No nordeste (dizem...), os holandeses, jesuítas ou ricos fazendeiros, deixavam escondidas verdadeiras riquezas, que ficavam enterradas no chão, em paredes de taperas, em mourões de porteiras ou nas proximidades de grandes árvores, até que um dia, através de sonho, mostrava-se a um escolhido, o local exato onde estava aquele tesouro. No sonho era informado como se comportar para a retirada da “Botija. Sempre à noite e sem acompanhantes. Quem não cumprisse as determinações, não receberia o tesouro. E, com a fortuna nas mãos, a pessoa deveria se mudar para um lugar distante, caso contrário, não desfrutaria da riquezas.
O Ceará-Mirim também teve as suas “botijas”. Muito se ouviu falar das riquezas obtidas por esse meio, embora tudo estivesse no campo do “boato”. Hoje, finalmente, a Acadêmica Ceiça Cruz apresenta um desses casos, por ela vivenciado. MITOLOGIA DO VALE DE CEARÁ-MIRIM: A ESTÓRIA DA BOTIJA NO ENGENHO SÃO PEDRO TIMBÓ Maria da Conceição Cruz Spineli, ocupante da Cadeira 19 da ACLA Em Dicionário do Folclore Brasileiro, pág. 681, Câmara Cascudo afirma que tesouro significa “dinheiro enterrado, o mesmo que botija para o sertão do Nordeste, ouro em moedas, barras de ouro ou de prata, deixadas pelo holandês ou escondidos pelos ricos, no milenar e universal costume de evitar o furto ou o ladrão de casa, de quem ninguém evita”. Ainda no mesmo verbete, Câmara Cascudo diz que “os tesouros dados pelas almas do outro mundo dependiam de condições, missas, orações, satisfação de dívidas e obediência a um certo número de regras indispensáveis, trabalhar de noite, ir sozinho, em silêncio, identificar o tesouro pelos sinais sucessivamente deparados [...]. O tesouro é encontrado unicamente por quem o recebeu em sonhos [...]. Se faltar alguma disposição, erro no processo extrativo, o tesouro transformar-se-á em carvão.” Lá pelo Timbó também encontramos estórias de tesouros enterrados, de minas, botijas. O assunto era para adultos, mas as crianças curiosas escutavam. Falava-se em sussurros as coisas do além, do sobrenatural, de almas penadas querendo livrar-se do fardo da mina enterrada de que nada lhes servia no outro mundo. Geralmente o pedido da alma penada vinha sob a forma de sonho. No Engenho Timbó, um homem e uma mulher tiveram um sonho idêntico, na mesma noite, e logo cedo os dois confabulavam a experiência e se arvoraram na empreitada. A mulher me contou, anos depois, detalhes do sonho: que era um homem alvo e bonito, vestido com rica indumentária (inclusive me falava de abotoaduras douradas em sua roupa e nas botas), cortês e educado, e que lhe indicava a existência de um tesouro enterrado debaixo da tamarineira que ficava no meio do curral dos burros, no Timbó de Dentro. O homem do sonho era bem didático, riscando o chão com um graveto, para explicar-lhe com muita clareza o local exato onde enterrara o tesouro. Ela deveria sair de casa ainda escuro da madrugada, ele insistia que fosse cedo, antes do sol nascer. Que fossem só ela e o senhor que tivera o mesmo sonho, que fizessem orações no percurso e durante toda a operação, que levassem água benta e não portassem objetos cortantes, pontiagudos ou armas de fogo. No sonho, ele ficava de cócoras, mexia na terra com as mãos dizendo que a terra onde estava enterrado o tesouro era bem fofinha, que ela não teria dificuldades em encontrá-lo, que o sinal era uma bola de ouro que estaria amarrada a uma corrente, também de ouro, fechando a tranca de um caixão comprido. Durante o sonho, enquanto conversava com o senhor bem trajado, aparecia