A Academia se abre. E isso se impõe
Lívio Oliveira [Advogado público e poeta - livioalvesoliveira@gmail.com]
O
tempo é caracterizado pela inexorabilidade. As mudanças e as
transformações se impõem. Não há muito o que ser feito. E há. Faz-se,
refaz-se o mundo, até porque é necessário manter-se criando. Criar é
pensar. E ser. É viver em essência. E pensamento requer ação. Ação
requer planos. Planos buscam perpetuação do fazer. Tudo gira. A fila
anda. Acontece que portas se fecham e se abrem enquanto o mundo e a
mente humana descrevem suas circunvoluções e as superluas se posicionam
sobre os nossos olhares curiosos que se jogam à escuridão da noite, em
busca do sanguíneo e sensual satélite a nos advertir sobre nossas
ancestralidades, nossas antiguidades e nossas possibilidades, limitadas
ou nem tanto.
A ideia da imortalidade – ou o apreço à mesma –,
como maneira de fugir à mais poderosa das indesejadas personagens e
prosseguir vivendo, convivendo com essas ancestrais questões, antigos
vínculos humanos e permanentes tratativas em pensamento e obra, está
sempre sendo cultivada na mente humana. Daí porque os símbolos
fortíssimos dessa realidade se mantêm, firmando-se psíquica e
culturalmente. Indivíduos e coletividades. Grupos que almejam essa
espécie “salvacionista”. As academias de letras do mundo ocidental são
assim. No mundo todo e aqui. São assim. Simbolizam vida eterna (ao menos
se faz uma tentativa), muito mais da obra do que do homem ou da mulher
que tomam assento nessa espécie de templo intelectual, associação,
corporação, confraria, ou como mais se entenda sobre sua natureza.
Não
sou dos que torcem o nariz para as academias. Ao contrário. Antes,
percebo-as com a naturalidade e o respeito de quem compreende a
importância das instituições como alicerce das sociedades organizadas e
enraizadas sob aspectos civilizatórios que se buscam perenes. As
academias, em si, não são boas e nem más. Bons ou maus são os homens e
mulheres que as compõem. Ali o que se mede são as biografias pessoais e
as obras. É assim que deve ser, para que se mantenha a regra basilar do
jogo. O jogo da arte literária e da história pessoal, medindo-se como
isso pode contribuir com a posteridade. Ora, os maiores beneficiários
que uma arregimentação de homens e mulheres podem ter são os homens e
mulheres das gerações que lhes são contemporâneas e daquelas que estão
por vir. Em suma: um lugar individual ocupado num lugar coletivo como
uma academia de letras deve sempre trazer o que há de importante,
elevado e digno, essencial à sociedade plural, não a um grupo estanque,
vedado, impermeável, ou a um indivíduo egocêntrico, narcisicamente
determinado a reinar sozinho.
Por saber disso, sinto-me
reconfortado. Por saber e perceber e presenciar a realidade de que a
Academia Norte-Rio-Grandense de Letras está seguindo no rumo correto do
casamento com a sociedade culta e com os mais profundos amantes da arte
literária, tendo, em evento muito recente, seu dinâmico presidente
Diógenes da Cunha Lima anunciado, dentre muitas realizações e metas,
lançamentos sequenciados e contínuos da “Revista da Academia”,
anunciando também nova comenda da entidade – desta feita, para o
entrosamento da arte literária com a arte jornalística, homenageando-se o
imortal e saudoso jornalista Agnelo Alves. Também são anunciados
diálogos e debates múltiplos entre escritores de várias gerações, com o
calendário já sendo construído e com diretrizes sendo estabelecidas. Os
intercâmbios literários servirão aos autores-intelectuais e a todos os
interessados. Evidente que haverá sólido componente didático-pedagógico,
com o chamamento das escolas. E é claro que isso tudo se aperfeiçoará.
Há até a possibilidade da criação de um pequeno museu ou acervo que
homenageie os patronos e acadêmicos. Acho isso tudo muito importante,
como contribuição artística, cultural e histórica ao desenvolvimento do
Estado do Rio Grande do Norte.
Vejo a firme intenção e o
trabalho criativo de muitos dos acadêmicos e colaboradores no sentido de
que todas as metas sejam alcançadas com rigor. Espero, por tudo isso,
que as portas da ANRL – nesses 80 anos quase completados e nos que lhe
seguirão – se mantenham mesmo abertas, escancaradas, principalmente para
as gerações que vêm impondo seus desejos pétreos de transformações
reais. Que fiquem assim as portas, para que o novo ingresse (e vai
ingressar) serenamente e a inteligência coletiva perene possa ser, ainda
mais e fielmente, louvada e garantida, sob seus vários e ricos
aspectos.