08/05/2015
Discurso de posse na Academia Cearamirinense de Letras e Artes Pedro Simões Neto - ACLA, pronunciado em 05 de maio de 2015, na Estação das Artes, Ceará-Mirim/RN, por JOSÉ EDUARDO VILAR CUNHA, ocupante da Cadeira 6, que tem como Patrono José Augusto Meira Dantas.
Inicialmente quero agradecer aos acadêmicos fundadores desta instituição, o Poeta Ciro José Tavares e a Poetisa Lucia Helena Pereira, a generosidade do irrecusável convite que recebi para preenchimento da vaga da Cadeira Nº 6 e, em seguida, pelo acolhimento com que minha candidatura foi referendada, em votação, pelos seus membros. Senhores acadêmicos: Vós me concedestes o privilégio de pertencer a esta academia e nela conviver com grandes nomes das letras e das artes. Senhora Presidenta, Senhores Acadêmicos, amigos e amigas, antes, porém, de fazer alusão ao patrono da cadeira nº 6, o Dr. José Augusto Meira Dantas, gostaria de relembrar a minha primeira viagem que fiz de trem com meu pai, ainda menino, para Ceará Mirim. O trem partiu da antiga Estação Ferroviária na Ribeira, em direção ao bairro das Quintas e com baixa velocidade transpôs a Ponte de Ferro sobre o Rio Potengi, a emoção que tive durante a travessia foi radiante. A viagem continuou na direção a Ceará Mirim e, lembro-me bem da parada em Extremoz, para a compra do grude, tão famoso daquela época e da paisagem verde do vale. Descemos do trem e fomos para Timbó visitar Mucio Villar Ribeiro Dantas e sua família, éramos parentes. Fui muitas outras vezes com os primos para Timbó, andávamos de cavalo por todo aquele Vale Verde. Para relembrar a família Villar de um passado recente, a primeira pessoa que menciono neste momento é o de José da Costa Villar, Tenente Coronel da Guarda Nacional, pai, de Heráclio de Araújo Villar que foi Magistrado, Politico e Senhor de Engenho. Minha mãe, Maria Álvares Villar nasceu em Ceará Mirim, justamente com seus sete irmãos, era neta de Heráclio, por conseguinte, sendo filho de Maria Villar, sou bisneto de Heráclio. A cadeira nº 6 tem como Patrono José Augusto Meira Dantas que, nasceu em Ceará Mirim em 11 de dezembro de 1873 as margens do Rio Ceará-Mirim no Engenho Diamante e que há mais de duzentos anos pertencia a sua família. Descendia de duas grandes famílias rurais nordestinas: os Meira de Vasconcelos da Paraíba, pelo lado paterno; e os Ribeiro Dantas, do Rio Grande do Norte, pelo lado materno. Augusto Meira como era mais conhecido fez o curso primário no Engenho Jericó sob orientação de seu pai e, posteriormente, formou-se na Faculdade de Direito em Recife em 1899, tendo sido laureado pela mesma escola. Augusto Meira era professor, Jornalista, escritor e Advogado, exerceu inúmeros Cargos Públicos, como Delegado de Polícia e Promotor Público, além de vários mandatos de deputado Estadual, Deputado Federal e Senador da República. Augusto Meira publicou muitas obras literárias entre as quais podemos destacar: Alciones; Falenas e Nenúfares; Secreto Esplendor; Caminho da Glória; Brasileis, epopéia nacional brasileira; Príncipe de Miller; Amazonas versus Pará; Ruy Barbosa e Rio Branco; Direito e Arbítrio; Selva Amazonas; No Centenário Ruy Barbosa, Joaquim Nabuco e Meira e muitas outras. Augusto Meira era membro das Academias de Letras do Pará e do Rio Grande do Norte e do Instituto Histórico de São Paulo. Ele acompanhara todas as mudanças, todas as transformações, políticas sociais, filosóficas de sua época. Sua palavra ainda se fazia ler e ouvir através de jornais ou de tribunais. Um livro de Augusto Meira que se tornou celebre foi Brasileis, epopéia nacional brasileira, cuja primeira edição data de 1927. Leio neste momento fragmentos das primeiras estrofes do canto 1, conservando a ortografia original. 