uma mulher, maltrapilha, os poucos cabelos ralos desalinhados pelo vento. Ela parecia estar suspensa do chão. A figura acanhada não falava, só olhava com olhar vago e mortiço o senhor que dava detalhes de como proceder para a retirada da mina. Dessa figura, a mulher que me contou o sonho tinha medo, muito medo. Depois de muito conversarem, resolveram sair em busca do local onde estava a mina. De cara, contrariaram quase todas as regras impostas pela alma penada doadora do tesouro. Saíram com o sol alto, levaram um grupo grande de pessoas com pá, enxada, até gente com arma de fogo na cintura. Eu acho que eles tinham medo de saírem ainda escuro e só os dois. Começaram a retirada do tesouro, o homem mandava os trabalhadores cavarem com a enxada e a pá, e a mulher pedia que só usassem as mãos como lhe ensinara o doador da mina, no sonho; assim o fizeram. Na busca, começaram a ver a bola de ouro, o sinal anunciado no sonho, quando surgiu um enorme cachorro com os olhos de fogo e um dos trabalhadores que cavava o chão gritou: “ô cachorro da mulesta!”; o cachorro saiu em disparada e o local em que já aparecera a bola de ouro virou um imenso formigueiro. A frustração da mal sucedida empreitada ainda persiste após muitas décadas. Conta-se que poucos dias após o ocorrido, um trabalhador com serviço alugado em tempo da safra da cana, e que se hospedava na casa grande do Zumba, no Timbó de Dentro, havia tirado essa mina nas caladas da noite. Esse homem desapareceu do engenho misteriosamente. No local onde estava enterrada a botija, só um grande buraco. |
21/05/2015
20/05/2015
UMA GRELHA NÃO TÃO DIVINA
Jansen Leiros*
Certo dia, recebi uma ligação de
um amigo de longas datas dizendo que, na semana próxima, chegaria a Natal para
uma visita à cidade e que, no ensejo, desejaria
visitar um restaurante onde pudesse, com sua família, degustar comidas
típicas de nossa terra.
De imediato, pensei na DIVINA GRELHA! Lá, são oferecidos pratos típicos deliciosos, elaborados com muito
cuidado e esmero. Como são supinamente cautelosos com a higiene, nada nos
levaria a não recomendá-lo, pois que nosso visitante é pessoa de bom gosto e
gosta de servir-se bem.
Todos os bons restaurantes têm
uma programação semanal. Nem todos os
dias são servidos todos os pratos do cardápio. A sugestão é uma consulta
prévia. Luis Paulino estava eufórico!
fazia algum tempo, que não vinha ao Nordeste.
fazia algum tempo, que não vinha ao Nordeste.
No sábado, fomos ao
Aeroporto busca-lo. Aquele encontro foi
profundamente prazeroso! Luiz Paulino, como sempre muito simpático, sorriso
franco, gostou muito do ”city tour” e, então
fui fazer o “cheque in” da família no velho e
conhecido Hotel Samburá, atendendo ao saudosismo do amigo.
No dia seguinte, fomos à Praia de Pirangi, Luiz
Paulino todo munido dos mais sofisticados aparelhos fotográficos, não parou um
só momento, tirando fotos de tudo que lhe parecesse novidades. Já cansado, decidiu dar uns
mergulhos e lembrar-se das águas quentes
do Rio Pium e Cajupiranga.
Daí, tentar rever uns amigos de “ontem”, como o Dr. Ruy Santos, Dr. Carlos Gomes e outros tantos que a memória não lhe acudia, de imediato. Mas, uma figura que não esquecia era o grande amigo Dr. Valério Mesquita e de seus “causos”. Depois de visitar os primeiros, pediu-me para leva-lo em Cotovelo. Queria ver Valério! Rir com seu anedotário e seus “causos”. Depois de visitar os primeiros, pediu-me para levá-lo em Cotovelo. Queria ver Valério! Rir com seu anedotário e "causos". Ele se declarava admirador e fã do Jovem Líder.
