09/04/2015

Nelson Patriota e a importância da crítica literária

 
Thiago Gonzaga
É mestrando em literatura potiguar contemporânea na UFRN

Há um fenômeno atualmente na literatura local, que não sei identificar se acontece em outros Estados. Nunca se produziu tanta literatura como nos dias atuais no Rio Grande do Norte. Arrisco-me até a dizer que é muito maior o número de escritores do que de leitores (pelo menos em se tratando de livros locais), e embora haja muitos escritores  - que, aqui coloco de forma generalizada, sem fazer juízo crítico, sobre as respectivas obras - a crítica literária é quase inexistente no Estado. Porém, a literatura do Rio Grande do Norte pode se orgulhar, de ter um crítico literário que talvez seja o melhor e mais completo em mais de 150 anos de história literária.

Poeta, ficcionista, jornalista e crítico literário, Nelson Patriota publicou um livro assaz importante para manter acesa a chama da crítica em solo potiguar, “Uns Potiguares”, obra que reuniu múltiplos textos sobre obras literárias locais e nacionais, alternando ensaios com características mais analíticas e outros em forma de resenhas/registros literários. Filho de poeta, e sobrinho de um dos maiores intelectuais potiguares, Nelson  tem um longo currículo: foi editor do jornal “O Galo” (FJA) por muitos anos e nos anos 1980 editou o segundo caderno na  Tribuna do Norte . Também é autor de biografias, traduções, dois livros de contos “Colóquio com um Leitor Kafkiano”,e  “Um Equívoco de Gênero e Outros Contos”, além de um livro de poemas denominado, “Livro das Odes”.

Compreendo que a função de “Uns Potiguares”, que é também uma das funções da crítica literária,  é buscar a melhor leitura para as obras em foco e, consequentemente, para melhor entendimento do universo humano e literário, e isto Nelson Patriota faz extraordinariamente bem em seus textos críticos , além de ser  um escritor consagrado pela obra ficcional e poética que já produziu. 

Em “Uns Potiguares” ele dá enfoque e comenta sobretudo construções literárias dentro do universo da literatura potiguar.  Além de explorar o uso da capacidade de criação inventiva dos autores, faz uma análise estilística, inclusive sobre  influência das escolas e movimentos literários em suas obras, dentre outros aspectos,  numa tentativa,  querendo ou não, de  compor um cânone local.

A palavra crítica origina-se do grego Krinein, que quer dizer quebrar. A ideia da crítica é ‘quebrar’ uma obra em pedaços para se fazer uma espécie de análise. Torna-se  necessário  conhecer e entender as partes do objeto que será analisado para justamente descrevê-lo. A partir daí, o crítico faz sua própria interpretação de acordo com o contexto em que se encaixam o escritor e sua obra. E é, justamente, essa a operação que a crítica de Nelson efetua ao fragmentar e desalinhar determinada obra literária, reinserindo-a em possíveis contextos, sejam eles históricos, artísticos ou sociais.

O livro “Uns Potiguares” tem papel relevante na dinâmica interna da cultura literária local, e diga-se de passagem, nacional; porque estabelece a relação entre as obras e as características literárias de cada cenário cultural dentro de certo período.  Através das críticas melhor se pode avaliar o conteúdo estético numa determinada situação da história literária. Este aspecto histórico faz com que a literatura de modo geral se torne um dos instrumentos mais presentes de que se utiliza uma sociedade para entender as questões sociais e políticas.

Quando Nelson Patriota interpreta um texto literário, age de maneira a reconhecer a construção e a permanência da literatura como expressão de estratos dos conflitos humanos e interage com a obra num diálogo intelectual dinâmico, propiciando a junção da literatura com a crítica, numa representatividade mútua, feita de encontros e desencontros com a verdade de cada uma delas. 

A crítica de Nelson Patriota seja ela de caráter jornalístico, ou não, relaciona-se com a literatura, sobretudo com a contemporânea. Na maioria das vezes intentando interpretar e analisar a obra literária, busca justamente valorizá-la através dos elementos específicos de uma obra de arte. 

A arte literária em geral sempre foi motivo para reflexões, ou melhor, sempre foi debatida, em diferentes épocas e culturas. Afrânio Coutinho diz que devemos começar nosso estudo sobre a crítica literária por quem começou a estudá-la, os gregos: “Foi entre os dois grandes Platão e Aristóteles que se iniciou, por assim dizer, a concepção da literatura e, consequentemente, a crítica literária”. 

Desses nomes, surgiram os grandes críticos, que optaram pela corrente de um ou de outro filósofo, platônica ou aristotélica. Aqui no Rio Grande do Norte, estamos bem representados na atualidade.

08/04/2015

As dúvidas do Dr. Pares


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Matemático, sócio do IHGRN e do INRG.
 