1 As armas cantarei, trophéos e heróes Que, em rude esforço, e arrojo sobrehumano, Dilataram, á luz de tantos soes, Toda a gloria do génio lusitano! Direi a guerra, o sol, os arrebóes, As vastidões da selva e do oceano, Direi na lyra de ouro, sobranceira, Toda a vida da gente brasileira 2 Direi do sonho que se fez, um dia, Realidade excelsa e vencedora, Todo o vigor que de emphase, irradia, Espadanando em luz deslumbradora, Desta terra distante que escondia ' A tréva e o céo, e a vaga aterradora, Direi, da Pátria, os feitos e esplendores Mais alto que Camões e os seus lavores 3 Excelsa cruz de estrellas, scintillante, Que enches o céo de meu Brasil e, alçado, Outróra, foste o guia, ao navegante, Que, primeiro em suas praias foi lançado, Sê, também, o meu guia flammejante, Neste empenho de amor em que hei sonhado, Cruz de estrellas, refugio redemptor, Verte em minh'alma, teu feliz fulgor 4 Só teu aceno, ovante, me levara, Nesta empresa tão rude e arrebatada, Só tua luz alviçareira e clara Me daria vigor para a avançada! Salve, idylio de Deus que só, me ampara, Em meio ás emoções desta jornada, Derrama no meu canto, almo Cruseiro, Todo o esplendor do génio brasileiro 5 E vós. Auras formosas, que vogaes, Do Meio-Norte, á margem deleitosa, Lembrae-vos que sou vosso, inda que mais Feliz eu fora, em plaga mais ditosa; Dae-me o vig-or das lanças, dos metaes, Candentes, na cadencia numerosa, Dae-me o austero candor de Miguelinho, Filhos, que somos, desse mesmo ninho. Senhora Presidenta, Senhores Acadêmicos, amigos e amigas, me encontro extremamente feliz com a presença de todos vocês, mas, destaco com carinho a do meu filho Eduardo, da minha irmã Tania, Dal Santos e do meu sobrinho Mario. Muito Obrigado |
07/05/2015
Discurso de posse na Academia Cearamirinense de Letras e Artes Pedro Simões Neto - ACLA, pronunciado em 05 de maio de 2015, na Estação das Artes, Ceará-Mirim/RN, por GUSTAVO LEITE SOBRAL, ocupante da Cadeira 20, Patrono Francisco de Sales Meira e Sá
ACERCA DA TERRA DOS MEUS Machado de Assis, doce de coco; Pedro II, doce de figo; Rui Barbosa, doce de batata; Raquel de Queiroz, cocada; Graciliano Ramos, doce de laranja cristalizado; e Guimarães Rosa, doce de laranja da terra, e com uma ressalva, caseiro – eis a lista de preferência dos doces, levantada por Gilberto Freyre, que declara em Açúcar , o açúcar preferência nacional. É ainda Gilberto Freyre quem aponta que, vinda da ilha da Madeira, começa a tão antiga história da cana-de-açúcar no Brasil. Cascudo anota que no Rio Grande do Norte tudo partiu de Porto Mirim e Muriú, chegando primeiro ao vale do rio Ceará-Mirim a criação de gado e a notícia que ali se poderia fazer engenhos de açúcar. “Foi na embocadura do Baquipe, ou rio Pequeno (depois Ceará-Mirim), escreve Gilberto Osório, que os filhos de João de Barros [donatário da Capitania Hereditária do Rio Grande], vindos do Maranhão após a morte do parceiro do pai, Aires da Cunha [também donatário da mesma capitania], encontraram os franceses mancomunados com a indiada no comércio clandestino de pau-brasil. Isso aconteceu ai por 1535 ou 1536: antes, portanto de fundar-se a cidade do Natal” . Mas não se fizeram os engenhos. O rio Ceará-Mirim, irregular, não chegava a constituir correnteza necessária para mover os engenhos d´água. E assim dormiu o vale até 1845, quando implantam a primeira moenda movida à força animal, e nasceu então o primeiro engenho. Desperta a briosa vila do Ceará-Mirim, e começa a história de seus engenhos, seus bueiros e seus senhores. Vale em que, escreve Nilo Pereira, “surgiu com o ciclo da cana de açúcar a família única dos senhores de engenho – única pelos sentimentos, pela afeição à terra, pela grandeza do trabalho, pelas raízes morais e emocionais” . Um mundo. E