Daí, tentar rever uns amigos de “ontem”, como o Dr. Ruy Santos, Dr. Carlos Gomes e outros tantos que a memória não lhe acudia, de imediato. Mas, uma figura que não esquecia era o grande amigo Dr. Valério Mesquita e de seus “causos”. Depois de visitar os primeiros, pediu-me para leva-lo em Cotovelo. Queria ver Valério! Rir com seu anedotário e seus “causos”. Depois de visitar os primeiros, pediu-me para levá-lo em Cotovelo. Queria ver Valério! Rir com seu anedotário e "causos". Ele se declarava admirador e fã do Jovem Líder.
O encontro foi
agradabilíssimo! Valério, sempre
hospitaleiro, desdobrou-se em amabilidades, se bem que não pudesse acompanha-lo
na “pinga”, por proibição médica! Conversa longa! Quase duas horas de
recordações, onde foram lembradas as figuras de “Dozinho”,
Genildo, o velho Romão, o engraçadíssimo Romeu, Raimundo Barros Cavalcanti,
“Palocha” e outras figuras daquele que já se foram. Lembrou as boas de Pe. Chacon, a figura de
José Inácio (Zezinho Turco) e trouxe à memória o Bar do Distinto, onde costumava
dar “show”,
fazendo “caçapadas”
da bola um à sete. O dia foi prazeroso!
Luiz Paulino e a família estavam
contentíssimos.
No retorno, Luiz Paulino sempre
paurador, só tinha lembranças para as comidas típicas e as ia
mencionando uma a uma, “salivando no seco”. “Cuscuz com tapioca”, “feijão
verde” com carne de sol, “buchada”, “picado
de porco”, “galinha à cabidela” e
foi tecendo o rosário de suas memórias.
Chegada a noite, Luiz Paulino e
seus familiares, minha mulher e eu, nos dirigimos ao “Shopping” do Mid
Way Maal, à procura do DIVINA GRELHA, com o grupo do Instituto Histórico, Valério, Ormuz, Odúlio, Carlos Gomes,
Edgard, Vicente Serejo, e “Guga”.
No imenso salão – sala de
alimentação – do “Shopping” encontramos o restaurante tão esperado e nos
sentamos. Luiz Paulino salivava enquanto
podia e, quando estava à frente da moça que nos atenderia, foi recitando o que
desejaria comer.
Para sua surpresa, dos sete
pratos aos quais se referiu, nenhum deles estava sendo oferecido pelo
restaurante, pois não atendia à programação da semana, pois oferecem mais de
cinquenta itens, diariamente.
Luiz Paulino, com cara de poucos
amigos, pegou no braço da moça e disse: “Diga
ao dono dessa coisa chamada de “restaurante” que mande mudar o nome DIVINA GRELHA para DIVINA FRUSTRAÇÃO!
Dirigiu-se para o HOTEL SAMBURÁ,
triste e melancólico.
Na segunda-feira, Luis Paulino tomou o vôo das 7:00 e se foi de retorno ao Rio de Janeiro, levando consigo um desgosto irreversível.
Na segunda-feira, Luis Paulino tomou o vôo das 7:00 e se foi de retorno ao Rio de Janeiro, levando consigo um desgosto irreversível.
Da Academia Macaibense
de Letras;
Da Academia Norte Rio-grandense
de Trovas;
Da União Brasileira de
Escritores;
Do Instituto Histórico
e Geográfico do RN.
19/05/2015
Prezado(a) Amigo(a):
É com imenso prazer que lhe enviamos o convite da Intervenção Fotográfica - CANTO DE MURO de autoria de Angela Almeida, que terá sua abertura no próximo dia 19/05, às 16h, na sede de nossa instituição, LUDOVICUS - Instituto Câmara Cascudo.
Sua presença muito nos honrará!
