CEARÁ-MIRIM, VALE DOS FARAÓS
Edgar Barbosa
A trinta e poucos quilômetros daqui, no percurso da Central e à margem de um vale sussurrante, dorme Ceará-Mirim. A cidade que já foi um dos nossos empórios e hoje é, lamentavelmente, uma recordação quase triste.Dorme o burgo melancólico, e a sua letargia é a daquela princesa adormecida da fábula, esperando em sonhos o cavaleiro romântico que a viesse
despertar. Na verdade, Ceará-Mirim com o seu vale extenso e fecundo já tem sido a preocupação mais entusiasta de alguns governos, e o seu caso grave e retumbante foi lembrado com boas intenções em algumas plataformas. O problema de Ceará-Mirim, sempre que tem estado em ordem do dia, e não tem sido poucas vezes, chama a atenção de engenheiros e industriais que sobre ele opinam largamente. A questão é bastante conhecida, tendo dissertado a seu respeito, entre outros, técnicos do valor de Antônio Olinto, Henrique de Novais e Júlio Rezende. Dos estudos que se fizeram ressaltam duas necessidades – o dessecamento e a irrigação racional do vale famoso – tentados em eras distantes pelos engenheiros Gustavo Dodt e Feliciano Martins. Ambos, no tempo do Império, construíram canais que ainda hoje prestam serviços à agricultura ceará-mirinense, conquanto estejam quase aterrados devido à má conservação. O problema é portanto o de um rio que, com enchentes que carregam para o vale sedimentos e detritos, constrói aterros permanentes que determinam o transvasamento das águas nos terrenos adjacentes. Já se pensou na construção de uma barragem um pouco acima do vale, em Taipu, e no estabelecimento de um sistema de canais de irrigação, mas o dispêndio elevado que exigem essas obras desanimou o interesse e a boa vontade do município e do Estado pela sua efetivação. Só há um meio, a colaboração federal, que bem poderia executar a útil empreitada, presenteando o Estado a si própria com um tesouro de incalculáveis recursos. Da solução do caso de Ceará-Mirim dependem interesses tão valiosos, de ordem financeira e econômica, que se a União estivesse mais próxima e melhor informada para prevê-los ou avaliá-los, logo se abalançaria a beneficiar o vale vizinho. Dissecada e limpa aquela concavidade exuberante, desapareceriam dela como por milagre o impaludismo e outras mazelas que ali campeiam, e Ceará-Mirim voltaria a ser, como foi no Império, um dos celeiros mais fartos do Rio Grande do Norte. Mas Ceará-Mirim, além desse problema de pura hidrografia, atemorizante apenas para os leigos que, como nós, deles se aventuram a tratar, possui outros casos transcendentes e misteriosos dos quais nem vale a pena falar. São casos que pertencem mais à arqueologia e a essas outras ciências empíricas e profundas que exumam sarcófagos e vão bisbilhotar na poeira venerável dos séculos o sono calmo das múmias. Entretanto, aquela dormência que Ceará-Mirim aparenta, e que dá a seu vale verdejante um silêncio tumular de vale egípcio onde jazem faraós e onde descansam deuses, tem de quando em vez um hiato de energia e de força. Fere o céu, ecoa pelas quebradas, atravessa os canaviais, o grito alegre do trabalho de alguns engenhos e de duas ou três usinas. É meia dúzia de homens que ali desafiam o rio traiçoeiro e lutam contra a pasmaceira ambiente e conseguem o milagre de enriquecer numa terra onde quase todos fazem questão de continuar pobres. São alguns persistentes e tenazes que sabem o que vale uma indústria, ainda mesmo combalida por dezenas de dissabores, e confiam no prestígio do açúcar, que permanece imutável desde a escravidão e que nunca desfavoreceu os que dela vivem. Perdem muito tempo os que, de braços cruzados, aguardam o beneficiamento do vale. Infelizmente, o governo ainda custará a resolver ativamente o velho problema, e o vale pródigo lá está para retribuir com muito o parco cultivo que lhe deram. Não consintam os ceará-mirinenses que a grande herança dos seus avós, a terra onde os seus antepassados trabalharam, o vale que construiu a Ceará-Mirim dos antigos dias, a cidade do luxo, das carruagens e da aristocracia açucareira, pereça e se transforme aos olhos dos passantes em um vale de faraós, perdido e inútil, ou que seja empolgado pelos adventícios atraídos pela sedução daquele tesouro. Não queira os ceará-mirinenses que a sua cidade, a nossa cidade, cidade verde, se estiole e arruíne à mingua de homens, e que fique à margem do caminho como uma tradição e um exemplo tristonho de desfalecimento. Não consintam nem queiram os meus corajosos conterrâneos a decadência, o desânimo e a fraqueza, que seriam a maior injúria lançada à terra fértil e dadivosa. Trabalhem, antes, com as possibilidades que tiverem, para que o nosso município volte à vanguarda econômica do Rio Grande do Norte e para que o nosso vale, enchendo-se de chaminés fumegantes e altaneiras, não inspire somente entusiasmos líricos aos governos e versos bucólicos aos poetas. 21.03.1934 NOTA: fragmento extraído do livro Artigos e crônicas de Edgar Barbosa: volume I (1927-1938)/Organização, seleção, apresentação e notas de Nelson Patriota – Natal, RN: EDUFRN, 2009. O texto foi originalmente publicado com o pseudônimo de de José Antônio, bastante utilizado por Edgar Barbosa |
18/05/2015
17/05/2015
TRISTES TRÓPICOS
Tomislav R. Femenick – Economista, com extensão em sociologia, e Contador
Há várias formas de se escrever um livro. Qualquer que seja a forma ela não terá a mínima importância se não for suportada por um bom conteúdo. Esses dois elementos, forma e conteúdo, são as bases aparentes de todos os livros. Entretanto há um terceiro componente, presente em todas as obras literárias que, talvez, seja mais importante que os dois citados. Trata-se da ideologia. O leitor deve sempre ter em mente um fato essencial para a compreensão das obras literárias ou cientificas. Todo livro, ficcional ou não, possui um forte componente ideológico. Esse resulta da própria maneira de pensar do autor, pois ele raciocina de acordo com a sua formação acadêmica, história pessoal, maneira de formular pensamento, raciocínio, lógica etc., todas elas também com forte presença de matizes ideológicos. Não é à-toa que a maioria dos livros de história conta a versão dos vencedores e não dos vencidos.