neste mundo cabe, como nos versos do poeta Paulo de Tarso Correia Melo , Neste mundo cabe passado, futuro e fantasia sonho, memória e profecia neste mundo cabe a vida e a morte o ser, o devir e o poderia Foi quando chegou o tempo. E aquele homem de barba branca previu em sonho, que morto seria conduzido pelos trabalhadores do seu engenho, e de outra maneira não teria sido. O cortejo seguiu pelo vale até o cemitério de Ceará-Mirim, onde está sepultado. Olhos azuis, leitor de A Republica, membro do partido popular, filho de um português imigrante. Terno, bengala, mancava de uma perna e possuía um cavalo baixeiro em que ainda montava. O trole reservava para longas viagens. Uma delas foi para comprar as ferragens de seu engenho. Já a mulher, era filha do bacharel Manoel Hemetério Raposo de Melo, homem importante, sisudo, dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, cujas filhas casaram-se com os senhores de engenho do vale do Ceará-Mirim. No vale viviam estes bisavôs e toda esta família. A primeira mulher, então falecida, a irmã dela veio ajudar aquele homem a criar os filhos órfãos, e se casaram, formaram e educaram toda uma família, incontáveis gerações. Chamava-se João Xavier, o Joca, o bisavô; e Maria Umbelina, a Iaiá, a bisavó, e viviam no engenho Espirito Santo e Laranjeiras, de sua propriedade. Casa grande, plana, comprida, ao engenho se irmanava. O engenho era a fábrica de se produzir açúcar, os torrões transportados em lombo de animal até Igapó e ali de canoa pelo Potengi até os armazéns da Ribeira Em Natal. Aquele engenho era movido a besta na almajarra, nele conduziam a lida, tirador de cana, cambiteiro, mestre do açúcar, os trabalhadores do engenho. A cana plantada no solo de massapê, fértil, rico, fecundo, que bebia no rio Ceará-Mirim. Engenho em um único edifício abrigava todas as funções para o fabricação do açúcar, moenda, caldeira, casa de purgar e lá no alto o bueiro. Ainda havia a pastagem dos animais, o sítio de fruteiras, as mais diversas, e um roçado. A manga bacuri de Laranjeiras era o sabor inesquecível daquele tempo e luzia feito gemas nos caçuas de cipô, escreveu sinhazinha Magdalena Antunes , ainda menina vendo a feira. O caldo que escorria da moenda seguia para o paiol e do paiol para os tachos aquecidos pelo fogo da fornalha onde começava o cozimento e as chamas subiam o bueiro e ganhavam todo o vale. Formava-se o mel de engenho que seguia para bater e depois para a casa de purgar onde era despejado nas formas, assim o melaço terminava de cristalizar e virava o mais doce açúcar. E assim viviam. A mesa de refeições tinha para mais de vinte metros, numa cabeceira seu Joca, noutra dona Iaiá, o banho tomavam no banheiro novo de alvenaria que fizeram lá por trás da balança, no rio Azul, onde nadavam e picavam piabas. Alvoroço foi quando mataram uma jararaca. À noite, acendiam os candeeiros. Serafina, Adelaide e Isabel aprumaram discos no gramofone, bastava dar a corda para funcionar, e todos dançaram. Manoel tocava sanfona, Paulo fazia retratos e foi estudar medicina no Recife. Paulo ao mudar-se para faculdade da Bahia, deixou firme o noivado com a prima Abigail do Recife. Casaram-se, subiram a Serra do Martins e depois vieram parar em Ceará-Mirim. Avós meus, neles nasceram em mim o Ceará-Mirim que existia, e os bisavôs tomaram sentido e vida nos retratos, e a família, e o bueiro fumegando, e os tios Joaquim, João, José e os outros, e os primos. Francisco, um tio-avô, morava em Minas Gerais, e escrevia ao pai, Joca: Papai, Há muitos meses que não tenho notícias diretas suas, apenas o Paulo, ultimamente, me tem escrito, falando-me a seu respeito. Não sei se V.Mcê recebeu uns livros que mandei escritos por mim quando estava no Rio. Tenho muito que