Um forte abraço,
Daliana Cascudo - Presidente
Camilla Cascudo - Vice-Presidente
18/05/2015
CEARÁ-MIRIM, VALE DOS FARAÓS
Edgar Barbosa
A trinta e poucos quilômetros daqui, no percurso da Central e à margem de um vale sussurrante, dorme Ceará-Mirim. A cidade que já foi um dos nossos empórios e hoje é, lamentavelmente, uma recordação quase triste.Dorme o burgo melancólico, e a sua letargia é a daquela princesa adormecida da fábula, esperando em sonhos o cavaleiro romântico que a viesse
despertar. Na verdade, Ceará-Mirim com o seu vale extenso e fecundo já tem sido a preocupação mais entusiasta de alguns governos, e o seu caso grave e retumbante foi lembrado com boas intenções em algumas plataformas. O problema de Ceará-Mirim, sempre que tem estado em ordem do dia, e não tem sido poucas vezes, chama a atenção de engenheiros e industriais que sobre ele opinam largamente. A questão é bastante conhecida, tendo dissertado a seu respeito, entre outros, técnicos do valor de Antônio Olinto, Henrique de Novais e Júlio Rezende. Dos estudos que se fizeram ressaltam duas necessidades – o dessecamento e a irrigação racional do vale famoso – tentados em eras distantes pelos engenheiros Gustavo Dodt e Feliciano Martins. Ambos, no tempo do Império, construíram canais que ainda hoje prestam serviços à agricultura ceará-mirinense, conquanto estejam quase aterrados devido à má conservação. O problema é portanto o de um rio que, com enchentes que carregam para o vale sedimentos e detritos, constrói aterros permanentes que determinam o transvasamento das águas nos terrenos adjacentes. Já se pensou na construção de uma barragem um pouco acima do vale, em Taipu, e no estabelecimento de um sistema de canais de irrigação, mas o dispêndio elevado que exigem essas obras desanimou o interesse e a boa vontade do município e do Estado pela sua efetivação. Só há um meio, a colaboração federal, que bem poderia executar a útil empreitada, presenteando o Estado a si própria com um tesouro de incalculáveis recursos. Da solução do caso de Ceará-Mirim dependem interesses tão valiosos, de ordem financeira e econômica, que se a União estivesse mais próxima e melhor informada para prevê-los ou avaliá-los, logo se abalançaria a beneficiar o vale vizinho. Dissecada e limpa aquela concavidade exuberante, desapareceriam dela como por milagre o impaludismo e outras mazelas que ali campeiam, e Ceará-Mirim voltaria a ser, como foi no Império, um dos celeiros mais fartos do Rio Grande do Norte. Mas Ceará-Mirim, além desse problema de pura hidrografia, atemorizante apenas para os leigos que, como nós, deles se aventuram a tratar, possui outros casos transcendentes e misteriosos dos quais nem vale a pena falar. São casos que pertencem mais à arqueologia e a essas outras ciências empíricas e profundas que exumam sarcófagos e vão bisbilhotar na poeira venerável dos séculos o sono calmo das múmias. Entretanto, aquela dormência que Ceará-Mirim aparenta, e que dá a seu vale verdejante um silêncio tumular de vale egípcio onde jazem faraós e onde descansam deuses, tem de quando em vez um hiato de energia e de força. Fere o céu, ecoa pelas quebradas, atravessa os canaviais, o grito alegre do trabalho de alguns engenhos e de duas ou três usinas. É meia dúzia de homens que ali desafiam o rio traiçoeiro e lutam contra a pasmaceira ambiente e conseguem o milagre de enriquecer numa terra onde quase todos fazem questão de continuar pobres. São alguns persistentes e tenazes que sabem o que vale uma indústria, ainda mesmo combalida por dezenas de dissabores, e confiam no prestígio do açúcar, que permanece imutável desde a escravidão e que nunca desfavoreceu os que dela vivem. Perdem muito tempo os que, de braços cruzados, aguardam o beneficiamento do vale. Infelizmente, o governo ainda custará a resolver ativamente o velho problema, e o vale pródigo lá está para retribuir com muito o parco cultivo que lhe deram. Não consintam os ceará-mirinenses que a grande herança