagem. Por essa 'desobediência' André Fernandes, ao voltar da feira não procurou mais a mulher, vivendo até o fim da vida separado, tendo ido residir em 'Irapuá', entre Apodi e São Sebastião”. Luíza estava grávida de Manoel José Fernandes quando foi abandonada pelo marido.
Manoel, na idade adulta, foi ordenado Padre recebendo a nomeação de Visitador. Uma rua em Caicó, onde morou, o homenageia: Visitador Fernandes. Ele faleceu no dia 10 de fevereiro de 1858 deixando, em testamento, a libertação de seus escravos e uma sincera devoção a Sant´Ana: “(...) minha Padroeira e Gloriosissima Senhora Santa Anna advogada de minha especial devoção; protestando eu morrer firme na Fé Catholica, em que tenho vivido como verdadeiro Cristão e Ministro de Jesus Cristo”.
Sendo irmã do Padre Guerra suponho que Luíza tenha vindo para Caicó em decorrência do apoio recebido pelo irmão. Sobre a mãe de Cosme Damião Fernandes e do Visitador Fernandes, falecida em 1810, Dom Adelino Dantas escreveu: "quanto a Dona Luíza, mãe do Visitador Fernandes, merece ela, nestas comemorações do seu filho, uma evocação especial, foi uma dessas heroínas, dessas esposas e mães sertanejas, mártires do dever. Teria morrido muito jovem, levando para a eternidade as amarguras de um matrimonio atormentado, que cristãmente suportara”.
Sobre Cosme Damião Fernandes, nascido em 1799, que governou Caicó no período de 1840 a 1843, também Dom Adelino Dantas escreveu: “o Major Cosme, assim chamado por ter pertencido à Guarda Nacional, cidadão probo e honrado, hábil carpinteiro, casou-se com uma filha de Felipe de Araújo, tendo residido no Sitio Cavalcanti. Muito amigo do irmão padre, geriu-lhe os negócios civis. Faleceu repentinamente, no dia 3 de setembro de 1851, de sarampo recolhido, deixando numerosa descendência”. 
De fato, é grande a descendência do casal Cosme Damião e Izabel! Rossini Fernandes, ao falar sobre "José Josias Fernandes, perfil de um homem público" conseguiu relacionar os nomes da segunda geração da família em solo seridoense: Maria Izabel Fernandes casada com Joaquim Apolinar; Francisco Rafael Fernandes - sacerdote católico fundador de São Fernando; Ana Filgueira de Jesus casada com o Major Antonio Garcia de Medeiros; Egídio Malalael Fernandes casado com Olímpia Dantas e, em segundo matrimonio, com Maria Paulina de Araújo; Manuel José Fernandes (meu trisavô) casado com Cristiana Fernandes e, em segundo matrimônio, com Maria Rozalina Bezerra Galvão (minha trisavó); Ananias Fernandes Pimenta casado com Maria Senhorinha de Araújo e, em segundo matrimônio, com Vicência Bernardino de Medeiros; Isabel Fernandes casada com Manuel Clementino Dantas; Ezequiel de Araújo Fernandes casado com Josefina de Araújo Nóbrega e, em segundo matrimônio, com Teresa Bezerra Galvão.
Com tanta descendência, a família Fernandes - inaugurada pelo casal Cosme Damião e Izabel no Seridó - está espalhada muito além do solo potiguar, todavia, com as amarras dos laços e entrelaços do parentesco que nos unem ao velho tronco!