25/09/2015


24/09/2015

BULA MEDICAMENTOSA

Valério Mesquita*

Jesus Cristo, o amado mestre, falava através de parábolas. O ser humano comum, quando muitas vezes quer dizer uma verdade, escreve por linhas tortas. Esse preâmbulo indefectível vem esbarrar num assunto que desejo abordá-lo via deduções preterintencionais, comparativamente a uma bula medicamentosa. Repleta de disse-me-disse. Falo do famigerado coeficiente eleitoral, a mais afiada faca de dois gumes do processo eleitoral brasileiro. Modelo injusto e antidemocrático, que eleva ao podium o lanterninha em detrimento do mais votado. O resultado, muitas vezes, de uma eleição, não reflete a manifestação da maioria, principio fundamental de qualquer processo decisório.
O escorre das votações ou proclamação de resultados, em qualquer atividade institucional ou não, baseia-se na lógica numeral dos sufrágios. Nos plenários do Legislativo, do Judiciário, dos Tribunais de modo geral, no placar das competições esportivas, no Vaticano, no sindicato, na OAB, no ABC, no grêmio escolar, enfim, em qualquer seguimento coletivo a expressão dos mais sufragados - é a respeitada. Até a lei de Gerson é a da vantagem. Somente o processo eleitoral brasileiro é liquidificado, diluído, triturado, para inverter e subverter a escolha popular que deu três mil votos a um candidato mas o que se elege é aquele dos quinhentos. Acho perverso esse sistema. A maioria dos pequenos partidos que abunda o elenco eleitoral é useira e vezeira na prática de registrar candidatos fajutos apenas com o intuito de alimentar a legenda.
O coeficiente eleitoral, assim, é semelhante a bula medicamentosa. Esta tem efeitos colaterais pois ofende a todo organismo da eleição. Elege quem não devia. Retira do eleitor a primazia de escolher o melhor, retirando do túmulo do processo o opaco e o onomatopaico. Envia para a casa do povo o que não deve ir – o lôgro. Verifique o resultado das urnas, à luz mortiça das reações adversas que o coeficiente eleitoral tem provocado nos legislativos de modo geral só para atender ao cálculo equivocado que premia o caricato partido político e derruba o valor pessoal, humano, valorativo e majoritário do candidato. Ainda dentro da posologia sobre o assunto as minhas precauções residem no fato de entender que o homem deve ficar acima da agremiação. A proliferação das legendas têm trazido mais problemas para a democracia do que o político solitário. Afinal, o mensalão, o lava jato e outros escândalos foram obras da proliferação de partidos nanicos.
A superdosagem de corticóide no coeficiente eleitoral mascara o exercício da democracia. Além de alarmante, a sua aplicação penaliza, deturpa a face das urnas, a liquidez da escolha, a lisura da lei. Vamos construir um Brasil eleitor. Respeitando o direito da maioria do povo e não o artifício matemático, algébrico, trigonométrico do computador eleitoral. O voto é algo numeral e ordinal. Sentar na cadeira do eleito o menos votado é invenção escabrosa. É gambiarra, “morcego” e tapeação. Voto é maioria e não medicamento controlado e manipulado. Tarja preta para o coeficiente eleitoral! Aceito tudo o que for eletrônico numa eleição menos o coeficiente digitalizado porque nega o direito da maioria

(*) Escritor.

H O J E

Exibir álbum

23/09/2015

   
Lívio Oliveira
Navarro se espraia por nossos dias 
(Lívio Oliveira) 