Esses comentários vêm à tona pela recente releitura que fiz do livro “Tristes Trópicos”, do antropólogo e filósofo francês (belga de nascimento) Claude Lévi-Strauss, publicado pela primeira vez na França, em 1955, tornando seu autor um dos intelectuais mais conhecido em sua área – a antropologia estruturalista – e um dos grandes pensadores do século XX. Claude Lévi-Strauss estudou direito e filosofia na Universidade de Sorbone, em Paris, porém somente completou a licenciatura em Filosofia. Trabalhou quatro anos no Brasi – de 1935 a 1939 – lecionando sociologia na então recém-fundada Universidade de São Paulo, oportunidade em que fez várias expedições à região central do Brasil.
Foram justamente essas expedições (e as pesquisas que durante elas foram realizadas) que deram origem ao livro. “Tristes Trópicos” é uma narrativa etnográfica romanceada, com trechos curiosos sobre as sociedades indígenas do Brasil Central. Embora aparentemente seja apenas um livro de viagem, ele é repleto de passagens onde o autor faz especulações filosóficas, sobre o status da antropologia, ao mesmo tempo em que realiza análises comparativas de religiões da América e da Europa, bem como das concepções de progresso e civilização. Por isso é que esse é um livro para ser lido de forma crítica e analítica; isso é, para ser estudado sob a ótica da observação e da análise. Só como exemplo, tomemos seu título. Como “Tristes Trópicos”, se é aqui que o povo é alegre, ri, canta e dança por qualquer motivo? Nesse fato não existiria uma forte carga ideológica, um forte componente eurocêntrico, uma tendência de interpretar o mundo segundo os valores da Europa ocidental?
Todavia não devemos nos empolgar nas criticas. Esta é uma das obras mais incisiva e bela que jamais foi escrita, tratado de antropologia e filosofia, ao mesmo tempo em que é um relato etnográfico da nossa historia colonial. Tudo isso brotando de uma simples narrativa de viagem, estilo literário que anteriormente já serviu de base para obras Camões, Richard Francis Burton, Louis de Bouganville, Jonathan Swift e outros. O que diferencia essas das outras obras do gênero é que Claude Lévi-Strauss apresenta nas páginas do livro sua própria autobiografia intelectual, ao aceitar que daquele contato com os indígenas do Brasil Central fez surgir nele uma nova sensibilidade etnográfica. Sensibilidade essa capaz de identificar no passado a origem das posições contrárias, das diferenças contemporâneas.
O grande perigo é que Claude Lévi-Strauss é uma espécie de quase unanimidade. O fato de ele ter passado mais da metade de sua vida estudando o comportamento dos índios americanos, de não ter aceitado diretamente a visão histórica da civilização ocidental como privilegiada e única e de ter enfatizado que a mente selvagem é igual à civilizada, o transformou em um igual entre os iguais – aqueles que dominam o estado das artes (do conhecimento) das ciências – embora suas idéias tenham provocando reações exacerbadas em alguns setores ligados à tradição humanista, evolucionista e marxista.
16/05/2015
O capitão João Cavalcante Bezerra e seus dois Antonios
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Matemático, sócio do IHGRN e do INRG.
Em artigos anteriores já escrevemos sobres membros da família Bezerra Cavalcanti, citando inclusive o capitão João Cavalcante Bezerra, que neste artigo de hoje tem um destaque especial. Os Cavalcantis são antigos aqui no Brasil e se entrelaçam, principalmente, com Barbalho Bezerra, Rocha Bezerra e Albuquerque. No registro a seguir o vigário João Freire Amorim reclama da falta de alguns elementos na certidão que veio para ele.
Antonia, filha legítima do capitão João Cavalcante, natural de Pernambuco, e de sua mulher Dona Josefa Lourença Bezerra, natural da Freguesia de São João Baptista do Curato de Assú, e ambos assistentes e moradores desta Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação do Rio Grande do Norte, neta por parte materna do coronel Antonio da Rocha Bezerra, natural da capitania da Paraíba, e de Josefa de Oliveira, natural desta dita Freguesia, e por paterna não sei precisar na certidão, e nem o dia, foi batizada com os santos óleos, na capela do Senhor Santo Antonio do Putegy, desta Freguesia, pelo Reverendo Padre Antonio de Sousa Magalhães, Vigário da Vila de Extremoz, de licença minha. Foram padrinhos Gonçalo Freire de Amorim, homem casado, e Maria Gomes Freire, mulher do sargento-mor Antonio da Rocha Bezerra, todos fregueses e moradores desta dita freguesia. João Freire Amorim, Vigário.
Esse registro é do ano de 1761. O sargento-mor Antonio da Rocha Bezerra era irmão de Dona Josefa Lourença. Quando ficou viúvo de Maria Gomes Freire casou com Joana Cândida Ferreira de Mello, filha do sargento-mor Manoel Antonio Pimentel de Mello e Anna Maria da Conceição.