dos seus avós, a terra onde os seus antepassados trabalharam, o vale que construiu a Ceará-Mirim dos antigos dias, a cidade do luxo, das carruagens e da aristocracia açucareira, pereça e se transforme aos olhos dos passantes em um vale de faraós, perdido e inútil, ou que seja empolgado pelos adventícios atraídos pela sedução daquele tesouro. Não queira os ceará-mirinenses que a sua cidade, a nossa cidade, cidade verde, se estiole e arruíne à mingua de homens, e que fique à margem do caminho como uma tradição e um exemplo tristonho de desfalecimento. Não consintam nem queiram os meus corajosos conterrâneos a decadência, o desânimo e a fraqueza, que seriam a maior injúria lançada à terra fértil e dadivosa. Trabalhem, antes, com as possibilidades que tiverem, para que o nosso município volte à vanguarda econômica do Rio Grande do Norte e para que o nosso vale, enchendo-se de chaminés fumegantes e altaneiras, não inspire somente entusiasmos líricos aos governos e versos bucólicos aos poetas. 21.03.1934 NOTA: fragmento extraído do livro Artigos e crônicas de Edgar Barbosa: volume I (1927-1938)/Organização, seleção, apresentação e notas de Nelson Patriota – Natal, RN: EDUFRN, 2009. O texto foi originalmente publicado com o pseudônimo de de José Antônio, bastante utilizado por Edgar Barbosa |
17/05/2015
TRISTES TRÓPICOS
Tomislav R. Femenick – Economista, com extensão em sociologia, e Contador
Há várias formas de se escrever um livro. Qualquer que seja a forma ela não terá a mínima importância se não for suportada por um bom conteúdo. Esses dois elementos, forma e conteúdo, são as bases aparentes de todos os livros. Entretanto há um terceiro componente, presente em todas as obras literárias que, talvez, seja mais importante que os dois citados. Trata-se da ideologia. O leitor deve sempre ter em mente um fato essencial para a compreensão das obras literárias ou cientificas. Todo livro, ficcional ou não, possui um forte componente ideológico. Esse resulta da própria maneira de pensar do autor, pois ele raciocina de acordo com a sua formação acadêmica, história pessoal, maneira de formular pensamento, raciocínio, lógica etc., todas elas também com forte presença de matizes ideológicos. Não é à-toa que a maioria dos livros de história conta a versão dos vencedores e não dos vencidos.
Esses comentários vêm à tona pela recente releitura que fiz do livro “Tristes Trópicos”, do antropólogo e filósofo francês (belga de nascimento) Claude Lévi-Strauss, publicado pela primeira vez na França, em 1955, tornando seu autor um dos intelectuais mais conhecido em sua área – a antropologia estruturalista – e um dos grandes pensadores do século XX. Claude Lévi-Strauss estudou direito e filosofia na Universidade de Sorbone, em Paris, porém somente completou a licenciatura em Filosofia. Trabalhou quatro anos no Brasi – de 1935 a 1939 – lecionando sociologia na então recém-fundada Universidade de São Paulo, oportunidade em que fez várias expedições à região central do Brasil.
Foram justamente essas expedições (e as pesquisas que durante elas foram realizadas) que deram origem ao livro. “Tristes Trópicos” é uma narrativa etnográfica romanceada, com trechos curiosos sobre as sociedades indígenas do Brasil Central. Embora aparentemente seja apenas um livro de viagem, ele é repleto de passagens onde o autor faz especulações filosóficas, sobre o status da antropologia, ao mesmo tempo em que realiza análises comparativas de religiões da América e da Europa, bem como das concepções de progresso e civilização. Por isso é que esse é um livro para ser lido de forma crítica e analítica; isso é, para ser estudado sob a ótica da observação e da análise. Só como exemplo, tomemos seu título. Como “Tristes Trópicos”, se é aqui que o povo é alegre, ri, canta e dança por qualquer motivo? Nesse fato não existiria uma forte carga ideológica, um forte componente eurocêntrico, uma tendência de interpretar o mundo segundo os valores da Europa ocidental?