contar e estou agora em Alto do Rio Doce, que tem melhor clima e o povo goza de muita saúde. V.Mcê deve ter conhecido a Serra do Martins. Pois nem o frio de lá no inverno se compara com o calor de cá. Quando me lembro que o povo ai morre de sede enquanto a água aqui cascateia por todos os lados das montanhas mineiras, movendo engenhos de cana, moinhos de triturar milho e usinas de luz e força elétrica, tenho a impressão que Deus esqueceu do Nordeste. Como vai V.Mcê? Todos ai vão bem? O Manuel já casou? Paulo comunicou-me do noivado dele ficando eu satisfeito porque a moça é nossa prima do Recife, em 1925, era a mais bonita da capital. Não sei se algum dia voltarei ai. Dalila está sofrendo de uma aneurisma no coração, proibida de qualquer viagem por terra ou por mar. Além disso, os meus interesses aqui não me deixariam ir a não ser a passeio. Espero em Deus que a minha sorte se forme de uma vez e que eu possa algum dia ser útil ao nosso país e àqueles que precisam de mim. Recomende-me a Iaiá e aos de casa. Abençoe-nos a todos, Francisco, Alto do Rio Doce, 4-5-1932. Assim o álbum de família começou a ser recolhido na composição inacabada da genealogia da família que terminei por não terminar. Tudo começou a se escrever para contar a história desses bisavós e avós, todos. Nascia em mim o Ceara-Mirim que existia no caminho de passagem pelos engenhos, nas conversas sobre as coisas antigas com os tios-avôs José, João, das lembranças de menina de Lourdinha, nas risadas do mestre Tião Oleiro que contava, nos poemas de Adelle Sobral de Oliveira, na história da mordida da raposa, no acidente que houve certa vez na caldeira, no traço de luz em óleo nas telas de Thomé Filgueira. O Ceará-Mirim estava em todo o lugar, e tudo tocou a se transformar em história, no rastro de todo este acervo de memória que se contará no livro que há de nascer um dia. OBRAS CONSULTADAS FREYRE, Gilberto. Açúcar: uma sociologia do doce, com receitas de bolos e doces do Nordeste do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997 FREYRE, Gilberto. Açúcar: uma sociologia do doce, com receitas de bolos e doces do Nordeste do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997 CASCUDO, Luis da Câmara. História do Rio Grande do Norte. Ministério da Educação e Cultura, s/d ANDRADE, Gilberto Osório. Os rios do açúcar do Nordeste Oriental: o rio Ceará-Mirim. Ministério da Educação e Cultura. Publicações do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais. Imprensa Oficial, Recife, 1957, p.30 PEREIRA, Nilo. Apud ANTUNES, Magdalena. Oiteiro: memórias de uma sinhá-moça. 2ed. Natal: A.S. Editores, 2003,p.248-249 CORREIA, Paulo de Tarso. Sabença. In: CORREIA, Paulo de Tarso. Talhe Rupestre: poesia reunida e inéditos. Organização, introdução e notas Carlos Newton Júnior. Natal/RN: Edufrn, 2008, p.360 ANTUNES, Magdalena. Oiteiro: memórias de uma sinhá-moça. 2ed. Natal: A.S. Editores, 2003,p.201 |
06/05/2015
NERUDA: “Quem Morre”?
Valério Mesquita*
Recebi da advogada
conterrânea Euda Fernandes, com escritório no Rio de Janeiro, um belo texto de
Pablo Neruda que me fez refletir, mais do que já faço, sobre a vida. Diz o
grande poeta chileno que “morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem
não ouve música ou quem não encontra graça em si mesmo”. E prossegue: “morre lentamente quem evita
uma paixão, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos
sensatos ou quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os
mesmos trajetos”. Neruda é sábio no aconselhamento. São famosas e
universais as suas cartas e as perguntas
que um dia, aqui na Província, outro poeta, Diógenes da Cunha Lima, ousou
responder em livro com cem respostas às cem indagações do mestre de “Conto
Geral” e “Odes Elementares”.