Recebi do Dr. Pares Ferreira Pompeu de Sousa Brasil, o seguinte e-mail: Caro Professor João Felipe da Trindade. Lí com especial interesse seu artigo sobre o testamento de D.Clara Joaquina escrito pelo Senador Thomaz Pompeu de Sousa Brasil. Causou-me grande surpresa o comentário sobre a avó do senador que seria Joanna de Melo, casada com o Cel. Antonio José de Sousa Oliveira, filho de Francisco de Sousa e Oliveira e Tecla Rodrigues Pinheiro.Em todos os trabalhos sobre o assunto sempre vejo como esposa de Antonio José a senhora Ana Teixeira de Melo. Gostaria de saber de seu estudo sobre o nome de Joana de Melo, com sobrenome muito parecido com o de Ana Teixeira de Melo, seriam filhas do mesmo casal?

Para resolver as dúvidas de Pares, enviei imagens do casamento de Antonio José com Joanna Ferreira, como também do batismo de Thomas de Aquino, filho desse casal, e pai do senador.

Pelo registro de casamento, Antonio José de Souza e Joanna Ferreira contraíram matrimônio, em 21 de maio de 1779, sendo ele filho de Francisco de Souza e de Tecla Rodrigues, e ela de Francisco Pinheiro Teixeira e Dona Bonifácia Antonia de Mello. Foram testemunhas o tenente e capitão-mor José Baptista Freire, solteiro, e Antonio Carneiro Gondim de Albuquerque.

O registro de batismo de Thomas de Aquino traz os nomes mais completos: Thomas, filho legítimo de Antonio José de Souza e Oliveira, e de Joanna Ferreira de Mello, neto pela parte paterna de Francisco de Souza e Oliveira, e de Tecla Rodrigues Pinheiro, pela materna de Francisco Pinheiro Teixeira e Dona Bonifácia Antonia de Mello, viúva, todos naturais desta Freguesia, nasceu aos sete de março de 1780, batizado pelo Vigário de Extremoz Francisco Nunes de Souza (o mesmo que casou Antonio e Joanna), na Matriz; foram padrinhos o Padre Bonifácio por procuração do Vigário desta Freguesia, Pantaleão da Costa de Araújo, e Bonifácia Antonia de Mello, aos 20 do mesmo mês e ano.

O nome Joanna Ferreira de Mello foi herdado da avó, mãe de Dona Bonifácia, que era casada com Estevão Velho de Mello. Dona Bonifácia faleceu aos 4 de fevereiro de 1807, com 80 anos. Pouco tempo depois, em 2 de abril de 1807, falecia o capitão Antonio José de Souza.  Maria Joaquina de Souza, que nasceu em 1782, uma irmã de Thomas de Aquino, casou em 1804, com Estevão José Dantas, filho do coronel Miguel Ribeiro Dantas e de Antonia Xavier de Barros. Getrudes Tereza de Souza, outra irmã de Thomas de Aquino, foi casada com o primo, Antonio Bezerra Cavalcante, filho de João Cavalcante Bezerra, natural de Olinda, e de sua segunda esposa, Getrudes Tereza Ignácia de Oliveira. Esta Getrudes era irmã de Antonio José de Souza e Oliveira.

Escreveu depois Pares: consta no diário do senador Pompeu que seu pai Thomaz de Aquino faleceu, se não me engano em Guaraciaba do Norte-Ce em 23 de novembro de 1839. Saberia algo mais sobre Francisco de Sousa Oliveira, pai de Antonio Jose de Sousa e Oliveira que alguns colocam ainda o Catunda como último sobrenome.

Em seguida, encaminhei para Pares a imagem do casamento de Francisco de Sousa e Oliveira, que transcrevo para cá: Aos dezessete de janeiro de mil setecentos e trinta e cinco anos, na capela do Senhor Santo Antonio do Potegy, desta Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação do Rio Grande do Norte, feitas as denunciações nesta Matriz, e na dita Capela, e na do Senhor São Gonçalo, lugares próximos aonde são moradores os contraentes, e na Matriz de Nossa Senhora do Rosário de Jaguaribe, onde foi morador o contraente, sem se descobrir impedimento, sendo presentes por testemunhas o coronel João Pereira de Veras, casado, o capitão Theodósio da Rocha, viúvo, Dona Theodósia da Rocha, filha do dito, e Paula Barbosa, dona viúva, pessoas todas conhecidas, e moradores desta dita Freguesia, de licença minha, o padre Miguel Pinheiro Teixeira assistiu ao matrimônio que entre si contraíram o tenente Francisco de Sousa de Oliveira, morador que foi na Ribeira do Jaguaribe, viúvo, que ficou da defunta Izabel da Costa, filho legítimo do capitão Felis de Souza e de sua mulher Antonia Leite de Oliveira, já defuntos, e Tecla Pinheiro de Barros, filha legítima de Francisco Pinheiro Teixeira e de sua mulher Maria de Barros da Conceição, natural desta Freguesia e nela todos moradores, e lhes deu as bênçãos, guardando-se em tudo a forma do Sagrado Concílio Tridentino, e pelo assento que veio do dito Padre, mandei fazer este assento em que por verdade assinei. Manoel Correa Gomes.