O capitão João Cavalcante Bezerra, além dessa filha de nome Antonia tinha mais dois filhos de nome Antonio, filhos de mães diferentes, Josefa Lourença da Rocha Bezerra e, depois (1777), Getrudes Thereza Ignácia de Sousa, filha de Francisco de Sousa e Oliveira e Tecla Rodrigues Pinheiro. Vejamos o casamento dos dois Antonios.
Aos trinta de janeiro de 1783, na Capela da Soledade, Antonio Cavalcante Bezerra, filho legítimo de João Cavalcante Bezerra e de Josefa Lourença, já defunta, casou com Maria de São José de Mello, natural desta cidade do Rio Grande, filha legítima do sargento-mor Manoel Antonio Pimentel de Mello e de Anna Maria da Conceição, já defuntos, ambos naturais deste Bispado de Pernambuco, na presença das testemunhas tenente-coronel Antonio da Rocha Bezerra e Manoel João da Silveira, todos moradores nesta Freguesia. Francisco de Souza Nunes, Vigário do Rio Grande.
Aos vinte e um de novembro de 1804, na Matriz, dispensados no segundo e terceiro graus de consanguinidade, Antonio Bezerra Cavalcante, filho legítimo de João Cavalcante Bezerra e de Getrudes Thereza Ignácia de Oliveira, falecida, casou com Getrudes Thereza de Sousa, filha legítima do capitão Antonio José de Sousa e Oliveira e de Dona Joanna Ferreira de Mello, falecida, na presença das testemunhas o capitão Luiz José Rodrigues Pinheiro e Joaquim Felício de Almeida, casados.
Uma filha de Antonio Cavalcante Bezerra e Maria de São José, de nome Mariana, nasceu aos dois de janeiro de 1788, e foi batizada aos dezesseis do mesmo mês e ano, na capela de Nossa Senhora da Aldeia Velha, tendo como padrinhos o alferes Anselmo José de Faria e sua mulher Marianna da Rocha Bezerra. Dona Marianna era filha do coronel Antonio da Rocha Bezerra e Josefa Leite de Oliveira, e, portanto, irmã de Josefa Lourença, mãe de Antonio.
Antonio, filho do tenente Antonio Cavalcante Bezerra, e de Maria de São José, nasceu aos 12 de novembro de 1794, e foi batizado, na capela de Nossa Senhora da Soledade, ao 1 de dezembro do mesmo ano, tendo como padrinhos, Josefa, solteira, filha da viúva Dona Joanna Ferreira de Mello.
Um nome que se repete, por várias gerações, nessa família é Leonardo. Antonio Cavalcante Bezerra e Maria de São José tiveram um filho com esse nome, nascido aos treze de maio de 1788 e batizado, na capela de Santo Antonio do Potegi, aos dois de julho do mesmo ano, tendo como padrinhos Gonçalo Pinheiro Teixeira e dona Mariana da Rocha. Leonardo Bezerra Cavalcante casou com Bernardina Josefa de Moraes filha de Vito Antonio de Moraes e Anna Pedroza.
De Antonio Bezerra Cavalcante e Getrudes Thereza de Souza nasceu João, aos quatorze de fevereiro de 1809 e, foi batizado aos dezesseis de fevereiro do mesmo ano, na capela de São Gonçalo, tendo como padrinhos João Cavalcante Bezerra e Dona Zenóbia Bezerra Cavalcante.
Outro filho de Antonio e Getrudes, Thomas, foi batizado na Capela de São Gonçalo, aos 9 de março de 1815, sendo padrinhos Antonio Cavalcante Bezerra e sua mulher Maria Cassemira.
Em 19 de novembro de 1879, nasceu João Cavalcante Bezerra, filho de João Cavalcante Bezerra e Dona Getrudes Thereza Ignácia de Oliveira, e foi batizado no mesmo ano, tendo como padrinhos os avós maternos, Francisco de Sousa e Tecla Rodrigues. Vinte anos depois, aos 10 de outubro de 1799, ele casou, na capela do Senhor Bom Jesus das Dores, com Maria Magdalena de Jesus, filha do tenente José Rodrigues Pinheiro e Thereza de Jesus, sendo presentes por testemunhas o capitão Antonio José de Sousa e o capitão João Cavalcante Bezerra.
Dona Getrudes Threza Ignácia de Sousa faleceu seis anos depois do seu casamento com João Cavalcante Bezerra, na idade de 30 anos.
15/05/2015
O PERIGO ESTÁ NO TOM
Valério Mesquita*
Diante
da vida comum de Natal ninguém pode fugir ao hábito da ironia, da tendência ao
sarcasmo e a hostilidade contra tudo que é medíocre, vulgar e chato. A primeira
futilidade pública e explícita é o escandaloso delírio das torcidas do
paupérrimo futebol potiguar, todas endiabradas e ensandecidas pelas ruas,
fazendo vítimas inocentes e depredando patrimônios. Antigamente, as paixões
populares assumiam o encanto e o canto da luta social, política, cívica, com
formas e cores mais puras e emocionais. Agora, não. São meras caricaturas e
badernagens para os boletins de ocorrências das delegacias de plantão.
É
um tempo trágico e cômico, mais parecido com um castigo divino, recheado de
assaltos, insegurança, onde a paz do coração foi substituída pela paz dos
túmulos. Sobre todos esses vândalos caberia dizer que “o diabo não os desampare
e Deus que nos ajude”.