Poeta do social e
revolucionário, Neruda sempre instigou quem o lê a interpretá-lo ou recriar as
suas vibrações líricas e reflexões existenciais, sem jamais perder a atualidade
sentimental de um mundo que se renova e se transforma. Daí, poder dizer com o
poeta sem qualquer despautério a sua criação intelectual, que também morre
lentamente quem deixa a vida pra depois ou ingressa em holocausto na
carbonizada política partidária do Rio Grande do Norte; morre lentamente o
funcionário que desde a instituição do plano real não recebe aumento de
salários; morre lentamente quem vive do salário mínimo ou depende do SUS ou da
rede pública hospitalar para viver; morre lentamente quem é correntista da rede
bancária brasileira, submetido aos cheques e traumas das CPMF’s, taxas e juros
extorsivos; morre lentamente quem adotou como profissão a atividade de produtor
rural nesse país, sem crédito, sem proteção e sem nenhum incentivo oficial;
morre lentamente quem se julga beneficiado pela enganosa qualidade do ensino
universitário hoje praticada no Brasil; morre lentamente quem acreditar na
eficiência da segurança pública, caso já não tenha sido ceifado de vez; morre
lentamente quem acreditar que o Brasil não é um país das maiorias corruptas,
praticante da lei da vantagem; morre lentamente quem crê na recuperação do real
perante o dólar estratosférico e inflacionário; morre lentamente quem acredita
que o bolsa família não é moeda eleitoral e na transposição das águas do Rio
São Francisco. E, por fim, com o perdão do poeta Pablo Neruda, morre
lentamente, daqui pra frente quem acreditar nos eleitos que gastaram e que
fizeram muito barulho para nada; dos que sonharam ou se iludiram com a mais
difícil e cada vez mais enganosa atividade pública: a política. Com a sua
permissão poeta, eu concluo, à maneira romana: saúdo aqueles que vão morrer por
acreditarem que a corrupção vai acabar e os culpados serão punidos.
(*) Escritor.
05/05/2015
Amigo Marcos Aurélio de Sá
Por: Augusto Coelho Leal, sócio efetivo do IHGRN
Meu bom amigo
Marcos. Amigos não só são aqueles que vivemos em contato diariamente, mas para
mim, aqueles que guardamos dentro do peito, que os poetas dizem, dentro do
coração.
A nossa
amizade Marcos, começou no Colégio Nossa Senhora de Fátima, quando nossos pais
fizeram a nossa matricula para o curso de preparação da primeira comunhão, hoje
conhecido como primeira eucaristia. Na época o Instituto era apenas de
matriculas femininas -alunas- e lá restávamos, eu, você e nosso poeta e
escritor João Gualberto Melo, de roupas brancas, e velas bancas, “pareciam três
anjinhos” entre belas meninas.
Éramos
crianças, mas dali surgiu um sentimento muito sincero entre nós dois.
Passou-se o tempo,
cada um de nós fomos tomando o nosso destino. Mas, novamente fomos de uma
maneira ou de outra ficando perto.
Você casou-se
com uma moça de uma família onde fiz bons amigos, Humberto, Eudes e Lino, foram
meus amigos de infância, pois morei na Rua Seridó e joguei basquete pelo Santa
Cruz Futebol Clube. Quando criança ia muito na casa de seu sogro, onde
principalmente com Eudes e Lino planejamos as nossas traquinices de infância.
Pois bem
amigo, o tempo foi passando, e quando tinha quarenta e sete anos de idade, tive
e tenho uma doença que me impediu de andar por muito tempo. Fiquei de cadeira
de rodas e aquilo bulia – sou nordestino- muito comigo, ficava muito inquieto,
já não podia me locomover com facilidade, e com sou muito buliçoso, aquela
situação me incomodava muito, não sabia o que fazer. Mas, minha esposa, minhas filhas,
genros, netos e alguns amigos, entre eles Dr. Rogério Santos, me davam forças
para continuar. O que fazer? Era a pergunta.
Passava meu tempo dentro de casa. Não trabalhava e não ia as ruas para
fazer minhas “traquinices.” Aprendi depois de “velho” dedilhar um teclado
musical, mas não era o bastante.
Você teve a idéia de lançar um jornal
vespertino, fui um dos primeiros assinantes, depois a brilhante idéia de abri
uma pagina para articulistas, fui um dos primeiros. Aí eu dei o “pulo gato” e
você, com sua equipe me acolheram com muito carinho. Novamente o destino nos
colocava um perto do outro. Você não sabe amigo, como me ajudou, pois novamente
comecei a fazer contato com as pessoas que gostavam dos meus escritos,
telefonavam para mim, ou comentavam comigo nas raras vezes que saia às ruas.
