O TRONO DE DEUS
Jansen Leiros*
A luminosidade do Sol nascente o
envolvia, como se fosse uma aura incandescente
e, naquele espetáculo matinal, ele foi abrindo e descendo os braços,
simétrica e lentamente, em ação simultânea, para articular o mantra AUM, cujas
vibrações interagiam na vegetação abundante, no afloramento rochoso, ao piar
das aves e no soprar dos ventos. Quem
tivesse sensibilidade, perceptiva e o visse naquela postura espectral, viria a
imensa aura luminosa que o circundava, além dos contornos do corpo físico,
afirmando sua potencialidade energética e confirmando sua integração com a mãe
natureza.
Todos os dias, Plathus executava aquele
ritual. Ao terminar, fora sentar-se numa pedra saliente, curiosamente aflorada
no topo daquela elevação e moldada de forma
quase anatômica, como se houvesse sido
trabalhada no buril do vento, associado ao tempo, à qual o próprio
Plathus havia batizado de “O Trono de
DEUS”.
Daquele belvedere, para o Norte, via-se
uma sucessão de pequenos montes rochosos que desciam na direção de uim delta,
repleto de bucólicas ilhotas e artisticamente desenhado nas encostas das
montanhas que namoravam o mar. Para o
Sul, viam-se os picos nevados da cordilheira andina. Ao Leste, a visão distante do imenso lago Titicaca, de
imensa beleza, caprichosamente cercado por vegetação arbustiva, rala e quase
rasteira, até considerável distância, seguindo-se emoldurado por densa floresta
de carvalhos gigantes, cuidadosamente cultivados e por onde os raios do Sol
nascente cumprimentavam o dia. Ao Oeste,
estava o oceano, pacífico e azul, em sua própria homenagem e em cujo infinito,
as sombras da madrugada despediam-se
melancólicas e taciturnas, nas barras do horizonte. Aquele fora o Universo eleito
por Plathus para seu intimismo. Dele, partilhavam alguns elementos da própria
natureza, além de Flávia, a amiga espiritual que o acompanhava nesta romagem
terrestre.
Portador de qualidades excepcionais,
nosso Plathus logo elegeu seu mundo especial, no qual trafegava sem
atropelos. De fato, fugia do convívio da
meninada de sua aldeia, para adentrar-se nas floresta adjacente e subir a
montanha encantada que se transformara , para seu gáudio, no Refúgio dos
DEUSES. Paraiso no qual energizava o espírito ansioso de alçar voos cósmicos.
Trinta e três janeiros haviam
transcorrido ao longo da vida de nosso jovem e mestre artesão, esbanjando
saúde, irradiando excelente senso de humor, enfeitiçando pessoas com seu
impressionante carisma, e sua irrefutável liderança nata, fortalecida por um
perfeito equilíbrio emocional, muita sensatez, e inigualável capacidade de
persuasão. Enfim, Plathus uma dessas pessoas ímpares e muito raras que surgem, uma entre milhares, a cada
geração.
Flávia, sua companheira de jornada, fora
o merecido prêmio que nosso carpinteiro recebera pelo muito que amealhara em
suas peregrinações milenares, palmilhando pelos caminhos cósmicos.
(continua)
Jansen Leiros*
Da Academia Macaibense de Letras;
Da Academia Norte Rio de Trovas;
Da União Brasileira de Escritores;
Do Instituto Norte Rio Grandense de Genealogia;
Do Instituto Histórico e Geográfico do RN.