Sabem
que tudo na vida é relativo e passageiro. No futebol, na política, no comércio,
na indústria, nas profissões liberais, “tudo o que sobe cai”, já dizia Sandoval
Quaresma olhando pra braguilha. O que vai bem, afinal? O trânsito em Natal? No
Rio Grande do Norte já ultrapassa a casa de um milhão de veículos. Semana
passada desabafei que a maioridade penal deveria descer para os 14 anos.
Depois, li que alguns juristas são contrários até a queda para o patamar de
dezesseis. Acham que tudo deve ficar como está. O problema é a educação dos
jovens. No momento da entrevista esqueceram que essa prenda pedagógica se
encontra falida há décadas. Na rede pública escolar aluno enxota professor da
sala de aula, quando não depreda, agride ou mata.
O
problema é que nesses tempos apocalípticos a humanidade se esqueceu do mais
humilde e simples ensinamento: “amai-vos uns aos outros”. Aí, desviaram para
outro tipo de amor, estimulados pelo mais poderoso cartel de perdição e
transtorno de conduta: as novelas, os filmes, a internet, enfim, tudo para
apagar as letras de um livro chamado Bíblia. Porque o que Deus ensinou, a
legislação mundana contrariou, profanou, modificou para gáudio de suas
ambições, vaidades, corrupção e degenerescência. Droga, impunidade, violência,
polícia prende e justiça solta, são coisas do homem que avacalha a cidadania e
o gosto pela vida.
Não
acredito que o mundo melhore. Até Barack Obama falando da tribuna da Casa
Branca elogia um jogador de basquetebol do seu país porque teve a coragem de
assumir o seu homossexualismo. Será que os presidentes da Rússia, Alemanha,
Brasil, China, ou os primeiros ministros da Inglaterra, Espanha, Portugal,
etc., prestariam tal informação sobre qualquer pessoa notável ou não do
respectivo país, como apologia ou um exemplo a ser seguido ou compreendido? Com
tantos enfrentamentos políticos, terroristas, econômicos, que hora a sua nação
atravessa, não precisava, à guisa de colher simpatias, propagar a decisão
emblemática do jovem atleta como modelo a ser inserido na rede de ensino
infanto-juvenil estadunidense e para todo o planeta. O mundo vai mal. Barack tá
melando tudo. O Brasil que dizem não ser um país sério, Barack, o cara, também
não parece ser um estadista sério. Que o diabo não o desampare e Deus nos
ajude.
(*) Escritor.
14/05/2015
JOAQUIM SILVIO CALDAS – Um Autêntico Nordestino
Necrológio
proferido pelo acadêmico Odúlio Botelho no dia 08 de maio de 2015, no auditório
Moacyr Duarte, da Procuradoria Geral do Estado do RN, com digitação e revisão
da Dra. Jéssica Medeiros Alff.
Para meditação,
“Jesus
dizia-lhes, O Reino de Deus é como quando alguém lança a semente na terra. Quer
esteja dormindo ou acordado (...) a semente germina e cresce, sem que ele saiba
como.”(Mc. 4,26-27).
“A
memória guardará o que vale a pena. A memória sabe de mim mais do que eu; e ela
não perde o que merece ser salvo (...)” (Eduardo Galeano, escritor uruguaio,
falecido em 14 de abril de 2015).
“A
vida é muito curta para ser pequena” (advertência de DISRAELI).
“Morte:
Quer dizer viagem, transferência ou qualquer coisa com cheiro de eternidade
(...)” (Luis Gonzaga Pinheiro – créditos do livro “O Homem que Veio da Sombra”).
“Se
quiser plantar saudade/ Escalde bem a semente/ Plante num lugar bem seco/ Onde
o sol seja bem quente/ Pois se plantar no molhado/ quando crescer mata a gente
(...)” (Antônio Pereira – poeta popular).
“Essa palavra saudade
Conheço desde criança
Saudade de amor ausente
Não é saudade, é lembrança
Saudade só é saudade
Quando se perde a esperança.” (Pinto de Monteiro).
Conheço desde criança
Saudade de amor ausente
Não é saudade, é lembrança
Saudade só é saudade
Quando se perde a esperança.” (Pinto de Monteiro).
Senhor Presidente,
autoridades na Mesa, juízes, procuradores, dirigentes de outras academias,
poetas, seresteiros, músicos, distinta
platéia, minhas senhoras, meus senhores, familiares e amigos do Acadêmico
Joaquim Sílvio Caldas. Aqui estamos menos por uma exigência estatutária ditada
por regra fixa de nossa valiosa ALEJURN – muito mais pela felicidade de falar
sobre o nosso estimado companheiro Joaquim Silvio Caldas, hoje habitando o
glorioso Reino de Deus.
Chico
Buarque de Holanda, esse esplendoroso poeta da Música Popular Brasileira, tirou
do seu gênio estes versos: “O meu pai, era paulista/ Meu avô, pernambucano/ O
meu bisavô, mineiro/ Meu tataravô, baiano/ Vou na estrada há muitos anos/ Sou
um artista brasileiro (...)”.
O
próprio homenageado ao receber o título de CIDADÃO DO RIO GRANDE DO NORTE, em
Sessão Solene da Assembléia Legislativa, discorreu sobre a sua festejada
trajetória, invocando a aquarela: “Rio caminho que anda, (...) / tens a mania
doente/ de olhar só pra frente/ não voltas jamais! (...)”.
Naquela
oportunidade, Sílvio, que era forte e aguerrido, brindou-nos com detalhes
marcantes de sua vida, em tom eivado de emoção, cujo discurso não poderemos
deixar de ler nesta oportunidade:
“RIO
GRANDE DO NORTE – EU, CIDADÃO!