Todavia não devemos nos empolgar nas criticas. Esta é uma das obras mais incisiva e bela que jamais foi escrita, tratado de antropologia e filosofia, ao mesmo tempo em que é um relato etnográfico da nossa historia colonial. Tudo isso brotando de uma simples narrativa de viagem, estilo literário que anteriormente já serviu de base para obras Camões, Richard Francis Burton, Louis de Bouganville, Jonathan Swift e outros. O que diferencia essas das outras obras do gênero é que Claude Lévi-Strauss apresenta nas páginas do livro sua própria autobiografia intelectual, ao aceitar que daquele contato com os indígenas do Brasil Central fez surgir nele uma nova sensibilidade etnográfica. Sensibilidade essa capaz de identificar no passado a origem das posições contrárias, das diferenças contemporâneas.
O grande perigo é que Claude Lévi-Strauss é uma espécie de quase unanimidade. O fato de ele ter passado mais da metade de sua vida estudando o comportamento dos índios americanos, de não ter aceitado diretamente a visão histórica da civilização ocidental como privilegiada e única e de ter enfatizado que a mente selvagem é igual à civilizada, o transformou em um igual entre os iguais – aqueles que dominam o estado das artes (do conhecimento) das ciências – embora suas idéias tenham provocando reações exacerbadas em alguns setores ligados à tradição humanista, evolucionista e marxista.
16/05/2015
O capitão João Cavalcante Bezerra e seus dois Antonios
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Matemático, sócio do IHGRN e do INRG.
Em artigos anteriores já escrevemos sobres membros da família Bezerra Cavalcanti, citando inclusive o capitão João Cavalcante Bezerra, que neste artigo de hoje tem um destaque especial. Os Cavalcantis são antigos aqui no Brasil e se entrelaçam, principalmente, com Barbalho Bezerra, Rocha Bezerra e Albuquerque. No registro a seguir o vigário João Freire Amorim reclama da falta de alguns elementos na certidão que veio para ele.
Antonia, filha legítima do capitão João Cavalcante, natural de Pernambuco, e de sua mulher Dona Josefa Lourença Bezerra, natural da Freguesia de São João Baptista do Curato de Assú, e ambos assistentes e moradores desta Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação do Rio Grande do Norte, neta por parte materna do coronel Antonio da Rocha Bezerra, natural da capitania da Paraíba, e de Josefa de Oliveira, natural desta dita Freguesia, e por paterna não sei precisar na certidão, e nem o dia, foi batizada com os santos óleos, na capela do Senhor Santo Antonio do Putegy, desta Freguesia, pelo Reverendo Padre Antonio de Sousa Magalhães, Vigário da Vila de Extremoz, de licença minha. Foram padrinhos Gonçalo Freire de Amorim, homem casado, e Maria Gomes Freire, mulher do sargento-mor Antonio da Rocha Bezerra, todos fregueses e moradores desta dita freguesia. João Freire Amorim, Vigário.
Esse registro é do ano de 1761. O sargento-mor Antonio da Rocha Bezerra era irmão de Dona Josefa Lourença. Quando ficou viúvo de Maria Gomes Freire casou com Joana Cândida Ferreira de Mello, filha do sargento-mor Manoel Antonio Pimentel de Mello e Anna Maria da Conceição.