Lancei o livro
Rosinha dos Limões, logo nas primeiras páginas o meu agradecimento a você e a
sua esposa e também para toda sua equipe, em particular a Roberto Canuto. O
lançamento do livro foi um sucesso, mas, esse sucesso ocorreu em particular ao
seu apoio, a nossa amizade, e amizade de muitos amigos que fiz durante minha
vida.
Ainda no
lançamento de meu livro, o destino nos tornou mais perto novamente. Recebi
carinhosamente o abraço de um filho de um grande amigo, irmão - Carlos Alberto
Liberato-, e neste momento ele me comunicou cheio de alegria - pois sabe do
carinho que tenho por você – que é casado com uma sua filha. Fiquei muito
feliz, pois de uma maneira ou de outra, mesmo sem os contatos diários o destino
nos tornava próximos.
Eu sempre
disse Marcos, que amigos não são para balançar a cabeça concordando com que o
outro diz, mas para aceitar e discordar –quando achar que necessário- respeitando
um ao outro.
Discordamos
apenas uma vez aqui neste Jornal, e você teve a dignidade de me responder e de
publicar as minhas ponderações, pois para mim você é um homem digno e que faz
parte com muito orgulho da História do nosso Rio Grande do Norte, que tanto
gosto de escrever.
Vou sentir
saudades de O Jornal de Hoje, pois sou saudosista e gosto da leitura no papel,
mas saiba que todo esse tempo valeu, pois ficará eternamente nas nossas
memórias e em nossos corações.
Um até breve
amigo, e queira Deus que permaneçamos unidos. Um grande abraço.
04/05/2015
São Romão no século XIX
João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Matemático, sócio do IHGRN e do INRG.
Há muitos desencontros nas informações dessa localidade, que hoje recebe o nome de Fernando Pedroza. No próprio site da Prefeitura, encontramos a seguinte informação: Vila de São Romão era assim chamada devido a uma antiga moradora por nome Crináuria que doou a imagem de São Romão para a 1ª capela, que fica ao lado da estação ferroviária, que hoje funciona como armazém. Outros disparates aparecem em vários textos sobre Fernando Pedroza.
Por isso, resolvi escrever algumas linhas sobre São Romão, usando principalmente registros da Igreja do século XIX. Meu interesse por São Romão vem do fato de alguns ascendentes meus terem vivido por lá.
Manoel Ferreira Nobre, em suas “Breves Notícias Sobre a Província do Rio Grande do Norte, não menciona São Romão, mesmo escrevendo sobre Angicos; Nestor dos Santos Lima quando escreveu, sobre o esse mesmo município, disse o que se segue sobre São Romão: novo e florescente povoado, a 10 km da Vila, sobre a estrada de Lages-Angicos, fica à margem direita do Rio de Angicos, tem grande número de casas e uma capela, recentemente construída e dedicada a São Romão. Tem escola rudimentar (1925) e feira semanal. Mais adiante, quando tratou da Fazenda São Romão, informou como pertencente a Joaquim Firmino Filho. Fala também sobre um serrote de mesmo nome.
Aluízio Alves, em “Angicos”, fala sobre o distrito de Fernando Pedroza, a partir da construção da estrada de rodagem Lages-Santana do Matos: São Româo era, a esse tempo, uma extensa mata, propriedade de vários agricultores, entre os quais Fernando Pedroza, Joaquim Firmino e Miguel Trindade.
Minha avó, Maria Josefina Martins Ferreira, por exemplo, embora tenha nascido na Fazenda Cacimbas do Vianna, hoje localizada em Porto do Mangue, foi batizada em São Romão, como podemos ver do registro a seguir: Maria, filha legitima de Francisco Martins Ferreira, e Francisca de Paula Martins Ferreira, moradores nesta Freguesia, nasceu aos quatro de dezembro de mil oitocentos e setenta, e foi por mim solenemente batizada, no sítio São Romão, desta mesma Freguesia, aos 10 de agosto de mil oitocentos e setenta e um; foram padrinhos, o major José Martins Ferreira (avô paterno da batizada), por seu procurador Vicente Ferreira Xavier da Cruz, e Maria Ignácia Rosalinda Brasileira; Vigário Felis Alves de Souza. Dona Crináuria, citada acima, minha tia, era filha de Miguel Francisco da Trindade e Maria Josefina Martins Ferreira. Foi casada com Joaquim Firmino de Deus Gonçalves Filho.