Nasci em Aracaju – Sergipe. O
primeiro rio da minha vida foi o Continguiba. Muito pequeno, contudo, graças ao
ofício do meu pai, nos transferimos para Salvador- Bahia e, logo em seguida,
para Recife, onde conheci meu segundo rio – o velho Capibaribe, aonde, moleque,
quase ia me afogando, coisa de que meus pais morreram sem ter notícia, graças a
Deus.
Adolescente, fui apresentado ao
velho Chico, em Sergipe, de onde guardo muitas e boas recordações, não fora
outra feita em que ia também me afogando, graças a uma trela do meu primo Antônio
Messias, já falecido.
A Recife cheguei menino dos meus
sete anos de idade e lá me criei, me formei, constitui família, até que o
destino me trouxe, já maduro, para meu quarto e último rio. Um rio grande, do
norte, sim senhor! E eu, que já amava mesmo sem antes ter sido apresentado, o
Potengi amado, amei o Rio Grande e o seu povo. Amor à primeira vista, como se
requer de um grande e sincero amor.
Falar da minha vida passada
ser-me-ia muito gratificante, mas, em vida já tão alongada, não fora a teimosia
do meu espírito um tanto jovial, seria por demais enfadonho aqui e agora
rememorar coisas do passado mais distante, por mais prazeroso que fosse para
mim.
Prefiro, portanto, relembrar alguns
bons momentos aqui já vividos, nestes quatro últimos lustros da minha
existência.
Egresso do primeiro concurso para a
magistratura trabalhista da recém-criada 13ª Região, que então englobava
Paraíba e Rio Grande do Norte, preferi de logo aqui permanecer. Talvez uma
forma de homenagear meu saudoso pai, que já havia se transportado para o outro
lado, já que sua primeira namorada, Enedi, residia em Areia Branca, e que fora
o primeiro grande amor de sua vida. Sim, confesso que meu desejo secreto era
conhecer Dona Enedi, de Areia Branca, sem que isso traísse a memória de minha
santa e saudosa mãe.
Esse desejo nunca fui alcançado. Em
compensação aqui encontrei uma boemia que me acolheu com muita cordialidade. E
o finado desembargador Tarcísio Monte logo se encantou quando me ouviu, nos
primeiros dias, executando ao piano a Praieira de Otoniel Menezes.
-Sílvio – indagou-me- como você já
conhece essa música?
-Essa música? Expliquei: era a
música que meu pai cantava a título de encerramento de nossas cantatas
domingueiras, embaixo das castanholas da nossa casa em Recife! Era a música que
ele mais gostava, e que me acostumei a ouvir desde que me entendo gente! Aliás,
outra que ele também cantarolava de vez em quando era Anjo Inocente, cuja letra
era de autoria (vim a saber depois) de Auta de Souza.
Aí, Tarcísio lançou-me o desafio:
agora você vai ter que aprender a tocar nossa valsa mais bonita – Royal Cinema,
de Tonheca Dantas.
Bem, isso é assunto para outra hora.
Comecei minha vida no Rio Grande
como juiz substituto, graças ao que percorri todas as Juntas de Conciliação
daquela época, ao mesmo tempo que participei, na gestão do primeiro presidente
desta Região, doutor José Rocha, da inauguração de outras tantas. Conheço,
portanto, praticamente toda a geografia desse valoroso Estado.
No final do primeiro ano, o acúmulo
de serviço não me permitiu aproveitar as festas de Natal e de passagem de ano
junto aos meus familiares. Recordo-me da solidariedade da colega de concurso, a
hoje desembargadora Perpétuo Wanderley, que teve a delicadeza de me convidar
para participar da ceia do Natal juntamente com sua família.
Embora não sendo maçom, aqui fui
recebido e apoiado com todo o carinho por autoridades maçônicas que acho de bom
alvitre não proclamá-las, mas reconhecer-lhes o gesto. A mim me basta dar esse
testemunho como um verdadeiro preito de gratidão. Aliás, já havia gozado desse
mesmo privilégio em Pernambuco.
Portanto, aqui chegado nos idos de
1987, comecei a ser apresentado a alguns amigos, inicialmente pelo saudoso
desembargador (àquela altura já aposentado) Alvamar Furtado, a quem já conhecia
quando atuávamos na 6ª Região. Naqueles primeiros anos de Natal, caminhávamos
diariamente na praia do Meio. Formávamos uma animada turma, ao que me recorde:
Alvamar, Carlos Lyra, o “barão” José Valdenício, Álvaro Alberto ... Muito devo
a Alvamar Furtado pelos sábios conselhos e orientações sobre minhas graves e
novas funções; a Carlinhos Lyra, por introduzir-me nos caminhos da música
local, eis que ele, então, exímio violonista e homem de invulgar cultura, tendo
inclusive me presenteado com um livro de Câmara Cascudo, de quem fora íntimo.
Depois, novos conhecimentos:
Ministro José Delgado (na época Juiz Federal) e que me deu, logo no início da
minha carreira, um grande apoio e um sábio conselho; comecei também a conhecer
pessoas que têm feito parte, direta ou indiretamente, do meu cotidiano: amigos
como Nei Leandro de Castro, Décio Holanda, Clênio Freire, Genibaldo Barros,
Vicente Serejo, Gilberto Avelino, Eider Furtado, Tarcísio Costa, José Maurício,
Laércio Segundo de Oliveira, Odúlio Botelho, Diógenes da Cunha Lima, Welington
Leiros, Luís Carlos Guimarães, “tio” Nei Marinho, Alcimar Torquato, Jahyr,
Jurandyr e Marcelo Navarro, Arruda Fialho, Silvério e seu querido e já falecido
pai, Raimundo Soares – todos ligados ao mundo jurídico ou a outras atividades,
alguns já de saudosa memória.