Valéria Ferreira, uma filha do tenente Francisco de Souza e de Tecla, casou com Antonio Teixeira Coelho, filho do português Antonio Teixeira Coelho e de Ignácia de Abreu. Em 1765, nasceu Mariana filha desse casal, que teve como padrinhos o tenente Francisco Pinheiro Teixeira, casado, e Antonio José de Sousa, solteiro. O padre Pantaleão reclamou do fato de serem padrinhos duas pessoas de mesmo sexo o que contrariava o disposto nos Concílios e Constituição.

Vamos encontrar Felis de Sousa, o pai de Francisco, em 1692, como padrinho de Antonia, filha do capitão Manoel da Costa Bandeira e de Anna Gomes da Costa, na Matriz de Nossa Senhora da Apresentação.

Em 14 de julho de 1697, Felis de Souza e sua esposa Antonia Leite batizaram o filho Felis, tendo como padrinhos João de Souza Pereira Catunda e Antonia Ferreira; em 16 de maio, batizaram, na Capela Santo Antonio do Potengi, João, sendo padrinhos o padre Francisco Bezerra de Góis e D. Margarida da Rocha, filha do capitão Theodósio da Rocha; em 22 de agosto, na mesma capela, batizaram Pascácio, sendo padrinhos Francisco Barbosa e Joanna de Freitas, filha do capitão João da Costa de Almeida.

Esse João Pereira de Souza Catunda, em 14 de dezembro de 1692, foi padrinho, junto com Dona Antonia Leite de Oliveira, de Lautério, escravinho de Jerônimo Cesar e Águeda de Albuquerque; em 1697, foi padrinho de Maria, filha de Paschoal de Freitas Costa e Anna Gomes de Almeida.
Thomas de Aquino, pai do senador Pompeu, era primo legítimo de Frei Miguelinho.
Jazigo de Thomaz Pompeu de Souza Brasil

07/04/2015


PRESIDENTE VALÉRIO MESQUITA ULTIMA O RELATÓRIO DE GESTÃO 2014

O Presidente VALÉRIO ALFREDO MESQUITA concluiu o Relatório de Gestão correspondente ao exercício de 2014.
No documento apresenta todas as realizações do referido exercício, que foram muitas, graças à liberação de recursos por parte do Estado do Rio Grande do Norte, através da Fundação José Augusto e em função de emendas parlamentares apresentadas, como também de Convênios celebrados com a Prefeitura Municipal do Natal.
Houve a restauração do salão nobre e do piso, aquisição de poltronas escamoteáveis, que servem para as sessões e como sala de aula.
Também merece registro a revisão geral das partes elétrica e hidráulica, recuperação de cadeiras antigas de couro e colocação de aparelhos de ar condicionado, permitindo a climatização dos ambientes.
Também ocorreram várias doações da iniciativa privada e o início de suas sessões solenes.
Como meta para o exercício corrente está recuperação de documentos, digitalização de parte do acervo e revisão no inventário dos seus acervos bibliográfico e documental, para o que já foi desgnada Comissão, sob o comando do Diretor Edgard Ramalho, de forma a permitir o uso mais eficiente dos pesquisadores.
O IHGRN acaba de receber importante doação de 10 computadores, com respectivos equipamentos, para ser dado início à era de pesquisa através da informatização.
O quadro de sócios foi acrescido de novos pesquisadores e escritores e será realizado um recadastramento para avaliar os sócios que não mais pretendam continuar nos quadros da Casa da Memória, providência que será iniciada neste mês de abril.
Por derradeiro, aguarda-se o atendimento dos pagamentos das anuidades a fim de que o Instituto possa honrar seus compromissos financeiros.

06/04/2015

Quase zero é zero


Tomislav R. Femenick – Contador e mestre em economia.
Sócio efetivo do IHGRN.