Todos os dias, invariavelmente, ponho-me logo cedo diante da janela do meu quarto e fico a (ad)mirar por entre os dois leques invertidos da Ponte Newton Navarro. Tenho a sorte de ver os azuis de Navarro daqui da minha “nuvem” (lembro do nome dado por Neruda a sua poltrona em Valparaíso), ao tempo em que enxergo toda a estrutura da ponte, que corre em perpendicular aos olhares que lhe aponto. Não deixo de afirmar que a estrutura arquitetônica é uma bela homenagem a um poeta, escriba mágico, bem como a um artista visual que sempre esteve em movimento, construindo ligações entre passado e futuro, entre o difuso das cores e formas e a edificação real ou surreal das palavras, que sabia usar na ponta do lápis e na ponta da língua. O texto e a textura. O real e a poesia. Navarro e Natal. E o mundo todo em Navarro. E suas descobertas “newtonianas” das belezas que há, onde nossa visão quiser e puder ver. E a homenagem da arquitetura da ponte se torna maior porque fincada em solo e águas da garganta que recebe mares da Europa, mares da África, mares da América. 

Navarro é mar. É Atlântico e além. Navarro é rio. É Potengi e além. Além é Pacífico, Mediterrâneo, Tejo, Sena. É o fluido e colorido que corre na aldeia e o que foge para o encontro com o mundo, o rendez-vous inadiável. É o encontro de tudo isso com o céu azul e com seus chumaços de nuvens branquinhas, branquinhas. Navarro é a fortaleza nas vizinhanças. E é a suavidade delicada dos seus traços. É a madureza da sua palavra inteligente, ousada, viva de emoção e verdade. Navarro é a infância ingênua do sonho alimentado de eterno. Navarro vem em ondas, como o mar, para não esquecer jamais um outro grande poeta boêmio, Vinicius de Moraes, seu amigo, que também vivia de paixões, vivia sempre de paixões. 

A paixão de Navarro era pela luz. Viveu para a luz e para a cor que era banhada por ela. A luz do sol que jogava raios dourados sobre o Potengi e sobre os muitos mares que circundam a nossa quase-ilha Natal. Navarro narrava a luz. E dizia o que ela era. Dizia e diz para todos os viventes, vez que sua obra permanece e se espraia, doando ainda e crescentemente o amor às formas sensuais, aos personagens bem desenhados em palavras ou traços. 

Navarro existiu? Não existiu? É lenda? É mito? É realidade que teima em aquecer e enriquecer os seus conterrâneos e aqueles de terras distantes que incorporou ao repertório e à saga? Por que tão pouco vi Navarro? Saudades de uma única e valiosa conversa regada a cerveja num barzinho (nem sei se ainda existe) da Salgado Filho. Lembra, amigo e colega Fábio Hollanda, da aula que perdemos e da aula que ganhamos naquela noite boêmia em que saímos do Campus da UFRN e encontramos o mestre colossal numa solitária mesa e nos dispusemos a acompanhá-lo em longa conversa até a chegada do seu táxi previamente combinado? 

E Navarro permanece. Permanece e está mais vivo, que é o que se dá quando o espírito é grandioso e a arte é marcante. “Ars longa, vita brevis”. Navarro é a própria ponte. Não está somente representado nela. É a ponte que permite ligar artes e tempos. Fico mais convencido e tranquilizado acerca disso quando vejo homenagens preciosas como o belíssimo livro organizado por Angela Almeida (“Newton Navarro – os frutos do amor amadurecem ao sol”, EDUFRN), recentemente lançado no espaço cultural da resistente e valorosa livraria da Cooperativa Cultural da UFRN, sob os auspícios do dedicado e íntegro professor Willington Germano, mostrando a continuidade corajosa dessa obra coletiva (a Cooperativa), orgulho para a UFRN e para o Rio Grande do Norte. 

No livro publicado por Angela Almeida, que conta com muito competente projeto gráfico de Rafael Sordi Campos e de Wilson Fernandes de Araújo Filho, constam inúmeras fotos que a pesquisadora fez ao se debruçar sobre as obras em pintura de Navarro pertencentes a acervos diversos. Paisagens exuberantes e iluminadas, figuras humanas com seus ricos conteúdos em sentimentos e expressões, movimentos: o balanço lúdico das crianças, o balanço das pipas no ar, o balanço azul das ondas no mar, o balanço do pano das jangadas, o balanço da rede que engole a bola chutada em curva, o balanço das asas dos pássaros que sobrevoam Natal desde a Fortaleza dos Reis Magos até a saída para outras terras. E hoje temos outros autores/pesquisadores que, tão amorosamente quanto Angela Almeida, vêm fazendo um grande e imprescindível balanço da obra, em palavra e em imagem, de Newton Navarro, nosso artista múltiplo mais exuberante. Por uma razão somente: Navarro se espraia sobre todos nós, os que sabemos entender como ele foi grande nesta terra. E sempre teremos novas notícias dele. Não importa quanto tempo passe.

