WALDEMAR DE ALMEIDA
Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de
Cultura
O Maestro que empolgou Natal com seus concertos não foi um gênio como pianista, tal os virtuoses
internacionais da divina arte. Todavia, a sua vocação aflorou na sua
infância, causando admiração a sua
fina sensibilidade artística. Veríssimo de
Melo grafou,
num dos seus escritos, ter ele, aos dez anos de idade, interpretado uma Sonata de Beethoven, no palco
do então Teatro "Carlos Gomes", desta
Capital.
O
genitor, Cussy, aproveitou e estimulou a doce inspiração,
incentivando e facultando-lhe
esmerada educação teórica e instrumental. Estudou, então, Waldemar de Almeida,
nos grandes centros mundiais da época: Rio de Janeiro,
Alemanha e França. Os seus estudos na Europa se prolongaram por longos seis anos.
Foi ele
quem introduziu, no Rio Grande do Norte, o magistério
dotado de metodologia na arte
divina. Ele, o primeiro dirigente do Instituto de Música do Estado, criado na Interventoria federal
Bertino Dutra.
Registro
do jornal "A República", periódico
desta Capital, cuja coleção se constitui num dos melhores acervos culturais do nosso
Estado, em data de 26 de setembro de 1933,
expõe ter sido da autoria do Dr. Anphilóquio Câmara,
quando de sua investidura na Presidência da Associação dos
Professores e ocupando a Diretoria do Departamento de Educação, o Ato
de 1º de Março de 1932, que instituiu o primeiro Orfeon
escolar do Rio
Grande do Norte. Foi, assim, esta Portaria, o ato oficial precursor da Musica e
Canto, nas Escolas potiguares.
Tive o
grato ensejo de ter sido aluno de Waldemar de Almeida no Orfeon (Coro), do Marista. Nos ensaios, durante a semana, o
grande Maestro deixava-se trair pelo arrebatamento temperamental. Não raro, advertia, aos brados, os percalços dos seus discípulos, infantes ainda. Não tolerava cantor desentoado. Assim mesmo,
recebeu sempre o aplauso geral pela sua conduta de professor exemplar. Chamava
atenção, aos inocentes olhos curiosos, os detalhes da cena: o balanço da sua
papada, e a vasta cabeleira, que acompanhavam o ritmo de seus gestos, ora
cadenciados, ora rápidos e enérgicos, na condução da ondulação sonora da sublime música sacra.
A pessoa
do Maestro exercia, para o alunado, uma espécie de
atração magnética, para a qual todos
os olhares se fixavam. E ele, envolvido no transe do encantamento da arte divina, poderia até se transportar ao azul sidéreo, onde a deusa Urânia marca o compasso da dança das estrelas.
Aos domingos, todos em veste
de gala - o fardão branco, decorado de botões e platinas dourados - entoavam o canto orfeônico,
na Missa solene. Uma vez, o Maestro trouxe uma bela flautista, que encheu os
olhos deslumbrados da meninada. Ía fazer o Solo, antecedente ao Canto: - a Cadenza.
Foi um sucesso.
Depois
de doar-se à Música natalense mais de
metade dos anos da sua fecunda e proveitosa existência,
resolveu o grande Maestro, residir no Recife, onde continuou na sua amada vocação. Lá, com o prestígio do seu nome, destacou-se dentre seus colegas de profissão. E foi
eleito o primeiro Presidente da Ordem dos Músicos do
Estado de Pernambuco.
Fui seu
contemporâneo da Faculdade de Direito do Recife, onde ele
se diplomou em Ciências Jurídicas e Sociais, aos cinquenta anos de idade.
Dedicou
uma vida inteira aos estudos: das belas Artes e depois do Direito. Pertenceu aos quadros da
Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, como Sócio Fundador, desde 1936, na Cadeira nº
18, cujo Patrono é Augusto Severo de Albuquerque Maranhão.
Nasceu em
Macau, por acaso ou por desígnio celeste. A senhora, sua mãe, prestes a dar luz, em viagem, pernoitou na linda
terra salineira, aos 24 de Agosto de 1904, quando nasceu o menino Waldemar.
Faleceu
na Paulicéia em 26 de Maio de 1975.
Diante do exposto, impõe-se
uma conclusão espontânea: o maestro Waldemar de
Almeida é um nome dos mais expressivos da evolução da Música do Rio Grande do Norte.