O capitão João Cavalcante Bezerra, além dessa filha de nome Antonia tinha mais dois filhos de nome Antonio, filhos de mães diferentes, Josefa Lourença da Rocha Bezerra e, depois (1777), Getrudes Thereza Ignácia de Sousa, filha de Francisco de Sousa e Oliveira e Tecla Rodrigues Pinheiro. Vejamos o casamento dos dois Antonios.
Aos trinta de janeiro de 1783, na Capela da Soledade, Antonio Cavalcante Bezerra, filho legítimo de João Cavalcante Bezerra e de Josefa Lourença, já defunta, casou com Maria de São José de Mello, natural desta cidade do Rio Grande, filha legítima do sargento-mor Manoel Antonio Pimentel de Mello e de Anna Maria da Conceição, já defuntos, ambos naturais deste Bispado de Pernambuco, na presença das testemunhas tenente-coronel Antonio da Rocha Bezerra e Manoel João da Silveira, todos moradores nesta Freguesia. Francisco de Souza Nunes, Vigário do Rio Grande.
Aos vinte e um de novembro de 1804, na Matriz, dispensados no segundo e terceiro graus de consanguinidade, Antonio Bezerra Cavalcante, filho legítimo de João Cavalcante Bezerra e de Getrudes Thereza Ignácia de Oliveira, falecida, casou com Getrudes Thereza de Sousa, filha legítima do capitão Antonio José de Sousa e Oliveira e de Dona Joanna Ferreira de Mello, falecida, na presença das testemunhas o capitão Luiz José Rodrigues Pinheiro e Joaquim Felício de Almeida, casados.
Uma filha de Antonio Cavalcante Bezerra e Maria de São José, de nome Mariana, nasceu aos dois de janeiro de 1788, e foi batizada aos dezesseis do mesmo mês e ano, na capela de Nossa Senhora da Aldeia Velha, tendo como padrinhos o alferes Anselmo José de Faria e sua mulher Marianna da Rocha Bezerra. Dona Marianna era filha do coronel Antonio da Rocha Bezerra e Josefa Leite de Oliveira, e, portanto, irmã de Josefa Lourença, mãe de Antonio.
Antonio, filho do tenente Antonio Cavalcante Bezerra, e de Maria de São José, nasceu aos 12 de novembro de 1794, e foi batizado, na capela de Nossa Senhora da Soledade, ao 1 de dezembro do mesmo ano, tendo como padrinhos, Josefa, solteira, filha da viúva Dona Joanna Ferreira de Mello.
Um nome que se repete, por várias gerações, nessa família é Leonardo. Antonio Cavalcante Bezerra e Maria de São José tiveram um filho com esse nome, nascido aos treze de maio de 1788 e batizado, na capela de Santo Antonio do Potegi, aos dois de julho do mesmo ano, tendo como padrinhos Gonçalo Pinheiro Teixeira e dona Mariana da Rocha. Leonardo Bezerra Cavalcante casou com Bernardina Josefa de Moraes filha de Vito Antonio de Moraes e Anna Pedroza.
De Antonio Bezerra Cavalcante e Getrudes Thereza de Souza nasceu João, aos quatorze de fevereiro de 1809 e, foi batizado aos dezesseis de fevereiro do mesmo ano, na capela de São Gonçalo, tendo como padrinhos João Cavalcante Bezerra e Dona Zenóbia Bezerra Cavalcante.
Outro filho de Antonio e Getrudes, Thomas, foi batizado na Capela de São Gonçalo, aos 9 de março de 1815, sendo padrinhos Antonio Cavalcante Bezerra e sua mulher Maria Cassemira.
Em 19 de novembro de 1879, nasceu João Cavalcante Bezerra, filho de João Cavalcante Bezerra e Dona Getrudes Thereza Ignácia de Oliveira, e foi batizado no mesmo ano, tendo como padrinhos os avós maternos, Francisco de Sousa e Tecla Rodrigues. Vinte anos depois, aos 10 de outubro de 1799, ele casou, na capela do Senhor Bom Jesus das Dores, com Maria Magdalena de Jesus, filha do tenente José Rodrigues Pinheiro e Thereza de Jesus, sendo presentes por testemunhas o capitão Antonio José de Sousa e o capitão João Cavalcante Bezerra.