22/09/2015

O IHGRN HOMENAGEIA O GRANDE LÍDER


Em 2013 o grande jornalista, recentemente falecido e um dos baluartes da Maçonaria Ticiano Duarte, publicou um elogio ao exemplar líder maçônico ARMANDO DE LIMA FAGUNDES que partiu para a outra dimensão da existência. Não poderia descrever esse extraordinário homem do Bem de forma melhor como o fez Ticiano, agora reproduzido, com pequenas adaptações:

A gratidão da Maçonaria

Ticiano Duarte - jornalista
As minhas palavras de homenagem ao grande líder maçônico, Armando de Lima Fagundes, um dos seus fundadores e veneráveis, por mais de 08 anos, em diversos mandatos, quando comandou a luta pela construção da sede própria, do Templo, da Escola, que tem o nome do seu pai, Bartolomeu Fagundes, um dos grandes expoentes da maçonaria nordestina que segurou uma bandeira primeiramente desfraldada pelo avô, o vigário Bartolomeu, o memorável sacerdote, político e maçom, que fez história pelo gesto desassombrado e autêntico, no episódio da Questão Religiosa. Este é um episódio histórico que não pode ser contado em pouco espaço de jornal e que está registrado em livros, entre os quais se destacam os do professor Antônio Fagundes e do saudoso irmão, José Coutinho Madruga.

Na síntese que fiz sobre o trabalho maçônico de Armando, do bisavô, do avô, Emídio Fagundes, do pai acima mencionado, falei que maçonaria se faz com muito amor, desprendimento, renúncia, tolerância e humildade. Lembrei as palavras de Paulo, apóstolo, quando se referia ao amor verdadeiro. Dizia ele: “Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbolo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tamanha fé ao ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens e ainda que eu entregue o próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará”. E Paulo conclui seu belíssimo ensinamento ao afirmar que o amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade.

Depois de falar sobre as figuras que fundaram a Loja Bartolomeu Fagundes e de agradecer ao trabalho dos deputados Ricardo Motta e Walter Alves na batalha pela solução da legalização do terreno onde está construída sua sede, os quais abriram as portas para que chegássemos à audiência com a governadora do estado e depois com a ajuda substancial para aprovação, na Assembleia Legislativa, do projeto de lei enviado pelo Poder Executivo, em tempo recorde, falei sobre a união dos maçons, do seu significado para o engrandecimento do trabalho maçônico e da difusão dos seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Disse que a nossa Confederação Maçônica do Brasil, COMAB, tem na sua bandeira, estandarte uma legenda de muita significação-Ut omnes unum sint-que todos sejam um só, como exaltação à união. A interpretação, segundo os maçonólogos, é que a vida é importante e geradora dos melhores frutos ao vivermos em união, que todos sejam um só.

Relembrei o grande tribuno, Padre Vieira que ao falar sobre a união, dissera entre outras coisas que toda a Vida (ainda das coisas que não têm Vida) não é mais que uma União. Até o homem (cuja vida consiste na união de corpo e alma), com a união é homem, sem a união é cadáver. 

Citei o poeta, ao dizer quer Armando, aos 95 anos, ainda pode evocar as lições de vida de seu pai: Sangue do meu Sangue, boca do meu pão, água que te dou mata minha sede.  O mundo te espera: é tua pirâmide. Ergue a tua mão no dia magnético. Ergue a tua mão para a continência que és não só meu praça, também meu soldado. Meu filho varão”.