Severino Galvão, (ao centro) foi Rei Momo, muitas vezes, à revelia da prefeitura.
Irreverência, seu nome é Severino
Galvão. Numa época marcada por
grandes carnavais, o Rei Momo Severino
de Oliveira Galvão (1914 – 1994) reinou à
margem do carnaval oficial pintando o sete.
Foram doze anos de mandato continuado
(1968 a 1980), as mais das vezes como Rei
Momo alternativo.
Natural de Pedro Velho, Severino Galvão
foi um pouco de tudo na vida: militar, comerciante,
publicitário, político e, principalmente,
Rei Momo. Com as marcas indeléveis da
irreverência e do bom humor, qualidades
inatas que o acompanharam na saúde e na
doença, o folião tinha o hábito de organizar
batalhas de carnaval em bairros da Natal das
primeiras décadas do século XX. Desta época
para a majestade foi um pulo. Também fundou
o Clube Rex, na capital, para dar vazão aos
arroubos carnavalescos.
Rei Momo de protesto e dono de rara
capacidade inventiva, Severino Galvão se
auto-intitulava Super-Rei, à revelia da
Prefeitura, responsável pela eleição, e do Rei
Momo oficialmente eleito, constituindo ministério
particular e nomeando personalidades
locais para fazerem parte do gabinete.
Juntamente com os auxiliares, elaborava
programação para ser cumprida integralmente
durante o reinado de Momo. Pela via biônica,
em 1980 Severino Galvão nomeou Luís de
Barros como primeiro-ministro; senador Jessé
Freire, presidente do Senado Imperial; e João
Medeiros Filho, chefe da Casa Civil, para ocupar
posto no alto escalão. A lista de
nomeações era imensa.
Episódios hilários envolvendo o Rei
Momo foram muitos. Um deles dá conta que,
convidado para abrir o carnaval de Mossoró
com os amigos João Fabrício e José Matias de
Araújo (Zé Quitandinha), Severino Galvão foi
detido pela polícia no aeroporto acusado de
ser um impostor. O trote foi protagonizado
pelos amigos Luís de Barros e Roberto Freire,
que telefonaram de Natal para Mossoró e
passaram informações falsas sobre ele para as
autoridades policiais daquela cidade. A confusão
foi grande.
Um dos seis filhos do soberano com dona
Elvira Galvão, o arquiteto João Galvão, revela
que, mesmo como Rei Momo paralelo,
Severino Galvão tinha acesso ao palanque oficial
do carnaval e ingresso livre nos grandes
bailes clubísticos, quando costumava borrifar
perfume Contouré nos foliões, usando para
isso bomba de aspersão. Outra esquisitice
notada era o hábito de dar cochilos intermitentes
no palanque oficial, em meio ao barulho
gerado pela passagem das escolas de
samba e tribos de índios. Exercendo toda a
sua criatividade, Severino Galvão fez chegar à
imprensa uma suposta ameaça de seqüestro
durante o carnaval de 1979, informando que
estava reforçando o serviço de segurança. O
provável seqüestrador seria o coordenador
dos Negócios do seu Reinado, vereador Érico
Hackradt, amigo pessoal do Rei Momo. A
notícia saiu no Diário de Natal, edição de 11
de fevereiro de 1979.
Antes de falecer aos 79 anos, 50 dos quais
dedicados ao carnaval, Severino Galvão
deixou a autobiografia “A minha vida em versos”,
que está sendo revisada e acrescida de
documentos e rico material fotográfico pelos
filhos João e Erinalda Galvão. A intenção é
publicar os originais em livro. “O espírito
dele era alegre e engraçado”, lembra a filha
Erinalda Galvão. (PJD)
Severino Galvão,
Severino Galvão, (ao centro) foi Rei Momo, muitas vezes, à revelia da prefeitura
a irreverência
Acervo da família..
A República - Suplemento - Fev. 2005
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