Minha bisavó, Francisca de Paula Maria de Carvalho (nome de solteira), também foi batizada na mesma localidade da filha: Francisca, branca, filha legítima de Vicente Ferreira Xavier da Cruz e Maria Ignácia Rosalinda Brasileira, nasceu aos 13 de fevereiro de 1848, e foi batizada, no Sítio São Romão, aos 30 de março do mesmo ano, pelo Reverendo Felis Alves de Sousa, sendo padrinhos João Luis da Rocha, solteiro, e Izabel Francisca de Sousa, viúva, do que para constar mandei fazer este assento, em que me assino. Felis Alves de Sousa, Vigário Colado de Angicos.
Minha tia bisavó, Maria Ignácia Teixeira do Carmo (nome de solteira), também foi batizada em São Romão, como podemos ver do registro a seguir: Maria, branca, filha legítima de Vicente Ferreira (Xavier) da Cruz, e de sua mulher Maria Ignácia Rosalinda (Brasileira), naturais e moradores neste lugar, nasceu a 28 de fevereiro de 1846, e foi por mim solenemente batizada, no Sítio São Romão, a 17 de junho de mesmo ano, sendo eu mesmo padrinho, digo = Procuração que dei a José Thomas Pereira, e Rita Teixeira da Conceição; do que para constar, faço este assento, em que assino. Felis Alves de Sousa, Vigário Colado de Angicos. Maria Ignácia, quando casou com José Francisco Alves de Souza, passou a se assinar como Maria Ignácia Alves de Souza. Era a mãe do capitão J. da Penha, de José Anselmo e de Maria das Neves, esposa do jornalista Pedro Avelino.
A maioria dos registros que encontro da época, em São Romão, está ligado ao meu trisavô Vicente Ferreira Xavier da Cruz, e, por isso acredito que ele era o proprietário da Fazenda ou Sítio São Romão. Vejamos mais um registro de filho de Vicente: Manoel, branco, filho legítimo de Vicente Ferreira Xavier da Cruz e de sua mulher Maria Ignácia Rosalinda Brasileira, nasceu aos 21 de novembro de 1850, e foi por mim solenemente batizado, no Sítio São Romão, desta Freguesia, aos 10 de dezembro do mesmo ano, sendo padrinhos Nossa Senhora da Conceição e Hermenegildo Pinheiro de Vasconcellos, branco, casado, do que para constar fiz este assento, em que assino. Felis Alves de Sousa; Pouco tempo depois, Manoel, em 27 de janeiro de 1851, foi sepultado, tinha pouco mais 2 meses. No registro consta que seus pais eram moradores da Fazenda São Romão.
O registro mais antigo da Freguesia de Angicos, de um sacramento em São Romão, foi do casamento de Ignez, escrava de Vicente Ferreira Xavier da Cruz, com Manoel Antonio, no dia 30 de outubro de 1844, na presença de Joaquim Ignácio Pereira e João Luis da Rocha.
Aos dez de outubro de 1872, quem casava no Sítio São Romão, com dispensa de afinidade ilícita, e na presença de Francisco Martins Ferreira e Cosme Teixeira Xavier de Carvalho, era Marcolino de Freitas Gogó, com Vicência Maria da Conceição, ele do Assú e filho de Alexandre Nogueira da Silva e Ana Maria da Conceição, falecidos, e ela de São José de Angicos, e filha de José Teixeira Branquinho e Generosa Maria da Conceição. Essas testemunhas estavam ligadas ao meu trisavô Vicente Ferreira Xavier da Cruz: o tenente-cirurgião Francisco Martins Ferreira, meu bisavô, era genro dele, e Cosme Teixeira Xavier de Carvalho, meu tio bisavô, era filho.
Quando José da Penha falou: “Tabuleiros, onde minha infância perseguiu borboletas. O meu coração tem a dureza daquelas pedras. E com este rochedo de carne, hei de esmagar a oligarquia dominante”, talvez estivesse falando daquelas pedras que circundam São Romão, terra de sua mãe, Dona Maria Ignácia Alves de Souza.
03/05/2015
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