Dona Getrudes Threza Ignácia de Sousa faleceu seis anos depois do seu casamento com João Cavalcante Bezerra, na idade de 30 anos.
15/05/2015
O PERIGO ESTÁ NO TOM
Valério Mesquita*
Diante
da vida comum de Natal ninguém pode fugir ao hábito da ironia, da tendência ao
sarcasmo e a hostilidade contra tudo que é medíocre, vulgar e chato. A primeira
futilidade pública e explícita é o escandaloso delírio das torcidas do
paupérrimo futebol potiguar, todas endiabradas e ensandecidas pelas ruas,
fazendo vítimas inocentes e depredando patrimônios. Antigamente, as paixões
populares assumiam o encanto e o canto da luta social, política, cívica, com
formas e cores mais puras e emocionais. Agora, não. São meras caricaturas e
badernagens para os boletins de ocorrências das delegacias de plantão.
É
um tempo trágico e cômico, mais parecido com um castigo divino, recheado de
assaltos, insegurança, onde a paz do coração foi substituída pela paz dos
túmulos. Sobre todos esses vândalos caberia dizer que “o diabo não os desampare
e Deus que nos ajude”.
Sabem
que tudo na vida é relativo e passageiro. No futebol, na política, no comércio,
na indústria, nas profissões liberais, “tudo o que sobe cai”, já dizia Sandoval
Quaresma olhando pra braguilha. O que vai bem, afinal? O trânsito em Natal? No
Rio Grande do Norte já ultrapassa a casa de um milhão de veículos. Semana
passada desabafei que a maioridade penal deveria descer para os 14 anos.
Depois, li que alguns juristas são contrários até a queda para o patamar de
dezesseis. Acham que tudo deve ficar como está. O problema é a educação dos
jovens. No momento da entrevista esqueceram que essa prenda pedagógica se
encontra falida há décadas. Na rede pública escolar aluno enxota professor da
sala de aula, quando não depreda, agride ou mata.
O
problema é que nesses tempos apocalípticos a humanidade se esqueceu do mais
humilde e simples ensinamento: “amai-vos uns aos outros”. Aí, desviaram para
outro tipo de amor, estimulados pelo mais poderoso cartel de perdição e
transtorno de conduta: as novelas, os filmes, a internet, enfim, tudo para
apagar as letras de um livro chamado Bíblia. Porque o que Deus ensinou, a
legislação mundana contrariou, profanou, modificou para gáudio de suas
ambições, vaidades, corrupção e degenerescência. Droga, impunidade, violência,
polícia prende e justiça solta, são coisas do homem que avacalha a cidadania e
o gosto pela vida.
Não
acredito que o mundo melhore. Até Barack Obama falando da tribuna da Casa
Branca elogia um jogador de basquetebol do seu país porque teve a coragem de
assumir o seu homossexualismo. Será que os presidentes da Rússia, Alemanha,
Brasil, China, ou os primeiros ministros da Inglaterra, Espanha, Portugal,
etc., prestariam tal informação sobre qualquer pessoa notável ou não do
respectivo país, como apologia ou um exemplo a ser seguido ou compreendido? Com
tantos enfrentamentos políticos, terroristas, econômicos, que hora a sua nação
atravessa, não precisava, à guisa de colher simpatias, propagar a decisão
emblemática do jovem atleta como modelo a ser inserido na rede de ensino
infanto-juvenil estadunidense e para todo o planeta. O mundo vai mal. Barack tá
melando tudo. O Brasil que dizem não ser um país sério, Barack, o cara, também
não parece ser um estadista sério. Que o diabo não o desampare e Deus nos
ajude.
(*) Escritor.
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