Também conheci e conheço grandes
mulheres potiguares, grandes não só pela beleza, como pela inteligência e
elegância. Destacarei algumas delas, pelos mais variados motivos, e em nome das
quais homenageio as demais: senhoras Olindina Freire, Lalinha Barros, Zezé Delgado,
Vilma de Faria, Maria do Perpétuo Socorro, Maria de Lourdes Alves Leite,
Cristina Siminéia, Maria José de Araújo, Noeme de Almeida, Gilvanete Pacheco,
Janete, Lucinha Lyra, Noilde Ramalho e tantas outras.
Aos poucos, fui também conhecendo
figuras ligadas à música ou àquilo que chamo de boemia santa, como os
pandeiristas Leão e Bossa, os violonistas Antonio Sete Cordas, Domício Damásio,
Dominguinhos, José Antônio, o inesquecível Neco, ritmistas como Jobertino
Santana, Jacó, vocalistas como Palmeirinha, Chicola, e até mesmo figuras
popularescas, como o sábio Carrapicho, Dequinha do Azulão e tantos outros.
Sei que estou cometendo um grande
erro em tentar nominar pessoas ou grupos, já que estarei fadado a cometer o
pecado da omissão. Mas não poderia deixar de homenagear, a meu modo, tantos
amigos que aqui conquistei. Os que não citei, não é tanto por falta de
lembrança, é para não esgotar a paciência dos que aqui vieram me prestigiar.
Eles que me perdoem.
Quero ainda, por fim, agradecer aos
parentes e amigos de outros Estados que se deram ao trabalho de aqui virem me
homenagear. De propósito não os nominarei, para não aumentar mais ainda minha
emoção.
Aos desembargadores, juízes e
funcionários do meu querido TRT, que aqui também se encontram, e aos queridos
membros da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte, à qual tenho a
honra de pertencer, os meus especiais agradecimentos.
Ao nobre deputado Robinson Faria,
que preside esta Casa do Povo e que dignifica a política potiguar, a quem devo
a honra de haver proposto meu nome a esta máxima distinção que pode almejar
quem, como eu, tanto ama o Estado a que serve com carinho de filho, bem como
aos demais deputados que apoiaram a indicação do meu nome.
À memória de meus pais, a quem devo
o exemplos de honradez, probidade e seriedade no trato da coisa pública.
Aos meus filhos.”
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Temos
satisfação de anunciar que mantivemos com o saudoso acadêmico uma fraternal
amizade: ele entendendo as minhas máculas e eu convivendo harmoniosamente com o
seu temperamento forte, mas leal.
Trabalhamos
juntos no TRT da 21ª Região, onde ele foi Juiz e Desembargador Federal do
Trabalho. Fomos seu cantor e ele, o pianista. Viajamos ao Piauí e ao Recife em
momentos inesquecíveis: em Teresina cantamos e tocamos ao lado de seu filho
Silvinho, que convivia com grandes músicos da terra; no Recife fomos hóspedes
de sua irmã professora Diva e do seu cunhado, o jornalista Bartolomeu Leal, na
sua aprazível casa de campo. Varamos a madrugada, porque o amor de Silvio
Caldas pelo seu piano e por suas composições era tanto, que o tempo se tornava
apenas elemento circunstancial ao seu enlevo e ao seu contentamento.
O nosso
homenageado surpreendia a todos. Cidadão sisudo, um tanto taciturno, de certo,
introspectivo, sabia fazer amizades e conservá-las!
Não era
de elogios fáceis e nem de atitudes hipócritas. Era direta a sua marca registrada: “sim, sim, não, não”. Com essas características Joaquim Silvio
Caldas era um homem solidário, honesto, incapaz de um ato atentatório à
dignidade humana!
Precisamente
em 27 de outubro de 2011, fui incumbido de saudá-lo na ALEJURN, cujo discurso
repito com satisfação:
“Silvio Caldas escreveu e publicou os
seguintes livros: Enquanto Houver uma
Flor; Conselho de Pai; A Construção do Brasil; e Rio Grande do Norte- Eu
Cidadão.
Exmo. Sr. Presidente...
Quando o
nosso Presidente Jurandyr Navarro delegou-me a honraria de saudar o Dr. Sílvio
Caldas, nesta solene reunião da ALEJURN, lembrei-me de antigos refrões
populares, próprio do pensamento sertanejo: “é a faca com o queijo”, ou mesmo,
“é mesmo que dar leite a gato...”, tal a satisfação que tive, ao ser escalado
para apresentar a este c. auditório, o meu particular amigo e maestro JOAQUIM SILVIO CALDAS, companheiro de
várias pugnas literárias e musicais, para se não falar na militância no E.
Tribunal Regional do Trabalho da 21ª, onde ele exerceu, com a maior dignidade,
a magistratura federal do trabalho, e eu, funções de assessoramento ao longo de
10 anos.
Foi, exatamente, nesse
período, que muito aprendi – pois tive o prazer de conhecer, dentre outras personalidades
da justiça especializada, o Dr. Sílvio Caldas e com ele concretizar uma amizade
que se alonga no tempo e no espaço, para minha inegável alegria.
Após o exercício da
magistratura de primeira instância, foi convocado para compor a 2T. do nosso TRT,
sendo, finalmente, nomeado para o cargo de Desembargador Federal do Trabalho,
quando se aposentou revestido da admiração de seus pares e dos próprios
jurisdicionados. Foi agraciado com a Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho Djalma
Marinho, no grau de Grande
Oficial.