Como contador tenho que trabalhar com números absolutos, portanto tenho que considerar os números com a representatividade que eles têm. Assim, “1” representa uma unidade de valor (um real de disponibilidade, uma máquina, de débitos com terceiros etc.). Em outras palavras: qualquer número deve ser entendido pelo ser valor absoluto, o valor próprio do algarismo.
Todavia, como economista tenho que me comportar de maneira diferente; nem sempre os números têm que ser vistos por esse prisma, principalmente quando eles são resultados de estatísticas. Nessas ocasiões tenho que olhar os números por outro ângulo, pelo seu valor relativo, pois ele é um valor posicional a uma outra grandeza.
A recente divulgação do PIB de 2014 na ordem de 0,1 foi uma paulada, o pior resultado para a economia nacional, desde 2009, ano do auge da crise econômica mundial, quando a marolinha que Lula dizia se transformou em tsunami. Porém acho que o resultado do ano passado foi pior ainda. Tudo é possível, levando em consideração o comportamento do governo de alterar dados e de adotar uma contabilidade criativa para mascarar resultados.
Ora, se em termos relativos quase zero pode ser considerado zero, dependendo da extensão decimal adotada e, ainda, o histórico de não rigor matemático dos atuais donos do poder, nada nos impede de suspeitarmos de que nosso crescimento foi negativo e não somente zero. Porém o mais importante é analisarmos como o governo está tratando do assunto. Adotar medidas para mudar o rumo é corretíssimo. Porém há que se considerar que medidas são essas. Até agora o ministro Levy (um estranho no ninho petista) somente anunciou medidas que tiram recursos dos trabalhadores, das empresas e dos investimentos, fugindo do âmago do problema que são os gastos crescentes com a manutenção da máquina governamental. No final do mandato FHC o executivo federal possui algo entre 70 e 80 mil funcionários, hoje são quase 230 mil; além de que os salários dos altos escalões subiram muito além dos índices inflacionários. Um exemplo típico é a proposta – que será discutida na próxima assembleia de acionistas – de um aumento de 13% para executivos da Petrobras, empresa que vive a maior crise de sua história.
Por outro lado, são tantos os funcionários, são tantos os cargos de mando que a máquina pública emperrou e não consegue andar, resultado da burocracia criada para justificar esses cargos. Sobrou para a iniciativa privada que tem que viver com tantas exigências e tantos procedimentos que tem que seguir. Há ainda o fato de que ninguém decide nada e o jogo de empurrar protela tudo.
Outro ponto a ser considerado é a enormidade de obras que foram iniciadas e que estão paralisadas ou quase parando. A transposição do Rio São Francisco, a Ferrovia Transnordestina, as linhas de transmissões dos parques eólicos são apenas alguns exemplos de investimentos que deveriam estar produzindo recursos, mas que, não concluídos, estão aumentando os custos.
Enquanto se contingencia os investimentos de interesse nacional, o governo federal continua gastando nossos impostos com projetos que beneficiar governos amigos. Não bastasse o perdão das dividas de ditadores africanos etc. e tal, agora quer investir R$ 60 milhões para reformar a usina térmica Rio Madeira e doa-la à Bolívia de Evo Morales. Nesse negócio dois aspectos têm que ser destacados. Primeiro, nós estamos vivendo uma crise energética sem precedentes e nada justifica gastarmos dinheiro para resolver problema de geração de energia dos outros, por mais hermanos que sejamos. Segundo, Evo Morales é aquele mesmo que mandou o exercito da Bolívia invadir as instalações da Petrobras.

 Aumentar juros, impostos, gasolina, conta de luz e outras medidas semelhantes são medidas fáceis de tomar. Difícil é conter os gastos do governo, que estão fora de qualquer controle.

05/04/2015

ESPIRITUALIDADE » Comentário do Evangelho

DOMINGO DE RESSURREIÇÃO Evangelho de João 20, 1-9

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus bem de madrugada, quando ainda estava escuro. Ela viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. Então saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo que Jesus amava.
E disse para eles: "Tiraram do túmulo o Senhor, e não sabemos onde o colocaram."Então Pedro e o outro discípulo saíram e foram ao túmulo. Os dois corriam juntos. Mas o outro discípulo correu mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao túmulo. Inclinando-se, viu os panos de linho no chão, mas não entrou.
Pedro, que vinha correndo atrás, chegou também e entrou no túmulo. Viu os panos de linho estendidos no chão e o sudário que tinha sido usado para cobrir a cabeça de Jesus. Mas o sudário não estava com os panos de linho no chão; estava enrolado num lugar à parte.
Assim, o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo, entrou também. Ele viu e acreditou. De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura que diz: "Ele deve ressuscitar dos mortos." Os discípulos, então, voltaram para casa.
(Correspondente ao Domingo de Ressurreição, ciclo A do Ano Litúrgico).

Locutor: Gilberto Faggion

Um novo amanhecer

Depois de ter vivido quarenta dias de Quaresma, sem cantar Aleluia, neste domingo de Ressurreição, com todos os nossos irmãos e irmãs, somos convocados a proclamar com alegria: "Aleluia, o Senhor Ressuscitou, Aleluia!"
Nossa fé na Ressurreição de Jesus, causa de nossa alegre esperança, porque a vida venceu a morte, baseia-se na fé dos primeiros de Jesus que o reconheceram ressuscitado ao crucificado!
Porque ninguém viu a ressurreição, o agir ressuscitador de Deus opera no silêncio, no segredo e na intimidade de seu seio regenerador. Mas a comunidade cristã percebeu e compreendeu aos poucos, pela ação do Espírito, que seu Mestre tinha ressuscitado e continuava vivo no meio deles.
Invadiu-os a certeza de que Deus tinha resgatado Jesus da morte, confirmando a veracidade e o valor de sua vida, palavra, de sua Causa. Deus está do lado de Jesus, do lado dos crucificados. 

Nessa experiência fundante da primeira comunidade, fundamenta-se a força missionária da Igreja que através dos séculos continua proclamando: "O Senhor Ressuscitou, verdadeiramente, aleluia!".
As primeiras palavras do evangelho de hoje, "no primeiro dia da semana", nos remetem ao relato da criação do livro do Gênese. Dessa maneira, São João nos quer situar diante de uma nova criação: a ressurreição. Ela foi o ato supremo da criação, a maior obra de Deus.
Como e onde percebemos a ressurreição de Jesus? Somos comunicadores, com nossa fragilidade e pequenez, com nossa vida e palavra que a vida, o amor vencem a morte?
É importante levar em conta que tanto Maria Madalena como Pedro e o discípulo amado simbolizam a comunidade cristã e o processo que ela faz para perceber e acreditar na Ressurreição de Jesus.
Em Maria Madalena, vemos uma comunidade que ainda sofre pela morte chocante de Jesus. Por isso o evangelho frisa que ainda estava escuro, quando ela foi ao sepulcro.
Podemos imaginar os sentimentos de dor e desorientação dessa mulher, que seguiu com tanto amor àquele que a tinha libertado, devolvido sua dignidade e dado sentido à sua vida.
Entretanto, o amor corajoso desta mulher a Jesus leva-a ir sozinha ao sepulcro, mostrando, assim, a busca da comunidade cristã ansiosa de vida e de amor que, sem saber como será possível, espera que a morte não seja a última palavra.
Ela se dirige ao lugar onde tinha sido colocado o corpo morto de seu Mestre, o túmulo. E vê que ele está vazio.
Mas o túmulo vazio por si só é um sinal ambíguo, sujeito a várias interpretações. É um sinal que fala a todos e leva a refletir na possibilidade da ressurreição. É um convite à fé, mas não leva ainda à fé.
Nesta perícope de João, o verbo "ver" é citado quatro vezes. É através dos diferentes "ver" de Maria Madalena, Pedro e o discípulo amado, ou seja da comunidade, que se mostra o processo que ela faz para passar desde a dor da morte à fé na ressurreição.
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As palavras de Maria Madalena aos discípulos mostram claramente que ela pensa que tinham roubado o corpo do Senhor. Esse é o primeiro impacto que sacode a comunidade e a faz reagir.
Por isso os dois discípulos saem correndo, o discípulo amado que esteve com ele na cruz chega primeiro e "inclinando-se, viu os panos de linho no chão, mas não entrou". Ele percebe que há sinais de vida, mas ainda não alcança a plena compreensão do que aconteceu.
Num gesto de reconhecimento, Pedro deixa que ele entre primeiro no túmulo. E Pedro "viu os panos de linho estendidos no chão  e o sudário que tinha sido usado para cobrir a cabeça de Jesus..."
Por que o evangelista tem tanta preocupação em descrever como estavam os panos que cobriam o corpo e rosto de Jesus? Talvez para fazer lembrar que ali esteve verdadeiramente o corpo morto de Jesus e o fato de que os panos se encontrem tão ordenadamente dobrados mostra que não foram ladrões que levaram o corpo.
O discípulo amado entra no túmulo e ele "viu e acreditou"! A fé do discípulo amado sofre um salto qualitativo. No lugar onde jazia morto seu mestre amado, os olhos de sua fé se abrem e consegue compreender que Jesus está vivo! Ressuscitou!
Essa fé nova que tem o discípulo amado é dom da graça de Deus, que lhes concede acreditar que Deus tirou do sepulcro da morte o seu Filho, ressuscitou-o!
Em Cristo Ressuscitado, recebemos a resposta definitiva de Deus: não a morte, mas a vida é a última palavra que Ele, Deus, pronunciou sobre o destino humano.
Por isso nosso futuro está aberto, podemos ser sempre homens e mulheres de esperança, porque, com a ressurreição de Jesus, entrou na nossa história o sorriso de quem venceu a morte e goza das primícias de uma vida nova, o sorriso da esperança!
A fé no Ressuscitado nos impulsiona a ir ao encontro dos crucificados de hoje, colocar-nos a seu lado, para partilhar com eles este sorriso, a certeza alegre que Deus está vivo no meio de nós, ressuscitando, libertando da morte e fazendo uma nova criação.
Olhemos ao nosso redor. Somos capazes de reconhecer a ação de Deus ressuscitando seu povo? Onde? Nossa vida comunica esse sorriso de esperança que brota da fé no Ressuscitado?
Podemos perguntar-nos: quem é Jesus para nós?