Afirmou o escritor Jurandyr
Navarro, quando elaborou as orelhas do livro Rio Grande do Norte – Eu Cidadão – Natal/RN -2009 – impresso por:
CCS Gráfica e Editora, de autoria do nosso homenageado: “O nome de Silvio
Caldas, por todas essas virtudes e espirituais qualidades, foi um dos
escolhidos para formar o quadro da novel Academia de Letras Jurídicas do Rio
Grande do Norte, dentre outros dignos nomes, seus ilustres pares, diante do
reconhecimento e inconteste valor da sua marcante personalidade...”.
-----------------------------------------
Quanto ao cronista, assim se
manifestou Vicente Serejo, ao prefaciar o referido livro: “... o leitor de
Silvio Caldas vai encontrar a reunião dos seus olhares lançados todas as
semanas no Jornal de Hoje. Como se fosse um painel, um mural de fisionomias e
impressões humanas na forma de artigos, confissões, lembranças, poemas, canções
e descobertas. Sensações, inquietações e reflexões do homem diante da paisagem
física e humana de sua nova cidade. Essa Natal que ele escolheu para viver
porque aprendeu a amá-la e, por isso, é um dos nossos...”.
E nós da
ALEJURN, estimado amigo Silvio Caldas, cá dizemos de forma uníssona, que nos
sentimos honrados por tê-lo em nossa confraria e poder desfrutar do seu salutar
convívio e sorver as doses que a sua inteligência irradia. Relembro, nesta
oportunidade, o que escrevi na orelha de um dos seus livros, em junho de 2007:
“ Joaquim Silvio Caldas, é na verdade, um autêntico nordestino. Nasceu em
Aracaju e fez do Recife o seu segundo berço. Ali estudou, cresceu, amou tantos
amores, que nunca mais deixou de amar a vida, o mundo, a música, os amigos, a
magistratura e a justiça.” Portanto, caríssimo presidente e ilustrados
componentes desta Assembléia, afirmamos que o Dr. Sílvio Caldas é de fato e de
direito um de nós, com todas as honras que ele merece. Cabe, finalmente,
transcrever o genial OSCAR WILDE: “Viver é a coisa mais rara do mundo. A
maioria das pessoas apenas existe...”. Fique certo, caro maestro, que você
existe e vive com muita intensidade, para a felicidade de sua família, dos seus
amigos e, porque não dizer, do próprio Rio Grande do Norte. (Auditório da PGE –
ALEJURN – Natal, 27 de outubro de 2011).”
Não será
por demais lembrar as lições do grande neurocientista português ANTÒNIO DÁMASO,
no sentido de que: “As emoções passam com ondas de ira ou aplauso, mas
sentimentos, quando fixados, são a grande base sobre a qual se ergue o juízo de
valor”.
Na
verdade, o nosso pranteado confrade aprendeu a distinguir e distribuir as suas
emoções. Algumas vezes frementes e austeras ou mesmo irônicas. Em momentos
outros, ternas, humanas e solidárias.
Welligton
Leiros, talvez o melhor amigo de Sílvio Caldas, em inspirado acróstico,
desenhou o maestro com os olhos da admiração: “Sílvio, você, ao piano/ Ilumina o ambiente./Lá
... dó ... mi ... lá ... de repente,/ Vai compondo a melodia./ Inspirado, em sintonia,/O mundo é
seu... seu, somente./ Como
um rei, você se sente, /Ao
dedilhar o teclado. /Leve,
em dueto ou trinado, /Dá
mais sentido à poesia;/ Assim,
com tanta harmonia,/Sua
música é seu reinado.”
Outro Leiros, desta feita, o poeta
espírita Jansen, distingue Sílvio com este olhar: “Dr. Joaquim Sílvio Caldas/ Enxergando de longe as fraldas / do
Nordeste, à poesia;/ Sempre avesso à afazia/ Exímio por Excelência, /jamais
externou clemência / Aos abusos à gramática./ Doutor também em didática, / Amou
a língua do Lácio!/E nela se esmerou./Nisso tudo, era doutor!/Mais ainda nas
sentenças,/nisso tenho eu a crença/ Silvio Caldas não morreu/ Só passou pro
outro lado,/E não ficará calado,/ Onde a “vida” o acolheu!”.
Já
Eduardo Gosson, esse valoroso presidente de honra da UBE/RN, retrata Sílvio
Caldas da seguinte forma: “(...) Sílvio
Caldas como todo ser humano tinha o seu lado ameno: a música e a poesia. Tocava
piano e poetava. O nosso último contato foi através da poesia: Horácio Paiva me
mandou um poema matinal e eu respondi com outro poema que depois teve outro de
Sílvio, fazendo um diálogo poético. Em homenagem ao amigo que parte reproduzo
aqui o seu poema, que está num novo livro meu Poemas e Crônicas (eu não sabia que doía tanto!):
‘Poeta
é homem de Deus/ A luz não lhe faltará/ Pode até faltar o pão/ Mas a fome
passará./ Em cada verso inventado/ O poeta se inventa,/ Em cada rima ele tenta/
Criar um mundo encantado/ Ser poeta é dom de Deus,/ E o pão de cada dia/ Se
transmuda em poesia,/ Daí esses versos meus’. (...)”. (in DO
COTIDIANO EU FAÇO CRÔNICAS-III – SÍLVIO CALDAS E EU).
De sua
vez, o festejado Nei Leandro de Castro descreve assim os seus dotes
vocacionais: “Sílvio Caldas surpreende.