Oração

Desdobra-se no céu
a rutilante aurora.
alegre, exulte o mundo;
gemendo o inferno chora.
Pois eis que o Rei, descido
à região da morte,
aqueles que o esperavam
conduz à nova sorte.
POr sob a pedra posto,
por guarda vigiado,
sepulta a própria morte
Jesus ressuscitado.
Da região da morte
cesse o clamor ingente:
"Ressuscitou!" exclama
o Anjo refulgente.
Jesus, perene Páscoa,
a todos alegrai-nos.
Nascidos para a vida,
da morte libertai-nos.
Louvor ao que da morte
ressuscitado vem,
ao Pai e ao Paráclito
eternamente. Amém
Hino da Liturgia da Horas
 
Referências
BOFF, Leonardo. A nossa ressurreição na morte. Petrópolis: Vozes, 1996.
RUBIO, Alfonso Garcia. O encontro com Jesus Cristo Vivo. São Paulo: Paulinas, 2001.
SICRE, José Luis. O Quadrante. São Paulo: Paulinas, 1999.
SUSIN, Luis Carlos. Jesus Filho de Deus e Filho de Maria. São Paulo: Paulinas, 1997.

FONTE: UNISINOS.

03/04/2015

O processo 636


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Matemático, sócio do IHGRN e do INRG.
Durante muitos anos fiquei sem qualquer conhecimento sobre o que tinha acontecido de verdade com meu pai, de 1935 até 1939. Aqui mesmo, neste jornal, escrevi um artigo intitulado “O telegrafista extremista”, onde retratei os passos dele, Miguel Trindade Filho, após o levante de 1935, baseado em notícias de antigos jornais da época, digitalizados pela Hemeroteca Nacional.

Resumidamente, descobri que ele tinha sido transferido, ainda em janeiro de 1936, da Regional dos Correios de Pernambuco (estava em Recife desde 1926) para a de Mato Grosso, fato que não constava na sua ficha funcional. Na viagem para esse estado, no vapor Poconé, em fevereiro desse mesmo ano, foi impedido de desembarcar em Salvador, acusado de exercício de atividades comunistas. O vapor seguiu viagem para o Rio de Janeiro, tendo sido ele, e Wanderlino Vírginio Nunes, presos a bordo, por investigadores da Polícia Central, no dia 21 de fevereiro. Nesse mesmo ano, em 14 de março, chegavam presos ao Rio de Janeiro, no vapor Manaus, 116 extremistas, estando entre eles, Graciliano Ramos e duas mulheres Maria Joana de Oliveira e Leonila Félix.

Após essa prisão, a única informação que tive a mais desse ano, é que o praticante diplomado, Miguel Trindade Filho, tinha sido exonerado por exercício de atividades subversivas de ordem política e social, em ato de 25 de junho de 1936. A sua nova prisão em 1938 foi decorrente de duas cartas.

Voltei a encontrar novas notícias sobre Miguel Trindade Filho, nesses velhos jornais, somente em 1938. Havia um processo que tratava do julgamento dos participantes do levante de 1935, rolando nesse ano. Era o processo 636, que posteriormente localizei uma cópia microfilmada, no Arquivo Nacional. Fiz a encomenda desse processo, que recebi em CD. É nele que encontrei uma ficha do DOPS e um auto de declaração prestado por Miguel Trindade Filho e outros participantes. Daqui do Rio Grande do Norte, além de papai, aparecem, também, o veterinário, Dr. Raimundo Gurgel Cunha, e o estudante de Direito, José Ariston Filho.

Na ficha do DOPS constava que papai fora preso em 21 de dezembro de 1935, com suspeita de participação no movimento extremista de novembro daquele mesmo ano; que em 18 de janeiro de 1936 foi posto em liberdade e que procedida uma busca em sua residência, por ocasião da prisão, fora apreendido livros e boletins de caráter comunista e que ele confessou-se simpatizante da doutrina marxista; que em 14 de junho de 1938, fora preso em Natal, à disposição da Delegacia, em Recife, como acusado de exercer atividades extremistas.

Nessa ficha ainda constava que em 18 de junho de 1938 fora recolhido ao Presídio Especial; declarou que em fins de abril desse ano, no escritório comercial Oliveira & Cia, situado à Rua Chile, número sessenta e três, em Natal, onde trabalhava, foi procurado por um individuo desconhecido (que se identificou como Cardoso), que lhe disse que o procurava por indicação de José, pessoa que papai não sabia quem era; que tinha uma carta que era dirigida ao declarante, mas como Cardoso lhe dissera para entregá-la a quem procurasse, o declarante assim o fez; que reconhecia na fotografia que foi mostrada na Delegacia, a pessoa de Cardoso, o que sabia naquele momento ser conhecido em Recife pelo nome de Hélio Soares ou  “Amorim”.

No auto de declaração que aparece, resumidamente, na ficha, ele conta que dez dias após essa visita apareceu a pessoa, que ele descreveu como sendo um rapaz de cor morena, estatura regular, trajado modestamente, o qual solicitou a entrega da carta deixada pelo tal Cardoso.

Continuando seu depoimento (o documento tem partes de difícil leitura) Miguel Trindade declarou: que exerceu neste estado (Pernambuco) as funções de praticante diplomado da Diretoria Regional dos Correios e Telégrafos; que após o movimento subversivo de novembro de mil novecentos e trinta e cinco, o declarante foi preso como suspeito, tendo sido posto em liberdade dias depois; que ao passar ao Rio de Janeiro com destino ao Estado de Mato Grosso, para onde fora transferido, o declarante foi detido pela polícia carioca, tendo passado três meses detido, sendo posto em liberdade sem ser ouvido; que então resolveu voltar ao Rio Grande do Norte e abandonou o seu cargo; que não sabe se a carta apreendida por esta Delegacia na agência postal da Praça Maciel Pinheiro e que lhe fora dirigida por Cardoso, também fora escrita pela mesma pessoa que lhe dirigiu a carta que chegou às suas mãos; e como nada mais disse nem lhe foi perguntado, a autoridade mandou encerrar o presente, que lida e achada conforme, me assina com o declarante e comigo Heitor de Araújo de Sousa, escrivão que a escrevi. Edson Moury, Miguel Trindade Filho.

Foi no livro “China Gordo” que Andrade Lima Filho cita papai, com quem esteve preso, em 1938.
Habitavam-na três comunistas que seriam daí por diante meus companheiros de prisão por longo tempo. É curioso: o cárcere, que não conhece a aritmética, soma quantidades heterogêneas. Fizemos logo boa camaradagem. Os polos políticos se encontravam sob aquele meridiano sombrio. Tocavam-se os extremos. Dois deles eram boas praças, idealistas sinceros, a quem, apesar das nossas divergências então acirradas, afeiçoei-me logo. Um, o marinheiro José Leite, que mais tarde eu voltaria a encontrar na Assembleia Legislativa feito deputado. O outro, o Trindade Júnior (na verdade Trindade Filho), um telegrafista norte-rio-grandense, baixote, loquaz, muito lido. Trindade conhecia razoavelmente Marx e sabia de cor todo o "Eu" do Augusto dos Anjos. Mas quando ele vinha com a teoria da "Mais Valia", eu cortava logo a doutrinação, dizendo: - " Marx não, vamos ao Augusto".