Ele concilia as suas funções de juiz do trabalho com as atividades de cronista,
articulista, músico e poeta. E está sempre exercendo com talento essas suas
habilidades extra-forenses. Fui apresentado aos poucos a esse homem múltiplo.
(...)”.
Receba
saudoso confrade, pelos braços de sua família, os votos de admiração dos que
fazem esta Entidade, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte,
e o respeito do povo potiguar!
Cleanto Wanderley, poeta dos
bons, das terras assuenses, já dizia que: “A vida passa/ passa a alegria/ passa
até mesmo a própria felicidade/ mas a saudade fica/ e fica o amor que é
eterno”.
“Mas sempre ouvi dizer que o amigo bom é que faz
o outro chorar”, conforme pensava
Alcides Carneiro. Não se preocupe não meu maestro Silvio
Caldas, o meu coração é forte e ainda suportará muita saudade.
Sílvio
foi pródigo nas suas atitudes!
Viva Silvio Caldas!
13/05/2015
Lei Áurea
Após uma longa batalha do
s abolicionistas para acabar com a escravidão no Brasil no século XIX, no dia 13 de maio de 1888 finalmente é sancionada a Lei Áurea, que tinha por finalidade libertar todos os escravos que dependiam dos senhores de engenho e da elite cafeeira.Até a promulgação definitiva da abolição da escravatura, muitas leis foram criadas no sentido de ‘libertar lentamente’ os trabalhadores forçados. Em setembro de 1871 foi criada a Lei do Ventre Livre, que proibia o trabalho de negros escravizados que não haviam atingido a maioridade; e a Lei dos Sexagenários, favorável aos escravos de mais de 60 anos.
Como regente do Brasil na época, a Princesa Isabel foi a responsável por assinar a Lei Áurea, depois de diversas tentativas empenhadas pelos integrantes da Campanha Abolicionista, que se desenvolvia desde 1870.
Também houve grande envolvimento com a liberdade dos escravos da própria Princesa Isabel. Ela votou a favor à Lei do Ventre Livre como senadora do Parlamento e financiou quilombos e refúgios de escravos com o fim de libertá-los.
O projeto da Lei Áurea foi apresentado pela primeira vez uma semana antes de ser aprovado pelo ministro Rodrigo Augusto da Silva. Passou pela Câmara e foi rapidamente avançado pelo Senado, para sanção da princesa regente. Foi uma medida estratégica, porque os deputados e alguns senadores queriam que o projeto de lei fosse aprovado de qualquer maneira enquanto o rei D. Pedro II viajava para o exterior.
A aprovação da lei acabou se tornando uma faca de dois gumes para a princesa. Se por um lado ela pretendia alavancar sua carreira política, acabou arruinando todas as possibilidades ao assinar a Lei Áurea. De fato, a sanção foi um enorme passo dado pelos liberais, que um ano mais tarde iriam derrubar o sistema monárquico em favor da Proclamação da República.
Por mais que a libertação dos escravos representasse a vitória de uma árdua batalha contra as elites, os negros não foram absolvidos em sua totalidade. Primeiramente, não houve um projeto efetivo de integração que permitisse que os antigos escravos se sustentassem de forma independente. Assim, muitos continuaram prestando serviços aos seus senhores para garantir moradia e alimentação.
De todos os países do continente americano, o Brasil foi o último a abolir a escravidão. Ainda hoje, mais de um século depois de aprovada a Lei Áurea, o regime escravocrata ainda resiste em lavouras e grandes pedaços de terra.
Fontes:
http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/ult1702u65.jhtm
http://www.historiabrasileira.com/escravidao-no-brasil/lei-aurea/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_%C3%81urea
Como regente do Brasil na época, a Princesa Isabel foi a responsável por assinar a Lei Áurea, depois de diversas tentativas empenhadas pelos integrantes da Campanha Abolicionista, que se desenvolvia desde 1870.
Também houve grande envolvimento com a liberdade dos escravos da própria Princesa Isabel. Ela votou a favor à Lei do Ventre Livre como senadora do Parlamento e financiou quilombos e refúgios de escravos com o fim de libertá-los.
O projeto da Lei Áurea foi apresentado pela primeira vez uma semana antes de ser aprovado pelo ministro Rodrigo Augusto da Silva. Passou pela Câmara e foi rapidamente avançado pelo Senado, para sanção da princesa regente. Foi uma medida estratégica, porque os deputados e alguns senadores queriam que o projeto de lei fosse aprovado de qualquer maneira enquanto o rei D. Pedro II viajava para o exterior.
A aprovação da lei acabou se tornando uma faca de dois gumes para a princesa. Se por um lado ela pretendia alavancar sua carreira política, acabou arruinando todas as possibilidades ao assinar a Lei Áurea. De fato, a sanção foi um enorme passo dado pelos liberais, que um ano mais tarde iriam derrubar o sistema monárquico em favor da Proclamação da República.
Por mais que a libertação dos escravos representasse a vitória de uma árdua batalha contra as elites, os negros não foram absolvidos em sua totalidade. Primeiramente, não houve um projeto efetivo de integração que permitisse que os antigos escravos se sustentassem de forma independente. Assim, muitos continuaram prestando serviços aos seus senhores para garantir moradia e alimentação.
De todos os países do continente americano, o Brasil foi o último a abolir a escravidão. Ainda hoje, mais de um século depois de aprovada a Lei Áurea, o regime escravocrata ainda resiste em lavouras e grandes pedaços de terra.
Fontes:
http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/ult1702u65.jhtm
http://www.historiabrasileira.com/escravidao-no-brasil/lei-aurea/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_%C3%81urea
Arquivado em: Brasil Imperial, História do Brasil
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