02/04/2015

AINDA SOBRE A FUNDAÇÃO DO IMPÉRIO

Gileno Guanabara, sócio efetivo do IHGRN

            No momento em que a esquadra real singrava a Baia da Guanabara levando D. João VI de volta a Portugal, o príncipe regente, que acabara de assumir o poder imperial, lançou um manifesto ao povo brasileiro, proclamando o seu programa de governo, premonição do jogo que resultaria no grito do Ipiranga: respeito às leis; cuidado com os juízes; comedimento quanto a Constituição a ser legislada pelas Côrtes; esforço pela educação, pela agricultura e pelo comércio. Por fim, apelou à ordem. A transparência já principiava a seguir, assegurou.
            A cada dia posterior ao regresso da comitiva real, no entanto, o quadro verdadeiro começou a revelar-se de extrema penúria e gravidade. O comércio arrefecera sem consumidores e a tristeza esvaziara os teatros e as ruas. A economia refluía sem fluxo do câmbio, haja vista o desfalque de moeda, que a comitiva real saqueara dos cofres, antes de se despedir, em depósito de ouro e prata, deixando o Banco do Brasil incapaz de cumprir seus pagamentos. Tudo contribuía para levar em cascata a quebradeira da economia. O pânico instalou-se com o aumento súbito dos preços dos alimentos e dos aluguéis, uma espécie de inflação atualmente sentida, uma bancarrota que parecia sem fim.
            A instabilidade tomou conta das Províncias, com inquietações, divisões e luta política. Da Bahia, em direção ao Norte, as Províncias ora demonstravam hostilidade à autoridade do Príncipe, ora se mostravam hesitantes entre o poder das Côrtes e o Governo central. Em tudo se assemelhava à gravidade da experiência sofrida pela família real, em 1808, quando trânsfuga, abandonou Lisboa às pressas, com medo das tropas de Napoleão, transferindo uma trupe de inoportunos funcionários, para o Brasil.  Ao seu tempo, enquanto organizava as finanças públicas, D. Pedro sequenciou outras providências: garantia da propriedade; proibição do sequestro de bens particulares, em face de ônus fiscais; liberação da importação de livros; abolição da censura à imprensa; proibição de prisão sem culpa formada, salvo em fragrante; aboliu o castigo sob açoites e o emprego de correntes, algemas e grilhões; e, por fim, responsabilizou juízes e autoridades por abusos e excessos.
            Ainda hoje se discute se D. Pedro foi levado por acontecimentos tão imprevisíveis, havendo de assumir tamanhas responsabilidades. Era como se delas tivesse pleno conhecimento, ou não. Em carta ao pai reconheceu a grandeza do Brasil: Portugal é hoje em dia um estado de quarta ordem e necessitado, por consequência dependente; o Brasil é de primeira e independente ( ... ) Uma vez que o Brasil está persuadido desta verdade eterna, a separação do Brasil é inevitável, se Portugal não buscar todos os meios de se conciliar com êle, por todas as formas.
            Foram cartas diárias enviadas pelo Regente. De início, revelavam um D. Pedro saudoso, amantíssimo e súdito fiel a El Rei, seu pai, portador de um cauteloso respeito às Côrtes, sem vislumbrar mudanças graves no cenário recebido: tudo no pé em que estava. Diante das dificuldades financeiras que assumiu, no entanto, afirmava estar pronto a servir a nação e a sacrificar-se pela pátria. Mas ao mesmo tempo lamuriava-se, pedindo - por tudo quanto há de mais sagrado, o dispensasse de semelhante emprego. Mais adiante, o Príncipe Regente ponderava, quanto a realidade que teria de enfrentar: a independência tem-se querido cobrir comigo e com a tropa (mas) nem com a tropa, nem com êle conseguiriam jamais a independência, pois a sua honra era maior que todo o Brasil. O recado dado, porém, sinalizava outro sentido: queriam e dizem que me querem aclamar imperador..., assinalava o jovem Príncipe Regente. A sua preocupação diversionista era o de não se mostrar perjuro, dizendo e fazendo crer que seria sempre fiel ao rei, à nação e à Constituição portuguesa.
            Diante da tratativa política por parte das Côrtes de recolonizar o Brasil, o Príncipe revelando-se precavido, teria dito ao deputado do Brasil em Lisboa, Antônio Carlos, ao lhe comunicar a pressão que se avolumava: Proponham os deputados nas Côrtes o que quiserem, decretem, que tudo executarei prontamente a bem da nação. Quatro dias depois de as Côrtes lhe ordenarem a passagem do governo a uma Junta e o seu regresso para Lisboa, o Príncipe, mesmo opinando não querer mais influir no Brasil, mudou de opinião, para afirmar: Se a Constituição é fazer-nos mal, que leve o diabo tal coisa (...) Veja V. M. a que me expus pela nação e por V. M. Contraditoriamente, apesar de manifestas as intenções, prevalecia o sentimento de não voltar à Lisboa e, para isso, bastaria um pedido da Câmara de uma das Províncias, ressalvando: Torno a protestar às Côrtes e a V. M. que só a força será capaz de me fazer faltar ao meu dever, o que será mais sensível neste mundo.
            Enfim, não tardaria o desenlace da dúvida exposta tantas vezes. Comunicou em carta ao pai que, através do Procurador, as Câmaras, a nova e a velha reunidas, lhe solicitaram audiência, quando lhe admoestaram, segundo anotou: (...) que logo que eu desamparasse o Brasil, êle se tornaria independente e ficando eu, êle persistiria unido a Portugal. Eis o dilema em que se amparava o jovem Príncipe, ao que teria respostado: Para bem de todos e felicidade geral da nação (...) diga ao povo que fico.
            Em verdade, a verdadeira resposta que deu o Príncipe a José Clemente foi o de conjugar as intenções da Coroa e os anseios das Províncias do Centro-Sul, a fim de amenizar a reação das Côrtes: Convencido de que a presença da minha pessoa no Brasil interessa ao bem de toda a nação portuguêsa, e conhecendo que a vontade de algumas províncias assim o requer, demorarei a minha saída até que as Côrtes e meu augusto pai e senhor deliberem com inteiro conhecimento das circunstâncias que têm ocorrido. Uma decisão realmente dita com encômios e sem arrogância.